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Breve mas interessante história da economia - Parte II

22 de Março de 2013, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Querido Leitor,

hoje vamos falar dum fulano que é pouco conhecido, daqueles que aparecem pouco na televisão, mas que tem a importância dele. É um dos homens que permite entender porque hoje há uma queda nas vendas e nas rendimentos, porque temos que despedir e fazer uma vida negra.

Como se chama? Thomas Robert Malthus. Aliás: chamava-se, pois morreu há alguns tempos, acerca de 200 anos mais ou menos. Este era um autêntico sacana, mas mesmo um daqueles...
O que tem a ver um sacana de 200 anos atrás com a nossa vidinha? Tem, e muito até.

Malthus sempre viveu na Inglaterra, entre 1776 e 1834: era filho duma família abastada, o pai dele era amigo pessoal do filósofo David Hume e tinha contactos com Jean-Jaques Rousseau. Malthus (o filho) estudou no Jesus College de Cambridge, ganhou prémios em inglês, latim, grego, adorava a matemática e, uma vez licenciado, tornou-se pastor anglicano. Uma boa vidinha, num bom ambiente.

Normal, portanto, que as ideias de Malthus fossem um pouco diferentes daquelas da maioria da população, os que trabalhavam. Por exemplo: havia pobreza e sofrimento? Eis a solução de Malthus: encurtar a vida dos infelizes, reduzir a alimentação deles, não permitir muitos filhos. O que até faz um certo sentido: um pobre morto é um pobre a menos, é uma questão de lógica.

Mas além destes pormenores, Malthus é importante porque foi o primeiro economista a entender que, sem a criação das condições que permitem aos consumidores terem dinheiro para comprar os bens, a economia entra em colapso. Simples, não é? Dito de outra forma: é o que hoje chamamos da queda da "demanda". Em economia, a "demanda" significa uma procura por parte do público para a aquisição de coisas (mercadorias, serviços): que podem ser compradas quando houver dinheiro para gastar. Não há dinheiro? Não há demanda, muito simples.

Mais precisamente, falamos de "demanda agregada", isto é, o conjunto de pedidos para a aquisição de bens e serviços por parte de todos os cidadãos e empresas num País. Eu quero comprar um carro, o Leitor um frigorífico, outro Leitor quer ir ao dentista...tudo isso faz parte da demanda agregada. Obviamente, se houver uma queda nesta "demanda agregada" (como hoje na Zona NEuro, por exemplo) porque não há dinheiro para gastar, há também uma queda das vendas; e com a queda das vendas há o colapso das empresas; e se as empresas ruírem, os donos despedem o pessoal: é o colapso da economia do País.

Portanto, uma Nação saudável terá sempre uma boa "demanda agregada". E como obter isso? Simples também: fazer que o maior número de cidadãos tenha uma ocupação e um bom salário. É exactamente o oposto do que está a acontecer hoje na Zona NEuro.
Ok, de volta ao simpático Malthus.

Malthus entendeu uma coisa elementar: antes deve haver os rendimentos, depois as vendas. Não podem existir vendas sem antes haver um rendimento para ser gasto. Ele percebeu que se a burguesia industrial produzir novos bens, deve haver alguém com um rendimento que permita gastar e comprar, ou seja, deve haver uma "demanda", caso contrário a economia fracassa.

Este facto é inquestionável, mas a solução de Malthus não era sobre como conseguir um rendimento para o povo, nada disso: ele pensava criar uma classe ainda mais numerosa de parasitas (nobres, por exemplo), com rendimentos parasitas, para poder vender tudo o que a rica burguesia produzia. Engraçado, não é? Tudo bem, se calhar como solução pode não ser a mais popular, no entanto a intuição estava certa: primeiro os rendimentos (a "demanda"!), depois as vendas.

Malthus encontrou outro conceito-chave. Hoje muitos economistas que frequentam as cantinas do FMI ou da Zona NEuro ainda acreditam que seja suficiente estimular a produção de bens e serviços para que, de forma quase automática, possam existir pessoas que os compram.

Uma besteira enorme, porque podemos preencher as prateleiras do supermercado, mas se o Leitor não tiver um ordenado decente o supermercado vai permanecer cheio. De mercadoria, não de pessoas. E, querido Leitor, esta ideia persiste na cabeça de alguns economistas pelo menos desde o então presidente dos EUA, Ronald Reagan.

Malthus, já no final de 1700, tinha percebido o nível de absurdidade deste conceito: de facto, disse que estimular os burgueses da altura para abrir fábricas ou fazer comércio nas Índias nunca teria criado compradores suficientes.

Solução? Segundo Malthus, como vimos, o ideal seria eliminar os mais pobres e deixar viver os mais ricos. Afinal falamos de poucos biliões de pessoas, nada de grave. Um pouco radical? Talvez, mas o que conta é que Malthus tinha individuado alguma coisa, tão óbvia ao ponto que ainda hoje não é aceite por parte de todos: sem a criação antes dos rendimentos e só depois da oferta, nenhuma economia pode funcionar.

Agora o querido Leitor pergunta: "Sim, mas porquê tudo isso é relevante hoje?".
Por duas razões: 

a.) Leiam as notícias na internet. Não as notícias da informação alternativa, leiam as estatísticas oficiais: 1% da população fica cada vez mais rica, enquanto os outros ficam mais pobres. É a solução Malthus.

b.) Lembrem o que diz o coro dos tecnocratas que gozam connosco: diminuir os salários, diminuir as reformas, impedir que o Estado ajude os rendimentos. Parece o exacto oposto da receita de Malthus: menos rendimentos significa menos demanda agregada. A austeridade é o contrário de quanto indicado por Malthus. E os resultados são desastrosos, nem poderia ser de forma diferente. Faz sentido? Talvez, com o seguinte ponto.

c.) Lembrem também de quanto afirmado pelas estatísticas: o 1% fica cada vez mais rico. Isso significa que a classe burguesa desaparece, enquanto a classe elitária não fica preocupada com isso, pois continua a ter dinheiro, e muito até.

Alguns títulos dos últimos meses.
A Audi acrescentou doze turnos extras neste primeiro trimestre do ano na fábrica de Neckalsum, na Alemanha, e está planejando aumentar ainda mais no mês de abril devido ao aumento da demanda dos modelos A6 e A7.
(AutoEstrada, 23.03.2013)

BMW atinge lucros recorde de 5,1 mil milhões em 2012
(DinheiroVivo, 14.03.2013)
BMW e Audi aumentam vendas a nível mundial
(Público 10.12.2012)

Bentley aumenta úteis e facturado
(DeLuxeBlog, 21.03.2013)

Vendas da Lamborghini crescem 30% em 2012
(AutoViva 12.03.2013)
Audi, BMW, Bentley, Lamborghini...não são propriamente Fiat ou Renault, não é? E quem pode adquirir um Lamborghini? Um indivíduo da classe média? Parece complicado.

Assim, para resumir, se conhecermos as ideias do Sr. Thomas Robert Malthus, podemos entender os fenómenos-chave que devastam o mundo ocidental de hoje. O fenómeno a), que vai na direcção de Malthus, os fenómenos b) e c) que...também.

Isso é Malthus.
E da próxima vez? David Ricardo.
Que assim seja.

Nota final: o artigo original acaba de forma diferente. O jornalista Barnard vê dois pontos-chave, o a) e o b), que julga serem contrastantes. Mas isso cria uma situação na qual os ditos tecnocratas parecem proceder sem ter um desenho bem definido (mera incapacidade). É uma possível interpretação, assim como a minha, com a qual, pelo contrário, quis sugerir um objectivo para este processo todo.


Ipse dixit.

Relacionados: Breve mas interessante história da economia - Parte I

Fontes: Paolo Barnard, AutoEstrada, Dinheiro Vivo, DeLuxeBlog, AutoViva, Público

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/G9P0elyRbMs/breve-mas-interessante-historia-da_23.html

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