Então, o Natal já passou, não é?
Basta de festas! Voltamos mas é ao trabalho.
E vamos falar de economia. E política também, que não faz mal.
Ao longo de muitos anos, os economista têm gozado de prestigio, enquanto os políticos nem por isso.
"Tá bom," pode pensar o Leitor que ainda tem a fruta cristalizada do panettone que saltita no teclado "mas isso que significa?".
Calma Leitor com a fruta cristalizada saltitante, calma. O problema é que isso levou os economistas a descuidar a política.
Fazer o político não dava prestigio, dava uma aura de poder, verdadeiro ou virtual. Pelo que, os raros economistas emprestados ao mundo da política acabavam por ocupar-se sempre das mesmas coisas (ministério das finanças) e eram sempre ou membros efectivos de partidos ou afiliados. Em qualquer caso, eram vistos pelos economistas "sérios" (aspas obrigatórias) como uma sub-espécie não particularmente evoluída e propensos aos implícitos jogos de poder.
Doutro lado, os políticos sempre descuidaram da economia, com resultados muitas vezes desastrosos.
E a atitude dos economista não tem sido melhor. Muitas vezes a receita era "É preciso fazer assim", sem preocupar-se das consequências em outros âmbitos. Porque uma boa escolha económica pode não ser uma boa escolha política. Mas os economistas muitas vezes viram este não como uma cosia normal (pois o mundo não é apenas economia) mas como um entrave, posto por quem nada percebe de percebe (em ser inferior, evidentemente).
Mesmo em tempos bons, a questão é um problema: porque os políticos, entre as outras coisas, têm o dever de administrar a res publica, aquilo que é de todos, dinheiro incluído. Mas em tempos de vacas magras o problema transforma-se em desgraça.
Antes de proceder, uma pergunta: mas por qual razão a classe política descuidou a economia?
Basicamente por uma razão: em tempos de vacas gordas há fartura. E se houver fartura, ninguém irá reclamar por causa do desperdício. Como este "ninguém" é o povo, e como os políticos são eleitos pelos cidadãos (que sempre povo é), tudo procede com alegria.
É preciso também lembrar que nem os cidadãos em condições normais estão interessados nos assuntos económicos. Um mínimo de interesse só surge na altura em que as escolhas dos políticos atingir as carteiras, e mesmo assim é um interesse limitado.
Dado que a classe política é a expressão da sociedade, no bem e no mal, eis que a economia fica num segundo plano e ninguém sente uma grande falta dela.
Como afirmado, a situação fica mais complicada em tempo de vacas magras.
Porque? Porque as leis da Natureza não podem ser em contrasto entre elas.
Um biólogo tem que respeitar as leis da química e um químico deve respeitar as leis da biologia. Ambos têm depois que respeitar as leis da física e assim para frente. Ser um político sem perceber de economia significa ser um químico que pretende ignorar a existência duma biologia ou duma física. E o mesmo pode ser dito no caso dum economista que ignore a realidade política.
Como para no caso de outras ciências, uma lei económica permite fazer uma previsão. A economia é uma ciência "imperfeita", por isso podemos dizer que uma lei económica permite fazer um previsão com razoável certeza. Por exemplo: em certas condições, diminuir a taxa de juros vai aumentar o investimento; ou ainda, duplicar a emissão de dinheiro significará ter inflação mais alta.
O verdadeiro problema dum uso correto das leis da economia consiste nas "certas condições" que são necessária para que a previsão esteja certa, condições que às vezes são difíceis de encontrar.
E a política? Também a política é uma ciência "imperfeita". Se 2 mais 2 em matemática dá sempre 4, em política não é seguro que o resultado seja o mesmo. Também na política existem "certas condições" que determinam o resultado.
Isso significa que estamos perante duas ciências que não oferecem uma certeza matemática: é possível fazer previsões, mas os resultados serão sempre condicionados por outros eventos.
É por isso que ouvir um economista dizer "É preciso fazer assim" não faz muito sentido. Pode ser preciso na teoria apreendida na faculdade, mas a realidade pode não oferecer as mesmas condições.
Igualmente, ouvir um político fazer a mesma afirmação peremptória não dá certezas, mas dúvidas. Uma lei que funciona muito bem numa determinada sociedade pode não funcionar numa sociedade de tipo igual mas composta por pessoas diferentes.
Portanto, em ambos os casos, confiar cegamente nas afirmações "absolutistas" de economistas e políticos pode significar encontrar grande desilusões no futuro.
Vamos ver dois casos em que as leis da economia entram em conflito com as leis da política. E vamos ver qual deveria ser a atitude dos cidadãos.
Primeiro caso.
Vamos supor que a sociedade se encontre numa situação de crise económica, que admite uma única solução única, que podemso definir como "Solução A".
A Solução A implica uma determinada quantidade de sacrifícios, que envolvem a redução do bem-estar para a maioria da população, o que será seguido por um período de recuperação. Se não for adoptada a Solução A, a única alternativa é não fazer nada, e isso vai levar a um lento declínio da economia e dos rendimentos individuais. E esta última é a Solução B.
Obviamente, a maioria dos economistas afirmará que devemos escolher a Solução A, aliás, afirmarão que as leis da economia impõem a Solução A. Mas se os sacrifícios forem grandes e se o período for prolongado, é perfeitamente possível que a maioria dos indivíduos prefira a Solução B: portanto, as leis da política, impõem a aplicação dessa solução.
Parece um exemplo absurdo? Parece, mas não é.
O PIB per capita dos Estados Unidos cresceu 16% entre 1999 e 2007, mas durante o mesmo período os rendimentos da maioria dos cidadãos caíram. O que acham teriam escolhido os Americanos caso tivessem tido a possibilidade de escolher: um aumento per capita em 8 anos com um empobrecimento individual ou um PIB em estagnação com a manutenção dos níveis de riqueza individuais ao longo do mesmo período?
Agora o segundo caso.
Mais uma vez estamos no meio duma crise económica, só que agora temos que analisar dois períodos. A estratégia B é sempre a mesma: não fazer nada, o que resulta numa perda para todos, agora e no futuro. As leis da economia só permitem ou não fazer nada (Solução B) ou adoptar a Solução A, que envolve os mesmos sacrifícios hoje para a maioria dos indivíduos mas também benefícios para uma parte deles. Estes últimos, no segundo período, podem escolher entre uma estratégia que beneficia todos e outra que beneficia apenas o grupo deles.
Um outro exemplo absurdo? Não, também aqui estamos perante um exemplo real: é o caso do Código do Trabalho revisto em Portugal neste ano, com fortes penalizações para os trabalhadores e algumas regalias no caso das empresas.
Portanto, também neste caso, a maior parte dos cidadãos pode razoavelmente escolher a Solução B (e pensar: se temos que sofrer, vamos sofrer todos ao longo do mesmo período).
Em ambos os casos, o resultado do conflito entre a política e a economia é a vitória das leis da política: em ambos os casos os eleitores escolhem a Solução B, desvantajosa do ponto de vista da economia mas correcta do ponto de vista político (aqui a política é vista não como um conjunto de partidos no poder mas como expressão da vontade dos cidadãos: uma espécie de ficção científica, admito).
Mesmo quando as escolhas efectuadas forem apoiadas pela doutrina económica, podem ser rejeitada no pleno respeito da democracia a partir de uma comunidade composta de pessoas perfeitamente racionais: até no caso extremo em que não haja outras soluções viáveis.
Uma conclusão absurda? Não: uma simples lei política. Nenhum modelo normativo da política económica é completo se não considera as condições nas quais o mesmo modelo será politicamente aceitável, uma vez que os mesmos sujeitos racionais assumidos pelo modelo económico racional podem rejeita-lo.
Problema: mas não foi falado de "leis da economia"? Então, se forem leis, como é possível não respeita-las? É possível porque em ambos os casos (o primeiro e o segundo caso) não estamos perante leis económicas mas estratégias que querem ser implementadas e que derivam de leis económicas . Não há contradição. Pelo contrário, o facto dos eleitores rejeitarem uma estratégia não deriva de nada, é por si só uma lei política.
Mas tudo isso tem a ver com a actual crise económica vivida no Velho Continente e não apenas aí?
Resposta: não. Na crise económica europeia a situação é diferente: há alternativas, e são alternativas naturais que simplesmente não são apresentadas aos cidadãos. Não há apenas a Solução A (a dos economistas) e a Solução B (que é o não fazer nada). Há também a Solução C, a D, etc.
Outra diferença consiste no facto de não ter economistas em boa fé que apoiem as próprias ideias nos ensinamentos académicos: temos alguns economistas que conscientemente defendem e difundem uma visão unilateral dos acontecimentos, e são os mesmos economistas que mais eco encontram nos canais de comunicação institucionais.
A única coisa que permanece igual é a lei política: os cidadãos têm o legítimo poder de rejeitar uma estratégia que tem como fim prejudicar os interesses deles e favorecer apenas um restrito grupo.
Não há nada de revolucionário nisso: é o ABC da democracia.
Ipse dixit.
Basta de festas! Voltamos mas é ao trabalho.
E vamos falar de economia. E política também, que não faz mal.
Ao longo de muitos anos, os economista têm gozado de prestigio, enquanto os políticos nem por isso.
"Tá bom," pode pensar o Leitor que ainda tem a fruta cristalizada do panettone que saltita no teclado "mas isso que significa?".
Calma Leitor com a fruta cristalizada saltitante, calma. O problema é que isso levou os economistas a descuidar a política.
Economistas vs. Políticos
Fazer o político não dava prestigio, dava uma aura de poder, verdadeiro ou virtual. Pelo que, os raros economistas emprestados ao mundo da política acabavam por ocupar-se sempre das mesmas coisas (ministério das finanças) e eram sempre ou membros efectivos de partidos ou afiliados. Em qualquer caso, eram vistos pelos economistas "sérios" (aspas obrigatórias) como uma sub-espécie não particularmente evoluída e propensos aos implícitos jogos de poder.
Doutro lado, os políticos sempre descuidaram da economia, com resultados muitas vezes desastrosos.
E a atitude dos economista não tem sido melhor. Muitas vezes a receita era "É preciso fazer assim", sem preocupar-se das consequências em outros âmbitos. Porque uma boa escolha económica pode não ser uma boa escolha política. Mas os economistas muitas vezes viram este não como uma cosia normal (pois o mundo não é apenas economia) mas como um entrave, posto por quem nada percebe de percebe (em ser inferior, evidentemente).
Mesmo em tempos bons, a questão é um problema: porque os políticos, entre as outras coisas, têm o dever de administrar a res publica, aquilo que é de todos, dinheiro incluído. Mas em tempos de vacas magras o problema transforma-se em desgraça.
Antes de proceder, uma pergunta: mas por qual razão a classe política descuidou a economia?
Basicamente por uma razão: em tempos de vacas gordas há fartura. E se houver fartura, ninguém irá reclamar por causa do desperdício. Como este "ninguém" é o povo, e como os políticos são eleitos pelos cidadãos (que sempre povo é), tudo procede com alegria.
É preciso também lembrar que nem os cidadãos em condições normais estão interessados nos assuntos económicos. Um mínimo de interesse só surge na altura em que as escolhas dos políticos atingir as carteiras, e mesmo assim é um interesse limitado.
Dado que a classe política é a expressão da sociedade, no bem e no mal, eis que a economia fica num segundo plano e ninguém sente uma grande falta dela.
Como afirmado, a situação fica mais complicada em tempo de vacas magras.
Porque? Porque as leis da Natureza não podem ser em contrasto entre elas.
Um biólogo tem que respeitar as leis da química e um químico deve respeitar as leis da biologia. Ambos têm depois que respeitar as leis da física e assim para frente. Ser um político sem perceber de economia significa ser um químico que pretende ignorar a existência duma biologia ou duma física. E o mesmo pode ser dito no caso dum economista que ignore a realidade política.
Como para no caso de outras ciências, uma lei económica permite fazer uma previsão. A economia é uma ciência "imperfeita", por isso podemos dizer que uma lei económica permite fazer um previsão com razoável certeza. Por exemplo: em certas condições, diminuir a taxa de juros vai aumentar o investimento; ou ainda, duplicar a emissão de dinheiro significará ter inflação mais alta.
O verdadeiro problema dum uso correto das leis da economia consiste nas "certas condições" que são necessária para que a previsão esteja certa, condições que às vezes são difíceis de encontrar.
E a política? Também a política é uma ciência "imperfeita". Se 2 mais 2 em matemática dá sempre 4, em política não é seguro que o resultado seja o mesmo. Também na política existem "certas condições" que determinam o resultado.
Isso significa que estamos perante duas ciências que não oferecem uma certeza matemática: é possível fazer previsões, mas os resultados serão sempre condicionados por outros eventos.
É por isso que ouvir um economista dizer "É preciso fazer assim" não faz muito sentido. Pode ser preciso na teoria apreendida na faculdade, mas a realidade pode não oferecer as mesmas condições.
Igualmente, ouvir um político fazer a mesma afirmação peremptória não dá certezas, mas dúvidas. Uma lei que funciona muito bem numa determinada sociedade pode não funcionar numa sociedade de tipo igual mas composta por pessoas diferentes.
Portanto, em ambos os casos, confiar cegamente nas afirmações "absolutistas" de economistas e políticos pode significar encontrar grande desilusões no futuro.
Vamos ver dois casos em que as leis da economia entram em conflito com as leis da política. E vamos ver qual deveria ser a atitude dos cidadãos.
Dois casos
Primeiro caso.
Vamos supor que a sociedade se encontre numa situação de crise económica, que admite uma única solução única, que podemso definir como "Solução A".
A Solução A implica uma determinada quantidade de sacrifícios, que envolvem a redução do bem-estar para a maioria da população, o que será seguido por um período de recuperação. Se não for adoptada a Solução A, a única alternativa é não fazer nada, e isso vai levar a um lento declínio da economia e dos rendimentos individuais. E esta última é a Solução B.
Obviamente, a maioria dos economistas afirmará que devemos escolher a Solução A, aliás, afirmarão que as leis da economia impõem a Solução A. Mas se os sacrifícios forem grandes e se o período for prolongado, é perfeitamente possível que a maioria dos indivíduos prefira a Solução B: portanto, as leis da política, impõem a aplicação dessa solução.
Parece um exemplo absurdo? Parece, mas não é.
O PIB per capita dos Estados Unidos cresceu 16% entre 1999 e 2007, mas durante o mesmo período os rendimentos da maioria dos cidadãos caíram. O que acham teriam escolhido os Americanos caso tivessem tido a possibilidade de escolher: um aumento per capita em 8 anos com um empobrecimento individual ou um PIB em estagnação com a manutenção dos níveis de riqueza individuais ao longo do mesmo período?
Agora o segundo caso.
Mais uma vez estamos no meio duma crise económica, só que agora temos que analisar dois períodos. A estratégia B é sempre a mesma: não fazer nada, o que resulta numa perda para todos, agora e no futuro. As leis da economia só permitem ou não fazer nada (Solução B) ou adoptar a Solução A, que envolve os mesmos sacrifícios hoje para a maioria dos indivíduos mas também benefícios para uma parte deles. Estes últimos, no segundo período, podem escolher entre uma estratégia que beneficia todos e outra que beneficia apenas o grupo deles.
Um outro exemplo absurdo? Não, também aqui estamos perante um exemplo real: é o caso do Código do Trabalho revisto em Portugal neste ano, com fortes penalizações para os trabalhadores e algumas regalias no caso das empresas.
Portanto, também neste caso, a maior parte dos cidadãos pode razoavelmente escolher a Solução B (e pensar: se temos que sofrer, vamos sofrer todos ao longo do mesmo período).
Em ambos os casos, o resultado do conflito entre a política e a economia é a vitória das leis da política: em ambos os casos os eleitores escolhem a Solução B, desvantajosa do ponto de vista da economia mas correcta do ponto de vista político (aqui a política é vista não como um conjunto de partidos no poder mas como expressão da vontade dos cidadãos: uma espécie de ficção científica, admito).
Mesmo quando as escolhas efectuadas forem apoiadas pela doutrina económica, podem ser rejeitada no pleno respeito da democracia a partir de uma comunidade composta de pessoas perfeitamente racionais: até no caso extremo em que não haja outras soluções viáveis.
Uma conclusão absurda? Não: uma simples lei política. Nenhum modelo normativo da política económica é completo se não considera as condições nas quais o mesmo modelo será politicamente aceitável, uma vez que os mesmos sujeitos racionais assumidos pelo modelo económico racional podem rejeita-lo.
Paradoxo? Não: lei.
Problema: mas não foi falado de "leis da economia"? Então, se forem leis, como é possível não respeita-las? É possível porque em ambos os casos (o primeiro e o segundo caso) não estamos perante leis económicas mas estratégias que querem ser implementadas e que derivam de leis económicas . Não há contradição. Pelo contrário, o facto dos eleitores rejeitarem uma estratégia não deriva de nada, é por si só uma lei política.
Mas tudo isso tem a ver com a actual crise económica vivida no Velho Continente e não apenas aí?
Resposta: não. Na crise económica europeia a situação é diferente: há alternativas, e são alternativas naturais que simplesmente não são apresentadas aos cidadãos. Não há apenas a Solução A (a dos economistas) e a Solução B (que é o não fazer nada). Há também a Solução C, a D, etc.
Outra diferença consiste no facto de não ter economistas em boa fé que apoiem as próprias ideias nos ensinamentos académicos: temos alguns economistas que conscientemente defendem e difundem uma visão unilateral dos acontecimentos, e são os mesmos economistas que mais eco encontram nos canais de comunicação institucionais.
A única coisa que permanece igual é a lei política: os cidadãos têm o legítimo poder de rejeitar uma estratégia que tem como fim prejudicar os interesses deles e favorecer apenas um restrito grupo.
Não há nada de revolucionário nisso: é o ABC da democracia.
Ipse dixit.
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