Como pediatra, convivi diariamente com dezenas de crianças por catorze anos consecutivos. A maioria delas, pela própria razão do meu trabalho, enferma. Muitas vezes, sofri pela dor física que a criança sentia. O sofrimento de qualquer criança enferma me condoia e ainda me sensibiliza.
Cada vez que vejo uma criança que pressuponho que sofre qualquer tipo de agressão, já fico triste. Se tomo conhecimento de que uma criança é agredida física e psicologicamente, pior ainda. Dependendo da violência, chego a duvidar do ser humano. Não aceito a agressão a qualquer criança, e violentar uma de oito anos, devido a alguns comportamentos, como foi o caso do pequeno Alex, é de duvidar da razão e do ser humano.
Digna Medeiros, 29 anos, moradora de Mossoró (RN), mãe de Alex e de outros três filhos, começou a ser pressionada pelo Conselho Tutelar por não mandar Alex, 8 anos, para a escola. Para se livrar dessa pressão, ela mandou Alex viver com o pai no Rio de Janeiro e nunca mais soube como ele estava até receber a notícia fatal.
Alex André, pai do garoto Alex, não aceitava que o filho gostasse de dança do ventre e de lavar louças. Por isso, passou a bater nele. Segundo o pai, passou a dar “corretivos” em Alex. Surrava-o para “ensiná-lo a andar como homem”.
O que sabe um garoto de oito anos sobre o “andar como homem”? Todos devem estar buscando uma resposta: o que é “andar como homem”? Se encontrada a resposta, vem outra pergunta: se não está “andando como homem”, o que fazer?
Há pregadores, alguns dentro de igrejas e até deputados, que pregam a “cura” daqueles que, na concepção deles, não andam como homem. O pai do garoto Alex entendeu que o menino precisava ser curado e facilmente pôde encontrar justificativa ao seu ato.
Ele pôde alegar que aplicou o corretivo que lhe foi ensinado em várias igrejas Brasil afora. Sei que se algum pregador ou fiel seguidor de alguma igreja ler este texto, deve negar, deve dizer que não pregam a violência. Tudo bem, mas muitos pregadores ensinam que a homossexualidade é uma doença e que deve ser tratada, e se possível curada. Sem método aparente.
Há deputados federais que assim também entendem, tanto que um deles apresentou proposta na Câmara dos Deputados com o objetivo de “curar” os gays. E não se assustem: muitos dos que apoiaram são ligados diretamente a alguma igreja.
O pai do garoto Alex, absurdamente, aplicou o método da cura usando da filosofia: “ou se dobra a madeira enquanto é verde, ou ficará torto para sempre”.
*Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR). No twitter: @DrRosinha.
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