Tão perto de nós quanto tão distante: os media não gostam de falar de Atenas e arredores, porque isso significa obrigatoriamente falar do papel da Troika (FMI-BCE-EU) e de como uma política em favor de bancos e investidores estrangeiros reduziu um inteiro Pais.
O lema é agora é "cada um por si".
A partir do dia 01 de Janeiro de 2015 será garantida pelo Estado apenas a reforme de base: 360 Euros por mês. Tudo o que poderá estar acima deste valor vai depender da situação financeira dos órgãos envolvidos.
Isto significa simplesmente o fim do actual sistema pensionístico, que agora fornece um montante que nem chega para a simples sobrevivência. Ao mesmo tempo, significa que décadas de contribuições de empresas e trabalhadores "evaporaram". Doutro lado, o governo grego teve que fazer uma escolha: ou continuar a pagar as reformas dos cidadãos ou pagar os juros da Dívida e dos empréstimos de Bruxelas.
Escolha óbvia.
Já desde 2010 as reformas tinham sido reduzidas entre 30% e 60%, dependendo do caso, agora chegou a altura de institucionalizar estas medidas urgentes e temporárias. Com uma reforma misérrima, com um sistema de saúde devastado, envelhecer na Grécia não é para qualquer um.
O governo também decidiu na semana passada uma actualização da sessão plenária do Parlamento, para debater projectos de leis fundamentais, incluindo a privatização e a destruição da maravilhosa costa grego: há os abutres financeiros internacionais que esperam a luz verde, o cimento já está pronto. Ao mesmo tempo, os políticos já envolvidos em assuntos de corrupção (e não faltam) e cujos procedimentos de investigação estão em curso, provavelmente não serão perseguidos: as prioridades do País agora são outras.
Mais precisamente, há toda uma nova legislação que será apresentada no Parlamento apenas pro forma, sendo de facto já aprovada e imposta directamente pela Troika, a partir de Bruxelas e de Berlim.
Entretanto, do governo saiu Haris Theoharis (secretário-geral das entradas públicas) para tomar posse como governador do Banco da Grécia (na verdade, um outro banco privado). Theoharis é o "senhor sim" de Bruxelas, pelo que o Banco fica em boas mãos.
A propósito, tanto para entender qual o grau de autonomia dos Estados Membros da UE: alguns meses atrás, houve uma mini-crise entre Theoharis e alguns membros do governo. Theoharis contactou o chefe da Troika e o representante do FMI, Poul Mathias Thomsen, para reclamar. O representante do FMI respondeu que, se tivesse sido preciso, poderia ter perguntado a chancelera alemã Merkel para falar com o primeiro-ministro...
Theoharis será substituído por cinco membros numa comissão de avaliação: quatro gregos e Pierre Lepetit, vice-presidente e tesoureiro da Notre Europe, o think tank de Jacques Delors.
Lepetit foi também membro da equipe de negociação do Tratado de Maastricht, actuou como assistente de secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros para as negociações institucionais europeias (Tratado de Amesterdão) e actualmente dirige a "missão de assistência" à Grécia.
Lepetit é uma garantia.
Alexis Tsipras, líder di Syriza, a coligação da Esquerda radical:
O objectivo não é fazer a Grécia sair da crise com a austeridade, mas criar uma desvalorização interna para aumentar a sua competitividade. Merkel e o Sr. Schäuble têm um plano estratégico, chamado "germanização da Europa", a colonização do sul da Europa. Querem criar uma zona económica especial na periferia do continente, sem a limitação do direito do trabalho, com salários baixos e alta taxa estrutural de desemprego. Eles acreditam que, dessa forma, a economia europeia vai ser competitiva.
A Grécia é o primeiro passo concreto, a seguir será a vez de Portugal.
Depois? Depois começarão problemas mais sérios: Italia, França e sobretudo Espanha não serão tão passivas, pois uma coisa é destruir um País com um tecido industrial escasso ou nulo, outra coisa é enfrentar mercados onde há uma cultura do trabalho mais antiga e mais enraizada.
Mas com calma, não há pressa, aquele é o futuro: por enquanto há o presente e a missão de acabar com a Grécia. E falta muito pouco.
Ipse dixit.
Fonte: Greek Crisis
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