Representantes de nações de todos os continentes discursaram; maior parte fez referências a como Fidel difundiu ideais de justiça social, igualdade, resistência ao imperialismo estadunidense e humanidade
Os discursos dos chefes de Estado que fizeram parte do grande ato de massas realizado nesta terça-feira (29/11), na praça da Revolução, em Havana, falaram sobre a importância histórica de Fidel Castro e as referências que deixou para o mundo, especialmente os países da América Latina.
Ao todo, 17 representantes de nações de todos os continentes discursaram. A maior parte fez referências a como Fidel conseguiu difundir ideais de justiça social, igualdade, resistência ao imperialismo estadunidense e humanidade. Alguns, como o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, buscaram um caminho mais emotivo e apoiado em relatos de histórias vividas ao lado de Fidel, como a ajuda no enfrentamento aos furacões que assolam a América Central.
“Fidel sempre dizia que as perdas materiais podem ser recompostas, mas as vidas humanas tinham que ser preservadas”, afirmou.
Além dos representantes de outros países, o ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica e o brasileiro Frei Betto estiveram presentes à cerimônia, que contou com uma multidão ocupando a praça e foi encerrada com o discurso do presidente de Cuba, Raul Castro, irmão de Fidel.
Rafael Correa
“Os que morrem pela vida não podem ser chamados de mortos. Sua luta continua em cada jovem anti-imperialista que quer mudar o mundo”, disse Rafael Correa, presidente do Equador, o primeiro a discursar. Ele fez questão de mencionar os mais de 50 anos de bloqueio econômico imposto pelos EUA, que chamou de “criminoso”, para reforçar a importância de Fidel. “Não há nenhuma criança vivendo na rua em Cuba, mesmo com um bloqueio criminoso de mais de 50 anos que colapsaria qualquer outro país da América Latina”, afirmou.
Jacob Zuma, presidente da África do Sul, emocionado, lembrou do papel do líder cubano na campanha internacional para isolar o regime de apartheid que, desde 1948, orientava-se pelo racismo e pela exclusão e segregação da maioria negra do país e só foi interrompido em definitivo com a chegada de Nelson Mandela ao poder, em 1994.
Agência Efe
Autoridades internacionais discursaram em evento à memória de Fidel Castro na praça da Revolução
“Agradecemos a Fidel pelos soldados mortos cubanos que lutaram contra o imperialismo, pela Justiça e pela liberdade”, disse Zuma, que citou também o apoio de tropas de Cuba na defesa de Angola dessas mesmas forças condutoras do apartheid sul-africano e na libertação da Namíbia, entre 1988 e 1989. “A ajuda para defender Angola das forças racistas sul-africanos foi exemplo de solidariedade internacional. Saudamos o companheiro Fidel por esses sacrifícios desinteressados. É por isso que a revolução cubana segue um exemplo para a África do Sul e para o mundo de como lutar em favor do povo.”
Tsipras
O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, disse que Fidel é referência de independência para a história, com seu lema da Revolução Cubana “Pátria ou morte”, constituindo-se em um “símbolo internacional de liberdade”. A vice-presidente do Conselho de Estado da China, Li Yanchao, chamou Fidel de um “colosso de nossa era”, por ter consagrado sua vida à soberania e à causa socialista. “A amizade entre os países cresce a cada dia. Temos a convicção de que Raul transformará dor em força para prosseguir o legado de Fidel”, afirmou a chinesa.
Com frequência, os que usavam a tribuna para homenagear Fidel encerravam seus discursos com a famosa frase imortalizada na Revolução Cubana “Até a vitória, sempre!” (“Hasta la victória, siempre”, em espanhol), que estampava muitas das camisetas usadas pelos presentes. Também se dirigiam a Raul ou à massa de cubanas e cubanos na praça como sendo uma expressão espontânea e sincera de que Fidel conduziu Cuba por um caminho com ampla aprovação popular.
Nesse contexto, discursaram na defesa de um caminho que passe pelo aprofundamento da integração regional os presidentes da Bolívia, Evo Morales; de El Salvador, Salvador Sanchez Cerén; da Venezuela, Nicolás Maduro; de Dominica, Roosevelt Skerrit; e do Equador, Rafael Correa. O presidente do México, Enrique Peña Nieto, citou a partida, em 1956, do barco Granma da região de Vera Cruz na costa mexicana, como uma mostra das relações de amizade entre os dois países. Foi com a chegada do iate Granma a Cuba, roubado por Fidel e outros 81 guerrilheiros, que se iniciou o processo que culminaria com a Revolução Cubana, em 1959.
Último a falar antes de Raul Castro, o presidente venezuelano abriu seu discurso com um grito comum nos congressos da juventude comunista: “Fidel, Fidel, o que tem Fidel/ Que os yankees não podem com ele?”. Em seguida, mesclou seu discurso as alusões a Fidel e a Hugo Chávez, chegando a dizer que Chávez tinha em Fidel seu “pai” ideológico, cuja referência levou ao “discípulo a refundar o Bolivarianismo”.