Os jornalistas e o irresistível charme do jabá
10 de Setembro de 2016, 0:00
Jabá e jornalismo andam juntos desde quando os dinossauros mandavam neste planeta.
Jabá, para quem não sabe, é aquele presente "despretensioso" que as empresas mandam para os amigos da imprensa - às vezes é uma bobagem, uma lembrancinha; às vezes custa mais que o salário do mês...
As empresas tentam, ou pelo menos, dizem tentar, estabelecer limites para a aceitação dos jabás, mas isso nunca deu certo - o jabá sempre se provou irresistível.
Destrinchar todas as nuances do jabá exigiria um esforço hercúleo, que não disponho.
Mas é um tema fascinante e sobre o qual, tenho certeza, alguém ainda fará longas e detalhadas dissertações.
Quanto a mim, confesso, já aceitei vários jabás: canetas, agendas, bobagens desse tipo.
Outros, como um par de tênis vermelho com o logo Ferrari estampado, e uma camiseta de polo Lacoste, dei de presente para os contínuos da redação.
Antes desses, aconteceu comigo um outro caso, bem mais explícito sobre as relações entre imprensa e sociedade.
Foi num jornal em que trabalhei em Campinas. Havia acabado de ser contratado para tocar a minúscula redação, a pessoa que fazia a "coluna social" estava de férias, e lé fui eu, com a ajuda do fotógrafo, fechar a dita cuja. Edição publicada, numa tarde modorrenta de segunda-feira surge na redação, à minha procura, um office boy, com um envelope na mão:
- A dona .... pediu para entregar isso para o senhor e agradecer pela nota que saiu na coluna social.
Abri o envelope: era um maço de dinheiro, que devolvi ao rapaz, explicando, educadamente, que devolvesse o "presente" com a explicação, para a autora da generosa oferta, de que o jornal não cobrava para publicar notícias.
Não sei se o dinheiro foi devolvido ou não. Preferi fazer de conta que o caso estava encerrado.
O poder do jabá é contagiante.
Ao ponto de arrastar dezenas de profissionais para aqueles entediantes almoços de fim de ano que as associações de classe ofereciam, principalmente quando se sabe que quem se dispusesse a comer o indefectível "filé à jornalista" (mignon, legumes na manteiga e arroz branco) ganhava como compensação pela inevitável azia que o acepipe provocava, um "gadget" eletrônico.
Certa tarde, ao chegar à minha mesa, noto que estava praticamente sozinho na editoria. Estranho, penso. E pergunto ao único repórter presente:
- Mas onde está todo mundo?
- No almoço da Eletros [a associação nacional de fabricantes de produtos eletrônicos]...
Uma hora, uma hora e meia depois, o bando adentrava a redação, numa algazarra que não deixava nenhuma dúvida de que o jabá, mais uma vez, tinha exercido toda a sua mágica.
Há, ainda, um outro tipo de jabá, em que os papéis se invertem: é o jornalista que procura a empresa em busca de um "favor".
Um exemplo real: a repórter bateu o carro, que iria ficar mais de um mês na oficina. A solução para o seu problema? Pedir para uma montadora emprestar um veículo, providência tomada por meio de um mero telefonema à assessoria de imprensa da empresa.
Nos últimos anos em que trabalhei em redação a oferta de jabás havia diminuído drasticamente.
Um mistério.
O jabá talvez tivesse esgotado o seu poder de cooptação, por ter se tornado extremamente corriqueiro.
Ou talvez as empresas tenham percebido que os jornalistas haviam se rebaixado tanto, ética e moralmente, que nem jabá mais mereciam.
(Carlos Motta)
O dia em que Gorbachev fez propaganda da Folha no Estadão
7 de Setembro de 2016, 0:00
Algum tempo depois de ter destruído a União Soviética, Mikhail Gorbachev passou a viver, entre outras coisas, de palestras, seguindo o exemplo de vários colegas ocidentais. Corria o mundo a divulgar seu feito, temperando a conversa com alguns conselhos e observações sobre política internacional, que os ouvintes fingiam acreditar ser sérios, para esquecer logo em seguida.
Tantas viagens acabaram trazendo-o ao Brasil, mais precisamente a São Paulo. Num intervalo do interminável oba-oba com que os nativos o presentearam, o líder aposentado foi parar no Estadão para ver como é que funcionava um dos principais baluartes da recém-florida democracia liberal que aqui se instalava.
Quando surgiu na redação, dezenas de curiosos, de contínuos a jornalistas de todos os calibres, o cercaram. Gorbachev parou diante de uma mesa, sorriu o sorriso dos predestinados, sentou-se na cadeira vaga e pegou um dos jornais que ali se achavam amontoados. Ao abrí-lo, o espoucar de flashes parecia fogos de artifício.
E não deu nem tempo de avisá-lo que havia escolhido o jornal errado: Gorbachev posava para a imortalidade do Estadão passando os olhos numa Folha de S. Paulo!
A balbúrdia daquele momento foi tamanha que ninguém ligou para a gafe. O fato é que Gorbachev se despedia sob uma calorosa salva de palmas e um princípio de confusão, quando uma veterana integrante daquela equipe de bravos jornalistas agarrou a cadeira que o ex-líder havia usado e determinou, entre categórica e histérica:
- É minha, é minha! Ninguém mais vai sentar nela!
Por causa do tumulto não deu para ver se ela levou o troféu para casa ou simplesmente o incorporou à mobília de sua mesa de trabalho. (Carlos Motta)
Lula, vidraças e banqueiros. Ou o jornalismo sem caráter
7 de Setembro de 2016, 0:00
E eis que me lembro de três historinhas que estavam guardadas entre as minhas cada vez mais raras "pequenas células cinzentas", como gosta de dizer o célebre inspetor Poirot, passadas na redação do falecido Estadão - jornal no qual trabalhei 18 anos, em duas oportunidades.
Não sei bem porque elas surgiram na memória, assim de repente, mas tenho a impressão de que se conectam com o que o a imprensa se transformou nos dias de hoje.
Ou seja: a canalhice, a sabujice, o puxa-saquismo descarado, a hipocrisia, o carreirismo, enfim, todas as essas que definem o mau caráter, não são exclusividades destes tempos sombrios.
Divirtam-se.
Lula lá
Muito tempo atrás, em plena campanha eleitoral para a presidência, com as atenções do país divididas entre Collor e Lula, o diretor de redação do finado Estadão interrompeu a reunião de pauta para dar um recado curto e grosso:
- Nossa cobertura está muito pró-Lula. Vamos acabar com isso.
Dito e feito, claro.
Hoje, se não dá mais ordens a editores, ele se contenta em exercer o rentável ofício de difamador dos petistas em geral e de Lula em particular.
Venceu na vida.
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Vidraças
Piada que ouvi, certa vez, há séculos, numa reunião de pauta do Estadão, contada pelo editor-chefe (Lula havia acabado de assumir a Presidência):
- Sabe o que a Benedita da Silva disse para a dona Marisa na visita que fez a ela e ao Lula no Palácio do Planalto? "Nossa, Marisa, quanta vidraça tem aqui para você limpar!"
Meu acesso de tosse nervosa foi completamente abafado pelo riso dos colegas.
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Os banqueiros também amam
No tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, ou quando o Estadão ainda era um jornal, conversando com um repórter da área financeira, escutei dele a seguinte pérola:
- Mas você precisa ver o lado do banqueiro!
Nem preciso dizer que o rapaz teve um carreira muito bem sucedida.
(Carlos Motta)
Consulta Pública: Seja um(a) representante da sociedade civil na EBC
18 de Agosto de 2016, 0:00O Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) está com cinco vagas abertas para novas conselheiras e conselheiros. Está com dúvidas sobre o processo? Preparamos um FAQ com as principais perguntas e respostas sobre o edital da consulta pública em aberto e o papel dos conselheiros e conselheiras. Confira abaixo!
Estou interessado(a) em participar do processo. Posso me candidatar a uma vaga enquanto pessoa física?
Não. A consulta pública tem o objetivo de receber indicações de nomes vindas de entidades da sociedade civil. Ou seja, é preciso que pessoas jurídicas se inscrevam na seleção e recomendem os/as postulantes para as vagas específicas em aberto.
Qualquer pessoa jurídica pode indicar nomes?
Não. Além da exigência de ser uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, as entidades precisam ser voltadas, ainda que parcialmente à determinadas áreas descritas no edital, como comunicação, promoção dos direitos humanos ou da democracia; educação; cultura; representação profissional, entre outras. Além disso, a organização deve ter no mínimo dois anos de existência até a data de publicação do edital. Não poderão se inscrever partidos políticos ou instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos, práticas e visões devocionais ou confessionais. Cada entidade pode indicar no máximo três nomes, não sendo permitida mais de uma indicação para a mesma vaga.
Qualquer pessoa pode ser indicada para a seleção?
Não. Primeiramente, os/as postulantes a uma vaga no Conselho devem ter reconhecida atuação em um dos seguintes segmentos da sociedade brasileira: área de infância e adolescência; área artística e/ou cultural; campo LGBTT; área ambiental e/ou de defesa dos direitos do campo; área empresarial. Além da necessidade de se encaixar em um desses perfis buscados pelo colegiado, para serem aptos a participar da seleção cada postulante deve receber a indicação de no mínimo: uma entidade ligada ao segmento referente à vaga que pleiteia; uma entidade com sede na sua própria região; três entidades de segmentos diferentes da sociedade civil organizada; e uma entidade de atuação nacional. Apesar desses requisitos não serem obrigatórios, serão selecionadas preferencialmente os(as) candidatos(as) que sejam mulheres, negros ou indígenas e jovens. O Conselho procurará, também, selecionar candidatos/as de regiões do país subrepresentadas na composição atual do colegiado.
É vedada a participação de algum perfil de postulante especifíco?
Sim, a consulta não habilitará indicações de pessoas que não sejam brasileiras natas ou naturalizadas há mais de dez anos; que tenham vínculo de parentesco até terceiro grau com membro da Diretoria Executiva da EBC; de agentes detentores de cargo eletivo ou cargo em comissão de livre provimento da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios; e de representantes ou dirigentes de partidos políticos ou entidades religiosas.
Como o Conselho vai verificar os perfis dos candidatos?
A comissão processante da consulta vai avaliar se as entidades e os postulantes correspondem aos critérios necessários para serem habilitados a partir dos documentos enviados. A comprovação da atuação dos indicados nas áreas escolhidas e a relevância de sua participação no Conselho será feita pelo currículo e uma carta de intenções dos postulantes, além de uma justificativa da entidade para a recomendação. A comprovação de raça e etnia será feita por autodeclaração no formulário da consulta para candidatos que desejem se declarar pretos, pardos ou indígenas. Já a região a qual os indicados representam será considerada a partir do seu endereço de residência informado também no formulário da consulta. É importante lembrar que todos os documentos listados no edital devem ser encaminhados por via postal registrada para a secretaria do Conselho e o formulário de inscrição, obrigatoriamente, deve ser enviado também por e-mail.
Quem vai escolher as pessoas que ocuparão as cinco vagas?
A comissão processante da consulta produzirá uma proposta de composição de vagas a partir dos critérios e preferências descritos no edital. Essa lista será apreciada pelos representantes da sociedade civil no colegiado e, posteriormente, aprovada por todo o Conselho para ser submetida à designação da Presidência da República. A comissão é composta por cinco conselheiros(as) da sociedade civil. Os casos omissos serão decididos pelo Conselho Curador, ainda no âmbito da representação da sociedade civil.
Qual é o calendário da consulta*?
Abertura das inscrições para entidades e indicação de postulantes a membros | 17 de junho de 2016 |
Fim do prazo para inscrições e envio dos documentos | 09 de setembro de 2016 |
Divulgação da lista com entidades habilitadas e as indicações processadas | 19 de setembro de 2016 |
Período para envio de pedidos de reconsideração de eventuais inabilitações | De 19 de setembro a 22 de setembro de 2016 |
Resultado do julgamento dos pedidos de revisão | 27 de setembro de 2016 |
Apreciação do Conselho Curador da lista com as indicações das entidades e a proposta de composição dos(as) conselheiros(as) da sociedade civil | Reunião subsequente ao dia 27 de setembro de 2016 |
* Calendário atualizado a partir de prorrogação do prazo para inscrições, conforme decisão da comissão processante da consulta.
O que faz um(a) conselheiro(a) da EBC?
Delibera sobre a linha editorial e as diretrizes de programação dos veículos da EBC, opinando sobre matérias relacionadas ao cumprimento dos princípios e objetivos gerais previstos na Lei 11.652 de 2008, que criou a EBC. Para isso, é responsabilidade dos/as conselheiros/as o acompanhamento da programação dos canais da EBC e do seu jornalismo. Também é seu papel deliberar sobre o Plano de Trabalho anual da EBC, documento que descreve todas atividades que a empresa vai desempenhar em cada exercício, além de analisar os relatórios bimestrais da Ouvidoria e as atas de todos os comitês da EBC. Os membros do Conselho Curador devem comparecer às reuniões de pleno, sob a pena de perda do mandato no caso de ausência injustificada a três sessões do colegiado durante o período de doze meses.
De quanto tempo é mandato dos(as) conselheiros(as)?
Para as vagas que estão em aberto, o mandato é de quatro anos, renovável por uma única vez.
Como o Conselho chegou à esse edital?
O texto é fruto de contribuições da sociedade colhidas em uma consulta e uma audiência pública sobre o tema, além de vários debates do pleno.
Acesse aqui todos os documentos da consulta.
Leia mais sobre a consulta pública aqui.
Para saber mais sobre o Conselho, confira nossa cartilha Conheça o Conselho Curador.
Para quando o milico ou volunOtário do COI lhe molestar no estádio
8 de Agosto de 2016, 21:37Está na Constituição Federal do Brasil de 1988.
Faça valer seu direito à Liberdade.
Diga não à Censura e à Ditadura da Cleptocracia.