“O Poder Público municipal já investiu mais de R$ 25 milhões na reforma do prédio da Usina do Gasômetro (…) fica o questionamento realizado pelo Conselho Municipal da Cultura sobre a real utilização da Usina do Gasômetro” (extrato do artigo de José Fortunati*, que reproduzo na íntegra a seguir:
A Usina do Gasômetro foi inaugurada em 1928 com o propósito de garantir o fornecimento de energia elétrica para a capital de todos os gaúchos visando capacitar a cidade para o incipiente processo de industrialização do país. As atividades da usina foram encerradas no ano de 1974.
Na segunda metade da década de 1970 formatou-se uma proposta de derrubada do prédio com o objetivo de alargar uma avenida. Diante desta possibilidade um grande movimento, reunindo artistas, sindicalistas, estudantes e pessoas preocupadas com o possível desfecho da implosão do prédio, acabou movimentando, no dia 17 de setembro de 1980, um grande ato público em defesa do patrimônio histórico, que teve uma grande repercussão na imprensa.
A partir destas manifestações a Prefeitura Municipal terminou se pronunciando oficialmente a favor da conservação do prédio, o que terminou consolidando a manutenção do prédio histórico, que no final de 1991 teve as suas portas abertas como um Centro Cultural.
Assim que foi inaugurado como centro cultural a Usina do Gasômetro passou a sediar importantes eventos e exposições como a Festa Latino-Americana do Artesanato, as comemorações do Primeiro de Maio de 1992 e os eventos relacionados com a ECO 92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento bem como o Fórum Social Mundial.
Em pouco tempo, como centro cultural, a Usina rapidamente se tornou um dos principais equipamentos de cultura da cidade recebendo um grande público especialmente aos finais de semana.
Durante a minha gestão a frente da Prefeitura de Porto Alegre (2009-2012 e 2013-2016) a Usina passou a desenvolver inúmeras atividades de teatro, música, cinema, dança, artes visuais, oficinas culturais, cursos, eventos, feiras e palestras, abrigando auditórios, salas multiuso, anfiteatros, galerias para exposições, estúdio de gravação, biblioteca, cinema, teatro e cafeterias.
O grande salto de qualidade foi quando implementamos o projeto Usina das Artes que possibilitou que mais de 40 grupos culturais na área do teatro, circo e dança se instalassem fisicamente na Usina num grande processo de incentivo e fomento da cultura.
Transformamos a Usina num grande centro de desenvolvimento de “‘startups da cultura” garantindo as bases de sustentação para que todos os grupos de cultura amadores pudessem desenvolver plenamente as suas atividades.
Ao lançar o edital que prevê a concessão da Usina do Gasômetro para a iniciativa privada, a Prefeitura não garante que este fomento à cultura irá ter continuidade.
Além do questionamento jurídico feito pelas entidades, lembrando que a Usina do Gasômetro é um bem da União cedido à Prefeitura de Porto Alegre e portanto tal ação deveria ter o endosso do Governo Federal, fica o questionamento realizado pelo Conselho Municipal da Cultura sobre a real utilização da Usina do Gasômetro.
O recurso jurídico apresentado na última quinta-feira solicita o cancelamento do referido edital de concessão e propõe novas rodadas de negociação entre as entidades representadas no Conselho Municipal da Cultura e a Secretaria da Cultura para que ao final do processo todos interesses, especialmente do mundo cultural, sejam preservados.
O Poder Público municipal já investiu mais de R$ 25 milhões na reforma do prédio da Usina do Gasômetro.
Dinheiro público que deve, obrigatoriamente, respeitar o mundo cultural, certamente o mais atingido pela pandemia de 2020 e pela enchente de 2024, que necessita do nosso empenho para continuar sobrevivendo.
E a utilização da Usina do Gasômetro é fundamental para que os pequenos grupos possam sobreviver e, ainda mais, se qualificar para que o futuro da cultura possa permear as nossas vidas com a qualidade própria dos grupos culturais do Rio Grande do Sul.
*Prefeito de Porto Alegre (2010-2012 e 2013-2016)