"Abandonam" por assim dizer: na realidade, Washington continua a influenciar os Países "libertados", apenas recusando um envolvimento directo.
O Iraque foi o primeiro: depois foi a vez da Líbia, do Egipto, da Síria, da Ucrânia. Depois de Dezembro será possível acrescentar o Afeganistão também. Impossível falar numa série de coincidências: é evidente que na base existe uma estratégia, que mira a desestabilizar os Países antes para tentar controla-los depois, sem a utilização de forças militares no terreno, mas confiando na actuação dos "agentes" depois.
Agora volta-se a falar da Líbia: por enquanto as contas falam de 2 mortos e 55 feridos nos confrontos em Tripoli, mas são dados provisórios e muito afastados da realidade. A Líbia precipitou no caos, outra vez.
O ataque de Haftar
Antes um ataque contra a sede do Parlamento, na zona sul da capital: disparos, explosões, fumo preto, notícias confusas. Alguns homens armados teriam entrado no edifício e deitaram fogo. E nem é uma novidade absoluta: já no passado mês de Abril o Parlamento tinha sido evacuado após um ataque.
De acordo com as testemunhas, foram sequestrados pelo menos dois deputados, incluindo o Presidente da Câmara, Abu Sahmein (notícia sucessivamente negada por Al Jazeera). Isso enquanto o correspondente do The Guardian em Tripoli, Chris Stevens, relatava confrontos em outras áreas da capital também.
Os ataques seriam da autoria de dois grupos de milícias, Al Qaaqaa e Sawaaq, leais a Khalifa Haftar, o ex-general aposentado, agora líder de um exército paramilitar que opera "contra as milícias islâmicas que desestabilizam o país".
Haftar pediu mesmo a dissolução do Parlamento:
O Congresso é o coração da crise, o Estado apoia extremistas islâmicos
contra Khaddafi no oeste do País e no passado crítico de Haftar.
Na mensagem, um tanto enigmática, Farnana anunciou ao mundo que "o país não pode ser um antro de terroristas" e que "o trabalho do Parlamento deve ser suspenso", deixando intuir uma aliança com Haftar, apesar dos contrastes no passado.
No entanto, o objectivo das forças leais ao ex-general Haftar são os islamitas representados no Parlamento, responsáveis, do ponto de vista dele, de fornecer protecção e ajuda para as milícias rebeldes em Bengasi e arredores. A poderosa milícia Al Qaaqaa, da cidade de Zintan, no passado acusou os islamitas de dominarem o parlamento e o governo; portanto, teria decidido juntar-se à milícia Sawaaq e apoiar o exército paramilitar de Khalifa Haftar, que já na Sexta-feira lançou uma ofensiva em Bengasi contra os "extremistas".
Haftar tem lançado uma feroz ofensiva militar contra as milícias da capital da Cirenáica, também utilizando aeronaves e tropas do governo, provocando a morte de pelo menos 79 pessoas; e o mesmo ex-general anunciou que o ataque irá continuar até conseguir a libertação da Líbia.
Ataque também contra a base aérea militar de Benina, sem vítimas.
Haftar recusa a definição de "golpe":
Este é o começo de uma batalha nacional. Não é um golpe, não é uma luta pelo poder
Haftar e a CIA
Mas quem é na verdade o ex-general Haftar?
Belqasim Khalifa Haftar (por vezes escrito Hefter ou Huftur, em árabe: خليفة بالقاسم حفتر ) é um oficial líbio aposentado, que em Abril de 2011 tinha sido promovido Tenente-General pelas autoridades do Conselho Nacional de Transição da Líbia.
Mas antes disso, era um dos comandantes de exército líbio às ordens de Khadafi no conflito entre a Líbia e o vizinho Chade. Caiu em desgraça e fugiu para os Estados Unidos.
Isso, pelo menos, segundo a versão oficial, pois na verdade as coisas correram de forma um pouco diferente: Khadafi tinha entendido o jogo duplo de Haftar e decidiu fecha-lo na prisão, da qual o ex-general foi resgatado com uma operação das forças especiais da CIA.
Exilado nos EUA, Haftar organizou a sua própria milícia, cujos oficiais foram treinados pela Central Intelligence Agency (nos EUA, Haftar morava a 8 km da sede de Langley) com apoios da Arábia Saudita também; na década de Noventa, as milícia de Haftar e de outros exilados eram treinadas no Chad, perto da capital N'Djamena, como parte do plano da Administração Reagan para um golpe contra Khadafi.
Em 2011, Haftar voltou à terra natal para apoiar a revolta líbia.
Em Março do mesmo ano, um porta-voz militar anunciou que Haftar tinha sido nomeado comandante das forças armadas, mas o Conselho Nacional de Transição negou isso e Haftar ficou como número 3 na hierarquia do exército, com a patente de Tenente-General.
E agora? Agora a CIA parece oferece a Haftar uma nova oportunidade.
Já em Fevereiro Haftar tentou desencadear um novo golpe na Líbia, mas aparentemente sem muito sucesso. Provavelmente foi uma espécie de prova geral para testar a reacção do governo central.
Ao mesmo tempo, militares dos EUA são deslocados desde as bases espanholas para a Sicília: uma forma de "precaução", como afirmou o Pentágono na passada Quarta-feira. 200 fuzileiros e 6 aeronaves que poderiam ser utilizados para a protecção das embaixadas, como afirma o Coronel Steve Warren do Departamento de Estado, mas sem descartar a possibilidade de "ser chamados para uma missão diferente".
Difícil fazer previsões nesta altura.
Provavelmente a milícia de Haftar conseguirá a vitória, face a fraqueza das forças governamentais e os apoios que chegam através da fronteira com o Egipto.
Mas imaginar um cenário posterior é tarefa complicada: pode Haftar chegar ao poder com a criação dum espécie de ditadura militar? Um regime controlado ainda mais directamente seria uma vantagem pelos Estados Unidos, sem dúvida: mas todos os discursos acerca da Democracia, da Liberdade?
Ipse dixit
Fontes: CNN, Formiche, Info Oggi, La Repubblica, Il Corriere della Sera, Business Insider
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