Primeira pergunta: onde fica? Muito simples: no Peru, em Lima, apanham a Nacional nº 1 em direcção Barranca, até o primeiro cruzamento após o Rio Supe; aí viram à direita, na carretera Caral-Las Minas-Ambar; uma vez passado Pueblo Nuevo, perguntam.
Não foi difícil, pois não?
Quando é que fiz isso? Há dois minutos, no Google Map, modalidade Street View. Só que ainda espero que alguém me responda (eis uma falta de Google Map).
Bom, mas agora isso não interessa. Voltemos a Caral.
Estima-se que Caral fosse habitada entre 3000 e 2000 anos antes de Cristo, o que torna este um complexo da sociedade pré-colombiana uma localidade de extremo interesse, que incluia na verdade cerca de 30 cidades localizadas no que hoje é conhecida como a região de Caral. Ok, a fantasia não abunda por aqui, mas assim não há confusões.
Acredita-se que Caral possa responder a perguntas sobre a origem das civilizações andinas. E aqui o sagaz Leitor pergunta: "E porquê?". Muito bem sagaz Leitor, boa pergunta.
O facto é que os vestígios arqueológicos sugerem que Caral fosse um povoado grande e importante: o complexo urbano, entre centro e periferia, estende-se por uma área de 66 hectares (mais ou menos 66 campos de futebol), repleta de praças e edifícios residenciais. Considerada a época, Caral não era nada pequena, pelo contrário.
As pirâmides |
Não podia ter faltado a espiral... |
O centro do complexo de Caral é constituído por um espaço público central, com seis enormes estruturas piramidais dispostas em volta: a maior das estruturas (que depois são túmulos) mede 60 metros de altura, 450 x 500 metros na base.
Estas pirâmides foram todas construídas durante um ou dois períodos de intervenção, o que é um pormenor importante, pois sugere um alto nível de planeamento, que costumamos associar a culturas organizadas em nível estadual.
A tecnologia utilizada pelos construtores permitiu que as estruturas permanecessem em bom estado,
mesmo depois de 5000 anos de existência e apesar dos frequentes terremotos que atingem a região.
De facto, o Peru faz parte do Círculo de fogo do Pacífico, ou Anel de fogo do Pacífico, uma área onde há um grande número de terremotos: só nos últimos 7 anos, o Peru foi atingido por dois grandes sismos, o primeiro em 2007 de grau 8 da escada Richter e o segundo em 2011 de grau 7.
As flautas |
A resposta está nos sacos de shicra, isso é, sacos de fibras vegetais preenchidos com pedras e, em seguida, colocados dentro das paredes de retenção das estruturas, garantindo precisão e tornando os edifícios "a prova de sismo". É uma técnica particularmente inteligente, pois os sacos assim colocados funcionam como "amortecedores", absorvendo e não propagando as ondas sísmicas.
E foi mesmo a datação por radio-carbono dos sacos que permitiu estabelecer com certeza que estas estruturas datam de 3000 a.C.
Aqui surge o primeiro enigma: como é que a comunidade de Caral, num período tão arcaico, foi capaz de desenvolver uma tal tecnologia? Para nós, hoje em dia, é normal falar de ondas sísmicas, de propagação, de estruturas pensadas contra os terremotos, mas na altura?
O Dr. Jonathan Haas, curador de antropologia do Museu Field, em Chicago:
Estamos a lidar com um lugar que nos mostra, pela primeira vez, as coisas que estavam a acontecer naquele momento na América do Sul.
Ok, não é o hieroglífico mais requintado...mas gosto! |
No templo principal foram encontradas 32 flautas feitas de ossos de pelicano.
Além disso, em 2002, foram também encontradas mais de 30 cornetas feitas com ossos de veados e de lama. Claramente, a música deve ter desempenhado um papel importante na sociedade.
No entanto, não foram encontrados vestígios de resíduos militares: nada de armas, nada de corpos mutilados (portanto, aparentemente, nada de sacrifícios humanos). Além disso, há sinais de que a população não praticasse a escravidão.
Portanto, um povo pacífico, cuja existência se encontrava baseada na agricultura, no comércio, na arte. E aqui temos o segundo enigma: o que aconteceu aos habitantes de Caral?
Não admira a extinção deles (sem guerras, sem escravos, nem um sacrifício humano, todo o dia a tocar a flauta e a corneta...mas que existência é?), o facto é que o povo simplesmente desapareceu sem deixar rastos.
Ipse dixit.
Fontes: National Geographic, The New York Times, Il Navigatore Curioso
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