A economia espanhola ainda não conhece o termo "retoma" (e quem conhece?), mas isso não impede
que os tubarões da Alta Finança tentem ganhar uns trocos, mesmo que isso implique arruinar as famílias.
No ano passado, a cidade de Madrid e outros governos regionais anunciaram a venda de 5.000 apartamentos a consórcios privados, como Goldman Sachs e Blackstone: privatizar, meus senhores, o Estado tem que pôr-se de lado, vivemos acima das nossas possibilidades, etc., etc.
Obviamente os moradores foram tranquilizados: os contractos não se mexem, os alugueres estão seguros, durmam descansados. Doutro lado, quem poderia duvidar duma empresa como Goldman Sachs?
A agência Reuters realizou uma investigação e o resultado é que, uma vez acabados os prazos dos contratos, foi anunciada (e implementada) uma reavaliação dos mesmos: os novos alugueres foram assim adequados aos preços do mercado, sem ter em conta das necessidades dos moradores.
Assim, dum dia para outro, muitas famílias tiveram que enfrentar um aumento significativo das despesas, causando o pânico e, em alguns casos, a impossibilidade de poder pagar. Os mais pobres agora dependem das doações privadas para cobrir as despesas adicionais provocadas pelos aumentos das rendas.
Bouzelmat Jamila é um dos milhares de espanhóis que ficaram presos na armadilha.
Mãe de seis filhos, vive num apartamento de quatro quartos localizado nos arredores de Madrid, numa área recentemente adquirida pela Goldman Sachs e por uma empresa espanhola. A mulher, de 44 anos, pode contar com o subsídio de desemprego do marido (o desemprego em Espanha é um dos mais altos da Europa: 26% em 2013, logo atrás da Grécia), um total de 500 Euros. Até Março deste ano, a família pagava 53 Euros por mês para o aluguer: um valor pouco mais do que simbólico, uma forma da autarquia ajudar as famílias em dificuldades.
O problema é que Goldman Sachs, apesar de ser infinitamente boa, não quer saber das dificuldades da pessoas: por isso, quando Jamila foi para o banco em Abril para levantar dinheiro, descobriu que os novos donos da casa tinham retirado 436 Euros da conta. Tinham ficado sem um cêntimo.
O inquérito da Reuters identificou não menos de 40 famílias que vivem numa situação semelhante, mas o total é bem superior, sendo este um problema não apenas da capital. E o total inclui os mais pobres de Madrid: mães desempregadas com filhos, pessoas com deficiências, pessoas com AIDS, antes ajudados pela autarquia, agora abandonados entre as garras dos novos donos.
As ordens de despejo foram temporariamente suspensas, mas a situação não promete bem: não há nenhuma evidência de que as empresas tenham agido de forma ilegal.
Pelo contrário: depois de ter adquirido 15% das habitações sociais em Madrid, os novos proprietários simplesmente desfrutam o direito de aumentar os valores dos alugueres uma vez acabados os contratos anteriores. Qual o problema?
Os vereadores socialistas da cidade de Madrid querem que as pessoas que colocaram à vendas as casas sejam trazidas para o tribunal e a pressão provocada pelos protestos é um das outras causas que forçaram as empresas a adiar o despejo dos inquilinos que não podem pagar.
A pesquisa conclui com as empresas como a Goldman Sachs têm sido os principais beneficiários das políticas de austeridade e dos cortes orçamentais executados em Espanha desde 2008. Afinal, os mantras "privatizar é bom", "o Estado é demasiado gordo", "vivemos acima das nossas possibilidades" favoreceram unicamente bancos e grandes empresas privadas.
Quem teria imaginado, não é?
Para fazer um exemplo (reportado pelo El Diário): a autarquia de Madrid vendeu a Goldman Sachs apartamentos do valor de 63.000 Euros; agora, caso os inquilinos desejem adquirir o mesmo apartamento, Goldman Sachs pede 160.000 Euros.
Ipse dixit.
Fonte: RT, Reuters, El Diário, Terra
Uma casa em Madrid
30 de Outubro de 2014, 12:15 - sem comentários ainda | No one following this article yet.
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