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Luiz Muller Blog

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Empresa infiltrou espião entre ativistas que combatem o amianto

31 de Janeiro de 2017, 20:30 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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Mistério sobre quem pagou araponga pode ser desfeito em Londres

espião do amianto 3

À esquerda, Laurie Kazan-Allen (topo) e Linda Reinstein. Ao centro, Fernanda Giannasi, símbolo da luta antiamianto no Brasil, e Rob Moore, o espião contratado pela K2. De cima para baixo, Jules Kroll (presidente do Conselho), Jeremy Kroll (CEO) e Matteo Bigazzi, o diretor-executivo da K2, em Londres. Jules é o fundador da famosa Kroll Inc. Bigazzi também trabalhou na Kroll antes de ir para a K2

por Conceição Lemes no VIOMUNDO

Pelo menos há cinco décadas já se sabe que todos os tipos de amianto, ou asbesto, são cancerígenos, inclusive o crisotila ainda produzido, comercializado e utilizado no Brasil.

O contato com o mineral está associado principalmente a dois tumores malignos:  câncer de pulmão e mesotelioma, geralmente fatal e que atinge pleura (camada que reveste o pulmão), peritônio (camada que reveste o intestino) e pericárdio (camada que reveste o coração).

Mais de 60 países, inclusive toda a Europa, já o proibiram por completo. Recentemente o Canadá anunciou o banimento em 2 anos.

E a tendência desse número é crescer, devido às campanhas da rede mundial de ativistas pela proibição total da fibra assassina. Dela fazem parte estas três mulheres:

Laurie Kazan-Allen – Há 25 anos participa dessa luta. Em 2000, ajudou a fundar o International Ban Asbestos Secretariat  (IBAS, Secretariado Internacional do Banimento do Amianto), com sede no Reino Unido, onde é sua coordenadora.

Linda Reinstein – Tornou-se ativista a partir de 2003, quando o seu marido foi diagnosticado com mesotelioma de pleura e morreu. Preside a Asbestos Disease Awareness Organization (ADAO, organização de conscientização sobre as doenças do amianto, em tradução literal). Criada em 2004, a ADAO está baseada em Los Angeles, EUA. Seu objetivo é conscientizar sobre os riscos às pessoas afetadas pelo mineral cancerígeno.

Fernanda Giannasi – Engenheira do trabalho, auditora fiscal aposentada do Ministério do Trabalho, é cofundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), criada em 1995. É o símbolo da luta antiamianto no Brasil.

Pois nesta terça-feira, 31 de janeiro de 2017, a atenção de Laurie, Linda e Fernanda estará voltada para o mesmo local: a Corte Real de Justiça, em Londres.

Motivo: mais uma audiência do caso da empresa que infiltrou um espião no movimento global pelo banimento do amianto.

Durante quatro anos — de 1º de junho de 2012 a setembro de 2016 – Rob Moore, trabalhando para K2 Intelligence, fez-se passar por um jornalista-documentarista simpático à causa do amianto, para reunir informações confidenciais sobre as principais lideranças mundiais, suas estratégias e planos futuros.

A K2, por sua vez, repassava as informações ao seu cliente, cujo nome se recusou a divulgar na última audiência, em dezembro de 2016.

K2 e Rob Moore são réus. Laurie Kazan-Allen, uma dos três demandantes do processo em curso na Inglaterra.

É razoável supor, informou o tribunal de Londres, que o cliente seja uma ou mais empresas da indústria de amianto de país produtor ou exportador do mineral ou que haja até mesmo envolvimento de membros de governo desses países.

Rússia, China, Brasil e Cazaquistão são os maiores produtores e exportadores no mundo.

“Esperamos que a corte britânica obrigue a K2 a revelar o nome do cliente — ou clientes — , que lhe pagou uma fortuna para fazer esse serviço sujo”,  diz, indignada, Fernanda Giannasi, que nos últimos 20 anos foi alvo de vários ataques da máfia do amianto no Brasil.

“Comparando com o modus operandi da K2, eu diria que os métodos usados na minha ‘estreia’ eram primitivos, jurássicos e previsíveis”, reconhece. “Quão sofisticados são os métodos atuais!”

“Talvez até por eu já ter sido espionada no Brasil, minha’ luz’ acendeu no momento em que conheci o Rob; eu não lhe passei nenhuma informação útil”, prossegue.

“Estou furiosa de ter gasto tempo com esse criminoso”, revolta-se. “É ultrajante! Temos o direito de saber quem está por trás do espião do amianto, assim como as informações que ele levantou e repassou.  Se for o caso, até tomar medidas judiciais contra esses impostores.”

EMPRESA QUE CONTRATOU ESPIÃO É DE FUNDADOR DA KROLL

Tem uma frase que os americanos usam bastante:  “o lobby  do amianto tem o melhor que o dinheiro pode comprar”.

A prática confirma. No mundo inteiro, sempre foi assim.

Mas, desta vez a sua ação criminosa se superou.

Em 8 de dezembro de 2016, o The Guardian publicou uma denúncia gravíssima sobre o esquema de espionagem da K2, embora até o momento não se conheçam todos os envolvidos nem a extensão dos danos causados.

Parece script de filme de James Bond, o agente secreto fictício 007 do serviço de espionagem britânico, criado pelo escritor Ian Fleming em 1953.

Infelizmente, não é.



Fonte: https://luizmuller.com/2017/01/31/empresa-infiltrou-espiao-entre-ativistas-que-combatem-o-amianto/

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