
Nada disso: tudo é feito para o nosso bem. Pelo menos, esta é a explicação dum dos participantes, o ex embaixador Sergio Romano, que decidiu falar do assunto no diário Il Corriere Della Sera.
Após ter entrado no rentável mundo da política, no longínquo 1954, Romano esteve em Paris (1968-1977), foi director geral das relações culturais e embaixador da Nato (1983-1985) e concluiu a carreira diplomática em Moscovo. Agora escreve no Corriere e responde às curiosidade dos Leitores.
Por exemplo:
O que pensa das diversas organizações das quais fazem parte poderosos banqueiros, políticos e economistas, como o Grupo Bilderberg, a Comissão Trilateral, o Instituto Aspen e o não menos importante Council of Foreign Relations e, sobretudo, porque os jornais nunca falam das reuniões?
Fui membro da Comissão Trilateral por vários anos, participei numa reunião do grupo Bilderberg e em várias do Instituto Aspen. Estou familiarizado com o trabalho do Council of Foreign Relations, uma instituição que tem sede em New York e Chicago, mas nunca tive a oportunidade de participar num dos seus seminários. [...]
Não é verdade que os jornais ignorem os encontros destas organizações. Mas têm que observar em muitos casos as "regras de Chatham House".
De acordo com estas regras, os jornalistas, quando são convidados, podem resumir as intervenções e as ideias apresentadas no decorrer do debate, mas devem abster-se do revelar a sua autoria. A única entre estas associações que pede um maior sigilo é o Bilderberg.
As sociedades secretas? Eu não acho que não podem ser consideradas tais as associações das quais conhecemos a localização, o nome dos fundadores, os gerentes, os membros. A regra do sigilo e da confidencialidade não serve para tramar ou para fazer pactos secretos.
Eu não posso excluir que dois banqueiros, numa reunião em separado, tenham a oportunidade de chegar a um acordo sobre uma fusão ou uma aquisição. Mas poderiam fazer o mesmo num encontro num teatro ou numa casa particular.
A falta de publicidade, neste caso, é para permitir que os participantes possam expressar-se livremente, fazer perguntas, especular, calcular as vantagens e as desvantagens das escolhas políticas ainda não totalmente adoptadas.
O que aconteceria se as reuniões fossem públicas e todos os cidadãos da "república da Internet" pudessem assistir via streaming? Muitos intervenientes, especialmente entre aqueles que têm mais responsabilidade política e financeira, mediriam as suas palavras, fugiriam das questões mais espinhosas, haveria declarações politicamente corretas, como nos comícios e nos debates televisivos.
E todos voltariam para casa sem ter aprendido nada de novo. Eu sei que o Movimento 5 Estrelas e os seus seguidores não gostam disso, mas virá o dia em que até mesmo os Grillini [membro do Movimento 5 Estrelas, ndt] descobrirão que em muitas circunstâncias o mito da publicidade total ajuda os slogans, as banalidades, a demagogia e, em última instância, as mentiras.
É raro encontrar uma admissão tão explícita e agradecemos Sergio Romano que, provavelmente cúmplice a idade avançada, achou bem partilhar este pensamento com os Leitores deles.
Estamos perante o "paternalismo" de indivíduos que sentem-se obrigados (por direito divino?) a decidir da vida de milhões de pessoas (mentalmente atrasadas?) sem que estas possam e devam saber qual o verdadeiro rumo, quais as intenções. O parlamento e as instituições democráticas? São os órgãos executivos para a implementação das decisões tomadas num hotel requintado, fumando charutos cubanos, com na frente dum bom copo de Romanee Conti.
O que aconteceria se as reuniões fossem públicas e todos os cidadãos da "república da Internet" pudessem assistir via streaming?
Com o sigilo, pelo contrário, apenas as melhores decisões são implementadas, é tudo para o nosso bem. E os resultados estão à vista.
Ipse dixit.
Fonte: Il Corriere della Sera, Wikipedia (versão italiana)
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