Por telefone e pessoalmente, segundo o ex-colega, Geddel Vieira Lima teria lhe pedido que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão subordinado à Cultura, aprovasse o projeto imobiliário La Vue Ladeira da Barra
Por Redação – de Brasília, Rio de Janeiro e Salvador
A saída de cena do ex-ocupante do Ministério da Cultura Marcelo Calero tem produzido mais ruídos do que imaginava o presidente de facto, Michel Temer. Segundo fonte do Correio do Brasil, no Palácio do Planalto, assim que tomou conhecimento do bate-boca entre Calero e o ministro Geddel Vianna, Temer tentou evitar o curto-circuito. Calero pediu demissão do cargo, na noite passada, alegando razões pessoais. Mas depois de consolidar sua saída do cargo, revelou uma trama milionária, da qual faria parte o chefe de Governo da atual gestão, Geddel Vieira Lima.
Em entrevista ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, Calero revelou que o articulador político do governo Temer o procurou umas cinco vezes, com um assunto pouco ortodoxo. Por telefone e pessoalmente, segundo o ex-colega, Vieira Lima teria lhe pedido que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão subordinado à Cultura, aprovasse o projeto imobiliário La Vue Ladeira da Barra.
O empreendimento situa-se próximo a uma área tombada em Salvador. O chefe de gabinete de Temer, líder do PMDB soteropolitano, segundo Calero, seria dono de um apartamento no local. E precisava ser liberado, no Ministério da Cultura, para iniciar a construção.
— Entendi que tinha contrariado de maneira muito contundente um interesse máximo de um dos homens fortes do governo — afirmou Calero.
Treta baiana
O prédio em questão, o La Vue , é “um espigão de 30 andares na Ladeira da Barra, com um apartamento por andar e estrutura completa de lazer e serviços. São unidades de 260 metros quadrados, com quatro suítes e quatro vagas de garagem. Além de uma cobertura de 450 metros quadrados”, relata o jornalista Fernando Brito em seu blog: O Tijolaço.
“A construção, que chegou a ser suspensa por uma liminar judicial, é contestada pelo Instituto dos Arquitetos da Bahia (IAB)”, acrescentou. A instituição acusa a Prefeitura de Salvador de ter liberado irregularmente a obra, de 106 metros de altura. O projeto excede o gabarito permitido para não provocar o sombreamento na Praia do Porto da Barra. Se aprovado, poderá “ferir a paisagem da Ladeira, onde existem monumentos tombados pelo Patrimônio Histórico”, apurou Brito.
Ainda segundo o jornalista, “Geddel – segundo o próprio ex-ministro da Cultura – indicou o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Bahia, Carlos Amorim”. Ele já ocupara o cargo até ser demitido por Juca Ferreira ano passado. Mas voltou ao posto, recentemente, “por sua ‘a boa relação com o prefeito ACM Neto”.
Advocacia administrativa
“No último dia 10, o procurador Pablo Coutinho Barreto pediu ao juiz da 4ª Vara Federal da Bahia a suspensão definitiva da obra. Com o depósito judicial de tudo o que a construtora Cosbat Engenharia e sua parceira Viva Ambiental e Serviços (que atua em coleta de lixo em várias cidades nordestinas) já recebeu pelas vendas. O empreendimento era contestado há muito tempo. Já havia sido objeto de confronto de Geddel, pelo Twitter, com vereadores da capital. Ele os acusou de trabalharem contra a construção influenciados pelo banqueiro Marcos Mariani. Trata-se do filho de Clemente Mariani, cuja casa fica nas proximidades”, acrescenta Brito.
Geddel, investigado na Operação Lava Jato, após mais esse escândalo, tem sido chamado de “ministro do espigão”, segundo Brito, e “dificilmente terá condições de continuar no Governo”. As baterias da Polícia Federal (PF), voltam-se, mais uma vez, na direção de Vieira Lima, após a acusação de Calero. “É muito direta e específica e configura advocacia administrativa (art.321 do Código Penal) ‘na veia”, afirma Brito. E questiona:
“Resta saber se o acovardado Michel Temer, digamos, demiti-lo-á”.
Ex-comunista
Ato seguinte, o Palácio do Planalto informou que o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP) será o novo ministro da Cultura. Temer tentava, ainda, colocar panos quentes da mais nova crise que enfrenta, desde que a presidenta Dilma Rousseff (PT) foi deposta, em 13 de Maio deste ano.
Presidente nacional do PPS, Freire foi convidado às pressas por Temer para assumir o cargo ainda na sexta-feira. À tarde, Calero telefonou a Temer, que está em São Paulo, pedindo para deixar o cargo. Inicialmente, ele havia sido nomeado secretário nacional de Cultura, órgão que foi vinculado ao ministério da Educação por algumas semanas, mas que voltou a ter autonomia depois de movimentos dos coletivos de cultura na ocupação da sede do Ministério, no Rio de Janeiro (Ocupa-Minc) e outras capitais do país.
Roberto João Pereira Freire foi senador entre 1995 e 2002, quando voltou a assumir novamente uma cadeira na Câmara. Ele foi deputado por vários mandatos consecutivos, cinco ao todo, e já passou pelo PMDB e PCB antes de se filiar ao PPS, em 1992.
O post Denúncias de Calero contra Geddel alertam a PF para novo escândalo apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.