O BRANCO E O NEGRO DOS OLHOS – DE QUANDO CONHECI ELVIA ALVARADO
ноября 16, 2015 14:09Neste trecho da minha viagem e do meu diário de relatos (no livro que intitulo “As barricadas de Oaxaca), resgato um pouco da história de Elvia Alvarado, conhecida líder camponesa de Honduras, quem enfrentou a repressão dos anos 1980 e, no momento do encontro, dedicava-se à colheita de café.
27 de novembro de 2005 – Lejamaní (departamento de Comayagua, Honduras).
Às quatro da manhã na estrada rumo à montanha onde trabalha Elvia Alvarado. Aldeia de cinco casas. Num lugar que sequer merece nome. Agricultores de café. O caminho até lá, a partir de um certo ponto da montanha, impossível nos dias de chuva. Dona Elvia tem que andar tudo aquilo. Não eram nem seis e meia e deparei-me com uma senhora agachada sobre uma tina cheia de água gélida, com brotos de café dentro, para que a casca flutuasse. A voz de Elvia é gritada. Dois dias antes eu tinha lido o livro sobre a sua vida, escrito por uma estadunidense da ONG Global Exchange, Medea Benjamin. O título do livro é algo como “Não tenha medo gringo”. Agora, uma antiga dirigente camponesa, de renome nos EUA, estava molhando as mãos na água fria e dali iria trabalhar até o escuro da noite. Elvia tem seis filhos, três deles com o mesmo pai, a outra parte de dois homens. Todos os maridos fugiram. A primeira vez ficou grávida aos 15 anos e rumou para Tegucigalpa, capital, sem nunca ter saído do vilarejo. Ficou a tarde inteira e o dia seguinte sentada no banco da praça, com medo. Conseguiu trabalho como doméstica, arrumou outro homem que não queria o filho na mesma casa, extremamente machista. O salário ia embora com a bebida. Elvia defende que a mulher camponesa tem o tino da administração. A comida toda da casa é comprada com o pouco dinheiro que sobra ou que é “roubado” do marido. Rápida, pula de uma atividade a outra, da rede e do silêncio para a análise do mundo. Esbarra no senso comum, mas produz também lampejos.
– Os camponeses são a classe explorada pelas duas outras, pelas elites, pelas classes médias. A última, de acordo com ela, inclui os coiotes, os atravessadores. São pelo menos cinco intermediários até a exportação do café. São os que detêm o mercado.
– Nos Estados Unidos eu fui num café com amigos. Uma xicarazinha de café custa um dólar e 25 centavos. E eu me perguntei por que pagam menos que isso pela nossa saca. Uma xicarazinha!
Debaixo do sol que começava a ferver. No horizonte as montanhas tinham vários níveis. As últimas da cadeia pareciam de brincadeira, miragem. Elvia estendeu os grãos em frente da casa, para separar os ruins. No dia seguinte, este trabalho deixaria os meus braços destruídos.
Ao menos três vezes chegaram jornaleiros dos arredores. Crianças muito novas vieram colher café para Elvia. Não gostaram do pagamento, ameaçaram cruzar os braços. Elvia usou o argumento de que não podia pagar mais. Uma queda de braços onde nenhuma das partes tinha força suficiente, sequer pode-se dizer que eram de classes opostas.
Organização nos anos 1980
Com o impulso da igreja, Elvia começou a organizar as pessoas, nos anos 1980, embora percebeu que a religião queria agir até certo ponto. A organização continuou por si mesma, a recuperação de terras, a luta contra os coronéis e o exército, munidos de machetes (facão), lutando contra a repressão oculta: poucos sabemos que Honduras foi palco de uma forte repressão política. Não houve um movimento político/militar com a força dos sandinistas na Nicarágua ou da Frente Farabundo Martí (FMLN), em El Salvador. Só que, em Honduras, um camponês era acusado de fornecer armas para estas organizações. O país foi o epicentro da contra-revolução no continente. O Capital diretamente dos Estados Unidos. De Lejamaní, da casa de Elvia, podemos observar bem a base militar estadunidense de Soto Cano (também chamada ‘Palmerola’). Elvia passou por prisões e torturas, foi liberada pela coragem cega dos filhos. Eles iam em busca da mãe e ameaçavam os militares. Elvia insiste na divisão como o que desarmou os camponeses e companheiros de resistência. Com a mão rodeando a barriga, sinaliza o individualismo, da classe obreira, dos professores, dos antigos companheiros.
Lejamaní
“Amanhã vou para a montanha”. Ouvi essa frase mais de uma vez, mas Elvia era detida pelas histórias e problemas pessoais dos infinitos membros da família.
– Mamá Elvia é uma mulher de pouca fome.
Manda parar a caminhonete Toyota, ela deseja que eu leve fotos da paisagem.
Levo o fim de tarde gravado na câmera. O longe de Elvia, a falta de escola, de saúde, de comida. De tudo.
Domingo de eleições e o festejo nas ruas, vitória do Partido Liberal, de Mel Zelaya, contra a “Mano Dura” de Pepe Lobo, dos nacionalistas, a quem Elvia – sem muita elaboração – ao lado de sua família, acabou apoiando.
– “Não leve a informação falsa para o Brasil. É que o Pepe Lobo vai combater as gangues (Maras Salvatruchas). Por isso a pena de morte. Para eles, não para nós”. Ironias da história, os caminhos que viriam.
Por Pedro Carrano
Crônicas de Sexta
Terra Sem Males
MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS COBRA DO MINISTRO PATRUS ANANIAS COMPROMETIMENTO COM RECONSTRUÇÃO DA BACIA DO RIO DOCE
ноября 16, 2015 13:17O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) cobrou do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, o comprometimento na reconstrução da Bacia do Rio Doce, profundamente impactada pelo rompimento da barragem da Samarco (Vale e BHP Billiton).
O diálogo aconteceu em reunião na manhã desta segunda-feira (16) no Centro Pastoral da Arquidiocese de Mariana. A reunião também contou com a presença de representantes da Arquidiocese e da presidenta do Incra, Maria Lúcia Falcón.
Na reunião, as entidades apresentaram os impactos já verificados, como a inviabilização da pesca. De acordo com Joceli Andrioli, da coordenação do MAB, a suspeita é que a situação demore no mínimo 15 a 20 anos para se normalizar. Apenas no leito do rio, são 1600 pescadores, sem contar os afluentes, que também sofrem impactos.
Além disso, a agricultura também foi impactada, pois as terras férteis da região, de relevo montanhoso, estão concentradas próximas ao rio e dependem de sua água para irrigação. “Há projetos de produção agroecológica e de recuperação das nascentes que levaram 30 anos para serem feitos e agora tudo se perdeu”, afirmou Joceli.
O MAB e a Arquidiocese apresentaram ao ministro a pauta emergiencial elaborada conjuntamente com os atingidos, que inclui moradia digna, verba de manutenção, direito a enterrar os mortos e a reconstrução das comunidades. Eles reforçaram que o essencial neste momento é que os atingidos sejam participantes ativos em todo processo.
Problema de modelo
Os participantes da reunião discutiram os impactos da mineração na região. “Quando você faz a crítica não é contra a mineração, mas contra métodos predatórios que colocam o lucro em primeiro lugar, acima da vida humana”, afirmou o padre Geraldo, coordenador do Centro Pastoral.
Ao final da reunião, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, esteve presente e reconheceu a importância do trabalho do Movimento e da Arquidiocese. As entidades reforçaram a importância de se construir uma mesa que unifique o processo de negociação entre empresa, esferas do poder público e os atingidos.
Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens
APOIO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS FORTALECE A GREVE CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA PETROBRÁS
ноября 12, 2015 19:54Na manhã desta quinta-feira (12), em Araucária-PR, os petroleiros da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) foram barrados nos portões por seguranças a mando dos gestores da empresa. Nem mesmo os fura greve conseguiam entrar.
Segundo o Sindicato dos Petroleiros PR/SC, a assessoria jurídica já tomou as medidas necessárias para garantir o acesso dos dirigentes sindicais à Repar. “É um direito constitucional que também está previsto na Convenção 135 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, informou o advogado Christian Marcello Mañas.
Com 11 dias de greve, esta é a paralisação mais longa desde 1995, que durou mais de 30 dias. “É uma greve forte que mostra a unidade da classe petroleira. Este ano não reivindicamos questões salariais e sim a defesa da empresa como operadora do pré-sal e empresa integrada de petróleo do posto ao posto”, afirma Roni Barbosa, dirigente do Sindipetro PR e SC e secretário nacional de comunicação da CUT.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra – MST – se uniu aos petroleiros na defesa do pré-sal e contra a privatização da Petrobrás e está presente em todas as mobilizações.
Abaixo segue um ensaio fotográfico de Joka Madruga, que esteve no local.
Clique aqui para ver mais fotos deste ato.
Joka Madruga
Terra Sem Males, com informações do site do Sindipetro PR/SC.
JUSTIÇA ACEITA AÇÃO POPULAR E BETO RICHA (PSDB) TERÁ QUE EXPLICAR VIAGEM A PARIS
ноября 11, 2015 16:14Uma Ação Popular, motivada pelo coletivo de advogados Direitos pra Todxs, tramita desde 02 de novembro na 3ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba com a justificativa de danos aos cofres públicos contra o Estado do Paraná, o governador Beto Richa (PSDB) e sua esposa Fernanda Richa, secretária do trabalho e desenvolvimento social.
A ação discute sobre a ocorrência de prejuízo ao Erário Público, seja material, seja imaterial, de acordo com definição do projudi, durante o período de 09 e 12 de outubro passado, em que o governador se hospedou em Paris, sem nenhum compromisso oficial, antes de viagem oficial à China, Rússia e França, que começaria somente dia 13.
De acordo com informações inseridas na inicial da ação popular, a comitiva de Richa se hospedou no Hotel Napoléon, “nas redondezas do Arco do Triunfo e da extravagante região de compras, a Avenida Champs-Élysées”, com diárias que variam de 250 a 1470 euros (equivalente a R$ 6 mil).
O juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública concedeu o pedido de citação dos réus no dia 10 de novembro e abriu prazo de 20 dias para apresentação de defesa. Ele também determinou que o Ministério Público seja informado sobre a ação popular.
A justificativa oficial para a ida a Paris seria uma parada técnica, contudo, de acordo com apuração que consta na ação popular acatada pela justiça, existem outras conexões para chegar à China, mais baratas e com menor tempo de espera. E que mesmo com a conexão sendo feita em Paris, é possível que a escala seja feita em três horas.
A ação popular também cita que a comitiva, formada por dez pessoas, não foi identificada, nem nomes, nem cargos, e pede que sejam identificados, assim como os empresários que acompanhavam oficialmente a missão do Governo Estadual; a agenda dos compromissos; comprovantes de pagamentos das despesas; a justificativa formal para a parada em Paris.
A ação popular também pede a nulidade dos atos que autorizaram as despesas se forem consideradas injustificadas e a restituição dos valores pagos pelo erário.
O valor da causa é de R$ 160 mil, valor estimado das despesas em Paris arcadas pelos cofres públicos.
Confira a íntegra da inicial da Ação Popular:
Confira o despacho do juiz:
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
JUSTIÇA ACEITA AÇÃO POPULAR E BETO RICHA TERÁ QUE EXPLICAR VIAGEM A PARIS
ноября 11, 2015 16:14Uma Ação Popular tramita desde 02 de novembro na 3ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba com a justificativa de dano ao erário contra o Estado do Paraná, o governador Beto Richa e sua esposa Fernanda Richa, secretária do trabalho e desenvolvimento social.
A ação discute sobre a ocorrência de prejuízo ao Erário Público, seja material, seja imaterial, de acordo com definição do projudi, durante o período de 09 e 12 de outubro passado, em que o governador se hospedou em Paris, sem nenhum compromisso oficial, antes de viagem oficial à China, Rússia e França, que começaria somente dia 13.
De acordo com informações inseridas na inicial da ação popular, a comitiva de Richa se hospedou no Hotel Napoléon, “nas redondezas do Arco do Triunfo e da extravagante região de compras, a Avenida Champs-Élysées”, com diárias que variam de 250 a 1470 euros (equivalente a R$ 6 mil).
O juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública concedeu o pedido de citação dos réus no dia 10 de novembro e abriu prazo de 20 dias para apresentação de defesa. Ele também determinou que o Ministério Público seja informado sobre a ação popular.
A justificativa oficial para a ida a Paris seria uma parada técnica, contudo, de acordo com apuração que consta na ação popular acatada pela justiça, existem outras conexões para chegar à China, mais baratas e com menor tempo de espera. E que mesmo com a conexão sendo feita em Paris, é possível que a escala seja feita em três horas.
A ação popular também cita que a comitiva, formada por dez pessoas, não foi identificada, nem nomes, nem cargos, e pede que sejam identificados, assim como os empresários que acompanhavam oficialmente a missão do Governo Estadual; a agenda dos compromissos; comprovantes de pagamentos das despesas; a justificativa formal para a parada em Paris.
A ação popular também pede a nulidade dos atos que autorizaram as despesas se forem consideradas injustificadas e a restituição dos valores pagos pelo erário.
O valor da causa é de R$ 160 mil, valor estimado das despesas em Paris arcadas pelos cofres públicos.
Confira a íntegra da inicial da Ação Popular:
Confira o despacho do juiz:
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
ACOMPANHE A MELHOR COBERTURA SOBRE A TRAGÉDIA EM MARIANA-MG
ноября 9, 2015 13:55O rompimento de duas barragens no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, deixou dezenas de pessoas feridas e desabrigadas, no dia 05 de novembro.
Há confirmação de mortes e dezenas de pessoas ainda estão desaparecidas. Especialistas também apuram sobre os risco à saúde do rejeito de minério de ferro liberado.
As barragens de Fundão e Santarém eram de responsabilidade da empresa Samarco, que tem 50% de suas ações nas mãos da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo. A outra metade pertence à australiana BHP Billiton.
Uma equipe do Brasil de Fato está no local para acompanhar as consequências da tragédia.
Clique aqui e acompanhe a cobertura.
TV DA VEJA DEMITE JOICE HASSELMANN
ноября 7, 2015 11:15Em alguns sites e blogs circula a notícia da demissão de Joice Hasselmann da TVeja. Ela é mais uma demitida, neste semestre, da revista Veja. Num momento onde a mídia burguesa insiste em dizer que vivemos uma grande crise econômica, parece que isto se reflete em suas próprias representantes. Pois o “grande” semanário paulista demitiu colunistas do primeiro escalão e agora do segundo também.
Antes de Joice, foram demitidos Rodrigo Constantino, Ricardo Setti e Caio Blinder, colunista do site em Nova York. Segundo o site Brasil 247, até maio deste ano, 49 profissionais foram demitidos no grupo Abril, que tem várias publicações.
O motivo da demissão ainda não está claro, mas especula-se que se deve ao fato dela ter plagiado diversos colegas de profissão, quando ainda trabalhava no Paraná.
Plágio
Em junho deste ano, o Conselho de Ética do Paraná, ligado ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR), tornou pública as denúncias de plágio contra a jornalista Joice Hasselmann.
O parecer final do Conselho de Ética identificou o plagio da jornalista em 65 reportagens, escritas por 42 profissionais diferentes, somente entre os dias 24 de junho e 17 de julho de 2014. A denúncia foi feita por 23 jornalistas. A apresentadora da TVeja foi a primeira jornalista a ser punida por plágio no Paraná. Clique aqui para ver as notícias plagiadas.
Joka Madruga
Terra Sem Males
O BRANCO E O NEGRO DOS OLHOS – CHAJUL E COTZAL DEZ ANOS ATRÁS
ноября 6, 2015 16:30Abaixo, recolhi um trecho do livro “As Barricadas de Oaxaca”, que reúne meus diários de viagem, reportagens e apontamentos pela América Latina. O livro tem capítulos sobre a Assembleia Popular dos Povos de Oaxaca (México); minha experiência de cinco meses vivendo em Chiapas (também no México); um capítulo sobre as lutas nos Andes. Mas o trecho abaixo é do capítulo sobre a América Central. No chamado triângulo ixil, região da Guatemala quase na fronteira com Chiapas, o narrador traz o seu estranhamento ao se deparar com uma região de guerras, memória e cultura indígena.
10 de novembro de 2005 – Chajul (Guatemala).
Novos olhares curiosos pela manhã, crianças correndo nas ruas e gritando para esse ser singular que anda por aqui. Alguns arriscam palavras em inglês, a ver se me comovem. Enfrento calçadas íngremes, de pedra, terra e lodo, respondendo às perguntas das pessoas, incrédulas:
– Qué buscas?
– Nada, solo caminando.
As casas de barro e adobe, misturadas sempre de forma desordenada e caótica com materiais pré-fabricados, importados, talvez. Poucos telhados de zinco. As telhas de barro todas negras. No centro de tudo está a desconfiança de um povo que sofreu com as barbáries dos 36 anos de massacre contra os indígenas promovidos pelo sempre Estado. Nebaj, Chajul e Cotzal foram campos de extermínio. Os acordos de paz vão completar 10 anos, mas a mim me parece sintomático que as crianças sejam tão rudes com os estrangeiros. As mulheres, igual. Hoje caminhei tanto, até o ponto onde a água da montanha parece ser canalizada para a comunidade e enche um tanque coletivo para a lavagem de roupa – tanques coletivos, nas ruas, espaço tão comum na Guatemala. Perguntei às mulheres como funcionava o filtro, se a água vinha da montanha. Porém só recebi como resposta um: “- Quem lhe mandou aqui? Você trabalha com água?”, além, é claro, das tradicionais palavras no seu idioma e da ironia comigo. Mesmo assim, essa dura cinematografia de Chajul, esse pacto de silêncio das pessoas, aos poucos foi desaparecendo para mim. Pela manhã um casal me convidou para entrar na sua casa e conversar, espantadíssimos com esse sujeito que não casa e não trabalha e não ganha dinheiro; oferecem café, narram um pouco de sua vida, na sala de casa. De tarde um educador comunitário me interpelou e caímos numa conversa, rodeados de crianças com quem mais tarde jogamos futebol, dando passagem a uma senhora carregando lenhas ou às camponesas voltando a cavalo para a vila. Em Chajul até agora o jogo entre o viajante e a cidade/território não foi desvendado. Os vestidos das mulheres e suas cores não seguem um só padrão fixo. As portas das casas estão abertas, às vezes posso ouvir uma jovem cantando em ixil, às vezes uma senhora lavando seus longos cabelos, às vezes um porco dormindo distraidamente na varanda, meninas levando massa de milho na cabeça. Agora estou dormindo na casa de uma senhora de nome difícil. Seu marido “está levando a palavra de Jesus nosso senhor” a outras aldeias, como ela contou. Durmo no quarto do filho, na parte de fora, ele que há quatro anos está na capital. Estou junto com a criação de coelhos e as teias de aranhas. E a lâmina de som e de vento que passa no val da parede de madeira. A generosidade da senhora era “para mostrar que nós evangélicos ajudamos o outro”, ela me disse, ainda na estrada, quando topamos. Ainda por cima avisou para eu me cuidar dos bandidos. No final da noite, não se preocupou em conversar comigo. Eu apenas podia ver a fogueira acesa no centro da sua sala, no chão de terra, onde os meninos se amontoavam.
11 de novembro de 2005 – Cotzal.
San Juan Cotzal não tem a mesma uniformidade de Chajul, talvez não renderia um filme como as duas cidades anteriores. Callejear (caminhar) por aqui sempre pega as pessoas desprevenidas, uma vez que o seu espaço privado se estende também para o jardim da casa, aberto ao mundo. Antes de deixar a friorenta Chajul, sentado no pátio de uma associação agrícola, esperando o ônibus, presenciei mulheres com um balde de grãos de milho na cabeça e barganhando seu preço com o coiote (atravessador). Com o conteúdo de cada um dos baldes, ele enchia um saco maior que deve ser levado ao mercado. As mulheres queriam vender seu milho a 5 quetzales e o coiote aceitou por 4,75.
Caminhar por Cotzal me confronta com o belo e com o sujo: garrafas, latas, restos de mercadoria atirados por toda a parte, em um ambiente que até pouco tempo atrás deveria ser idílico. Em Chajul isto acontecia pelos caminhos da cidade, cortados por casas, córregos, cascatas, e lixo. Mas eu oscilo em tudo o que penso, não tenho certeza como as da indígena Rigoberta Menchú. Ela diz que traz a luta no coração. Sim, porque traz a exploração, a morte, o veneno ocidental na sua pele e por isso tem claramente o seu inimigo qual é, qual a sua luta. Rigoberta insiste que as comunidades não revelam todos os seus segredos e mantém a cultura como forma de resistência. Isso me fez pensar muito em Chiapas e o que antes foi julgado como falta de cultura, agora vejo que o silêncio pode esconder coisas que nem sabemos. De acordo com a narrativa de Rigoberta, a força dos povos indígenas está no modo coletivo de organizar a vida e a produção. O sagrado, o ritual, permeia a maioria das relações, seja com a terra, seja com os filhos. Eu ouço a voz dos maias desesperados com a perda de cultura promovida pelos mestiços exploradores e pelos latifundiários das fazendas do litoral. Antes os indígenas viviam 120 anos, a base de ervas, milho e feijão. Agora entendo o hábito dos descendentes maias de cultivar milho e feijão basicamente. Em primeiro lugar, durante anos eles ficaram com as piores terras deixadas pelo patrão. O pouco tempo e a falta de condições para cultivá-las seria o fator seguinte. Os ixiles da Guatemala tinham apenas um mês para trabalhar sua terra e no resto do ano a trabalhar no litoral em grandes propriedades. Ao preço de esperar que a plantação fosse boa e que a terra se preparasse, num processo de às vezes oito anos. Assim como em Chiapas, eles também saíam desse trabalho endividados com o dono da fazenda, obrigados que são a comprar comida, remédios, e bebidas.
Por Pedro Carrano
Crônicas de Sexta
Terra Sem Males
ATO PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES E MENINAS ACONTECEU EM CURITIBA
ноября 5, 2015 17:41Diversas entidades de defesa dos direitos humanos se reuniram, na tarde desta quinta-feira (05), em Curitiba, para uma manifestação contra a impunidade de crimes cometidos contra as mulheres. Em especial ao caso da menina Rachel Genofre, que foi assassinada aos 9 anos em 2008 e encontrada morta numa mala na rodoviária da capital paranaense.
“A fé mantém a esperança para que haja justiça e que este caso seja solucionado”, desabafa Maria Cristina Lobo Oliveira, mãe de Rachel, que já virou um símbolo na luta contra as violências que as mulheres sofrem diariamente.
O assassinato
Rachel Lobo Genofre tinha nove anos e era para ter pego o coletivo Vila Rex, na praça Rui Barbosa em Curitiba, após sair da escola pública onde estudava. Infelizmente seu corpo foi encontrado dois dias depois, numa mala na rodoviária. Seu frágil corpo apresentava sinais de violência e estrangulamento. Sete anos se passaram e as autoridades públicas ainda não solucionaram este caso de violência contra a mulher.
Clique aqui para ver mais fotos deste ato.
Joka Madruga
Terra Sem Males
“NOSSA AÇÃO REPRESENTOU O QUE MILHARES DE JOVENS DESEJARIAM FAZER”
ноября 5, 2015 14:02Thiago Ferreira (Pará) é militante do Levante Popular da Juventude e diretor da atual gestão da União Nacional dos Estudantes (UNE). No final da tarde de ontem (04 de novembro), ele foi detido pela Depol, a polícia legislativa da Câmara Federal, em Brasília, junto com a também militante do Levante Carla Bueno, após jogarem umas notas de dólares falsas na cara do presidente da casa, o deputado Eduardo Cunha.
Após a ação, Thiago conta que foram dezenas de ligações e entrevistas. “Muitos e-mail e muitas mensagens de força e coragem, mensagens de carinho. Muita gente vindo falar que nossa ação representou o que milhares de jovens desejariam fazer. Isso era o que queríamos, poder representar o sentimento e e a expectativa da juventude”.
Hoje ele concedeu entrevista ao Terra Sem Males para contar um pouco sobre a ação:
Terra Sem Males – Em que circunstâncias você e sua colega foram detidos ontem em Brasília?
Thiago Ferreira (Pará) – Ontem fomos alvo da seletividade do presidente da Câmara, sr Eduardo Cunha. Minutos antes de fazermos nossa intervenção, um grupo pró-impeachment protagonizou uma briga, ninguém foi sequer detido. Na nossa intervenção, que jogamos notas de dólar com o rosto do deputado, em referência aos 5 milhões de dólares depositados em contas secretas na Suíça, fomos arrastados com muita violência e brutalidade.
Por quais procedimentos vocês passaram na polícia?
Lá na DEPOL (Delegacia de Polícia Legislativa), nos foi negado o contato com nosso advogado, até que os deputados e senadores solidários intervieram e nos garantiram este direito. Fomos pressionados psicologicamente, e ouvimos lá dentro que partiu do próprio Cunha o pedido para que fôssemos detidos e enquadrados. Não fomos algemados, mas fizeram esta ameaça. À noite fomos liberados e voltamos para casa.
Por que somente vocês dois foram detidos? Foram identificados como lideranças do Levante Popular da Juventude?
Nós dois protagonizamos a ação, os seguranças nos viram jogando as cédulas e nos identificaram. Nos levaram a mando do Eduardo Cunha. Os demais companheiros estavam nas demais tarefas, de segurança e comunicação.
Como foi o planejamento e a ação promovida pelo Levante?
A ação de ontem é o que chamamos de “escracho” que é uma forma de denúncia pública.”Enquanto não houver justiça, haverá escracho popular”. Fizemos o mesmo em 2013, contra os torturadores da ditadura, ainda impunes.
Qual a avaliação do Levante Popular da Juventude sobre o desfecho do escracho?
Nossa avaliação foi positiva. Nossa intenção era romper o cerco da grande mídia e a ação saiu em todos os jornais e telejornais. Foi um ato que pretendeu chamar a atenção para a luta do dia 13 de novembro, no Ato Nacional “Fora Cunha”. Muita gente vindo falar que nossa ação representou o que milhares de jovens desejariam fazer. Isso era o que queríamos, poder representar o sentimento e e a expectativa da juventude.
Acesse aqui o informe no blog do Levante Popular da Juventude sobre o ato
Thiago Ferreira (Pará) já publicou um conto no Terra Sem Males. Acesse aqui para ler.
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males