Em mais uma audiência pública da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB as deputadas federal Érika Kokay (PT-DF) e distrital Arlete Sampaio (PT) deram seus depoimentos sobre os fatos ocorridos na universidade no fim dos anos 70. Ambas são ex-alunas da UnB e foram expulsas da universidade juntamente com outros 28 estudantes em 19 de julho de 1977, por participarem de movimentos contra a ditadura militar.
Arlete Sampaio foi estudante da Faculdade de Medicina (FM) entre 1971 e 1977. Em seu depoimento, contou que se reunia com colegas para discutir política em uma pequena sala da FM e nos gramados próximos ao Restaurante Universitário, que à época funcionava no prédio que hoje abriga o Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM).
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) afirmou que “a UnB já nasceu na resistência, enquanto muitos achavam que a cidade só deveria receber órgãos governamentais e que uma universidade não seria necessária". Kokay relatou que começou a se envolver com o movimento estudantil no dia da matrícula, quando recebeu um panfleto que convidava a participar de uma assembleia. Segundo ela, esse era o espaço que se tinha para discutir política na universidade.
GREVE ESTUDANTIL – Em maio de 1977, estudantes da UnB realizaram um ato público que culminou numa greve contra sanções administrativas aplicadas a estudantes pela reitoria. Como consequência, no dia 18 de julho do mesmo ano, o então reitor José Carlos Azevedo expulsou 30 alunos e suspendeu outros 34. O jornal O Globo publicou notícia sobre o ocorrido no dia 19 de julho de 1977 e divulgou uma nota de Azevedo. Leia aqui a reportagem.
Arlete Sampaio e Erika Kokay estavam na lista de expulsos e contaram suas versões do fato. Kokay relatou que, em 1976, o então reitor propôs a criação do Diretório Universitário, do qual poderiam participar representantes de alunos que tivessem boas menções e algum tempo de universidade. Mas, segundo a deputada, era um espaço limitado de representação. "Aceitamos as regras do jogo numa lógica de que ocuparíamos esse espaço e depois o ampliaríamos”. Foram formadas duas chapas e, para surpresa dos estudantes, a reitoria resolveu expulsar da universidade membros das chapas. Por causa desse episódio, os movimentos estudantis se uniram para deflagrar a greve.
As deputadas relataram que quando foram expulsas tiveram seus registros apagados. Com isso, tinham dificuldades para ingressar em outras instituições. Após o episódio da expulsão, em julho de 1977, os estudantes entraram com uma ação na justiça e conseguiram voltar à universidade.
MEMÓRIA – Arlete Sampaio e Erika Kokay comentaram sobre a relevância das audiências realizadas pela Comissão de Memória e Verdade da UnB. Para Kokay, “é importante se apropriar da nossa própria história, já que tudo neste país foi construído com muito sofrimento”. Sampaio afirmou que “resgatar a memória é essencial para a construção do futuro. Isso gera um aprendizado para que possamos ter sempre em mente a defesa de uma sociedade democrática”.
Para Daniel Faria, os depoimentos coletados são muito importantes para os trabalhos da comissão.“Há uma grande quantidade de documentos no Arquivo Nacional, mas quando as pessoas nos contam os fatos, nos trazem uma dimensão mais rica, da vivência dos acontecimentos. Só a documentação não traz isso”.
COMISSÃO - Criada em agosto de 2012, a Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB objetiva investigar violações de direitos humanos, perseguições políticas, funcionamento dos mecanismos repressivos e formas de resistência na UnB durante o regime entre 1964 e 1988. O grupo tem levantado e sistematizado informações desde o seu lançamento, quando começou a apurar as causas de morte de Anísio Teixeira, um dos criadores da UnB.
UnB Agência
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Greve de estudantes de 1977 marca novo encontro da Comissão da Verdade
20 de Março de 2014, 14:27 - sem comentários ainda | No one following this article yet.
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