
A lógica das plataformas digitais transformou o ódio em um produto rentável. Em nome do engajamento e do lucro, discursos violentos, preconceituosos e desinformativos ganham espaço e financiamento.
O que poderia ser apenas uma manifestação individual de intolerância virou modelo de negócio, sustentado por cliques e anúncios.
Quando recompensado economicamente, o ódio se multiplica: cria bolhas de radicalização, normaliza a violência simbólica e corrói valores de convivência coletiva.
Mais do que afetar a vida social, esse processo ameaça a própria ideia de civilização plural e pacífica, já que discursos de ódio historicamente prepararam o terreno para tragédias coletivas.
Diante desse risco, não basta apenas indignação individual. É necessário regular plataformas digitais, exigir responsabilidade das empresas e investir em educação crítica para o uso da internet.
Além disso, cabe ao Estado brasileiro assumir um papel ativo, promovendo tecnologia livre, transparente e com mecanismos de controle dos algoritmos, para que o lucro não continue sendo sustentado pela lógica da destruição.
Uma alternativa possível ao modelo atual é a economia solidária digital, baseada em princípios de cooperação, governança compartilhada e valorização do impacto social.
Nesse modelo, conteúdos e plataformas seriam sustentados pelo benefício coletivo, não apenas pelo engajamento massivo, reduzindo incentivos à polarização e à disseminação de ódio.
Se nada for feito, a economia do ódio seguirá crescendo como uma força corrosiva, capaz de minar os alicerces sociais e éticos da sociedade contemporânea.
*Josué Franco Lopes
Advogado, membro da coordenação executiva da Associação de Juristas pela Democracia e militante do Movimento Negro Unificado.