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Análise Ninfomaníaca- a questão social do prazer

20 de Outubro de 2014, 21:57 , por Rafael Pisani Ribeiro - 22 comentários | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by-nc-sa)

Existem dois filmes, como um é continuação do outro vale a pena tratar deles juntos. O primeiro inicia com uma mulher caída em um beco, isto é, Joan. Ela se encontra na casa de Seligman, o homem que a salvou e conta sua história, seus arrependimentos. Os fatos mais marcantes de sua vida são a sua seita para adoração ao prazer que visava destruir a moral existente e Jerome, o único homem que a fez se apaixonar, ou o mais próximo possível disso. O resto são consequências. O primeiro filme se mostra muito misterioso, principalmente na cena inicial. Ele termina com Joan afirmando ter perdido o prazer sexual, nos deixando em um vazio, sem resposta. Ambos se completam, e ter visto o primeiro sem ver o segundo é como não ter visto. O primeiro responde a pergunta “Quem é essa mulher?” e mostra as vivências das ninfomaníacas o segundo procura responder “O que a levou até ali?” ( Link para assistir aos filmes caso não tenha assistido http://www.filmesonlineflv.net/2014/03/assistir-ninfomaniaca-volume-1-online-legendado-sem-cortes.html e http://megafilmeshd.net/ninfomaniaca-volume-2/ caso leia, isso irá aumentar a curiosidade em assistir o filme.)

No segundo filme há um destaque maior na história de Seligman e em como a religião afeta a liberdade sexual e o paradoxo de grande liberdade sexual do homem. Joan revela ter um filho que surpreendentemente trouxe de volta por algum tempo seu desejo sexual, e isso é algo incrível. Mais ainda, o prazer sexual pode terminar por causa de práticas sexuais em excesso? Bem, passado algum tempo nem mesmo Jerome que se tornou pai de seu filho e acostumado à seu ritmo sexual consegue satisfazê-la. Assim ela passa a sair com outros homens, até que ela menciona a palavra “pretos” e cria um diálogo interessante.

Seligman diz: “Você não deve usar essa palavra. Não é politicamente correto. 'preto'.” E joan diz “Bem, desculpe-me, mas nos meus círculos sempre chamamos as coisas pelo seu nome. Cada vez que uma palavra se torna proibida removemos uma pedra do alicerce democrático. A sociedade demonstra sua própria impotência diante do problema concreto.” Efetivamente as palavras tem um significado, e o significado de proibir o uso de uma palavra é forte. Até que essa experiência não satisfaz mais e tem de partir para o sadomasoquismo. A violência a que se expõe é extrema, e nem vale a pena descrever. “K”, o sujeito que pratica a violência é igualmente doente, um sádico junto a uma sadomasoquista.

Essa busca desenfreada por prazer faz com que largue o filho. Não por desejo, mas por consequência. A busca se torna sofrimento e a expectativa sexual é maior do que o ato. Como resultado Jerome se afasta de Joan e afasta Marcel (o filho deles) dela. Ela teve de escolher entre o sadomasoquismo e o filho, e não escolheu o filho. O conflito a fez sofrer e procurar violências ainda maiores como autopunição que inusitadamente traz de volta o prazer sexual. Tempos depois isso resulta em sangramentos vaginais, o que faz com que qualquer atividade sexual se torne impossível, e caia em crises de abstinência. Suas relações sociais se atrapalham e é necessário participar de grupos de ajuda onde ela nada se identifica. Em sua única tentativa de se livrar da doença quase se exclui do mundo.

Chega um momento do diálogo que Seligman diz:“A solução pode estar em mudar o ponto de vista.[...[ As coisas se escondem quando se tornam familiares. Mas se você olhar de outro ângulo, pode tomar um novo significado.” Em uma nova fase Joan entra para o mundo do crime, da cobrança de dívidas. Seu conhecimento sobre os homens a ajuda , e como não pode praticar sexo, é assim que liberta a libido. Até que entra “P”, uma menina pega para ser sua sucessora, ou bode expiatório, mas que Joan transmite seu instinto materno, ainda que enviasse dinheiro anonimamente a Marcel. “P” acaba se tornando como sua mãe em termos sexuais e profissionais, isto é, entra para o negócio. O problema é quando a vítima da vez é Jerome que corre risco de ser machucado por “P”, fazendo-a sair do ramo e tentar protegê-lo, assim como sair da cidade. “P” a nega de drasticamente, mas está para ser uma segunda Joan. Disso então ela parte procurando outros mundos, até que chega no beco onde é encontrada.

Ambos os filmes não falam de ninfomaníose ou virgindade. Falam de uma questão social, da cobrança de ambos os sexos, igualmente dos gêneros em casos específicos extremos. Joan o extremo da entrega ao prazer, que quando impossibilitado de ser pelo ato sexual se transforma em algo inapto ao social. Seligman é seu oposto, viveu autcontrolando seus desejos, em busca desenfreada do conhecimento, sempre atrás do prazer através da leitura e ainda virgem. O filme inverte as relações e mostra como os extremos afetam tanto o homem quanto a mulher. O pior fato é que em algum tempo de sua vida suas piores marcas se encontram de forma negativa e ela nada pode fazer. Traz a ideia da necessidade de libertação feminina, onde a consequência é proporcional. O filme traz tantas informações históricas que se torna difícil absorver. Ambos os personagens estão aprisionados, mas de alguma forma alcançaram prisões e liberdade diferentes. Bem, uma das últimas falas de Seligman resume a vida de Joan:

Você era um homem exigindo a sua direita, e mais do que isso, você era uma mulher processando sua direita. O que você acha que teria acontecido se dois homens tivessem entrado em um trem procurando mulheres? Você acha que alguém teria levantado uma sombrancelha? E se um homem tivesse levado a vida que você levou? E a história sobre a Sra. “H” teria sido extremamente banal se você tivesse sido um homem e sua conquista tivesse sido uma mulher. Quando um homem deixa seus filhos por causa do desejo é aceito com um encolher de ombros. Mas você como uma mulher teve que arcar com o ônus de uma falha que nunca poderia ser aliviada. E, finalmente, a culpa que acumulou ao longo dos anos tornou-se muito para você e você reage agressivamente. Pode-se dizer que quase como um homem, e você defendeu. Você se defender contra o sexo foi reprimir, mutilando e matando milhões de você.”

Ou seja, a mulher e o homem estão em situações muito diferentes. Após a conversa Joan se propõe o maior desafio da humanidade, dominar sua sexualidade e dorme em paz pela primeira vez. Ao mesmo tempo Joan parece ter liberado a sexualidade de Seligman que tenta fazer sexo com ela, e por isso o mata, voltando ao ciclo. Claramente esse filme é um banquete Psicanalítico e 1socialmente aprendemos a reprimir instintos, sendo a moral a guardiã que mantém as repressões e portanto precisamos compensar em um mundo de 2fantasia onde os desejos são realizados. Dessa forma a sociedade é responsável 3pelas maiores façanhas humanas, pois dá sentido a libido, mas pelos problemas, porque reprime de mais. Bem, uma frase do filme resume tudo isso.

Mas deve haver algum tipo de interação entre janelas, torres e edifícios altos. Não é muito. Mas o único sol que verá da minha casa.”

 

Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.

Escrito por: Rafael Pisani

Editado por: Willy Gonçalves Lagoeiro

Referências bibliográficas:

Disponível em: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/a-quarta-das-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud Rafael Pisani/ http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira . Data de acesso: 19 de Outubro de 2014

Disponível em: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/a-quinta-das-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud Rafael Pisani/ http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira . Data de acesso: 19 de Outubro de 2014

Disponível em: http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/cincolicoespsicanalise.html 

. Sigmundo Freud / http://www.cefetsp.br . Data de acesso: 20 de outubro de 2013

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1Fonte de socialmente reprimri instintos:http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/a-quarta-das-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud

2Fonte do mundo de fantasia onde os desejos se realizam: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/a-quinta-das-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud

3Fonte da responsabilidade pelas maiores façanhas humanas: http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/cincolicoespsicanalise.html

 

 


Tags deste artigo: análises de filme- sexualidade

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