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O tamanho importa

30 de Agosto de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Há duas maneiras para enfrentar a crise.

A primeira é aquela da maioria dos Países: obedecer. É o caso de Grécia ou de Portugal.

A segunda é aquela de poucos Países: Argentina, Islândia.

A Grécia

Um trader grego manifestou nas páginas de Business Insider o triste estado de espírito do seu País:
Neste momento, estou com medo de que haja bem pouca visibilidade sobre a evolução política nos próximos meses. Poderíamos jogar a cara ou coroa.
A elite política decidiu: mais sacrifícios. É este um percurso começado há tempo: sacrifícios, depois sacrifícios para resolver os problemas que os sacrifícios anteriores não tinham resolvido, depois novos sacrifícios, depois mais e mais.

O resultado é um País de rastos, com uma economia defunta, o desemprego que continua a aumentar, um clima social que não é exagerado definir como "explosivo". É presente em muitos gregos a ideia de que esteja por perto um ponto de viragem social, determinado pela capacidade das famílias gregas e da sociedade de suportar medidas de austeridade cada vez mais pesadas.

Ninguém sabe quando o ponto de não regresso será atingido, mas há a consciência de que o programa da Troika (basicamente FMI+BCE) desencadeou um processo do qual ficou excluída qualquer medida que pudesse comportar um sucessivo desenvolvimento económico.

Na Grécia vimos a "ajuda" monetária, a privatização selvagem, o desmantelamento do Estado, a venda do património nacional, a introdução das medidas de austeridade: é a teoria do "sacrifícios agora para ficar melhor depois".
Na Grécia o "depois" já chegou e o resultado está à vista: um País forte candidato ao abandono da Zona NEuro (hipótese benigna) ou à beira duma implosão económica e social (hipótese maligna).

Há alguns meses pessoalmente tinha dúvidas acerca do futuro de Portugal (outro País que "obedece para fazer boa figura"): tinha a forte suspeita, mas ao mesmo tempo custava-me acreditar que Lisboa pudesse seguir os mesmos passos de Atenas. Sobretudo após ter observado os resultados da Grécia.

Hoje as dúvidas desapareceram: quando o primeiro ministro Passas e Coelhos afirma que espera obter mais tempo do encontro da Troika, apresentado esta eventualidade como um sucesso e ocultando o facto que "mais tempo" significaria a necessidade de subtrair mais dinheiro dos bolsos dos Portugueses (pois, está não aparece nos diários, não é?), então as dúvidas derretem como neve ao sol de Primavera.

O percurso já é e será o mesmo: Atenas é de facto a ante-visão do que Lisboa será no prazo de dois-três anos. Claro, depois há sempre a hipótese dum boom nas exportações do Galo de Barcelos. Nunca se sabe.

Voltando ao assunto Grécia: interessante realçar a atitude dos poderes fortes internacionais. Perante o pedido para ter mais tempo (e evitar a exasperação do conflito social), Angela Merkel disse "Não".
Já lá vão os tempos dos parabéns ao governo grego pelas decisões difíceis e corajosas, as palmadas nas costas, os sorrisos: agora o jogo ficou mais duro e não há espaço para a piedade.

A Islândia

No outro extremo temos a Islandia.
Já sei qual a objecção: "Ah, mas a Islândia é um País tão pequeno, são apenas 300 mil habitantes...".

Justo.
Prender os banqueiros responsáveis e culpados perante a lei e possível num País pequeno, já com 10 milhões de habitantes seria um total disparate.
Recusar que as perdas dos bancos sejam pagas pelos habitantes é possível, sim, mas apenas no caso dos moradores não ultrapassarem as 500 mil unidades.
Nacionalizar os bancos é também impossível num grande País, todos sabemos disso: haveria um colapso de todo o sistema.
Acompanhar o FMI até a porta está ao alcance dos micro-Estados (Andorra, San Marino, Islândia), os outros têm que obedecer, até a Bíblia é clara neste aspecto.

O economista Prémio Nobel Joe Stiglitz escreveu:
O que a Islândia fez foi a escolha certa. Seria errado deixar para as futuras gerações todos os erros do sistema financeiro.
E outro Prémio, Nobel Paul Krugman:
Como a recuperação da Islândia demonstrou, fez enfurecer os credores dos bancos privados, mas, no entanto, tiveram de engolir as perdas.
[...] Uma coisa engraçada aconteceu no caminho para o Armageddon económico: o grande desespero da Islândia tornou impossível qualquer comportamento convencional, deixando que a Nação quebrasse as regras. Enquanto todo o mundo salvou os banqueiros e fez o público pagar a conta, a Islândia deixou os bancos falirem e, na verdade, tem expandido a protecção social. Enquanto todos os outros estão empenhados na tentativa de acalmar os investidores internacionais, a Islândia aplicou um controle temporário sobre todos os movimentos de capitais para dar-se um espaço de manobra. 
Bloomberg escreve:
A Islândia tem dado lições básicas às Nações que estão a tentar sobreviver ao sacrifício do resgate, após a abordagem que a ilha escolheu ter conseguido uma recuperação surpreendentemente forte.[...]
A escolha da Islândia para desenvolver o seu próprio programa, a decisão de deixar as perdas para os detentores das obrigações e não para os contribuintes ajudou a restaurar a Nação do colapso.
E o FMI? Que diz o FMI?
Pasmem-se:
A decisão de não responsabilizar os contribuintes pelas perdas dos bancos estava certa.
A chave da recuperação da Islândia foi um programa que procurou garantir que a reestruturação dos bancos não exigisse que os contribuintes islandeses ficassem com as excessivas perdas do sector privado. A Islândia recusou-se a proteger os credores dos seus bancos, que faliram em 2008, após as dívidas alcançar 10 vezes o tamanho da economia.
Dito de forma muito simples: ao contrário dos Estados Unidos e de vários Países da Zona NEuro, a Islândia tem permitido que o seu sistema bancário falisse durante a crise económica global, deixando o onere para os credores do sector privado e não para os contribuintes.

Mas isso, já sabemos, foi possível porque a Islândia é pequena, muito pequena. E paciência se alguém achar o contrário. Como Adriaan van der Knaap, director geral da UBS AG:
Isso não iria perturbar o sistema financeiro
Conta Arni Pall Arnason, o ministro islandês dos Assuntos Económicos:
Se tivéssemos garantido todos os passivos dos bancos, estaríamos na mesma situação da Irlanda.[...]
No início, os bancos e outras instituições financeiras da Europa diziam "Nunca mais vamos dar-os dinheiro". Depois disseram 10 anos, em seguida 5. Agora dizem que em breve estarão prontos para novos empréstimos.
Mas isso, repetimos, foi possível porque a Islândia é um País pequeno.
Haveria também o caso da Argentina, mas admitimos: é um País demasiado grande.

Então mudemos de assuntos, voltamos ao básico para mostrar quanto falsas sejam as teorias das quais estamos embebidos. Por exemplo: qual a melhor forma para fazer crescer um País? O proteccionismo ou a maximização das trocas comerciais, tipo globalização?

No próximo post.


Ipse dixit.

Fontes: New York Times (1) (2) (3), Washington Blog (1) (2) (3), Business Week, The Big Picture, Business Insider, Exame

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/5HPsJclQnd4/o-tamanho-importa.html

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