Que lugar será este? Portugal?
Não: é o Polo Norte. Ambos começam com "Po" mas é diferente.
Agora, pensamos nisso: toda aquela fartura, sozinha, debaixo do gelo. Sim, há um ecossistema, há os ursos brancos...mas tentem enfiar um urso no depósito da gasolina: não dá, mesmo que o urso colabore.
A riqueza não pode ser medida em pelos brancos, mas em barris.
E o ecossistema? Ora essa, temos outros, um mais, um menos, quem vai reparar nisso?
Fortes destes sãos princípios, ansiosos para afundar as mãos naquela imensa fortuna (mas sempre para o nosso bem, não esqueçam), Rússia, Canadá, Noruega, EUA, Islândia e Dinamarca encorajam as empresas energéticas para perfurar a área.
A Rússia, por exemplo. A economia de Moscovo é fortemente dependente das exportações de petróleo e de gás, o governo depende muito destas vendas para aumentar a receita nacional. Até pouco tempo atrás, para satisfazer as suas necessidades energéticas, os russos podiam explorar os campos da Sibéria, mas agora, como o declínio na produção (pois, o petróleo ao que parece não é infinito), dependem fortemente das reservas do Árctico para manter os actuais níveis de produção.
Assim falava em 2008 o então presidente Dmitri A. Medvedev:
A nossa principal tarefa é fazer com que o Árctico se torne o primeiro recurso para a Rússia no século 21.
Os russos têm explorado várias opções na perfuração offshore em diferentes áreas do Árctico No Mar Pechora, que ninguém conhece (fica no noroeste da Sibéria, vi isso no Google Earth!) o gigante da energia Gazprom instalou a plataforma Prirazlomnaya (não sei o que significa, será algo tipo "Que Se Lixem Os Ursos"). Mais a leste, no Mar de Kara, o grupo estatal Rosneft está a trabalhar com a ExxonMobil para desenvolver campos de petróleo muito promissores. A Rosneft também está associada com a norueguesa Statoil e a italiana ENI para explorar o potencial no Mar de Barents .
Mas não será apenas a Rússia a forçar os cofres do Árctico. A Noruega, tal como a Rússia, obtém a maioria das suas receitas das exportações de petróleo e de gás, e está a concentrar-sendo na exploração das reservas no Mar de Barents para compensar a queda acentuada na produção no Mar do Norte e na Noruega. Há também outras áreas do Árctico na mira de outros Países: a Cairn Energy de Edimburgo acaba de abrir os primeiros poços nas águas ao largo da Gronelândia, enquanto a Royal Dutch Shell está a tentar explorar os campos offshore do Alasca .
Apesar de tudo, o Árctico não cederá facilmente as suas riquezas. Porquê? Porque no Polo está frio (juro, li no Wikipedia). No inverno, o gelo cobre a superfície do mar e tempestades violentas e frequentes são um perigo constante. As condições climáticas são invulgares e incontroláveis.
A Shell (sempre seja louvada) já gastou 4.500.000.000 Dólares na exploração em alto mar, no Alasca, e ainda não foi capaz de furar um único poço.
Depois há os habitantes. Não no Polo, mas no Alasca e na Gronelândia, por exemplo, sim. E, ao que parece, estas pessoas não apreciam a ideia de ter poços de petróleo à porta de casa.
Verdade, são seres retrógrados, que travam o progresso, mas têm que ser considerados, pelo menos oficialmente.
E há outros riscos: como por exemplo as fronteiras. Alguns Países já ameaçaram usar a força militar caso as empresas energéticas ocupem áreas consideradas de sua soberania.
Cinco Países que fazem fronteiras com o Árctico já reivindicaram direitos exclusivos para a perfuração.
Como disse recentemente o ministro da Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel:
[Numa área] com um potencial energético que representa um quarto do petróleo e dos ainda não descobertos no mundo, é de esperar que a onda de interesse na exploração da energia possa aumentar as tensões sobre outros temas polémicos.
Nada, porém, pode desencorajar os Países em causa e não apenas eles.
Considerando a grande procura mundial de petróleo e a incapacidade dos poços existentes para satisfazê-la, as grandes empresas de energia vão tentar todas as formas possíveis para aumentar a produção.
Não será qualquer urso ou um pouco de gelo a travar as companhias petrolíferas. Nem a destruição dum ecossistema, nem o perigo dum desastre natural, nem o medo duma guerra (que serve mesmo para isso) podem travar as perfurações. Ninguém pára o progresso e a estupidez humana.
Ipse dixit.
Fontes: New York Times
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