Mas se fosse também destruição?
Se, paradoxalmente, saber demais accionasse uma contagem decrescente (ou regressiva, como dizem no Brasil) para o fim do Universo?
Não é ficção científica, é especulação teórica que encontra as bases na teoria quântica. A conclusão dramática é de Lawrence Krauss, da Case Western Reserve University (Ohio, EUA) e do colega James Dent, segundo os quais o estudo da astronomia tem acelerado o processo de destruição do Universo ao longo das últimas duas décadas, principalmente com a medição da energia escura, a força misteriosa que torna possível a expansão do mesmo Universo.
A teoria é a lógica consequência de um estranhas propriedades da física quântica, o ramo da ciência que estuda o comportamento das partículas e, talvez, não apenas daquelas: a simples observação é capaz de influenciar o desempenho de um estado quântico.
E esta não é apenas teoria: e quanto emerge do bem conhecido experimento da dupla fenda quântica. A experiência demonstra que quando um observador observa uma partícula que passa através das duas fendas colocadas numa barreira, a partícula comporta-se como uma bala, passando através de só uma das fendas.
No entanto, se o observador pára a observação, a partícula passa a comportar-se como uma onda, sendo capaz de passar através de ambas as aberturas ao mesmo tempo.
Isto é algo que temos dificuldade em imaginar, pois fica muito além da nossa experiência diária, e significa que a matéria e a energia podem apresentar as características tanto das ondas quanto das partículas e que o comportamento depende da presença de um observador.
Este fenómeno ocorre de forma ainda mais intrigante no chamado Efeito Zeno Quântico, que afirma que um sistema, que espontaneamente decai, é inibido ou até mesmo impedido completamente de decair quando submetido a uma série infinita de observações.
Em contraste, uma observação em tempos subsequentes
(mas não infinita) pode conduzir ao fenómeno oposto, conhecido como Efeito Anti-Zeno, onde a decomposição é acelerada.
Ambos os efeitos foram observados recentemente em vários experimentos (experimento de Itano, em 1990, de Kwiat acerca da polarização dos fotões, 1995, e Fischer em 2001).
O problema é que, quando olharmos para um sistema, podemos mantê-lo num determinado estado: a observação repetida de um sistema num estado de elevada energia mantém um o sistema num estado de deterioração acelerada.
De acordo com Krauss, este princípio também se aplica ao Universo, que é um sistema de alta energia. À medida que o Universo está a expandir-se, a sua observação (em particular do seu lado escuro) pode mantê-lo no estado de decadência acelerada. Em suma, quanto mais olharmos para o Universo, mais antecipamos o seu fim.
A única solução para travar a decadência acelerada do Universo seria parar a pesquisa, de modo que o Cosmos possa transitar com segurança para um estado de decadência de baixa energia, mais lento.
No entanto, podemos não ser os únicos a observar e estudar o Universo.
Mas isso não pode funcionar como álibi: parem de observar os céu estrelado nas noites de Verão e em vez disso tratem do churrasco.
O Paradoxo de Zeno
Era uma das cosias que, no tempo da escola, conseguia acordar-me do estado letárgico para prestar atenção às palavras do professor.
Eis como é explicado na Wikipedia:
Aquiles, o herói grego, e a tartaruga decidem apostar uma corrida. Como a velocidade de Aquiles é maior que a da tartaruga, esta recebe uma vantagem, começando corrida um trecho na frente da linha de largada de Aquiles.
Aquiles nunca sobrepassa à tartaruga, pois quando ele chegar à posição inicial A da tartaruga, esta encontra-se mais a frente, numa outra posição B. Quando Aquiles chegar a B, a tartaruga não está mais lá, pois avançou para uma nova posição C, e assim sucessivamente, ad infinitum.
Em termos matemáticos, seria dizer que o limite, com o espaço entre a tartaruga e Aquiles tendendo a 0, do espaço de Aquiles, é a tartaruga. Ou seja, ele virtualmente alcança a tartaruga, mas nessa linha de raciocínio, não importa quanto tempo se passe, Aquiles nunca alcançará a tartaruga nem, portanto, poderá ultrapassá-la.
Mas como explicar o paradoxo?
Na verdade, ao colocar a tartaruga na corrida, cria-se um referencial para o movimento de Aquiles, que é o que causa o paradoxo. Continua Wikipedia:
De fato, o movimento dele é independente do movimento da tartaruga; se adotamos a tartaruga como um padrão para determinar o movimento dele, criamos uma situação artificial em que Aquiles é regido pelo espaço da tartaruga.
Ok, pare o churrasco também e desafie uma tartaruga. Se o bicho ganhar, marque uma consulta com um médico e só depois volte para o churrasco.
Ipse dixit.
Fontes: Il Navigatore Curioso, Wikipedia
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