Ex-ministro nos governos Lula e Dilma, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores e deputado federal por quatro mandatos, Berzoini analisa a greve dos caminhoneiros em entrevista exclusiva à Revista Fórum
Por Redação Para o ex-ministro Ricardo Berzoini, é inacreditável que o governo Temer não tenha tido informação adequada de inteligência a respeito do movimento dos caminhoneiros.Segundo Berzoni, mais estranho ainda foi a “tentativa grotesca” do governo Temer em tentar anunciar acordo sabendo – ou deveria saber – que as lideranças mais relevantes “É preciso sempre olhar quais são efetivamente as dinâmicas do movimento, os dados, quem são as lideranças formais e as lideranças informais. O governo me parece que agiu de uma maneira absolutamente atabalhoada.”De acordo com Berzoini, há uma tentativa do grande empresariado em se aproveitar da greve para seus próprios interesses, mas o movimento é consequência de uma realidade absolutamente inaceitável da política de preços da Petrobras, implantada pelo governo Temer, com Pedro Parente à frente da empresa. “Essa política revela como a visão neoliberal, a visão da austeridade, de mercado, é incompatível com a situação de um país como o Brasil. A Dilma foi criticada por supostamente manipular os preços dos combustíveis, ora preço de combustível é um insumo vital para a economia, o governo tem que ter capacidade de atuação no mercado, com responsabilidade, de maneira cautelosa, mas tem que atuar para evitar que as variações e oscilações do dólar e do próprio preço do petróleo contamine a economia brasileira”, afirmou.Questionado sobre a possibilidade de uma greve geral no Brasil, Berzoini considera que isso exigiria organização. “Não vejo no movimento sindical brasileiro patamar de organização da greve geral bem-sucedida, sem ser preparada por semanas a fio”, explicou. “Tivemos uma situação de recessão, uma parte da classe trabalhadora com muito medo de perder o emprego, é preciso também ter essa sensibilidade, greve geral é uma coisa muito importante, não se deve fazer chamada quando há um mínimo de avaliação de que é possível fazê-la, espontaneísmo quase sempre não dá certo.” Intervenção militar Para Berzoini, a questão da intervenção militar volta agora de maneira oportunista numa tentativa de manipulação, inclusive por parte da candidatura de Bolsonaro, que tem interesse nessa pauta, passando a ideia de que os militares seriam a solução. “Nossa disputa não é essa, é na verdade com o conjunto da sociedade sobre a desorganização que o golpe de 2016 trouxe para o país, aumentou o desemprego, aumentou a desigualdade social, reduziu o orçamento com a PEC do Teto, temos hoje as estatais submetidas a uma lógica de mercado, sem levar em conta que elas são empresas públicas e têm que servir ao público. A população está percebendo aos poucos o grave prejuízo que o golpe resultou especialmente para os trabalhadores e para a classe média.” Na opinião de Berzoini, é preciso esclarecer a população que a eleição é o melhor remédio para que nós possamos retomar a legalidade do país, “mas a eleição com Lula, sem Lula é golpe, um segundo golpe contra o povo brasileiro”.“O fato é que nós temos um em uma confusão política muito grande no país, essa crise na questão do transporte mostra que o sistema liberal, o sistema de mercado, não dialoga com a realidade brasileira”, destacou. “O momento requer muita unidade da esquerda e do PT, especialmente. A prioridade é Lula livre e candidato, com um programa para romper com a visão neoliberal, para que nós possamos ter um país onde caibam todos os brasileiros, que seja uma nação”, finalizou.