Esquisito? Na verdade nem tanto. Sabemos que a água existe fora do nosso planeta também: é o caso dos cometas, cujos núcleos contêm uma elevada percentagem de gelo de água.
Sabemos que existem outros planetas além do nosso Sistema e sabemos que alguns deles têm condições para ter água (aliás, moléculas de água já foram detectadas em planetas extra-solares).
Será que toda a água presenta no nosso planeta gerou-se por processos químicos logo após a formação (ou criação, depende dos gostos) da Terra?
A resposta neste caso é simples: não. De facto, faltava o "material" para gerar tanta água. Muita da água tem que ter chegado "de fora" e os maiores suspeitos são outra vez os cometas, que nos primeiros tempos de vida da Terra chocavam com frequência com o nosso planeta.
Mas também aqui há uma dúvida: os cometas presentes no nosso sistema solar teriam sido suficientes?
Um grupo de astrofísicos, químicos e cientistas da Universidade de Michigan (EUA) e da Universidade de Exeter (Grã-Bretanha) reconstruiu a história do gelo no sistema solar numa pesquisa publicada nas semanas passadas na revista Science.
A água é amplamente presente no sistema solar, nos minerais da Lua e de Marte, nas crateras no lado escuro de Mercúrio e, especialmente, nos cometas e nos meteoritos: mas a sua origem é muito debatida.
De acordo com uma teoria, a água gelada teria sido formada dentro do disco protoplanetário de gás e poeira que rodeava o Sol no momento do seu nascimento, enquanto que a hipótese rival afirma que teve origem no espaço interestelar, bem fora do Sistema Solar.
Pode fazer confusão a ideia de água que chega "de fora" do Sistema Solar, mas é bom não esquecer que a matéria da qual somos feitos (tal como toda a matéria do Sol e dos relativos planetas) é o fruto da explosão duma estrela anterior: na prática, todo o Sistema Solar vem "de fora". Explica Conel M. O’D. Alexander, um dos autores do estudo:
Se a água do sistema solar primitivo foi largamente herdada do gelo do espaço interestelar, é provável que este tipo de gelo, e a matéria orgânica pré-biótica que contêm, sejam abundantes na maioria dos discos protoplanetários que depois formam as estrelas. Se isso for o resultado de processos químicos que ocorrem no local durante o nascimento do Sol, a presença de água em outros sistemas solares podem ser muito diferentes, inferior, com implicações óbvias para o possível surgimento de vida em outros lugares.
Alexander e os seus colegas desenvolveram sofisticados modelos para simular os processos químicos que poderiam ter ocorrido dentro do disco protoplanetário do sistema solar, e estabelecer assim o valor da relação entre a água e a água pesada formadas nessas condições.
Ao comparar os resultados da simulação com os níveis de água pesada nos oceanos da Terra, cometas e amostras de meteoritos que chegaram à Terra, os pesquisadores descobriram que são demasiado elevados para ter sido originados a partir do disco protoplanetário.
Como resultado, uma proporção significativa de água, 30-50 % nos oceanos da Terra e 60-100 % nos cometas e meteoritos, deve ter-se formado no espaço interestelar, o que aumenta a probabilidade de que a vida esteja presente em outras partes do universo.
E sim, boa parte da água é mais antiga do que o nosso planeta e o nosso Sol.
Ipse dixit
Fonte: Le Scienze
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