Por Fernando Brito no TIJOLAÇO
Quando se investe numa loja, espera-se que, em dois ou três anos, ela se pague e comece a dar lucro.
Mas quando se investe em uma obra pesada, como uma estrada, uma usina elétrica, um porto, um gasoduto, um grande navio, uma fábrica, é óbvio que se sabe que aquilo leva dez, quinze, vinte anos para se pagar.
Quando o BNDES admite, como se vê no Estadão, igualar a taxa de seus empréstimos para linhas de investimento pesado à taxa Selic, está, na prática, decretando o fim de qualquer investimento em infraestrutura ou em novas estruturas produtivas.
Igualar taxas de juros de linhas de investimento pesado, de longo prazo, à taxa que se paga, praticamente, no velho “overnight” só pode ser uma brincadeira de mau gosto.
À taxa Selic você não investe nem num apartamento no subúrbio.
A taxa de juros de longo prazo é uma recomposição inflacionária atenuada, regulada em lei e distribuída no tempo, não uma remuneração de crédito de varejo. E não é paga “pura”, leva sobre ela um “spread” do BNDES que remunera a operação e permite ao banco ter lucro, que em parte é transferido para o tesouro e em parte é capitalizado para financiar mais operações.
Se ousarem fazer isso será, definitivamente, o fim da indústria no Brasil.