Lula, o Mandela do país do apartheid social
September 12, 2017 11:20Juarez Guimarães
Se Mandela, foi condenado por um júri de brancos no país do apartheid social, Lula está sendo condenado por um júri de classe dos grandes capitalistas no país do apartheid social.
A comparação de Lula com Mandela neste momento dramático da história secular e épica de resistência do povo brasileiro, de Zumbi de Palmares a Chico Mendes, de Tiradentes a Gregório Bezerra, de Pagu a Margarida Alves, de Antonio Conselheiro a dom Hélder Câmara, é justa, necessária e incontornável.
É justa porque, assim como Mandela, Lula é a liderança operária e popular de maior raiz, amplitude e identidade de toda a história brasileira. Sua origem social, suas quatro décadas na vanguarda da construção da democracia, o fato de ser o maior símbolo da esperança de um Brasil sem apartheid social convergem para este diagnóstico.
É absolutamente necessária a comparação de Lula com Mandela porque assim como os racistas sabiam que era preciso desmoralizar Mandela e mantê-lo preso para manter o regime do apartheid, os que dirigem o golpe contra a democracia no Brasil sabem que sem desmoralizar Lula e sem interditar a sua liderança política, a democracia e os direitos do povo podem voltar ainda com mais força.
É incontornável comparar Lula com Mandela porque assim como Mandela tornou-se a grande referência internacional na luta contra o racismo, Lula tornou-se a grande liderança mundial na luta contra a fome e a desigualdade social. A sua defesa interessa aos povos de toda a América Latina e do mundo.
Na história, não no tribunal dos racistas, Mandela tornou-se invencível. Assim como na caravana ao Nordeste, será preciso agora abraçar Lula. O seu lugar é no coração da história do povo brasileiro.
(Juarez Guimarães é professor de Ciência Política na UFMG; foto: Ricardo Stuckert)
Movimento nas estradas indica economia em ponto morto
September 12, 2017 11:08Um bom termômetro para se observar como anda a atividade econômica é o movimento de veículos nas estradas. E, pelo que mostra o Índice ABCR de atividade, a recuperação econômica, tão apregoada pelo governo golpista, ainda está distante: em agosto, o indicador registrou queda de 1,5% na comparação com julho, considerando dados livres de efeitos sazonais.O índice que mede o fluxo de veículos nas estradas concedidas à iniciativa privada é produzido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias – ABCR em conjunto com a Tendências Consultoria Integrada. Nessa mesma base de comparação, o fluxo de veículos leves caiu 1,8% e o de pesados 0,3%.
Ao comparar agosto/2017 sobre agosto/2016, o índice total aumentou 2,4%. O fluxo de veículos leves registrou crescimento de 1,5% e o fluxo de pesados 5,1%.
Nos últimos 12 meses, porém, o fluxo total acumulou queda de 0,9%. Nessa mesma base de comparação, o fluxo de leves caiu 0,2% e o fluxo de pesados 2,8%.
No acumulado do ano (Jan-Ago/17 sobre Jan-Ago/16), o fluxo total de veículos nas rodovias concedidas acumulou crescimento pífio de 0,8%. O fluxo de veículos leves aumentou 1,3%, enquanto o fluxo de pesados se retraiu 0,5%.
A locomotiva paulista emperrou
September 11, 2017 16:12O emprego na indústria paulista registrou queda de 0,11% em agosto em relação a julho, segundo o levantamento divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). É a quarta retração consecutiva. O percentual significa o fechamento de 2,5 mil postos de trabalho, representando ainda uma queda de 3,27% em comparação com agosto de 2016.
No acumulado de janeiro a agosto o saldo é positivo: o setor industrial de São Paulo criou incríveis 5,5 mil vagas, um crescimento de 0,26% em relação ao mesmo período do ano passado.
O diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Fiesp, Paulo Francini, explicou o resultado com a característica cara de pau desses analistas que tentam esconder o sol atrás da peneira: para ele, os números indicam estabilidade no nível de emprego da indústria. "A produção industrial mostra recuperação (sic), apesar de ainda não ser vigorosa, é contínua, refletindo na manutenção dos postos de trabalho”, ressaltou.
Na avaliação do economista, pode ainda levar um tempo para que as empresas voltem a fazer contratações de modo que o emprego volte a crescer no setor. “A geração de novos empregos é a última variável a reagir. Ainda temos muita capacidade ociosa, o que deve levar as empresas a resistir a novas contratações por um tempo", acrescentou.
Dos 22 setores acompanhados para o levantamento, 14 tiveram fechamento de postos de trabalho, quatro apresentaram crescimento e quatro ficaram estáveis.
A maior expansão na quantidade de empregos foi do setor de alimentos, que gerou 1.060 novas vagas, um crescimento de 0,26% em comparação com julho. No acumulado do ano, o ramo alimentício registra alta de 3,31% no número de postos de trabalho.
O setor de máquinas e equipamentos teve crescimento de 0,56% em agosto, com a abertura de 947 postos. No saldo de janeiro a agosto, no entanto, o ramo tem queda de -0,56%.
O maior fechamento de vagas ocorreu no setor de veículos automotores, reboque e carroceria, como corte de 1.171 postos, uma retração e -0,52%. Nos primeiros oito meses do ano, o ramo teve redução de -1,18% no nível de emprego.
A indústria de confecção e artigos de vestuário perdeu 708 vagas entre julho e agosto (-0,48%). No acumulado do ano, o ramo tem queda de -0,14% no número de postos de trabalho.
Brasil Novo envergonha a civilização
September 11, 2017 10:08Carlos Motta
Endosso inteiramente o que escreveram.
E acrescento: este Brasil Novo é uma vergonha à civilização
Os textos:
Um dos efeitos colaterais do golpe seria o "empoderamento" dos grupelhos de direita, dos protofascistas. Seria o crescimento do discurso da intolerância no nosso dia a dia. Seria o fortalecimento da ignorância deslumbrada. Pois é o que temos visto por aqui e por ali.
Muita gente bacaninha se vestiu de verde-amarelo e foi à Paulista sem perceber o que estava a caminho. Achavam que tratava-se apenas de corrupção. E que tudo bem se juntar aos saudosos da ditadura, aos homofóbicos e aos racistas no protestos contra a "corrupissão".
Hoje vemos o banco Santander suspender uma exposição de arte cujo tema era a defesa da diversidade. O banco espanhol cedeu aos protestos dos protofascistas do MBL. Exposição que tinha trabalhos de artistas consagrados como Lygia Clark, Leonilson, Portinari e Adriana Varejão, entre outros.
Que os intolerantes critiquem exposições que não se enquadrem à sua visão reduzida do mundo, é de se esperar. Mas que um banco internacional ceda às críticas ao ponto de encerrar a exposição, é de se lamentar. E de lembrar que os bancos são avalistas do golpe contra a democracia no Brasil. E apoiadores (em alguns casos formuladores) das reformas propostas por um governo corrupto e aprovadas por um congresso corrupto.
O Santander perdeu uma grande oportunidade de dar uma aula de cidadania. De mostrar seu apreço pela democracia. Mas fez o oposto.
Mario Rocha
Sabe esse MBL que hoje ataca uma exposição de arte e vc acha um horror ? Sorry, não faz muito tempo que vcs estiveram lado a lado desfilando por aí... Pois é, golpe não para onde vc acha que deve parar. É uma caixinha de Pandora...
Wanise Ferreira
Já temos os camisas negras e agora inauguramos a arte degenerada. Porque não dar o nome real às coisas reais? Na Itália chamava-se fascismo; na Alemanha, nazismo. Como vamos chamar aqui no Bananão? Só existe uma forma de enfrentar o fascismo: esmagando-o como se faz com o piolho. Não há método alternativo.
Luiz Vita
Como os três Poderes se unem para desmontar o Estado
September 8, 2017 11:12Antônio Augusto de Queiroz
Nesse novo arranjo, parece haver uma ação harmônica entre os poderes, numa espécie de distribuição de tarefas entre as instituições estatais, de tal modo que cada um deles cuida de aspectos específicos, porém complementares.
Ao Poder Executivo competiria fazer a coordenação geral e cuidar, especialmente, do aspecto fiscal (corte de despesas e aumento de receitas extraordinárias); ao Legislativo competiria contribuir para a melhoria do ambiente de negócio (suprimir ou flexibilizar direitos, rever marcos regulatórios na economia e abrir a economia ao capital privado nacional e estrangeiro); e ao Judiciário, com seu ativismo judicial, contribuir com a missão dos dois outros poderes.
Nesse diapasão, o Poder Executivo tem centrado sua atuação e prioridade na pauta fiscalista, tendo proposto ou apoiado as seguintes iniciativas:
1) aprovação da Emenda à Constituição (EC) 93, que altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para prorrogar a desvinculação de receitas da União e estabelecer a desvinculação de receitas dos estados, Distrito Federal e municípios, ampliando de 20% para 30% das receitas, e estendendo essa possibilidade aos estados (DRU);
2) apresentação e aprovação da Emenda à Constituição 95, que altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir Novo Regime Fiscal, e dá outras providências (Congelamento do gasto público por 20 anos);
3) apresentação da Proposta de Emenda à Constituição 287/16, que trata da reforma da Previdência, e modifica, para pior, os três fundamentos do benefício: 1) a idade, que aumenta, 2) o tempo de contribuição, que aumenta, e 3) o valor do benefício, que reduz;
4) aprovação e sanção da Lei 13.291/16, que altera a meta fiscal de 2016 (na qual o governo fez incluir no artigo 3º a regra de congelamento, em termos reais, do gasto público, antes mesmo da EC 95);
5) regulamentação da Lei 13.254/16, que tratou da repatriação de recursos;
6) edição da Medida Provisória (MP) 746/16, sancionada como Lei 13.415/17, que trata da reforma do médio;
7) propor a mudança da meta fiscal para 2017 e 2018;
Em relação ao servidor público, propôs:
8) apresentação e aprovação da Lei Complementar 156/16, que dispõe sobre a renegociação de dívidas dos estados com a União e a possibilidade de privatização de empresas públicas de energia elétrica, água, gás e o congelamento de salário de servidores estaduais;
9 apresentação e aprovação da Lei Complementar 159/17, que trata da recuperação fiscal dos estados com venda de empresas públicas das áreas de saneamento, gás e bancos estaduais;
10) Programa de Demissão Incentivada (PDV) no serviço público, com licença incentivada e redução de jornada com redução de salário (MP 792/17);
11) adiamento/cancelamento dos reajustes previstos para 2018 de 23 categorias e não previsão de novos reajustes – prazo de envio de projetos com esse objetivo é 30 de agosto;
12) reestruturação de carreiras com ajustes para fixação de salário inicial em R$ 5 mil, além de revisão de pagamentos de verbas como auxílio-alimentação;
13) ampliação e adoção da terceirização no serviço público, notadamente em estatais;
14) elevação da contribuição previdenciária dos servidores públicos, de 11% para 14%;
15) suspensão de concursos;
16) dispensa por insuficiência de desempenho - PLP 248/98 na Câmara, que se aprovado vai à sanção;
17) privatização, para fazer caixa, da Eletrobras, dos Correios, da Casa da Moeda, entre outras estatais estratégicas;
18) novo Refis para fazer caixa, punindo o contribuinte que paga seus impostos em dia.
O Poder Legislativo, por sua vez, priorizou a apresentação ou votação de propostas que contribuam para a chamada melhoria do ambiente de negócios, revendo marcos regulatórios, abrindo a economia ao setor privado e acelerando a deliberação sobre a flexibilização de direitos trabalhistas, cabendo destacar:
1) Lei 13.299/16, com mudanças nas regras de concessões para facilitar leilões e concessões públicas de energia elétrica;
2) Lei 13.303/16, dispondo sobre o Estatuto Jurídico da Empresa Pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias nos três níveis de governo. Pôs fim à representação sindical e possiblidade de indicações políticas para compor o conselho de administração de empresas públicas e sociedades de economia mista;
3) edição da MP 727/16, sancionada como Lei 13.334/16, que cria o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI);
4) edição da MP 735/16, sancionada como Lei 13.360/16, que altera várias leis relativas aos marcos regulatórios de energia elétrica no Brasil;
5) Lei 13.365/16, dispondo sobre o fim da Petrobras como operadora única na exploração do petróleo na camada do Pré-sal;
6) edição da MP 744/16, sancionada como Lei 13.417/17, que revogou o caráter público da Empresa Brasileira de Comunicação, retirando sua autonomia frente ao Poder Executivo, claramente para favorecer a comunicação privada;
7) votação e sanção da Lei 13.429/17, que trata da terceirização na atividade fim da empresa;
8) edição da MP 767/17 e sanção como Lei 13.457/17, que concede gratificação de desempenho de atividade de perito médico previdenciário e altera benefícios do INSS com destaque para o ato de concessão ou de reativação do auxílio-doença com fixação de prazo estimado para a duração do benefício. Institui a chamada “alta programada” em que o benefício pode acabar após o prazo de 120 dias contados da data de concessão ou de reativação do auxílio-doença;
9) votação e sanção da Lei 13.476/17, sobre a reforma trabalhista, que reduz custos do empregador, facilita a precarização das relações de trabalho, amplia o lucro e a competitividade das empresas e enfraquece a representação sindical, além de:
9.1) restringir o acesso à Justiça do Trabalho,
9.2) retirar poderes e atribuições dos sindicatos,
9.3) ampliar a negociação coletiva sem o limite ou a proteção da lei,
10) adoção de novos modelos de contratos de trabalho, em especial: o autônomo exclusivo e o intermitente; e
11) edição da MP 784/17, que impede a punição de crimes do sistema financeiro, ao autorizar o acordo de leniência em razão de crimes cometidos por banqueiros;
12) edição da MP 793/17, que faz concessões tributárias aos ruralistas em troca de voto pela rejeição da denúncia por corrupção passiva do presidente da República. A denúncia, apresentada pelo Procurador-Geral da República foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal com pedido à Câmara de autorização para investigar o presidente, mas a Casa rejeitou o pedido;
13) aprovação do requerimento de urgência para o PLP 268/15, que trata das regras de governança dos fundos de pensão, reduzindo a participação dos participantes e patrocinadores nos fundos de pensão para permitir a presença de profissionais de mercado nos conselhos deliberativo e fiscal dessas entidades de previdência complementar.
O Poder Judiciário, nessa mesma linha, julgou no STF várias matérias em sintonia com a agenda do novo governo:
1) fim da desaposentadoria (RE 381.367, 661.256 e 827.833). Os ministros entenderam que apenas por meio de lei é possível fixar critérios para que os benefícios sejam recalculados com base em novas contribuições decorrentes da permanência ou volta do trabalhador ao mercado de trabalho após concessão da aposentadoria.
2) desconto dos dias parados em caso de greve de servidor (RE 693.456);
3) fim da ultratividade de normas de acordos e de convenções coletivas. Necessidade de um novo acordo coletivo para revogar o anterior (ADPF 323);
4) quitação plena dos Programas de Desligamento Voluntário (PDV) ou Programa de Demissão Incentiva (PDI) - (RE 590.415); e
5) prevalência do negociado sobre o legislado em relação as horas in itinere (RE 895.759).
A consequência desse arranjo, em torno da agenda neoliberal, resultará na revisão do papel do Estado brasileiro, que se voltará mais para garantir o direito de propriedade, assegurar o cumprimento de acordos e honrar os compromissos com os credores das dívidas interna e externa, além de contratar serviços nas áreas de saúde, educação e segurança no setor privado, do que para corrigir desigualdades, regionais e de renda, promover inclusão social, prestar serviços públicos de qualidade e formular políticas públicas de interesse social.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo no jornal O Globo do dia 5/2/2017, afirma que “adotar políticas que favoreçam mais ao capital do que ao trabalho, ou vice-versa, depende da orientação política do governo”. E o governo Temer, cuja agenda foi apropriada pelo capital, comprova o que afirma FHC.
(Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap)