Enquanto o trabalho nas fábricas continuar a matar cidadãos, o desemprego obrigar ao suicídio e as empresa insistirem em produzir resíduos e lixo tóxico, não pode existir fim da crise. Inútil também falar de retoma, crescimento e desenvolvimento.
Enquanto o ar, a água e a terra não recuperarem as suas purezas primordiais e todas as coisas vivas não recuperarem as suas dignidades e éticas, a moral e o senso comum, dando assim um sentido à existência do Homem, como é possível falar de democracia, progresso e liberdade?
O tempo está a esgotar-se e nem damos por isso. Ficamos escondidos nos nossos apartamentos, asfixiados pelas televisão, o computador, a máquina de lavar a loiça, a geladeira e tudo o que oferece o diabólico circo da tecnológica, que incapacita as funções básicas do nosso cérebro e do nosso, corpo ajudando a esconder a nossa condição de escravos.
Amamos os nossos filhos? Sério? Mas qual pai trabalha para um mundo poluído, onde encontrar trabalho é um desafio, onde quando afinal uma ocupação for encontrada é sub-paga, com ordenados que mal servem para pagar as contas? Qual pai fica imóvel enquanto observa o mundo que será dos seus filhos precipitar na decadência? Que tipo de pai é aquele que aceita submeter-se à escravidão e cresce os filhos para que estes possam tornar-se bons escravos também? Como podemos definir um pai que recusa abrir os olhos e perceber a realidade das coisas, cultivando e transmitindo a mesma ignorância para os seus descendentes?
É este o amor? Ou é a morte?
Há quem compare a espécie humana aos vírus. Mas a única coisa em comum entre nós e o vírus é o facto de ser invertebrados: fisiologicamente os vírus, moralmente nós. Porque o vírus vive, combate, morre. Nós não. Nós obedecemos e servimos.
Que ideia terão de nós os nossos descendentes, as próximas gerações? Biliões de alienados nas mãos dum punhado de psicopatas, uma sociedade que envenenou o seu habitat, cobriu o chão com uma espessa camada de cimento, entretinha-se com os seus joguinhos electrónicos, sem um motivo real e compreensível que fique além da escravidão.
Faltava apenas a prova científica: agora temos também esta.
Os geneticista da Universidade de Stanford descobriram que o Homem está a perder as suas capacidades intelectuais e emocionais, dado que a rede dos genes que confere o poder ao nosso cérebro é particularmente vulnerável às mudanças ambientais e sociais.
Não consigo ler esta notícia com espanto. Espanto seria saber que o Homem consegue manter a sua inteligência apesar da sociedade que criou. Numa sociedade onde não há necessidade de criatividade e de raciocínio para sobreviver, onde o que é nos pedido é repetitivo, onde todas as respostas oficiais são duma simplicidade desanimadoras, é normal que as nossas capacidades diminuam.
Apesar das descobertas científicas e dos avanços tecnológicos, o Homem há dois mil anos era mais inteligente: hoje, do ponto de vista evolutivo, está em fase descendente.
Explica Gerald Crabtree, genetista:
Somos uma espécie surpreendentemente frágil do ponto de vista intelectual e talvez atingimos o nosso pico de inteligência entre 6.000 e 2.000 anos atrás.
Crabtree não tem dúvidas: após estudar a composição genética dos homens através dos tempos, verificou-se que o homem sofreu muitas mudanças ao longo dos últimos 3.000 anos: uma espiral descendente que levou a humanidade a uma gradual e inevitável banalização genética no período de 120 gerações.
Seria só olhar à nossa volta e perceber que algo não bate certo: biliões de pessoas que diariamente repetem os mesmos gestos, os mesmos percurso, as mesmas palavras. Lógico que os genes tentem suicidar-se.
Mas, mesmo assim, eis que aparece alguém para espalhar umas migalhas de esperança. É o Professor
Robin Dunbar, antropólogo da Universidade de Oxford:
Nos próximos 3.000 anos a partir de agora, é provável que todos os seres humanos serão submetidos a pelo menos duas mutações genéticas adicionais que reduzem a estabilidade intelectual e emocional, mas é muito provável que a ciência irá progredir ao ponto de ser capaz de resolver o problema.A mesma ciência, conduzida pelas mesmas pessoas que nos trouxeram até este ponto? Agora sim que me sinto mais tranquilo. Posso voltar a ligar a televisão.
Ipse dixit.
Fonte: Il Fattaccio, The Register, Gerald R. Crabtree - Our Fragile Intellecte
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