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Sociedade

28 de Fevereiro de 2014, 13:45 , por Blogoosfero - | No one following this article yet.

Qual política de permanência queremos?

10 de Janeiro de 2016, 19:20, por leandro alves dos santos - 0sem comentários ainda

O artigo foi apresentado originalmente em forma de resumo, sobre a orientação do Prof. Dr. Antonio Gonçalves de Oliveira, no IX JoparPET com o titulo "O PERFIL DO ESTUDANTE DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS FEDERAIS FRENTE AS NOVAS POLITICAS SOCIOEDUCACIONAIS E DE EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR PÚBLICA" e discorre sobre o perfil socioeconômico dos estudantes da universidades federais, politicas de permanência estudantil e expansão do ensino superior no pais nas ultimas décadas.

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A universidade no Brasil teve seu início tardio. As primeiras iniciativas ocorreram no início do século XIX com a criação das escolas Medicas e Politécnicas na Bahia e Rio de  Janeiro em 1910. Era um ensino superior profissionalizante e voltado a atender aos interesses da aristocracia, marcando desta forma o início excludente do ensino superior no pais, uma característica que, não obstante posicionamentos divergentes, permanece até os dias atuais. A universidade no Brasil desde então cresceu e se desenvolveu, assumiu sua função como instituições de pesquisa e desenvolvimento do conhecimento, ampliou sua presença em todo o território e expandiu sua capacidade com laboratórios e bibliotecas.

As duas últimas décadas marcam o maior período de crescimento da educaçãosuperior com a participação de instituições públicas e privadas. As IFES (Instituições Federais de Ensino Superior), possuíam, em 2002, 148 campus no pais, saltando para 274 em 2010, distribuídos em 230 municípios. Nesse sentido expansionista, o número de matriculas atingiu o patamar de 1.015.868 em 2013. Este período de expansão marca uma universidade mais conectada com a inclusão social, o acesso a direitos universais e a democratização dos campus brasileiros fazendo com que a universidade assuma cada vez mais o rosto multicultural da sociedade e espelhe as contradições sociais e econômicas do e para o pais. O REUNI (Programa de Restruturação das Universidades Brasileiras) foi o motor desse período de intenso desenvolvimento, permitindo a inclusão social das camadas mais vulneráveis socioeconomicamente e historicamente excluídas do ensino superior. Mas inclusão sem as condições concertas de permanência, de fato é uma falsa inclusão, pois os estudantes pobres necessitam de políticas públicas de permanência, que vão além do apoio financeiro para tornar possível a conclusão do curso superior. O PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) veio então para atender a esta necessidade de políticas públicas de AE (assistência estudantil), tendo como objetivo promover a permanência do estudante, suprindo as necessidades por moradia, alimentação, transporte, atenção à saúde, apoio psicopedagógico, inclusão cultural, esportiva e digital, creches e acesso mobilidade.

As alterações e impacto que as politicas expansionistas promoveram no perfil socioeconômico e cultural dos estudantes da IFES em todo o pais pode ser observado a partir da análise dos relatório das pesquisas do Perfil Socioeconômico e Cultural dos estudantes das IFES realizado pelo FONAPRACE (Fórum Nacional dos Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantil) que reúne os Pró-Reitores das IFES. Três pesquisas foram realizadas iniciando em 1997 e refeitas em 2004 e 2010. Neste artigo quatro áreas mais relevantes foram selecionadas para identificar o perfil socioeconômico dos estudantes sendo elas: Classe econômica; Cor/Raça; Tipo de escola de ensino médio; e escolaridade dos pais.

Estudantes oriundos da classe A passou de 12,6% em 1997 para 15,6% em 2004 e para 15,25% em 2010; enquanto na classe B eram 43,11%, 41,5% e 41% nos mesmo anos. Somando-se as classes C, D e E eram de 44,3% em 1994, passando para 42.8% e 43,67% em 2004 e 2010, respectivamente. Em 1997 não foi analisada a categoria cor/raça. Entre 2004 e 2010 os estudantes autodeclarados Branco representavam 59,4% dos respondentes, reduzindo-se para 53,9% em 2010, já Pretos e Pardos que eram 34,2% em 2004 cresceu a representatividade, passando para 40,8% em 2010. Estudantes que fizeram ensino médio em escolas privadas representaram 54,6%, 52,9% e 49,6% nas três pesquisas, enquanto que a participação dos oriundos de escolas públicas, apresentou crescimento continuo de 45% para 46,2% e 50,4%, respectivamente nas três pesquisas. Considerando os anos de 1997 e 2010 os filhos de pais analfabetos elevou-se de 2,1% para 2,65%, os filhos de pais com ensino médio elevou-se de 20,3% para 24,5%, enquanto que os estudantes filhos de pais com ensino superior reduziram de 32,2% para 28,4%. A pesquisa de 2004 não analisou a escolaridade dos pais.

A representatividade dos Estudantes oriundos das classes C, D e E permanece próxima nas três pesquisas, e mostram que mais de 40% dos estudantes possuem alto potencial de demanda por políticas públicas de AE. Considerando que a classe B também pode ser demandante dessas políticas, a porcentagem sobe a 67%. Quanto a cor/raça dos alunos, as IFES ainda se mostram majoritariamente brancas, não obstante a redução de 5,5% de brancos e o aumento de 4,5% de pardos observados nesse período. A população de pretos e pardos nas IFES em 2010 foi de 40,8%, número que mostra a importância das políticas de combate à desigualdade racial tal como a Lei n°12.711/2012, comparando-se tal percentual registrado pelo IBGE no pais no último senso, de 50,7%. A quantidade de estudantes nas IFES que cursaram o Ensino Médio em escola pública superou por pequena margem os estudantes de escola privada em 2010, o que não era fato em 2004. Ainda que abaixo dos 87% de estudantes que concluem o Ensino Médio público no país, este número mostra bem os efeitos das políticas de expansão e interiorização das IFES. Na mesma linha inclusiva, a redução de filhos de pais com ensino superior é seguida por aumento de filhos de pais que só concluíram o ensino médio e pais analfabetos.

Isso mostra que grupos até então excluídos da universidade estão tendo oportunidades de acesso. As pesquisas realizadas foram a base para criação do PNAES, que se tornou uma política pública de governo com a edição do Decreto n° 7.234/2010 e recebeu R$ 603 milhões em investimentos em 2013, ainda insuficientes face a demanda, que considerando as 63 IFES, o recurso estimado para atender ao PNAES em 2014 deveria ser de R$ 1.484.167.509,65 segundo apontamentos do próprio FONAPRACE. Tendo em vista as metas previstas no PNE (Plano Nacional de Educação) para a inclusão de 33% da população de 18 a 24 anos no ensino superior, o PNAES é uma política indispensável para o sucesso do PNE.

No artigo O direito à moradia adequada dos estudantes universitários e o Plano Diretor fala sobre a responsabilidade do município com as politicas de permanência estudantil no que tange o direito de moradia.

 



confraternizacao das conselheiras da mulher de maraba

22 de Dezembro de 2015, 16:49, por shirlei de sousa oliveira - 0sem comentários ainda

     confraternizacao das conselheiras da mulher de maraba



Para onde ir neste fim do mundo?

12 de Dezembro de 2015, 20:36, por Jornal Correio do Brasil

Por Moysés Pinto Neto, de Porto Alegre

O filósofo gaúcho Moysés Pinto Neto fala do progressismo de Dilma sob um ângulo acadêmico
O filósofo gaúcho Moysés Pinto Neto fala do progressismo e decrescimento sob um ângulo acadêmico

Para onde apontam as palavras de ordem nas manifestações recentes? Como enxergar a evidente recusa apresentada pelos movimentos de resistência e sua luta no fim do mundo?

O ciclo de mobilizações sociais que teve início em 2010 com a chamada Primavera Árabe, alastrando-se pela Europa, EUA e Canadá e pela América Latina, fomenta, desde então, intensos debates em torno das pautas e estratégias que guiam os movimentos. Após a crise de 2008, com as ruas voltando a abrigar enxames de indignados, não raro se pergunta qual será a próxima etapa das lutas depois de aglomerados de milhões de pessoas mostrarem capacidade de resiliência diante da violência policial, do descrédito da mídia e da indiferença das instituições políticas tradicionais. O motivo dessa preocupação por parte de alguns é que esses movimentos parecem herdeiros, em larga escala, da geração de 1968, aproximando-se de ideais anarquistas por meio da ojeriza a lideranças verticais, à lógica instrumental dos meios e fins, à construção de uma identidade rígida, e a alianças, compromissos e negociações com os poderes instituídos, chegando frequentemente a uma dificuldade considerável de definir exatamente o que buscam.

Tanto a esquerda radical quanto a moderada, preocupadas em “conquistar o poder” – seja pela sustentação da “ideia comunista”, seja pelo alinhamento pragmático a partidos e governos, associados, por sua vez, pelos manifestantes, ao descrédito da política representativa –, parecem compartilhar desse incômodo. Será essa, no entanto, a única interpretação viável? Esse negativo que constitui os novos movimentos seria interpretável apenas à luz da falta? Em outros termos: e se o não fosse uma resposta?

A política ocidental e sua reflexão filosófica têm dificuldade para lidar com o negativo. Como tantos mostraram ao longo do século XX, o sonho da razão – que também era o sonho da política – ancorava-se em um anseio totalizante, buscando abordar e esquadrinhar os mais diversos cantos da realidade. A Modernidade não se conforma em procurar a coincidência entre real e pensamento: ela quer conquistar o real e fazê-lo idêntico ao pensamento, atacando tudo aquilo que se nega a coincidir com ele – e era aí mesmo, nesse negativo, que filósofos como Theodor Adorno visualizavam o último refúgio da emancipação. A necessidade de se estabelecer rapidamente um programa para os protestos, que se organize em pautas específicas e negociações “viáveis”, parece estar inserida na mesma questão. A irrupção do novo precisa ser domesticada e marcada pelo positivo, colocando, segundo a lógica dos meios e fins, um conjunto de objetivos que, no fim das contas, efetivem um projeto de poder.

Por outro lado, é claro que um certo purismo do negativo é tentador e que é fácil, especialmente em nível discursivo, sustentar que todo compromisso é reprovável e apenas uma condição ascética em relação ao poder e fiel aos princípios é adequada. Sabemos os dilemas a que conduzem essas posições. O caso egípcio é um exemplo claro de que nem sempre os impulsos de contestação que caracterizam os enxames humanos – no Egito, multidões de milhões de pessoas se reuniram em dois momentos distintos – resultam em transformações efetivas, pois uma ditadura sucedeu ao regime derrubado. Tampouco a crença na “multidão” contra o poder, essa espécie de apologia cega às massas que nunca podem estar erradas (quando há tantos exemplos em sentido contrário…), deixa de apresentar problemas e dilemas. Aliás, episódios recentes no Brasil mostraram que não são somente os afetos revolucionários que movem multidões: o ressentimento e a raiva também agregam. A questão é delicada e ninguém está em posição de se considerar acima do erro e do experimentalismo. A emergência dos partidos-movimento, como o Podemos espanhol e o Syriza grego, é uma tentativa de escapar ao dilema. No entanto, a cena atual talvez nos permita ver as coisas de outro modo.

Palavra de ordem, fotografias da instalação de Rivane Neuenschwander

Torçamos o foco, aqui, para um estranho debate acadêmico que aconteceu recentemente na Universidade de Stanford. Ali, ao contrário dos tradicionais debates entre socialistas e liberais, reformistas e revolucionários, ou mesmo entre comunistas e anarquistas, de um lado estavam os “anarco-primitivistas”, representados por John Zerzan, e, de outro, os “transhumanistas”, representados por Zoltan Istvan. Enquanto os anarco-primitivistas postulariam, segundo a versão publicada pelo próprio Istvan no prestigiado The Huffington Post, “um retorno para um modo de vida não civilizado e a desindustrialização”, os transhumanistas exultariam “o uso da ciência e da tecnologia para transformar e melhorar a espécie humana”. O que a conversa parece indicar é que as condições da disputa política podem ter se alterado significativamente no século XXI. Não estaríamos mais diante de um reload das grandes polaridades do século passado, mas de uma cena radicalmente alterada que, como veremos, nubla a própria separação clássica da política entre natureza (delegada aos cientistas naturais e considerada mero objeto de exploração) e cultura (lugar do humano, do espírito, da razão, do esclarecimento).

É aqui, nesse novo cenário, que aparece uma chave para entender o negativo sem que se confunda com o purismo. O negativo não precisa apenas significar recusa. Para tanto, é preciso considerar que o modelo atual baseado em crescimento, produção e consumo ilimitados é catastrófico do ponto de vista ecológico. Tomando emprestada uma expressão de Deborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro, poderíamos designar nosso contexto sociocultural simplesmente como “fim do mundo”. Não se trata de uma concepção escatológica que remete a um futuro distante no qual os ímpios serão julgados e os santos e justos absolvidos – como na escatologia messiânica que, aliás, irriga, em versões secularizadas ou não, boa parte do pensamento político (inclusive e principalmente aquele de esquerda). O núcleo da questão ambiental é que o problema já está aí. A catástrofe já aconteceu e se trata de organizar uma resposta para minorar os efeitos que estão no horizonte calculado e ratificado pela comunidade científica em geral. Essa condição exige revisar nossos hábitos de pensamento e as utopias baseadas em um “humano” desligado da natureza, conceito cujo papel central limita-se à transformação de outros seres vivos e do entorno biofísico em estoque ilimitado de “recursos” para o crescimento econômico. Pensar o negativo nesse novo contexto poderia ser pensar o menor.

No âmbito dessa linha de raciocínio, Serge Latouche e outros intelectuais vêm propondo um termo provocativo, que se contrapõe a um imaginário político que eles dizem “intoxicado” pelos padrões da sociedade do consumo: o “decrescimento”. Enquanto assistimos cotidianamente ao debate entre empresários, burocratas e grande mídia em torno de índices quantitativos e estratégias para incrementar números representados sobretudo pelo Todo-Poderoso PIB (Produto Interno Bruto), o decrescimento propõe que só a interrupção e minoração do processo atual pode ser ecologicamente viável, substituindo a lógica da acumulação e o fetiche da mercadoria pela ideia de qualidade de vida. O decrescimento encontra em formas de vida tidas por “atrasadas”, como entre povos indígenas e africanos, práticas culturais que permitem significações qualitativas que não reproduzem o ciclo vazio e a felicidade desidratada do consumo. Também sinaliza a ultrapassagem da noção de “sustentabilidade” que, muito embora importante e longe de ter produzido todos os seus efeitos, parece estar aquém do tamanho do desafio que se apresenta diante de problemas como as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a acidificação dos oceanos ou a crise hídrica.

Em seu Pequeno tratado do decrescimento sereno, Latouche menciona, como proposições decrescimentistas, o retorno da valorização e da autonomia do local, a redução do turismo e da produção desnecessária de bens de consumo, a recuperação dos comércios vicinais contra os hipermercados, dos imóveis pequenos contra as torres de apartamentos, da passagem de pedestres e ciclovias contra a prioridade dos carros, e um reequacionamento da questão alimentar, chegando, em última instância, à “saída da sociedade trabalhista”.

Palavra de ordem, fotografias da instalação de Rivane Neuenschwander

Não é apenas entre os supostamente “atrasados” que o decrescimento encontra adeptos: entre os movimentos sociais do mundo todo há cada vez mais rejeição de processos de “modernização” urbana como a construção de estradas, viadutos e obras “carrocêntricas”, a proliferação de arranha-céus e a perda dos espaços verdes, a privatização e camarotização dos lugares de convivência, a gentrificação e a militarização da segurança pública, a disseminação das técnicas de vigilância e a higienização dos espaços. Ao mesmo tempo, ganham força movimentos de ciclistas, pedestres, adeptos da permacultura, dos direitos dos animais, das festas abertas ao ar livre, entre outros. De forma ainda mais relevante, movimentos e coletivos permitem-se, através de ocupações e experiências de autogestão, ensaiar formas de vida inabituais, múltiplas, e que não têm nome ou regimento, ainda que os ativistas usem noções aproximativas como horizontalidade e organização em rede.

O contraponto a essa visão é o chamado “aceleracionismo” – curiosa coincidência com o nome do programa carro-chefe do Governo Dilma Rousseff no Brasil, o Programa de Aceleração do Crescimento, rejeitado desde o início pelos setores engajados com a questão ecológica e indígena. Os pensadores dessa linha, afinados com as ideias transhumanistas, apostam no progresso tecnológico e científico como mecanismos que levariam o humano a se separar da sua condição “carnal”, transformando radicalmente o mundo (e dominando por completo a natureza e a vida) de acordo com suas pretensões. Ao contrário, portanto, da esquerda clássica, que simplesmente continua – da mesma forma que os liberais – entendendo o meio ambiente como “externalidade”, os aceleracionistas reconhecem as dimensões radicais do problema, mas rejeitam qualquer tipo de “retrocesso” e propõem a ultrapassagem da condição humana como alternativa.

Cientistas famosos como o físico Stephen Hawking, que propôs recentemente viagens interplanetárias com o intuito de colonizar outros planetas para a sobrevivência humana depois da destruição da Terra, e o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, cujo “sonho” último, segundo Muito além do nosso eu, é transportar o cérebro para um suporte que permita vencer a mortalidade, parecem compartilhar desse imaginário em que a vida e a Terra sucumbem diante da ascensão vertiginosa do espírito humano. Aparentemente, é mais fácil se libertar do corpo, da vida e do planeta que de certas obsessões escatológicas, mesmo que travestidas com o manto da hard science.

Os aceleracionistas – radicais ou moderados – tampouco parecem suportar a falta de pautas claras e a recusa, nos movimentos atuais, da autoridade e da verticalização. A organização plástica, sem disciplina e rigidez, os irrita profundamente e é tomada como sintoma de impotência. Apostando excessivamente na estratégia, os aceleracionistas eliminam toda crítica à instrumentalização da razão e excluem o fato de que, nos novos movimentos, a própria relação entre meios e fins se dá em outro tipo de equilíbrio. A própria impotência pode ser entendida, no entanto, como potência no sentido de que não fazer é também exercer uma ação dentro da virtualidade que se apresenta. O filósofo Giorgio Agamben, quando retoma a ideia de Walter Benjamin dos “meios puros” a partir da noção de gesto, exemplifica-os a partir da dança, que é um movimento destituído de finalidade e, ao mesmo tempo, expressão da alegria. Os novos movimentos parecem carregar esse passo de dança que mescla o público e o privado, corpo e razão, equacionando de outra maneira aquilo que os aceleracionistas nostalgicamente gostariam de retomar.

Os atos de ocupação que proliferam pelo Brasil inteiro têm esse sentido que não comunica nada a não ser a si próprio enquanto ocupação, sem instrumentalizar nenhuma pauta. De certa forma, eles encenam a nova sociedade que gostariam de criar, vivem a utopia que desejam sem a deslocar para o horizonte distante (encenação e sonho compartilham da mesma matéria espectral da utopia).

Palavra de ordem, fotografias da instalação de Rivane Neuenschwander

Uma tentativa frustrada de conciliação entre a aceleração do progresso e a descida decrescimentista aparece na ideia de que “menos é mais”, o meio termo entre duas tendências radicalmente diversas. Mais uma vez, ainda, o mesmo imaginário que sufoca no positivo e no programático aquilo que prefere não… Menos não é mais, é menos, mas eventualmente pode ser melhor. Deborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro associam esse “melhor” ao surpreendente fato político contemporâneo do devir índio. Ele inclui não apenas aqueles povos de origem indígena que estariam à beira de se integrar definitivamente à sociedade branca e que, de repente, resolvem, em um movimento inesperado para alguns, voltar a serem índios, mas aqueles que, em geral, e cada vez mais, adentram outras formas de estar no mundo.

Testemunhamos, aliás, na paleta de movimentos, uma variedade de lutas que encontra seu mais perfeito paradigma nos protestos indígenas contra a Usina de Belo Monte, típica recusa do progresso e da aceleração. Em contraponto ao “desenvolvimento extensivo” da sociedade de consumo e do imaginário civilizatório ocidental, Viveiros de Castro propõe a “suficiência intensiva”. Trata-se de outra experiência do limite diferente da lógica de colonização e dominação, baseada em um envolvimento intensivo que é menor. Contrapõe-se, portanto, ao maior do Estado e do mercado que, mais do que fabricar a desigualdade, fabrica a falta. O “viver bem” do menor envolve uma contração que intensifica, multiplicando o múltiplo, ao contrário do “viver mais” da imortalidade, que funciona a partir da extensão totalizante do Um.

A civilização ocidental sempre se deixou guiar pelo motivo da “ascensão”, apaixonada pelo maior, que, por sua vez, se confunde com a santíssima trindade: Deus, o Estado e o Mercado. A descida, ao contrário, é desde sempre associada ao negativo, à decadência, a um estado indesejável que deveria ser evitado a todo custo. Entender os novos movimentos decrescimentistas e sua luta no fim do mundo como possível linha de fuga abre uma fresta para uma paixão pelo sub, em contraponto à obsessão pelo maior das utopias messiânicas – religiosas ou não – que sobrevivem no imaginário da esquerda. Talvez o não dos novos movimentos simplesmente não seja uma falta a suprir, mas a recusa que é, como um menos, devir revolucionário.

Moysés Pinto Neto, doutor em Filosofia pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul, professor na Faculdade de Direito da Universidade Luterana do Brasil, Porto Alegre.
Ilistrações de Rivane Neuenschwander, artista nascida em Belo Horizonte, é mestre pela Royal College of Art em Londres, onde vive. Participa de importantes exposições mundo afora, tem dois livros monográficos publicados e, em 2004, foi finalista do Prêmio Hugo Boss da Fundação Guggenheim de Nova Iorque.Direto da Redação é um fórum editado pelo jornalista Rui Martins
 


Queda na mortalidade e detecção da AIDS

3 de Dezembro de 2015, 23:26, por João Alberto Farias da Fontoura

VIGILÂNCIA

Brasil registra queda na taxa de detecção e mortalidade por aids De 2013 a 2014, a taxa de detecção caiu 5,5%, sendo a maior redução dos últimos 12 anos. A mortalidade por aids teve queda de quase 11% desde 2003. Os números foram divulgados hoje pelo Ministério da Saúde A taxa de detecção de aids caiu 5,5% em um ano, de 20,8 casos por 100 mil habitantes em 2013 para 19,7 casos por 100 mil habitantes, em 2014. A redução é a maior nos últimos 12 anos de epidemia. Os dados são do novo Boletim Epidemiológico de HIV e Aids de 2015, divulgado nesta terça-feira pelo ministro da Saúde, Marcelo Castro, por ocasião do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro. Na solenidade, realizada em Brasília, também foi lançada a campanha de prevenção ao HIV e aids deste ano. Ainda segundo o boletim, nos últimos 12 anos, a taxa de detecção de aids caiu 9%. De 21,6 casos por 100 mil habitantes, em 2003, para 19,7 por 100 mil habitantes em 2014. Continue lendo...



Finalmente Chatô

2 de Dezembro de 2015, 14:01, por Eduardo Freitas

“Chatô - O Rei do Brasi” é um filme que tem a história de sua produção quase tão interessante quanto a história contada na tela.

Foram diversas polêmicas - envolvendo desde denúncias de mau uso de dinheiro público, passando por condenações judiciais e até mesmo a participação do renomado cineasta Francis Ford Coppola - que rechearam as duas décadas de produção da película - iniciada em 1995 pelo diretor Guilherme Fontes - concluída e lançada nos cinemas no último dia 19 de novembro.

No entanto, a espera valeu a pena.

O temor, devido a todos os problemas pelo qual o filme passou, era de que a obra seria uma espécie de colcha de retalhos, sem nexo e cheia de remendos. Felizmente o filme surpreende positivamente. Sobretudo aos interessados na figura do grande magnata do jornalismo brasileiro da primeira metade do século 20, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, o Chatô.

Guilherme Fontes se revela um grande diretor, que espero não demore mais duas décadas para fazer outro filme. Apesar de que Chatô já se candidata a ser sua obra-prima.

Já o ator Marco Ricca talvez tenha realizado uma das maiores interpretações da história do cinema brasileiro. Bem como Andréa Beltrão, que também atua vigorosamente. Não posso esquecer do Getúlio hipercaricato de Paulo Betti. Deliciosamente bizarro.

Por fim, como pano de fundo, vemos a história do Brasil da Era Vargas e suas relações com a grande imprensa - devedora de sua "modernização" naquele período à verve do canalha-mor Assis Chateaubriand - esteticamente embalada numa farsa brilhante.

A história de Chatô, tortuosamente contada por Guilherme Fontes, revela a essência do Brasil: um carnaval delirante, triste e mal-ajambrado.



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