Libor. Já ouviram?
Não faz mal. A explicação é simples.
Nos últimos tempos foram criadas algumas regras para que o mundo da finança seja mais transparente, mais limpo, mais correcto. Dodd Frank, Regra Volker, são este os termos.
Fique descansado o Leitor, não é nada de sério, nenhuma pessoa normal poderia acreditar em coisas assim. E, de facto, o mundo da finança continua alegremente sem prestar muita atenção.
E aqui entra em cena a Libor.
Para perceber de que se trata, temos que fazer uma pergunta: quais são os serviços básicos oferecidos por um bancos? Obviamente o básico é pedir dinheiro emprestado e voltar a emprestá-lo. O Leitor coloca os seus milhões no banco em que confia (o Leitor confia num banco?!?), o banco sorri, aceita o dinheiro e promete pagar juros. Não muitos, mas alguns.
E aqui o Leitor poderia perguntar: "Desculpe la, senhor banco, mas como é que você calcula os juros, eh? Porque, sabe como é, gostaria poder saber desde já quanto vou ganhar nos próximos tempos".
E o director do banco explica: "Querido Leitor, fique descansado, pois nós, um dos melhores bancos do País e talvez o melhor mesmo, calculamos os juros considerando a taxa de desconto de hoje, definimos o cálculos em suposições sobre o valor futuro do dinheiro e nas projeções do mercado global que formam indicações pelas instituições que gerem o crédito e o débito em todo o mundo, a evolução futura da demanda e da oferta de dinheiro. As suas poupanças estão bem entregues e com elas poderá obter o máximo que o mercado consegue oferecer".
E depois começa às gargalhadas.
Nesta altura o Leitor fica todo contente, convencido de ter encontrado um banco sério, pois estes sim que sabem trabalhar. Apenas estranhou as gargalhadas finais, mas enfim, vê-se que este director é pessoa simpática.
Agora, considere o Leitor que tudo isso seja apenas areias que o banco atira para os seus olhos. Suponha que nada disso aconteça na verdade. E suponha também que os banqueiros estão simplesmente a manipular a taxa de juros para que possam fazer apostas no mercado com o seu dinheiro: e tudo isso porque conhecem antes qual o andamento do mercado, com informações valiosas neste sentido que, todavia, não são partilhada com o Leitor.
Se esta hipótese for verdadeira, as gargalhadas finais teriam outra explicação: não é a simpatia do banco, é uma violação bruta de confiança (a confiança do Leitor, o correntista), mas também uma extorsão de proporções bíblicas, pois falamos de biliões (Dólares? Euros? Tanto faz...) que as pessoas com uma conta bancária não teriam recebido. Juros que ficariam nos cofres dos bancos.
Mas é isso que acontece ou que aconteceu? Parece. Eis a Libor, London Interbank Offered Rate.
A Libor é o parâmetro com o qual é estabelecida a taxa de juros para gerir milhares de milhões de empréstimos no mundo, em hipotecas, empréstimos para pequenas empresas, empréstimos pessoais. Este valor é resultado da taxa média com a qual os grandes bancos pedem dinheiro emprestado.
Até agora o escândalo está limitado ao Barclays, o grande banco com sede em Londres, que acabou de pagar 453 milhões de Dólares em multas e cujos altos executivos foram forçados a demitir-se. As e-mail que trocaram fornecem uma imagem arrepiante de como facilmente foram capazes de alterar as taxas de juros e ganhar muito dinheiro. Mas pensar que tudo possa ficar limitado ao Barclays é ingénuo: porque todos os grandes bancos participam no fornecimento dos dados utilizados para fixar a taxa Libor e Barclay não poderia ter agido sem o envolvimento de outros.
Quem são estes "outros"? Pergunta retórica: JPMorgan Chase, Citigroup, Bank of America...
E esta não é apenas uma insinuação, pois a defesa utilizada pelos responsáveis do Barclays foi esta: todos os grandes bancos estabelecem a Libor com o mesmo método e com os mesmos fins de Barclays.
Ámen.
Para ser precisos, temos que distinguir duas fases do escândalo:
A primeira fase ocorreu no período de antes da crise financeira, por volta de 2007, quando Barclays e outros bancos apresentavam taxas Libor falsas, inferiores aos custos efectivos para esconder os problemas que estavam a enfrentar eram realmente. Isso já é criminal, porque demonstra como a pratica de falsificar a Libor não seja coisa nova e que os bancos sabiam antes da crise que algo ruim estava no ar mas preferiram ficar calados (impedindo também qualquer precaução neste sentido).
A segunda fase é a actual, começada, ao que parece, em 2005 e ainda não acabada: manipular a taxa Libor para garantir que as apostas dos bancos no sector dos derivados (mais uma vez, eles) continuem a ser rentáveis.
Esta é uma prática que podemos tranquilamente definir como insider trading, obviamente proibida, pois significa isso: uma das partes em causa conseguiu informações não públicas e pode desfruta-las para operar numa posição privilegiada.
É um jogo divertido mas também um pouco monótono: os bancos ganham sempre, os correntistas nunca.
Ipse dixit.
Fonte: Common Dreams
Não faz mal. A explicação é simples.
Nos últimos tempos foram criadas algumas regras para que o mundo da finança seja mais transparente, mais limpo, mais correcto. Dodd Frank, Regra Volker, são este os termos.
Fique descansado o Leitor, não é nada de sério, nenhuma pessoa normal poderia acreditar em coisas assim. E, de facto, o mundo da finança continua alegremente sem prestar muita atenção.
E aqui entra em cena a Libor.
Para perceber de que se trata, temos que fazer uma pergunta: quais são os serviços básicos oferecidos por um bancos? Obviamente o básico é pedir dinheiro emprestado e voltar a emprestá-lo. O Leitor coloca os seus milhões no banco em que confia (o Leitor confia num banco?!?), o banco sorri, aceita o dinheiro e promete pagar juros. Não muitos, mas alguns.
E aqui o Leitor poderia perguntar: "Desculpe la, senhor banco, mas como é que você calcula os juros, eh? Porque, sabe como é, gostaria poder saber desde já quanto vou ganhar nos próximos tempos".
E o director do banco explica: "Querido Leitor, fique descansado, pois nós, um dos melhores bancos do País e talvez o melhor mesmo, calculamos os juros considerando a taxa de desconto de hoje, definimos o cálculos em suposições sobre o valor futuro do dinheiro e nas projeções do mercado global que formam indicações pelas instituições que gerem o crédito e o débito em todo o mundo, a evolução futura da demanda e da oferta de dinheiro. As suas poupanças estão bem entregues e com elas poderá obter o máximo que o mercado consegue oferecer".
E depois começa às gargalhadas.
Nesta altura o Leitor fica todo contente, convencido de ter encontrado um banco sério, pois estes sim que sabem trabalhar. Apenas estranhou as gargalhadas finais, mas enfim, vê-se que este director é pessoa simpática.
Agora, considere o Leitor que tudo isso seja apenas areias que o banco atira para os seus olhos. Suponha que nada disso aconteça na verdade. E suponha também que os banqueiros estão simplesmente a manipular a taxa de juros para que possam fazer apostas no mercado com o seu dinheiro: e tudo isso porque conhecem antes qual o andamento do mercado, com informações valiosas neste sentido que, todavia, não são partilhada com o Leitor.
Se esta hipótese for verdadeira, as gargalhadas finais teriam outra explicação: não é a simpatia do banco, é uma violação bruta de confiança (a confiança do Leitor, o correntista), mas também uma extorsão de proporções bíblicas, pois falamos de biliões (Dólares? Euros? Tanto faz...) que as pessoas com uma conta bancária não teriam recebido. Juros que ficariam nos cofres dos bancos.
Mas é isso que acontece ou que aconteceu? Parece. Eis a Libor, London Interbank Offered Rate.
A Libor é o parâmetro com o qual é estabelecida a taxa de juros para gerir milhares de milhões de empréstimos no mundo, em hipotecas, empréstimos para pequenas empresas, empréstimos pessoais. Este valor é resultado da taxa média com a qual os grandes bancos pedem dinheiro emprestado.
Até agora o escândalo está limitado ao Barclays, o grande banco com sede em Londres, que acabou de pagar 453 milhões de Dólares em multas e cujos altos executivos foram forçados a demitir-se. As e-mail que trocaram fornecem uma imagem arrepiante de como facilmente foram capazes de alterar as taxas de juros e ganhar muito dinheiro. Mas pensar que tudo possa ficar limitado ao Barclays é ingénuo: porque todos os grandes bancos participam no fornecimento dos dados utilizados para fixar a taxa Libor e Barclay não poderia ter agido sem o envolvimento de outros.
Quem são estes "outros"? Pergunta retórica: JPMorgan Chase, Citigroup, Bank of America...
E esta não é apenas uma insinuação, pois a defesa utilizada pelos responsáveis do Barclays foi esta: todos os grandes bancos estabelecem a Libor com o mesmo método e com os mesmos fins de Barclays.
Ámen.
Para ser precisos, temos que distinguir duas fases do escândalo:
A primeira fase ocorreu no período de antes da crise financeira, por volta de 2007, quando Barclays e outros bancos apresentavam taxas Libor falsas, inferiores aos custos efectivos para esconder os problemas que estavam a enfrentar eram realmente. Isso já é criminal, porque demonstra como a pratica de falsificar a Libor não seja coisa nova e que os bancos sabiam antes da crise que algo ruim estava no ar mas preferiram ficar calados (impedindo também qualquer precaução neste sentido).
A segunda fase é a actual, começada, ao que parece, em 2005 e ainda não acabada: manipular a taxa Libor para garantir que as apostas dos bancos no sector dos derivados (mais uma vez, eles) continuem a ser rentáveis.
Esta é uma prática que podemos tranquilamente definir como insider trading, obviamente proibida, pois significa isso: uma das partes em causa conseguiu informações não públicas e pode desfruta-las para operar numa posição privilegiada.
É um jogo divertido mas também um pouco monótono: os bancos ganham sempre, os correntistas nunca.
Ipse dixit.
Fonte: Common Dreams
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