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Minhas lembranças do cinema novo

October 29, 2016 15:02 , by Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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Naquela época a esquerda não pensava em dinheiro mas em revolução.

Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro:

Fui  ver o filme da Betse  de Paula  sobre  a História do Cinema  Novo, na Cinemateca do MAM. Uma delícia!

A  platéia e o filme eram  praticamente  formados  pelo  mesmo  elenco, ( fora os que infelizmente já se foram,  e conviver  novamente  com  aquele  grupo  foi  muito  divertido, com  o  Barretão,  ou  Luiz  Carlos  Barreto,  narrando  o  documentário  e mostrando  seus trechos  desde os  anos  60, 70, junto  com  os  papos  com os cineastas  e  atores  da  época, como  Glauber  Rocha,  Nelson  Pereira  do  Santos,  Arnaldo  Jabor  e por aí vai. As atrizes  eram flagradas  em  festas  da época, assim  como  Helena  Ignez,  Anecy  Rocha e  até  eu! Quantas festas,  quantos  papos  sobre  os  filmes  que  cada  um   fez,  sobre  a  grana  necessária  que cada  um  se matou  pra conseguir, tendo  que  pedir  até  filmadoras  emprestadas  , o que  não  está  muito  diferente de  hoje em dia,  uns  cinquenta  anos  depois!

Lembrei-me  das  passeatas  de  68  onde  o  pessoal  do  Cinema  Novo  se  encontrava, e  uma vez,  passando  pelo  Banco  Nacional,  na  cidade,  gritamos  as  palavras de  ordem  a  quem estava  na  frente  dele:  “ Você  que  é  explorado,  não  fique  aí  parado!”  Ao  que  um  cara respondeu:  “Explorados  por  vocês,  cineastas,  que  pedem  empréstimo  ao  banco  e  nunca podem  pagar!”
Que  época  boa  aquela  quando   tínhamos  todos  o  mesmo  ideal  verdadeiro  e batalhávamos  por  ele  em  todos  os  sentidos,  sendo  até  presos,  torturados  e  exilados, ideal  este,  que  inacreditavelmente  se   transformou  em  dinheiro,  não  para  ser  gasto  em arte ou  para  a  educação  do  povo, mas  sim  em  automóveis,  aviões,  sítios  e  apartamentos  particulares  deixando  a  população  sem  emprego  dormindo  nas  ruas espalhadas  por  toda  parte  da  cidade.

O  final  dos  anos  60, 70,  também  foram  marcados  pela   transformação  dos  costumes,  a liberdade  de  expressão  que  se  exibia  na  vida  e  na  arte,  sobretudo,  através  da  Tropicália e  da  Bossa  Nova  usadas  como  fundo  musical  da  nova  arquitetura,  pintura e  escultura que  transformaram  o  Brasil  da  época. Hoje  vivemos  um  tempo  de  tecnologia  e instalações, algumas bastante interessantes como a decoração que vi na festa de cem anos do Country  Club  coordenada  por  Betty Azulay,  composta  por  luzes  e  água que  pairavam  por cima  de  objetos  inacreditáveis,  deixando  estupefactas,  as  800 pessoas  que  compareceram ao  jantar.

Tomara  que  este período  difícil  que  estamos  vivendo  agora  no  Brasil  coopere  com  uma nova  união  de  ideologias  que  acabe  com essa   ditadura  do  dinheiro  pra se transformar numa  nova  Democracia  com  novos  cenários  e arte  surpreendentes  acompanhadas,  como nas  décadas  do Cinema  Novo,  por  um  e  extraordinário  fundo  musical.

Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.

Direto da Redação, é um fórum  editado pelo jornalista Rui Martins.

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Source: http://correiodobrasil.com.br/minhas-lembrancas-do-cinema-novo/

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