“A resistência não termina quando acabam as ocupações das escolas e Universidades. A resistência não termina, porque ela está viva dentro de nós”. Foi a fala corajosa, emocionada, poderosa, emocionante de Ana Júlia, estudante de 16 anos, tal como fez ante os deputados na Assembleia Legislativa do Paraná, agora na Plenária de Mobilização do Fórum Social das Resistências – Democracia e Direitos dos Povos e do Planeta -, no Auditório do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (CPERS), 10 de dezembro, Dia Mundial dos Direitos Humanos.
Nunca um Fórum foi tão importante quanto este de 17 a 21 de janeiro de 2017 em Porto Alegre, a não ser o primeiro, em 2001, por todas as circunstâncias, a conjuntura brasileira, latino-americana, mundial. E porque Porto Alegre acabou de eleger um prefeito conservador, de direita. Mas Porto Alegre também poderá voltar a ser a capital mundial da democracia e da participação popular. E agora, da resistência, na defesa da democracia e dos direitos dos povos e do planeta.
Em 2001, ano do primeiro Fórum Social Mundial (FSM), havia o governo neoliberal de FHC no Brasil, governos neoliberais no mundo, havia recessão, desemprego, as políticas públicas não tinham participação popular. A exceção eram o Rio Grande do Sul e Porto Alegre, com seus governos democrático-populares e o Orçamento Participativo. Havia perspectiva de futuro, havia esperança . O FSM era a resposta de unidade dos lutadores, lutadoras, dos sonhadores, sonhadoras. Um outro mundo era possível, urgente e necessário.
Em 2016/2017, há o pré-caos no mundo, Trump presidente americano, multidões morrendo de fome e de guerra no Oriente Médio, há uma crise social, econômica, institucional e um golpe no Brasil, há o avanço da direita na América Latina, cresce o conservadorismo em todos os lugares. Crescem de novo o desemprego e a pobreza no Brasil, há o desmonte das políticas públicas implementadas nos últimos anos, há uma PEC do fim do mundo e o desmonte do Estado, com prejuízo para os trabalhadores e o funcionalismo público, do governo Sartori no Rio Grande do Sul, Porto Alegre será governada pela direita conservadora. Os próximos anos reservam e exigem muita luta e resistência. Resistir antes de avançar. Resistir para avançar mais adiante.
Por isso, o Fórum Social é das Resistências, por Democracia e Direitos dos Povos e do Planeta, de 17 a 21 de janeiro em Porto Alegre, talvez ponto de partida e pré-lançamento de um próximo Fórum Social Mundial de novo na capital dos gaúchos (Contatos e informações: www.forumsocialportoalegre.org.br; espaço.fsm.poa@gmail.com).
Outras e noves vozes apareceram, estão surgindo no pedaço e fizeram-se ouvir em Seminário de preparação do Fórum das Resistências, dias 9 e 10 de dezembro. Estiveram presentes e participaram ativamente os jovens do hip hop, do rap, ex-presidiários, contando sua experiência e o abandono, agora organizados na luta e na resistência, estudantes que ocupam escolas, movimento negro, povo LGBT, os movimentos de mulheres, dos povos e comunidades tradicionais, a ECOSOL, além dos movimentos urbanos e rurais tradicionais.
Disse Tatiane, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC): É preciso trabalhar as experiências vividas. Não se pode ficar no isolamento. A Débora, das Ecovilas da Bahia: Cada indivíduo é subversivo. ‘Vamos produzir nossa própria cerveja’. A coerência deve ser o valor maior. A juventude pode ser o que ela quer. A Chirlei, do MTD: Há um novo sujeito que está na periferia da cidade. Por isso, é preciso retomar o trabalho de base. Conquista não é igual à consciência.
Mauri Cruz, da ABONG, do CAMP e do Comitê Organizador local, falou: “É preciso efetivar as mudanças no dia a dia. Colocar os sujeitos em diálogo. A resistência precisa ser coletiva, não cada um preocupado apenas com suas urgências. Coletivamente todos nos darmos conta. Há um desafio das novas linguagens, onde faz-se necessário incorporar algo da vivência. Há o desafio dos novos sujeitos e do empoderamento dos novos sujeitos históricos. É hora de subverter o sistema.
O Fórum Social das Resistências – Democracia e Direitos dos Povos e do Planeta -, coloca a urgência da construção de novos paradigmas de desenvolvimento. Por um lado, confluir as resistências, que acontecem por toda parte: nas ruas, nas escolas, nas Universidades, no campo e na cidade. Por outro, pensar coletivamente o futuro.
Vai ser um grande Fórum, debaixo das árvores do Parque da Redenção, no bom e lindo sol e calor de janeiro em Porto Alegre.
Como diz Ana Júlia, a jovem estudante de 16 anos, a resistência está viva dentro de nós.
Selvino Heck
Dep0utado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)
Em dezesseis de dezembro de dois mil e dezesseis