Zbigniew "Zibí" Brzezinski é um dos poucos que sabem.
Sabem o quê? Tudo.
Com 86 anos, o ex-professor da Columbia University continua a explicar ao simpático Obama o que fazer, quando e como. Provavelmente o Presidente nem consegue entender tudo, mas isso não interessa ao nosso Zibí: Obama não está aí para perceber, tem só que executar e sorrir perante as câmaras. O resto é com uma mão cheia de eminências pardas, como Zibí.
O último livro dele é Strategic Vision: America and the Crisis of Global Power ("Visão Estratégica: a América e a Crise do Poder Global"). Uma boa ocasião para David Rothkopf, de Foreing Policy, perguntar ao autor o que pensa da actual situação.
Eis uns excertos.
David Rothkopf: Você acha que estamos a viver um período de grande instabilidade no mundo, ao ponto que na memória não encontra um precedente parecido.
Zbigniew Brzezinski: Eu diria até que não existe um precedente histórico no sentido de que, contemporaneamente, grandes fatias de território são regidas pela instabilidade populista, a raiva e a perda de controle do Estado. Um dos meus sentimentos sobre os Estados Unidos é que não estamos em declínio na direcção duma crise de sobrevivência, mas estamos a perder o controle dos nossos mais altos níveis de habilidade em lidar com desafios que, cada vez mais, muitos de nós reconhecemos ser fundamentais para o nosso bem-estar.
(Tradução: Sim, claro que há caos, fomos nós a cria-lo. Mas isso é lá fora, por aqui está tudo controlado).
Depois não podemos recrutar forças ou criar liderança para geri-los; isso torna nós, o principal centro de poder, cada vez mais desprovido de vontade e sentido estratégico acerca da direcção a tomar.
(Tradução: a nossa sorte é poder recrutar fantoches como este atrasado aqui, o Obama. Mas o principal centro de poder, que somos nós, continua com a mesma vontade e sentido estratégico de sempre. Tudo na boa)
Quanto à Europa, temos visto no começo do que aconteceu na Ucrânia que não podemos esperar que a Europa possa impor-se internacionalmente, quando, pela primeira vez desde 1939, enfrenta um Estado da região que procura a expansão territorial.
(Tradução: A Europa obedeceu às nossas ordens e é isso que conta. Claro, ninguém acredita na história duma nova ameaça tipo Terceiro Reich, mas enfim, é preciso manter as aparências, não é?)
A Ásia fica petrificada com a perspectiva de uma predominância da China e também por causa dos conflitos nacionalistas entre estados vizinhos.
(Tradução: Na Ásia preferem os chineses. Raio de chineses. Nós bem tentamos provocar conflitos nacionalistas na região, mas nada...)
Intencionalmente salto o Oriente Médio, que está em crise, e a África, que está começando a sê-lo.
(Tradução: Não falo da Palestina porque começo logo a rir. Já estamos a trabalhar para criar o caos na África também, mas é grande, demora mais tempo).
Acho que estamos diante de um mundo cheio de confusão, incerteza e fragmentação; nenhuma ameaça directa a ninguém, mas muitas ameaças diferentes para praticamente qualquer pessoa.
(Tradução: Como disse, tudo segundo os planos. Divide et impera, já ouviste? É isso).
DR: falamos das causas disso. Porque isso está a acontecer agora? O que torna este momento diferente? No Oriente Médio, houve controvérsias desde o fim do Sykes-Picot - as potências estrangeiras não querem ou não podem estender as suas esferas de influência e as autoridades locais não são capazes de parar as forças radicais dentro das suas fronteiras. Esta situação [...] é a causa da instabilidade da era em que vivemos?
Eu vejo um paralelo entre o que está a acontecer no Oriente Médio e que aconteceu na Europa durante a Guerra dos Trinta Anos há muitos séculos atrás, literalmente o desenvolvimento duma identidade religiosa como a principal razão para as acções políticas, com terríveis consequências destrutivas. Este é um aspecto.
(Tradução: O quê? Não entendeste? Pior do que o Obama...olha, filho, estás a ver a religião? Nós utilizamos a religião para criar acções políticas com terríveis consequências destrutivas. Este é um aspecto).
Em segundo lugar, neste momento, com foco no Oriente Médio, quais nações que são realmente auto-suficientes em termos de identidade, unidade e poder nacional? Turquia, Irão, Israel e Egipto. O resto - muitos países e muito activos - são deficientes nestes atributos. São instáveis e facilmente desestabilizáveis. Considera o Afeganistão pós-EUA. E quem sabe o que vai acontecer no Paquistão?
(Tradução: Depois há outro: se não consideras a Turquia, o Irão, Israel e o Egipto, o resto é caos. Desestabiliza-los é uma brincadeira. Olha só como reduzimos o Afeganistão. E vais ver com o Paquistão).
DR: E o Iraque e o pós-Iraque.
Bem, deveria tê-lo mencionado. Nesse contexto, do meu ponto de vista, o que devemos fazer é, em primeiro lugar, concentrar-nos para intervir nas nações proeminentes, que é traduzível em acordos com o Irão, que tem verdadeiras perspectivas de crescimento, que não irá desaparecer.
(Trad.: Quem? Ah, o Iraque, a colónia, pois...mas olha, o que interessa é o Irão. Sabes quanto petróleo tem o Irão? E o gás, diz-me, sabes quanto gás têm aqueles analfabetas? Pensa nisso)
Obviamente, com a Turquia.
(Trad.: Depois há a Turquia: é aí que passam os gasodutos, não é por nada...)
Não pode faltar Israel, em parte por causa das questões relacionadas com a comunhão da civilização, mas também, nesse contexto, de modo que os EUA possam dar clareza sobre o que acham ser uma condição necessária para o sucesso de Israel. Isso significa adoptar uma perspectiva que possa unir a maioria dos israelitas, excepto para o ramo da extrema-direita, e com uma política com acordos fundamentais pelas aspirações da Palestina.
(Trad.: Com Israel não temos nada em comum do ponto de vista da civilização, mas os EUA continuam a apoia-lo. Justo: o governo deles actua com uma política de Direita, como nós gostamos. Ainda há quem em Israel pense em acordos com a Palestina, mas isso será ultrapassado uma vez eliminada a Palestina).
DR: Um Estado palestino independente.
ZB: Sim, o objectivo seria dois Estados que cooperam uns com os outros.
(Trad.: Sim, imaginas só: Israel e a Palestina que colaboram, estás a ver, não estás? Aqueles odeiam-se, um dos dois tem que desaparecer, tão simples quanto isso.)
DR: e, presumivelmente, adicionar à imagem alguns Estados imperfeitos que estão a estabilizar-se, como o Egipto, onde ...
ZB: O Egipto é uma nação antiga e é única. A razão pela qual as tentativas britânicas e francesas para estabilizar a região falharam é que só foram baseadas na força. Era um sistema colonial sob o pretexto das fronteiras nacionais e da identidade nacional de um povo que nunca identificou-se com os conceitos europeus de Estado-nação. Quando a França e a Grã-Bretanha, por exemplo, falharam, nós entrámos, jogando com esses pressupostos, e acabou mal.
(Trad.: O Egipto é uma nação antiga e única. Digo isso porque fica sempre bem, mas a verdade é que aquele País é uma grande confusão. Ingleses e Franceses bem tentaram coloniza-lo mas correu mal. Nós também, com a Primavera Árabe, mas aqueles são brutos, vai tu explicar-lhes ideias como "Democracia", a nossa democracia entendo. A sorte deles é não ter petróleo, como a Líbia, caso contrário nem as Pirâmides teriam sobrado, bando de ingratos...)
A diferença entre a guerra de Bush sénior e Bush filho contra o Iraque é que no primeiro caso escolhemos apoiar sentimentos e interesses dos diferentes grupos na região e estes ficaram do nosso lado. No segundo, fizemos tudo nós, com base em falsas premissas, com brutalidade extrema e uma total falta de sentido da política.
(Trad.: Sabes, Bush sénior não era uma raposa, mas a ideia de libertar o Kuwait foi boa e funcionou. O filho, pelo contrário, Deus me livre...Eu dizia-lhe "George, ouve, os iraquianos têm armas pré-históricas" e ele "Biológicas? Os gajos têm armas biológicas?": uma tristeza. Não sei porque falo disso, o assunto era o Egipto. Mas enfim, com 86 anos...)
DR: Em primeiro lugar, houve uma consciencialização sobre os factores estabilizantes na região que sugeria não correr o risco de danificá-los. Assim, por exemplo, manter Saddam na sua posição teria impedido outros aspectos e contrabalançaria a influência iraniana.
ZB: Sim, ele odiava mesmo Al Qaeda, por exemplo. Foi o seu adversário ferrenho.
(Trad.: O gajo dava jeito. Comprava as nossas armas, ladrava contra Teherão...na altura contávamos que treinasse os malucos de Al-Qaeda, mas na verdade ele sabia que era toda uma operação da CIA e nem queria vê-los. Mas dava jeito. Como disse, Bush filho, o atrasado, foi mesmo uma desgraça)
DR: Uma outra pergunta sobre o Oriente Médio antes de mudar de contexto: você fala de acordo com o Irão e claramente isso é algo que o presidente Obama tem em mente desde que estava na campanha eleitoral.
ZB: Basicamente vejo o Irão como um verdadeiro Estado-nação. Isso proporciona-lhe a verdadeira identidade de coesão que a maior parte do Oriente Médio falta. Nesse sentido, é um Estado melhor de que por exemplo o Egipto, ao qual se assemelha, mas que não tem uma verdadeira coesão a nível nacional. Os problemas com o regime iraniano são, naturalmente: os seus efeitos sobre os sunitas, especialmente a Arábia Saudita e, por outro, a ameaça potencial para Israel.
(Trad.: O Irão é porreiro. Não como aqueles analfabetas do Egipto...olha, cada vez que me lembro daquilo fico com taquicardia, bando de degenerados...E depois têm petróleo, têm gás, já disse. Sim, há a história dos sunitas, de Israel, mas nada que não possa ser resolvido)
A questão é, como você resolver isso? Eu certamente não aceito a ideia de que a melhor solução é que todas as soluções sejam discutidas, que é a maneira mais educada de dizer que vamos entrar em guerra se a questão nuclear não for resolvida rapidamente.
(Trad.: Guerra com o Irão? Nem pensar. Os gajos não brincam e não seria algo como o Iraque. Quando Obama disse que todas as soluções estavam em cima da mesa fui direitinho para o escritório dele, dei um pontapé ao seu cão e disse-lhe que se estava farto de ser presidente era só avisar. Viste como mudou logo de atitude na Síria? Incompetente...)
O ponto da questão é que Israel tem o monopólio nuclear na região e vai tê-lo por um longo tempo. Uma coisa que os iranianos não vão fazer com certeza é realizar uma missão suicida quando tiverem uma bomba. Então, a ideia que tem sido divulgada nos EUA de que o Irão está numa corrida louca para ter a bomba em nove meses na minha opinião não faz sentido. O que você pode fazer com um único dispositivo do qual está na posse pela primeira vez, que nunca foi testado, que nunca foi armado, acerca do qual você não tem certeza do resultado do lançamento e com o qual ninguém podia defender-se contra uma retaliação, porque é o único disponível? Israel tem um exército muito forte e 150-200 bombas. Isso é suficiente para matar todos os iranianos. Em conclusão, eu acho que a questão é totalmente falsa.
(Aqui nada de tradução: esta é a verdadeira posição dos EUA perante o "problema atómico" do Irão).
DR: O que acha dos nossos aliados tradicionais na região, como os sauditas, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein, a Jordânia, que estão muito nervoso perante estes possíveis acordos com o Irão? Considera que é importante manter o equilíbrio e cultivar relações com estes Estados moderados na região?
ZB: Isso depende da grande decisão sobre o que eles irão fazer por eles mesmos, uma vez que estão a dotar-se de potencial militar mais moderno e, talvez, são levados cada vez mais pela moralidade nacional, talvez mais do que sectária. Eu, por exemplo, estou confuso com toda a história das recentes tragédias na Síria. Não e claro exactamente o que achavam os sauditas e Qatar desencadeando uma guerra sectária na Síria e estou ainda mais perplexo com o que nós pensamos que poderíamos obter, apoiando-os de uma maneira tão hesitante e inconsistente.
(Trad.: Olha, é assim: compram as nossas armas? Tudo bem, Vendem petróleo barato? Ainda melhor. Mas não podem esquecer quem é que manda aqui. Acham que não sabemos quem está atrás dos terroristas na Síria? Obama queria intervir aí. Fui direitinho para o escritório dele, o cão fugiu logo que me viu, e disse-lhe se desejava ficar na Casa Branca mas como jardineiro. Por isso ficamos assim, nem carne nem peixe. E olha o que aconteceu: sauditas e quatarinos... qatarquicos... qatarróicos... como raio se diz, ainda aí estão a gastar uma pipa de massa. Assim é que aprendem).
DR: Em muitos desses Países existe um Estado forte e uma religião, mas não há outra infra-estrutura que ofereça a possibilidade para outros pontos de vista [esta é uma das melhoras paráfrases para evitar de escrever a palavra "censura", ndt]. Assim, no Egipto, quando Mubarak caiu, a única outra opção era a Aliança. Há necessidade de criar instituições que forneçam uma alternativa moderada, o que nunca foi realmente perseguido.
ZB: Em última análise, este impulso deve vir de dentro, é desde a segunda guerra do Iraque que nós [os EUA] fazemos a parte dos protectores para qualquer desenvolvimento positivo. A minha opinião é que seria melhor concluir uma espécie de acordo tácito com os chineses e os russos, sobre o que nós pensamos seja uma ameaça inaceitável para a região e que achamos que pode ser deixado correr.
(Trad.: Olha, meu querido, nesta história da Liberdade e da Democracia já ninguém acredita, mas pouco mal: o que interessa é que o petróleo e o gás fiquem connosco e que a Palestina deixe de incomodar Israel. Se chineses e russos ficarem satisfeitos com a única coisa que sobrar, que é a areia, então haverá paz.)
DR: Então você sugere que deveríamos encontrar um mecanismo de colaboração entre as super-potências, mas os chineses não parecem prontos para assumir este papel e os russos raramente têm sido construtivos.
ZB: Os russos são muito afretados pela invasão da Crimeia e das Ucrânia, isso torna possível a capacidade de assumir este o papel complicada. Depois - eles e nós temos que lidar com isso - são muitos fracos.
(Trad.: Ora bem, vês que quando te empenhas até tu entendes? A manobra na Ucrânia serve mesmo a manter empenhado aquele urso de Putin. Porque já não são a velha União Soviética, mas sempre russos são e preocupam.)
No final, somos nós e os chineses. Os chineses são mais conservadores, mas às vezes insensíveis às aspirações e às interesses dos seus vizinhos mais fracos. Aquelas nações, mais do que outra coisa, desejam que seja o nosso guarda-chuva a protegê-los. Acho que devemos ter calma e cautela e não tornar-nos automaticamente o contacto destas nações sempre que tiverem problemas com a China, assim parece que tudo o que têm de fazer é pegar no telefone e obter a nossa intervenção.
(Trad.: Eliminados os Russos, sobra a China. Aqueles são sacanas, são como nós. Bem tentámos com as revoluções coloridas, mas os amarelos são espertos, o que queres fazer? Enviar tropas no Kratapalaquistão? Nem sei onde fica, e depois os chinocas topam logo e ficam histéricos...)
DR: Os europeus são praticamente forçados a sair do jogo, aposentando-se numa estrutura como a UE, que realmente não pode formular ou implementar uma política externa real. Estão fora do jogo, ou há uma possível parceria?
ZB: Não estão fora de cena, mas não acho que eles entendam suficientemente o alcance do nacionalismo fechado e auto-europeu, no qual as nações e as identidades nacionais eram a única cola que mantinha intacta a situação.
(Trad: Claro que estão fora)
Acho que o conceito duma Europa unida era compreensível imediatamente após a conclusão da Segunda Guerra Mundial, mas os homens de estado mais visionários da Europa deram um passo para trás. Onde estão os pais da Europa que realmente acreditam na identidade europeia? No final a UE era essencialmente uma série de acordos em Bruxelas, com base no dinheiro e quid pro quo, mas com muito pouco sentido de objectivos comuns.
(Trad.: Trabalhámos muito, também com políticos do passado, para criar uma estrutura surreal como a UE, agora nem sabem como sair daquilo. Coitadinhos, se não fosse quase uma máquina até teria pena daqueles desgraçados...)
Ipse dixit.
Fonte: Foreing Policy
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