No entanto, a recente descoberta duma lareira com 300 mil anos em Qesem, um sítio arqueológico localizado a 10 km a leste de Tel Aviv (israel), poderia lançar uma nova luz sobre como os seres humanos antigos começaram a controlar e utilizar este elemento.
Os resultados publicados no Journal of Archaeological Science descrevem o método utilizado pelos cientistas para analisar o depósito de espessa de cinzas de madeira encontrados dentro da caverna.
Ruth Shahack-Gross, do Centro Kimmel Center para a Sciência Arqueológica no Instituto Weizmann:
Os resultados ajudam a fixar um importante ponto de viragem no desenvolvimento da cultura humana, quando se começou a usar regularmente o fogo para cozinhar a carne e como um lugar para as reuniões sociais. Isso diz algo acerca dos impressionantes níveis de desenvolvimentos social e cognitivo dos seres humanos que viveram 300 mil anos atrás.
Qesem |
Foi um Homo Sapiens que utilizou o antigo lar? Era um ser como nós? Na verdade, não está totalmente claro quem estivesse a cozinhar naquela caverna 300 mil anos atrás.
Um estudo publicado em 2010 no American Journal of Physical Anthropology relatou a descoberta de alguns dentes humanos na caverna Qesem, datados entre 400 mil e 200 mil anos atrás.
Os autores, assumindo que os dentes poderiam ter pertencido aos seres humanos modernos (o tal Homo Sapiens), causou muita controvérsia, uma vez que essa interpretação está em desacordo com a visão predominante, segundo a qual os Sapiens surgiram na África há 200.000 anos, e, em seguida, dispersam-se para as outras partes do mundo.
No entanto, o pesquisador Avi Gopher, um arqueólogo da Universidade de Tel Aviv, numa entrevista em Nature na sequência da descoberta, salientou que neste momento os dentes mais parecidos com aqueles descobertos em Qesem foram encontrados nas grutas de Skhul e Qafzeh, no norte de Israel, geralmente atribuídos aos seres humanos modernos.
O facto é que a hipótese do Homo Sapiens nascido em África há 200 mil anos tornou-se numa espécie de dogma: pô-la em dúvida acarreta a heresia, pelo que tudo o que não cabe nesta teoria é objecto de contestação. Portanto, até agora a identidade dos donos da lareira permanece desconhecida.
Ran Barkai , arqueólogo da Universidade de Tel Aviv:
Nós definimos-a uma nova raça de hominídeo. É claramente diferente do Homo Erectus e tem afinidades com os Sapiens e com os Neandertais. Dado que os Neandertais aparecem muito mais tarde para o leste e uma vez que os dentes de Qesem são mais semelhantes aos do Sapiens, pensamos que esta raça fique mais próxima do Homo Sapiens.
Mais algumas pistas
Por volta da lareira, a equipa descobriu os restos de ferramentas de pedra, sugerindo que tenham sido utilizados para esfolar animais e cortar a carne. As ferramentas ficam perto da lareira mas não exactamente em volta, o que sugere que os humanos antigos já tinham alguma forma de ordem espacial e social.
Barkai:
Eram pessoas muito sofisticada e inteligente, cuja produção de ferramentas era muito avançada, sabiam caçar com habilidade e podiam produzir fogo à vontade.
Acreditamos que fosse um pequeno grupo de pessoas, talvez um par de famílias alargadas, 15 ou 20 membros no total, que permaneciam por curtos períodos de tempo e depois voltam.
Foi o início de uma nova fase da existência humana, quando as pessoas começaram a caçar veados, recolher lenha, fazer lareiras para aquecer a comida. Esta descoberta faz-me sentir em casa com a espécie humana: posso sentir o cheiro da fumaça e da carne durante a cozedura. Isto faz-me sentir parte de uma muito longa e saborosa história humano.
Ipse dixit.
Fonte: Il Navigatore Curioso
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