Podemos não aceitar a ideia do aquecimento global, mas que o Homem seja um grande poluidor, e que esta poluição não seja benéfica, esta´fora de discussão. Por isso, qualquer reunião de alto nível para melhorar a situação deveria ser realçada e seguida com interesse.
Assim não é. Pelo menos, não é isso que aconteceu com Cop 18, a conferência internacional do ano 2012 sobre o tema das emissões: passou despercebida ou quase. E existem razões que justificam isso: este encontro foi um fracasso.
Não deveriam os media sublinhar também os aspectos menos positivos do discurso? Por exemplo, explicar quem lutou para reduzir o nosso impacto sobre o planeta e quem, pelo contrário, teve uma atitude indiferente? Sim, deveriam. Mas não é isso que acontece.
O primeiro ponto da agenda era a implementação do segundo período do Protocolo de Kyoto, que obriga os Países industrializados a reduzir as suas emissões de gases. O resultado obtido após duas semanas de reuniões é que Kyoto 2 vai começar em 1 de Janeiro de 2013, mas apenas na União Europeia, Austrália, Suíça e Noruega. Uma minoria.
Como resultado, a tomar medidas para reduzir as emissões será um grupo de Países responsáveis por apenas 15% do total de emissões. Rússia, Canadá e Japão não assinaram; os EUA, sempre fora do Protocolo, fizeram de tudo para impedir a aprovação de qualquer decisão importante neste contexto.
Por outro lado, não é novidade o facto da política de energética dos EUA ser ditada pela lobby do combustível fóssil e não pelo presidente. E pouco importam as promessas da campanha eleitoral. São apenas isso: promessas.
Permanecem de pé todos os mecanismos no âmbito de Kyoto 1, confirmando o facto de que, por um lado, as reduções reais das emissões são poucas, por outro lado, o negócio do mercado das emissões está em óptima saúde. Interessante neste aspecto observar a atitude da Nova Zelândia que dificulta as negociações mas que ao mesmo tempo sugere que o País possa ter acesso ao MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, um dos mecanismos do Protocolo de Quioto).
Empresas sim, redução das emissões nem por engano.
Outras pontos discutidos foram o novo acordo climático global, a ser estabelecido em 2015 e em funcionamento desde 2020, e os fundos para apoiar os Países em desenvolvimento. Acerca do novo acordo, um verdadeiro colapso: os cortes das emissões anunciadas pelos Países são 10 vezes menores do que as Nações Unidas considerem necessárias.
Sobre a transferência de fundos para os Países em desenvolvimento, é significativa a diferença entre a soma de 6 biliões de Dólares disponibilizados pela União Europeia e os 100 biliões que serão precisos até 2020. 100 biliões confirmados no documento final, mas apenas em linha teórica.
Resumindo: falta a vontade política. É bom neste sentido ler as declarações da Via Campesina, o movimento internacional que representa mais de 200 milhões de pequenos agricultores de todo o mundo, os quais expressam uma opinião fortemente negativa sobre o resultado das negociações, destacando também alguns aspectos perigosos e altamente críticos.
Por exemplo, o facto de que os Países industrializados têm proposto o Banco Mundial como administrador interino dos fundos (a raposa tem que proteger os cordeiros); e que estes possam também ser concedidos sob a forma de empréstimos. Numa altura em que cresce o movimento para que seja apagada a dívida dos Países do Terceiro Mundo, eis que outras dívidas podem aparecer devidamente disfarçadas em nome da salvação do planeta.
Outro problema, de não pequena importância, é aquela dos direitos de propriedade intelectual das tecnologias necessárias para a transição na direcção dum sistema de produção com impacto reduzido: os Países do Terceiro Mundo deveriam pagar para ter acesso a estas tecnologias. Mas despesas, mais dívidas.
Por último, mas não menos importante, a denúncia de tentativa (começada em Durban) das lobbies agro-industriais dos Países desenvolvidos para que também a agricultura seja incluída nas negociações climáticas. Isso significaria abrir o caminho do mercado de carbono neste campo, com resultados catastróficos no caso dos pequenos agricultores.
Resumindo: não falta a informação, falta a vontade política. Não existe a mínima intenção de abandonar o actual sistema produtivo.
Conceito bem explicado pelo ministro boliviano de Meio Ambiente, José Antonio Gutiérrez Zamora, no discurso em Doha:
Ipse dixit.
Fontes: La Via Campesina, Bolivia Rising, Daily Storm
Assim não é. Pelo menos, não é isso que aconteceu com Cop 18, a conferência internacional do ano 2012 sobre o tema das emissões: passou despercebida ou quase. E existem razões que justificam isso: este encontro foi um fracasso.
Não deveriam os media sublinhar também os aspectos menos positivos do discurso? Por exemplo, explicar quem lutou para reduzir o nosso impacto sobre o planeta e quem, pelo contrário, teve uma atitude indiferente? Sim, deveriam. Mas não é isso que acontece.
O primeiro ponto da agenda era a implementação do segundo período do Protocolo de Kyoto, que obriga os Países industrializados a reduzir as suas emissões de gases. O resultado obtido após duas semanas de reuniões é que Kyoto 2 vai começar em 1 de Janeiro de 2013, mas apenas na União Europeia, Austrália, Suíça e Noruega. Uma minoria.
Como resultado, a tomar medidas para reduzir as emissões será um grupo de Países responsáveis por apenas 15% do total de emissões. Rússia, Canadá e Japão não assinaram; os EUA, sempre fora do Protocolo, fizeram de tudo para impedir a aprovação de qualquer decisão importante neste contexto.
Por outro lado, não é novidade o facto da política de energética dos EUA ser ditada pela lobby do combustível fóssil e não pelo presidente. E pouco importam as promessas da campanha eleitoral. São apenas isso: promessas.
Permanecem de pé todos os mecanismos no âmbito de Kyoto 1, confirmando o facto de que, por um lado, as reduções reais das emissões são poucas, por outro lado, o negócio do mercado das emissões está em óptima saúde. Interessante neste aspecto observar a atitude da Nova Zelândia que dificulta as negociações mas que ao mesmo tempo sugere que o País possa ter acesso ao MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, um dos mecanismos do Protocolo de Quioto).
Empresas sim, redução das emissões nem por engano.
Outras pontos discutidos foram o novo acordo climático global, a ser estabelecido em 2015 e em funcionamento desde 2020, e os fundos para apoiar os Países em desenvolvimento. Acerca do novo acordo, um verdadeiro colapso: os cortes das emissões anunciadas pelos Países são 10 vezes menores do que as Nações Unidas considerem necessárias.
Sobre a transferência de fundos para os Países em desenvolvimento, é significativa a diferença entre a soma de 6 biliões de Dólares disponibilizados pela União Europeia e os 100 biliões que serão precisos até 2020. 100 biliões confirmados no documento final, mas apenas em linha teórica.
Resumindo: falta a vontade política. É bom neste sentido ler as declarações da Via Campesina, o movimento internacional que representa mais de 200 milhões de pequenos agricultores de todo o mundo, os quais expressam uma opinião fortemente negativa sobre o resultado das negociações, destacando também alguns aspectos perigosos e altamente críticos.
Por exemplo, o facto de que os Países industrializados têm proposto o Banco Mundial como administrador interino dos fundos (a raposa tem que proteger os cordeiros); e que estes possam também ser concedidos sob a forma de empréstimos. Numa altura em que cresce o movimento para que seja apagada a dívida dos Países do Terceiro Mundo, eis que outras dívidas podem aparecer devidamente disfarçadas em nome da salvação do planeta.
Outro problema, de não pequena importância, é aquela dos direitos de propriedade intelectual das tecnologias necessárias para a transição na direcção dum sistema de produção com impacto reduzido: os Países do Terceiro Mundo deveriam pagar para ter acesso a estas tecnologias. Mas despesas, mais dívidas.
Por último, mas não menos importante, a denúncia de tentativa (começada em Durban) das lobbies agro-industriais dos Países desenvolvidos para que também a agricultura seja incluída nas negociações climáticas. Isso significaria abrir o caminho do mercado de carbono neste campo, com resultados catastróficos no caso dos pequenos agricultores.
Resumindo: não falta a informação, falta a vontade política. Não existe a mínima intenção de abandonar o actual sistema produtivo.
Conceito bem explicado pelo ministro boliviano de Meio Ambiente, José Antonio Gutiérrez Zamora, no discurso em Doha:
As causas da crise climática estão directamente relacionadas com a acumulação e a concentração de riqueza em alguns Países e pequenos grupos sociais, com o consumo de massa, com a criação de desperdícios (na crença de que ter mais signifique viver melhor), com as produções poluentes e os bens descartáveis que aumentam a riqueza e as pegadas ecológicas, com o uso excessivo e insustentável de recursos naturais renováveis e não-renováveis, com um alto custo ambiental das actividades de extracção mineraria destinadas à produção. Uma civilização baseada no desperdício ganancioso, no consumismo, na exclusão, que gera riqueza para poucos e pobreza em todo o mundo, tem produzido poluição e crise climática.
Nós não viemos aqui para negociar sobre o clima. Nós não viemos aqui para tornar o clima num business ou para proteger os negócios daqueles que querem continuar a agravar a crise climática, destruindo a Mãe Terra [...]. Não vamos permitir que o mercado de carbono possa substituir as obrigações dos Países industrializados. O planeta não está à venda, nem as nossas vidas.Pois.
Ipse dixit.
Fontes: La Via Campesina, Bolivia Rising, Daily Storm
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo