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O Decrescimento - Parte III

23 de Setembro de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Comentário acerca do artigo publicado no post anterior. E ocasião para fechar o assunto, no sentido que enquanto nós falamos de Decrescimento, o mundo continua.

O artigo anterior.
Sério pessoal: mais dois artigos como este e vou escrever aos Rothschild para trabalhar nos estábulos deles.

Comecemos: o que diz o autor do artigo? Que os Colectivistas (isso é, o establishment) apresentam o nosso sistema como o único viável?
O autor faz a mesma coisa com o Decrescimento, qual a diferença? Acusar os outros de visão limitada torna o acusador imune do mesmo mal?

Isso tem importantes implicações, porque o resto do artigo está focado no Decrescimento qual única solução e constitui uma rendição total: não há maneira para tentar evitar o desastre, não há a tentativa para procurar soluções alternativas, há apenas o dogma messiânico segundo o qual haverá uma catástrofe e a única solução será o Decrescimento. Claro, concentrar-se numa única solução em vez que tentar procurar outra, talvez menos radical e mais complexa, facilita o trabalho dos neurónios, mas acho isso um pouco limitativo. A ideia de empenhar-se na actual sociedade para melhora-la (pelo menos tentar) nem parece passar pela cabeça do autor. É desistência, já.

Mas vamos em frente.
A primeira parte do artigo é uma crítica ao nosso actual sistema: nada de original, muitas das coisas que podem ser lidas no artigo apareceram já aqui no blog, e isso sem que eu seja um Decrescionista convencido.

Mais importante: as soluções. Aliás, a solução, pois no texto aparece só uma delas, as outras são genéricas, inúteis e até masoquistas (basta de bancos? E por qual razão? No limite pode-se afirmar "basta com este tipo de bancos", ideia com a qual concordo, mas eliminar o conceito de banco é puro masoquismo e significa não perceber o que realmente um banco é ou que pode fazer).

A solução é a seguinte: Descentralização. Maravilha. Vamos descentralizar e todos os nossos problemas acabam. Só que "descentralizar" não significa implementar o Decrescimento. Eu sou um Descentralizador ultra-convencido, por exemplo, mas não um Decrescimentalista. Então? Onde fica a solução? Como se passa da Descentralização para o Decrescimento?
Mais uma vez não temos respostas.

O que temos é a promessa de sangue, dor e lágrimas. Por acaso, a mesma receita do governo português, não me parece uma grande novidade.

O que temos é a promessa duma sociedade sem doentes, nada de Alzheimer ou incontinentes. Evidentemente aplica-se a mesma receita utilizada com os cavalos: quando já não prestam, é só um tiro na cabeça. Admitimos: é bastante prático.

O que temos é a glorificação do paradigma americano: não há muitas diferenças entre o que escreve o autor e o programa do Tea-Party. Menos Estado, mais individualismo, a quinta com o terreno e os animais, falta apenas o xerife, mas acho a ideia ser implícita, pois imagino que também a  justiça seria exercida a nível local com princípios comuns entre as várias autonomias.

É um chamar os antigos ideais revolucionários que deram origem à...pois, à sociedade americana do começo do século XIX, provavelmente o momento mais alto do Capitalismo. Doutro lado, o Movimento do autor chama-se Liberdade, não Decrescimento, e haverá uma razão. Neste caso concreto é acrescentada apenas a cooperação, o pozinho mágico que faz brilhar os olhos dos que esperam eternamente a revolução.

O autor de facto é hábil em inserir uma visão tipicamente de Esquerda, a do inimigo de classe. Aqui a classe é o povo, todos os povos da terra que, coitadinhos, foram enganados pelo inimigo, os maus.

É esta uma ideia infantil que recusa qualquer tipo de autocrítica (doutro lado, porque os Bons deveriam criticar-se?) e que tem jogo fácil em apresentar um novo paraíso dos trabalhadores (ah, pois, porque no Mundo Decrescido não há espaço para quem não trabalhe, basta de ricos, todos ao mesmo nível...onde é que já ouvimos isso?).
Não, meus amigos, ninguém foi enganado: o que temos é exactamente o que construímos e se a coisa não "soa bem" é porque estão no blog errado.
Ninguém pode chamar-se fora, ninguém pode fugir para o mundo das utopias: e é mesmo este um dos pontos que julgo ser mais importantes. A fuga. Não há aqui nenhuma tentativa para procurar outras soluções, nenhum esforço para melhorar o que foi construído ao longo de milhares de anos. Pelo contrário, como uma criança embirrenta, decide-se deitar o castelo de cartas para baixo e começar um castelo novo. É uma fuga, nada mais do que isso.

Um "castelo novo"? Sem dúvida, um castelo novo, mas sempre de papel. E com dois moldes antigos, como vimos. Porque os protagonistas deste novo mundo maravilhoso são os mesmos (nós) que construíram o castelo que temos agora. E surge aqui outro grande tema Comunista: o Homem é basicamente bom (os patrões é que são maus), por isso o novo mundo será necessariamente bom.
Não, meus senhores, o Homem é um animal particularmente estúpido, provavelmente o único que destrói o próprio habitat. Não foi o "inimigo" que construiu o que temos hoje, foi o Homem. E não será o Homem Bom que irá construir o mundo Decrescido, será mais uma vez o Homem, o mesmo que planeou, construiu e agora quer fugir do castelo que já temos..

O Homem é bom? Sim, mas estúpido. Reza o autor:
Na realidade, o argumento de que o Movimento Liberdade não oferece soluções é inteiramente falso. Temos construído muitas. O problema é que estas soluções não são do tipo que o público americano em geral quer entender. A média das pessoas deseja uma "bala de prata", uma resposta para todas as crises. Querem rapidez, simplicidade, e mais do que tudo querem sentar-se e relaxar-se enquanto a bala de prata é posta em movimento por alguém que não seja eles próprios.
Traduzido: nós apresentamos muitas soluções (quais?), se não forem bem recebidas é porque as pessoas entendem só coisas simples e são demasiado preguiçosas para fazer algo.

Nada mal, nada mal mesmo. E eu deveria apoiar este gajo?
Mais:
As massas frequentemente perseguem a política em primeiro lugar porque é muito mais fácil lidar com a responsabilidade de um e a vigilância sobre um líder em vez que encarar directamente o monstro.
Aqui chega a ser hilariante: o autor parece desconhecer totalmente o papel da política, simplesmente ignora quais os fins do meio político e apresenta a ilusão (subentendida) que no Novo Mundo Decrescido não haverá política. Ou haverá apenas políticos justos, fica a dúvida.
Parabéns, cada vez melhor.
Perante a implacável malícia e a subjugação destrutiva, fazer gestos e cantar slogan é totalmente sem sentido.
Por isso: inútil descer nas ruas, nada presta, só a revolução. Será que o fulano leu o que aconteceu em Portugal com a TSU?

Depois temos o grande tema da Descentralização. Não, descentralizar não significa decrescer. E, como já afirmado, fica o problema: "como" da Descentralização para o Decrescimento? Mistério. Haverá uma intervenção divina? Nesta altura parece provável.

A propósito: vejo que muitos entre os Leitores do blog apoiam o Decrescimento. Nem um capaz de explicar "como", mas apoiam.
Engraçado, pois isso tem um nome: "Fé". E eu não posso seguir este caminho, não posso sentar-me à mesa onde o prato principal é apenas uma sopa de boas intenções. Quando pergunto e não encontro respostas significa que algo está mal. Não me interessa se o chefe foi ao mercado bom para comprar os ingredientes, se depois não souber explicar-me o que estiver no prato e nem como foi preparado, eu não como.

Nem uma das perguntas mais simples consegue obter satisfação: como espalhar o sentimento do Decrescimento na sociedade? Esta fase deveria ser anterior à implementação da sociedade Decrescida, mas vejo que também aqui é noite funda. Doutro lado, nem um governo local conseguimos derrubar, o que pretendemos agora: introduzir a ideia de Decrescimento nas escolas?
Continua portanto a feira das boas intenções.

Haveria mais: o Decrescimento ignora totalmente algumas das pulsões humanas mais básicas, mas vamos acabar aqui o discurso.

O blog irá tratar do assunto no futuro porque a) o problema dos recursos é real b) alguns Leitores parecem estar interessados. E, apesar deste não ser este um serviço público, fico satisfeito em conseguir responder às perguntas de quem ler e tratar de assuntos que consigam reunir consentimento.
Além disso, é importante realçar mais uma vez que a teoria que está na base do Decrescimento (recursos limitados) é válida, acho que ninguém pode pôr em causa este aspecto. E cedo ou tarde terá de ser apresentada uma solução digna deste nome, não apenas uma sopa de ilusões de baixo custo. O risco é que um dia o Decrescimento chegue sem avisar ninguém.

Todavia, e pessoalmente, se antes tinha algumas dúvidas quanto ao Decrescimentalistas, agora tenho um oceano de dúvidas.
Pena, muita pena.


Ipse dixit.

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/G9m1uPzQsHE/o-decrescimento-parte-iii.html

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