POR FERNANDO BRITO no TIJOLAÇO
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Laura Carvalho na sua excelente coluna de hoje, na Folha, debruça-se sobre a interessante confissão contida na matéria do Valor Econômico onde ser afirma que “Sem endosso da realidade, economia se descola da expectativa“, a que chama de “quase lacaniana.
Para entender isso, basta lembrar a máxima de Jacques Lacan de que “os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado”.
Vejam, não foram as expectativas que se descolaram da realidade, mas o inverso: a realidade, teimosa, que insiste em fugir àquilo de que tratamos em post anterior, com o vídeo de Bob Fernandes, a pós-verdade.
Laura recorda que:
Em 2011, o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman criou um personagem místico –hoje mundialmente conhecido– para ironizar a defesa do corte de gastos públicos como solução para a crise econômica. Krugman combatia a ideia de que, se os governos cortassem seus gastos, e só por isso, uma fadinha da confiança apareceria para recompensá-los com investimentos e gastos do setor privado, estimulando a economia.
Krugman, diz ela, insistia em que “a mera retórica e seu efeito sobre as expectativas não seriam suficientes para alterar o resultado de políticas, fossem elas equivocadas ou acertadas.” De uma maneira mais jocosa, o que se repetiu aqui quando há dias, afirmou-se que “os fatos desmentem a “retomada” econômica de “gogó”.
Volto ao texto de Laura:
Diante do ceticismo cada vez maior nos Estados Unidos e na Europa, a fadinha resolveu mudar-se para os trópicos, onde descobriu uma legião de fiéis. Aqui, o misticismo anda em alta mesmo com o fracasso retumbante do corte de gastos e investimentos públicos desde 2015 como forma de estímulo aos investimentos privados ou de estabilização da dívida pública.
Sem qualquer preocupação em transformar uma convicção ideológica em uma predição científica passível de refutação, a resposta é sempre de que, se não há sinais de retomada, é porque a política não foi realizada com vigor suficiente.
Diante do descolamento entre a confiança dos agentes e a economia real, opta-se por considerar que fatores inesperados fizeram com que a economia se descolasse das expectativas. Os crentes não admitem que as expectativas possam estar contaminadas pela retórica política, e que, sendo esse o caso, a economia não necessariamente vai obedecê-las.
Ou, nas palavras cortantes de Robert Skidelsky, que discordava e passou a concordar com a tese de Krugman, lembradas por Laura, como se ao “pular de uma janela, com a crença equivocada de que seres humanos podem voar, eliminaria o efeito da gravidade”.
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