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O pior inimigo dos Estados Unidos

Ottobre 31, 2014 16:00 , by Unknown - 0no comments yet | No one following this article yet.
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Somos tratados como deficientes.
E não é uma metáfora. Os órgãos de comunicação tratam todos nós, Leitores, como uma cambada de deficientes.

Pegamos no último discurso do Presidente russo Vladimir Putin. Agora, dito entre nós: Putin não é um santo, bem longe disso. Mas se faz um discurso bem fundamentado, temos que dizer "sim, o fulano desta vez tem razão". Tentar manipular as suas afirmações só porque não calham bem com as nossas ideias é triste.

O que disse Putin? Bom, Putin fez um discurso bastante comprido, cujos pontos principais são os seguintes:
  • há uma ordem internacional que aproveitou-se do fim da guerra fria para remodelar o mundo de acordo com os seus próprios interesses
  • esta ordem não respeita conceitos básicos como o direito internacional ou a soberania nacional
  • os Estados Unidos apoiam grupos neo-fascistas e terroristas.
Putin disse a verdade e não há mais nada para acrescentar..

Mas eis que aparece o New York Times que titula: "Putin acusa os Estados Unidos de apoiar neo-fascistas e fundamentalistas islâmicos. Tudo correcto, pena que o resto do artigo seja uma tentativa de apresentar as afirmações do Presidente russo como meras alegações sem fundamento.

Escreve o NYT:
[...] "em vez de apoiar a democracia e os Estados soberanos", disse Putin durante uma aparição de três a quatro horas na conferência, "os Estados Unidos apoiam grupos ambíguos que vão dos neo-fascistas declarados até os islâmicos". [...] "Porque apoiam pessoas assim?" perguntou na reunião anual conhecida como Valdai Club, que este ano foi realizada na cidade de Sochi. "Fazem isso porque decidiram utiliza-los como ferramentas para atingir os seus objetivos, mas, em seguida, ficam queimados e sofrem a reação".
O que há de "esquisito" nestas afirmações? Nada: é o fiel retrato da política externa de Washington, nomeadamente na Ucrânia, na Síria, no Iraque... Não há aqui "invectivas" ou aspectos "controversos", para usar os termos do NYT. São observações baseadas nos factos e nem é muito difícil encontrar tais factos.

Continua o diário: 
A Rússia é muitas vezes acusada de ter provocado a crise na Ucrânia anexação da Crimeia, e de prolongar a agonia da Síria ajudando a reprimir as revoltas populares contra o último grande aliado de Moscovo, o Presidente Bashar al-Assad. Alguns analistas têm sugerido que o Presidente Putin tenta recuperar o poder e a influência da União Soviética, ou até mesmo do Império Russo, na tentativa de prolongar o seu próprio governo.
O Império Russo? E porque não Alexandre o Grande? Porque pôr limites?
Não vamos aqui lembrar o golpe neo-fascista que derrubou com o apoio da CIA o governo da Ucrânia (procurem qual a ideologia dos grupos apoiados por Washington: Svoboda, Fatherland Party, Right Sector...); nem vamos falar dos "rebeldes" da Síria.

Moscovo tenta manter, e se possível ampliar, a sua área de influência. Sim, então? Qual o espanto?
Os Estados Unidos não fazem ou mesmo? Ou será que até fazem muito mais e pior do que isso?
Esta é a lógica de qualquer potência cuja economia esteja baseada no Capitalismo. Os analistas do NYT deveriam bem conhecer este aspecto: deveriam ficar espantados caso a Rússia (ou a China) não tentassem seguir as pegadas de Washington.

E em vez de desperdiçar tinta com termos como "Império Russo" (que nada tem a ver com a União Soviética pseudo-comunista), o NYT poderia ter explicado que o dito Império, fundado num sistema político de tipo quase feudal, nunca tentou conquistar a hegemonia global; hegemonia alcançada pelo Ocidente com a expansão militar e económica.

Mas a hegemonia ocidental teve e ainda tem um custo enorme: Afeganistão, Iraque, Síria, Ucrânia, outra vez Iraque, este é o rasto de destruição deixado pelos Estados Unidos. Não é a habilidade do Kremlin que desvia as mentes do homens, são as suas próprias acções e a recusa a admitir os fracassos que tornaram a América um lugar olhado com cada vez mais desconfiança.

É triste que os media dos Estados Unidos, em vez de funcionar como um ponto de observação crítico e auto-crítico, prefiram continuar dobrados perante os ditames da elite que fica no poder. Chegamos a um ponto em que um outrora conceituado diário lido globalmente é obrigado a saltos mortais semânticos para justificar uma política que não é defendível.

Deixar ao Presidente Putin a tarefa de indicar o embaraçoso estado da política externa americana é o sinal de que provavelmente foi alcançado o ponto de não retorno. Não há vontade nenhuma de "pôr ordem na casa", os media abdicam da causa de servir o interesse do público e aceitam passivamente o papel de amplificadores.

Poderá dizer-se "Mas sempre foi assim". Não, não é verdade, não foi sempre assim.

Durante a Guerra Fria o choque era entre duas potências que faziam da retórica a principal arma (sendo que aquela de Moscovo era muitas vezes a mais hilariante). As críticas do Leste eram contra os males do Capitalismo, isso enquanto a Pravda escondia uma simples verdade: também a União Soviética era um País capitalista, só um pouco diferente nos modos. Até as criticas contras eventuais operações dos EUA no estrangeiro não fugiam a estas regras e a retórica de ambos os lados dominava a cena.

Agora é diferente: as acusações de Putin são sólidas, não escondem atrás da retórica as suas próprias fraquezas mas apontam problemas reais e concretos, para os quais é simples encontrar evidências. E o desconforto de Washington é grande: porque o maior inimigo dos Estados Unidos, nesta altura, são os mesmos Estados Unidos.


Ipse dixit.

Fontes: The New York Times, Ria Novosti

Source: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/bNPNlouAe7g/o-pior-inimigo-dos-estados-unidos.html

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