Juan Orlando Hernández é o novo presidente de Honduras.
No terceiro País mais pobre da América Latina, o voto de protesto contra os conservadores ficou dividido entre a esposa do presidente deposto, Zelaya, e um apresentador de televisão. Hernández quer agora governar em nome de todos, mas não vai ser fácil.
O casal Zelaya (Mel, presidente deposto com um golpe de Estado em 2009, e a sua esposa, Xiomara Castro, candidata este ano) não reconhecem os resultados anunciados pelo Supremo Tribunal Eleitoral.
Centenas de estudantes foram para as ruas para protestar e pedir uma recontagem.
O resultado foi , no entanto, reconhecido pelos Estados Unidos (o que não é estranho...), Espanha, Colômbia, Guatemala, Panamá, Costa Rica, mas também pelo governo da Nicarágua, que é de Esquerda.
Portanto, falhou o assalto da esposa de Zelaya para tornar-se presidente da Honduras: o conservador Partido Nacional continua no poder. Os dados confirmam, no entanto, o fim do histórico bipartidarismo entre nacionais e liberais, que durava desde 1873, devido à deposição de Zelaya (liberal) e à fundação dum novo partido, o Partido Livre.
O neo-Presidente Hernández conseguiu 34.08% dos votos. É pouco, mas é suficiente, pois nas Honduras as eleições presidenciais são feitas numa única rodada: ganha quem conseguir mais votos.
Em segundo lugar, com 28.92 %, Xiomara Castro de Zelaya , que o ex- Presidente teve de nomear dado que a Constituição proíbe a reeleição.
Em terceiro lugar, com 20.70% , o candidato do Partido Liberal, Mauricio Villeda.
Quarto, com 15.64%, Salvador Nasralla, popular anti-corrupção.
O que aconteceu foi que o voto de protesto ficou dividido entre a proposta caudillista tradicional de Xiomara Castro e aquela de Nasralla, permitindo assim que o Partido Nacional permanecesse no poder.
No início da contagem, Xiomara Castro tinha-se declarada vencedora:
Só que certas coisas é melhor dizer-las depois da contagem ter acabado.
Entretanto, Nasralla (por sua vez confiante na vitória) denunciavas sérias discrepâncias entre os dados divulgados pelo Supremo Tribunal Eleitoral e aqueles na posse dos partidos, afirmando que dos primeiros 7.000 relatórios entregues, pelo menos 2.500 tinham sido adulterados.
Também o liberal Villeda, via Twitter, pediu "cuidado com os votos", proclamando:
Mas quem sobrou foi Hernández, cuja tarefa agora não ser a nada simples.
Terceiro País mais pobre da América Latina, a Honduras tem o recorde mundial de assassinatos per capita (85.5 por cada 100 mil habitantes), apesar da recente tentativa das maras (bandos criminais locais) para realizar um processo de pacificação.
Para combater o crime, em Outubro, o governo do Partido Nacional introduziu uma nova policiai militar, mil efectivos equipados com armas de guerra; polícia que, segundo Hernández, deveria aumentar até as 5.000 unidades. Xiomara Castro, por sua vez, propôs uma nova polícia comunitária em vez que "trazendo de volta os soldados para os quartéis".
E mesmo a hostilidade dos militares tem sido, provavelmente, um ponto fraco da proposta do casal Zelaya, que já não podia contar com o apoio das igrejas católica e protestante dada a presença de gays nas listas eleitorais. Isso apesar do surpreendente apoio do presidente da Asociación de Industriales Hondureños, Adolfo Facussé, e da presença da embaixadora dos EUA, Lisa Kubiske, na apresentação do programa partidário dos Zelaya.
Dois terços dos hondurenhos vivem com menos de dois Dólares por dia, e ao longo dos últimos 4 anos o número dos pobres aumentou para 1.8 milhões, num total de 7.600.000 habitantes. Facussé explicou que com consumidores tão pobres, os empresários nunca poderão prosperar, e que qualquer proposta para aumentar o poder de compra é bem-vinda.
Paradoxalmente, a Honduras é o segundo País da América Central para número de pessoas ricas. As famílias Facussé, Atala ,Rosenthal, Faraj, Larach, Nasser e Kafie fazem parte duma elite de famílias palestinianas e libaneses (os chamados "turcos") que controla 40% do PIB nacional. Mesmo o candidato Nasralla é de origem palestiniana.
Tudo isso num País que desde a independência de Espanha em 1821, raramente encontrou períodos de calma.
Até o final de 1800, o País foi governado por ditadores, apesar de liberais, e sofreu desde cedo a influência dos Estados Unidos. A posição geográfica também não ajudou: no centro da América Central, uma região afectada por frequentes agitações políticas.
Os governantes do início do séc. XX foram em maioria ditadores militares, enquanto o País sofria a influência dos Países vizinhos: Guatemala antes, Nicarágua depois, sempre sob o olhar vigilante de Washington.
Desde 1932, ditadura do general Tiburcio Carías Andino , sempre num perene clima de crise económica e tentativas de golpes de Estado. Caído Andino, em 1949, parênteses constitucional e nova ditadura militar em 1954 e 1956.
Nova parênteses constitucional em 1957, com a eleição do liberal Ramón Villeda Morales, que tentou realizar uma reforma agrária. Isso assustou a oligarquia hondurenha e, portanto, novo golpe de Estado em 1963. O novo líder, o coronel (depois general) Osvaldo López Arellano, manteve-se no poder até 1974. Em 1975, López Arellano foi deposto pelo coronel Juan Alberto Melgar Castro, por sua vez obrigado a renunciar em 1978, quando o general Policarpo Paz García assumiu o poder.
Em 1979, começou uma das páginas mais triste da Honduras (e de toda a América Central): presos entre a pressão ocidental dos Estados unidos e a utopia comunista, o Honduras caiu numa espiral de violência, cujo fim foi possível vislumbrar apenas em 1987 e 1989 quando foram assinados acordos com Costa Rica, Guatemala, Nicarágua e El Salvador visando restabelecer a paz na região.
Todavia a situação interna demorou antes de normalizar-se: greves, revoltas, intervenções do exército e dos grupos guerrilheiros, uma insanável crise económica.
A partir e 1993, com a eleição de Carlos Roberto Reina, grande defensor dos direitos humanos, a situação estabilizou e foi possível procurar uma estabilidade social que permitiu avançar com programas económicos importantes (como a reestruturação da administração estatal sobre as florestas).
Uma situação relativamente calma, pelo menos até a tentativa de Manuel Zelaya, em 2006, de convocar um plebiscito para modificar uma cláusula da Constituição e instituir a reeleição.do Presidente. Erro crasso num País ainda democraticamente e economicamente frágil, onde a falta de estabilidade sempre foi uma característica marcante.
Segui-se a deposição de Zelaya , com a Honduras que viu as suas linhas de crédito internacionais congeladas e a suspensão da Organização dos Estados Americanos (OEA).
O resto é história deste dias.
Ipse dixit.
Fontes: Limes, Wikipedia
No terceiro País mais pobre da América Latina, o voto de protesto contra os conservadores ficou dividido entre a esposa do presidente deposto, Zelaya, e um apresentador de televisão. Hernández quer agora governar em nome de todos, mas não vai ser fácil.
O casal Zelaya (Mel, presidente deposto com um golpe de Estado em 2009, e a sua esposa, Xiomara Castro, candidata este ano) não reconhecem os resultados anunciados pelo Supremo Tribunal Eleitoral.
Centenas de estudantes foram para as ruas para protestar e pedir uma recontagem.
O resultado foi , no entanto, reconhecido pelos Estados Unidos (o que não é estranho...), Espanha, Colômbia, Guatemala, Panamá, Costa Rica, mas também pelo governo da Nicarágua, que é de Esquerda.
Eleições: os resultado contestados
Portanto, falhou o assalto da esposa de Zelaya para tornar-se presidente da Honduras: o conservador Partido Nacional continua no poder. Os dados confirmam, no entanto, o fim do histórico bipartidarismo entre nacionais e liberais, que durava desde 1873, devido à deposição de Zelaya (liberal) e à fundação dum novo partido, o Partido Livre.
O neo-Presidente Hernández conseguiu 34.08% dos votos. É pouco, mas é suficiente, pois nas Honduras as eleições presidenciais são feitas numa única rodada: ganha quem conseguir mais votos.
Juan Orlando Hernández |
Em terceiro lugar, com 20.70% , o candidato do Partido Liberal, Mauricio Villeda.
Quarto, com 15.64%, Salvador Nasralla, popular anti-corrupção.
O que aconteceu foi que o voto de protesto ficou dividido entre a proposta caudillista tradicional de Xiomara Castro e aquela de Nasralla, permitindo assim que o Partido Nacional permanecesse no poder.
No início da contagem, Xiomara Castro tinha-se declarada vencedora:
Eu sou o Presidente de Honduras, a vitória de um país livre é agora indiscutível.
O casal Zelaya |
Entretanto, Nasralla (por sua vez confiante na vitória) denunciavas sérias discrepâncias entre os dados divulgados pelo Supremo Tribunal Eleitoral e aqueles na posse dos partidos, afirmando que dos primeiros 7.000 relatórios entregues, pelo menos 2.500 tinham sido adulterados.
Também o liberal Villeda, via Twitter, pediu "cuidado com os votos", proclamando:
Hondurenhos, hoje estamos a fazer história! Hoje, o nosso país ganha! Ganhámos a maioria dos assentos.Na prática, antes do escrutínio ter acabado, todos proclamavam vitória.
Mas quem sobrou foi Hernández, cuja tarefa agora não ser a nada simples.
Pobre, violento e rico
Terceiro País mais pobre da América Latina, a Honduras tem o recorde mundial de assassinatos per capita (85.5 por cada 100 mil habitantes), apesar da recente tentativa das maras (bandos criminais locais) para realizar um processo de pacificação.
Para combater o crime, em Outubro, o governo do Partido Nacional introduziu uma nova policiai militar, mil efectivos equipados com armas de guerra; polícia que, segundo Hernández, deveria aumentar até as 5.000 unidades. Xiomara Castro, por sua vez, propôs uma nova polícia comunitária em vez que "trazendo de volta os soldados para os quartéis".
E mesmo a hostilidade dos militares tem sido, provavelmente, um ponto fraco da proposta do casal Zelaya, que já não podia contar com o apoio das igrejas católica e protestante dada a presença de gays nas listas eleitorais. Isso apesar do surpreendente apoio do presidente da Asociación de Industriales Hondureños, Adolfo Facussé, e da presença da embaixadora dos EUA, Lisa Kubiske, na apresentação do programa partidário dos Zelaya.
Dois terços dos hondurenhos vivem com menos de dois Dólares por dia, e ao longo dos últimos 4 anos o número dos pobres aumentou para 1.8 milhões, num total de 7.600.000 habitantes. Facussé explicou que com consumidores tão pobres, os empresários nunca poderão prosperar, e que qualquer proposta para aumentar o poder de compra é bem-vinda.
Paradoxalmente, a Honduras é o segundo País da América Central para número de pessoas ricas. As famílias Facussé, Atala ,Rosenthal, Faraj, Larach, Nasser e Kafie fazem parte duma elite de famílias palestinianas e libaneses (os chamados "turcos") que controla 40% do PIB nacional. Mesmo o candidato Nasralla é de origem palestiniana.
Tudo isso num País que desde a independência de Espanha em 1821, raramente encontrou períodos de calma.
Honduras: uma história de instabilidade
Até o final de 1800, o País foi governado por ditadores, apesar de liberais, e sofreu desde cedo a influência dos Estados Unidos. A posição geográfica também não ajudou: no centro da América Central, uma região afectada por frequentes agitações políticas.
Os governantes do início do séc. XX foram em maioria ditadores militares, enquanto o País sofria a influência dos Países vizinhos: Guatemala antes, Nicarágua depois, sempre sob o olhar vigilante de Washington.
Desde 1932, ditadura do general Tiburcio Carías Andino , sempre num perene clima de crise económica e tentativas de golpes de Estado. Caído Andino, em 1949, parênteses constitucional e nova ditadura militar em 1954 e 1956.
Nova parênteses constitucional em 1957, com a eleição do liberal Ramón Villeda Morales, que tentou realizar uma reforma agrária. Isso assustou a oligarquia hondurenha e, portanto, novo golpe de Estado em 1963. O novo líder, o coronel (depois general) Osvaldo López Arellano, manteve-se no poder até 1974. Em 1975, López Arellano foi deposto pelo coronel Juan Alberto Melgar Castro, por sua vez obrigado a renunciar em 1978, quando o general Policarpo Paz García assumiu o poder.
Em 1979, começou uma das páginas mais triste da Honduras (e de toda a América Central): presos entre a pressão ocidental dos Estados unidos e a utopia comunista, o Honduras caiu numa espiral de violência, cujo fim foi possível vislumbrar apenas em 1987 e 1989 quando foram assinados acordos com Costa Rica, Guatemala, Nicarágua e El Salvador visando restabelecer a paz na região.
Todavia a situação interna demorou antes de normalizar-se: greves, revoltas, intervenções do exército e dos grupos guerrilheiros, uma insanável crise económica.
A partir e 1993, com a eleição de Carlos Roberto Reina, grande defensor dos direitos humanos, a situação estabilizou e foi possível procurar uma estabilidade social que permitiu avançar com programas económicos importantes (como a reestruturação da administração estatal sobre as florestas).
Uma situação relativamente calma, pelo menos até a tentativa de Manuel Zelaya, em 2006, de convocar um plebiscito para modificar uma cláusula da Constituição e instituir a reeleição.do Presidente. Erro crasso num País ainda democraticamente e economicamente frágil, onde a falta de estabilidade sempre foi uma característica marcante.
Segui-se a deposição de Zelaya , com a Honduras que viu as suas linhas de crédito internacionais congeladas e a suspensão da Organização dos Estados Americanos (OEA).
O resto é história deste dias.
Ipse dixit.
Fontes: Limes, Wikipedia
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