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Segundo Clichê

febrero 27, 2017 15:48 , por Blogoosfero - | 1 person following this article.

O Brasil Novo silenciou a música do festival

agosto 11, 2017 10:25, por segundo clichê


Carlos Motta

O golpe, com tudo o que de ruim trouxe para o Brasil, segue fazendo as suas vítimas.

Dia a dia o país vai se tornando mais pobre, material e espiritualmente.

A inflação cai na mesma velocidade em que a paz dos cemitérios se amplia e domina todos os ambientes.

O medo toma conta daqueles que gostam de ser chamados de "empreendedores".

Poucos, aliás pouquíssimos, se arriscam em investir em seus negócios, preferem aguardar a intervenção do deus ex-machina - ou a mão invisível do mercado - que vai resolver todos os problemas.

Na área artística sobrevivem os "universitários" - sertanejos, sambistas, forrozistas, chorões, todos os ritmos reduzidos a um baticum nivelador da mediocridade.


Iniciativas consolidadas por anos de sucesso, de crítica, marketing e público, se evaporam ao contato dessa ventania pestilenta que arrasa com a nação.

Na página da internet, um comunicado lacônico informa a morte de um dos mais importantes eventos musicais do país, o Festival Etapa de Música de Arte, que se realizava anualmente desde 2007 na cidade de Valinhos, Estado de São Paulo, colada a Campinas.

Nele se apresentou a fina flor da música brasileira: Hélio Delmiro, Paulo Moura, Zimbo Trio, Duo Fel, Banda Mantiqueira, Hector Costita, Raul de Souza, Victor Biglione, Duo Carrasqueira, Badi Assad, Heraldo do Monte, Yamandu Costa, Bocato, Nelson Ayres, Renato Borghetti, Wagner Tiso, Ricardo Herz, Danilo Brito, Roberto Menescal, Ulisses Rocha, Arismar do Espírito Santo, Chico Pinheiro, Eumir Deodato, Laércio de Freitas, Mauro Senise, Rildo Hora, Proveta, Roberto Sion, João Carlos Martins, Romero Lubambo, Cristovão Bastos, Osmar Milito, Hermeto Paschoal, João Donato, Marco Pereira, Hamilton de Holanda, Marcel Powell, Naná Vasconcelos, Antonio Adolfo, Danilo Caymmi, Egberto Gismonti, Carlos Lyra, Carlos Malta, Robertinho Silva, João Bosco...

Tudo isso com ingressos baratos, um teatro confortável, cadeiras numeradas, sem atrasos, sem filas para entrar, coisa de Primeiro Mundo.

É dispensável dizer o que significa, para todos, público e artistas, um festival como esse.

E dói ler o comunicado reproduzido abaixo, que anuncia o seu fim.

Descanse em paz.

Comunicado – Festival Etapa de Música de Arte

Neste ano, como parte do replanejamento de nossas atividades culturais, estamos alterando a periodicidade do FEMA – Festival Etapa de Música de Arte –, que há 10 anos tem sido realizado anualmente sem interrupção.

Com isso, não haverá edição em 2017 do FEMA.

Até 2016 foram realizados cerca de 60 shows, com a presença de mais de 20 mil espectadores, sempre com grande sucesso. Foi uma importante contribuição para o panorama cultural da região, apresentando a beleza da grande música aos muitos que já a apreciavam e a tantos outros que passaram a apreciá-la em #Valinhos e na região de Campinas.

O projeto FEMA sempre foi produzido com investimentos próprios do Etapa, sem nunca contar com apoio de qualquer lei de incentivo. A arrecadação de todas as edições foi transferida para instituições voltadas à comunidade, como a ABEUNI – Aliança Beneficente Universitária de São Paulo, que realiza caravanas de saúde para atender regiões carentes, e mais recentemente a Orquestra Filarmônica de Valinhos, que realizou e segue realizando concertos didáticos gratuitos para a população e divulga a música erudita nas escolas públicas de Valinhos.

Seguiremos, em nossos canais oficiais nas redes sociais – Facebook, YouTube e Spotify – a mostrar tudo de bom que é realizado e também nos inspirando para o que virá no futuro.

Nesse trabalho, realizado a muitas mãos, agradecemos a todos que garantiram a longevidade do evento: aos colaboradores do Etapa Educacional que se dedicaram de forma excepcional – na área de Comunicação e na área Pedagógica –, aos fornecedores e parceiros. Mencionamos especialmente Luiz Amaro, que atuou como curador e produtor do Festival durante toda esta década.

Ao público, nossa gratidão por todo o carinho dispensado.

A todos, um sonoro e musical... até breve.



A responsabilidade da oposição de esquerda na atual conjuntura

agosto 10, 2017 16:27, por segundo clichê


Antônio Augusto de Queiroz

A oposição de esquerda, para sobreviver politicamente e voltar a assumir o poder no país, precisa urgentemente modificar suas formas e métodos de atuação no Congresso Nacional, antes que o desmonte do aparelho de Estado e os retrocessos nos direitos sociais e na soberania nacional se tornem irreversíveis.

O governo Michel Temer, a serviço das forças neoliberais e do mercado financeiro, nos últimos dois anos, provocou grandes estragos em conquistas históricas do povo brasileiro, como a aprovação do congelamento do gasto público (EC 95/16) e da reforma trabalhista (Lei nº 13.467/17), sem que houvesse uma reação à altura das forças de esquerda.

Agora, depois do espetáculo “de compra de deputados” que levou à rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer, o governo retoma o ânimo para avançar com sua agenda em favor do capital e de retrocessos sociais, com o acelerado desmanche do Estado Nacional, tanto em termos de soberania quanto em termos de serviços públicos à população.


E a população, frente aos custos de participação e reação, tem ficado indiferente. Mesmo os setores esclarecidos da sociedade, informados da captura de boa parte das instituições pelo mercado, a começar pela Presidência da República e do Congresso, tem preferido esperar o momento das eleições gerais, para, protegidos pelo voto secreto, trocar o comando dessas instituições.

Diante dessa realidade, cabe à oposição de esquerda cumprir o papel de dificultar ou até impedir que essa agenda prossiga no Parlamento. Afinal, exigir o devido processo legislativo, defender os direitos das minorias e exercer o direito constitucional de resistência e de obstrução regimental, como fez um grupo de senadoras durante a votação da reforma trabalhista no Senado, são absolutamente legítimos.

E a oposição de esquerda, especialmente na Câmara dos Deputados, não tem feito isso. Ao contrário, tem sido muito cooperativa no sentido de permitir votar matérias contrárias ao seu ideário, mesmo discursando e votando contra. A postura da oposição foi tão comportada, a ponto de fazer acordo de procedimento, como aquele combinado na votação da reforma trabalhista na Câmara, quando, em troca de três votações nominais, os deputados deixaram votar um projeto que representa um verdadeiro atentado aos direitos dos trabalhadores brasileiros. 

O atual governo não tem escrúpulo nem compromisso com o povo. Dar a ele um tratamento menos duro do que a oposição de direita deu ao governo Dilma é inaceitável. Transigir, mesmo que em troca da votação de outros temas, é capitulação.

É preciso impedir a votação de toda e qualquer matéria contrária ao interesse do povo, porque, conforme já foi exposto, a população não tem clareza dos reflexos dessas medidas sobre sua vida, nem está disposta a arcar com os custos de participação e reação neste momento. É preciso chamar atenção para o mal que essas mudanças representam, e uma das formas de fazê-lo é resistindo à sua votação nos plenários da Câmara e do Senado. É preciso usar, sem peias, os instrumentos legítimos e democráticos de obstrução, e, no limite, recorrer quando as regras do jogo não forem respeitadas e a Constituição ignorada ao próprio Poder Judiciário.

Tudo indica que já a partir de setembro de 2017, em razão da fúria fiscal da equipe econômica, haverá a paralisia do Estado, com a absoluta incapacidade de o governo atender as demandas básicas da população por serviços públicos. Mas isso, se a oposição não denunciar de modo competente e ostensivo essas maldades, não terá o condão de vincular tal paralisia dos serviços públicos às ações, opções e orientações políticas do atual governo.

A responsabilidade da oposição de esquerda, portanto, é muito grande nesta conjuntura, tanto em termos de dificultar e obstruir a votação dessas matérias, quanto em denunciar o desmonte do Estado e os efeitos perversos desses retrocessos sociais sobre a população.
(Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap)



Heranças dos governos do PT evitam tombo maior da indústria

agosto 10, 2017 16:20, por segundo clichê


Marcelo P. F. Manzano

Com a demanda interna ainda deprimida e sem horizonte de recuperação, o único sopro de vida que ainda traz algum dinamismo ao setor industrial brasileiro tem sido a demanda externa. As exportações de grãos, por exemplo, foram responsáveis pela melhora na produção de bens de capitais agrícola (crescimento de 19,1% no primeiro semestre), enquanto as vendas recordes de automóveis para o exterior foram fundamentais para garantir a expansão desse segmento da indústria ao longo dos primeiros seis meses do ano (17,1%). Além dessas, outra categoria econômica que registrou destacado dinamismo no período foi a extrativa mineral (notadamente nos ramos de óleos brutos de petróleo e gás natural), com crescimento de 6%, também fortemente estimulada pelas vendas ao mercado externo.


Mas o que revela o dinamismo desses segmentos da indústria nacional além da evidente relação com a demanda externa? Em grande medida, o relativo sucesso que se percebe nos três casos mencionados deve-se a algumas políticas que foram adotadas pelos governos Lula e Dilma e que hoje servem para compensar o desastre provocado pela agenda da austeridade.

Em primeiro lugar, o aumento da produção e exportação de petróleo e a redução da dependência de derivados importados revelam o acerto da estratégia de investimento da Petrobras na exploração de petróleo no pré-sal, ainda em meados da década de 2000, a qual, cabe lembrar, sofreu à época críticas pesadas da oposição e da grande mídia. Hoje, mas de 50% da produção de petróleo e gás no Brasil provêm do Pré-sal.

Em segundo lugar, o forte crescimento das exportações do setor automotivo (aumento de 57,2% nos primeiros seis meses de 2017!) resulta, em grande medida dos ganhos de competitividade externa dos veículos brasileiros na esteira do programa Inovar-Auto, criado pelo governo Dilma em 2012. Conforme apontou o presidente da Anfavea ao jornal Valor Econômico, os padrões dos carros produzidos no Brasil melhoraram significativamente em decorrência das contrapartidas exigidas em troca dos benefícios fiscais concedidos pelo programa e com isso as montadoras instaladas no Brasil conquistaram fatia maior no mercado internacional de veículos. 

Não é demais lembrar que tal resultado só foi possível também graças à exitosa política externa que teve início no primeiro governo Lula, liderada pela dupla Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. No bojo da chamada política Sul-Sul, redesenharam o mapa das relações comerciais do Brasil com o resto do mundo, em especial com os países do Mercosul, os quais são hoje grandes compradores de automóveis brasileiros.

Em terceiro lugar, a excepcional expansão de 30% da safra de grãos que hoje fortalece o nosso saldo comercial e ajuda a impulsionar a produção de bens de capital, além de ter sido beneficiada por condições climáticas muito favoráveis, é também a expressão positiva da política de expansão do programa de financiamento agrícola do governo federal em parceria com o Banco do Brasil (o Plano Safra), o qual acabou sendo usado pelos golpistas para acusarem a presidenta Dilma de ter realizado as tais “pedaladas” fiscais.

Em suma, ao contrário do que gosta de afirmar a grande mídia mercadista, os experimentos desenvolvimentistas dos governos Lula e Dilma não apenas foram fundamentais para dar tração à economia brasileira durante os seus governos, como ainda hoje são as principais fontes de dinamismo da nossa combalida estrutura produtiva. (Fundação Perseu Abramo)



O Congresso e a Lei de Murphy

agosto 10, 2017 11:11, por segundo clichê

 

Carlos Motta


Ninguém pode dizer que o nosso Legislativo não entende de leis.

Legislar em benefício próprio, por exemplo, é uma prática mais que comum entre os nossos congressistas - eles adoram achar modos de melhorar de vida, a deles, é claro.

Também são mestres em exercitar o conjunto de enunciados pragmáticos que se convencionou chamar de "Lei de Murphy".

Um deles parece ter sido feito na medida para os nossos deputados e senadores, que volta e meia se debruçam em sua aplicação: "Nada é tão ruim que não possa piorar."

Tome-se o caso dessa reforma política que está saindo de suas mentes brilhantes.

E o tal "Distritão", em particular.

Ele não é uma beleza?


Ao mesmo tempo em que suprime a necessidade de partidos políticos, já que elege o candidato mais votado, não importa se o seu agrupamento, coletivamente, é irrelevante, ele dá oportunidade para o poderoso negócio de compra de votos funcionar a todo vapor - em tempos de desemprego bravo, essa não deixa de ser uma boa notícia.

Dá até para imaginar como será alta a taxa de renovação do Congresso, esse Congresso que está sendo notícia no mundo todo, não exatamente por sua qualidade.

Ah, mas o "Distritão" vai valer apenas como transição para o sistema definitivo, o Distrital Misto, que deve entrar em vigor apenas a partir de 2022, dizem os seus defensores.

E a polêmica esquenta, enquanto um desses nossos mais que essenciais parlamentares resume o enredo da ópera-bufa da qual participa: “O modelo atual está esgotado. Não dá para fingir que está tudo bem e continuar com o sistema atual."

Pura verdade.

Afinal, o sistema atual fez brotar Bolsonaros e Tiriricas, Cunhas, Malafaias e Felicianos, e toda uma fauna defensora intransigente da família, do poder de Deus, do verde-amarelo da nossa bandeira, e de tudo o mais que a canalhice e a hipocrisia possam abrigar.

Portanto, urge mudar.

Mudar e mudar, em nome da transparência, da democracia, de fazer a vontade do povo ser seguida no Parlamento.

O país precisa de reformas, quanto mais houver, melhor.

Mas, essencialmente, para que a ponte para o futuro não trema, ou, desgraça das desgraças, desabe, é necessário que a renovação seja conduzida e efetuada por quem tem competência para tal.

E quem melhor para isso que este brilhante Congresso que tantos ótimos serviços já prestou à nação?

Que venha, portanto, o "Distritão", o "Distrital Misto", e todo esse aparato normativo que, com certeza, fará o eleitor finalmente ter consciência de seu papel como cidadão - como é que ninguém pensou nisso antes? 



O povo deve ser destruído

agosto 9, 2017 17:00, por segundo clichê


Céli Pinto

Um dia após a condenação de Lula por Sergio Moro, um motorista de táxi me perguntou: "Contente com a condenação de Lula?" Quando me ouviu dizer que não, ficou muito alterado e desfiou uma lista de crimes que teriam sido cometidos por Lula para justificar que o Brasil necessitava se livrar dele. 

Dia 17 de julho, o jornalista, escritor e apresentador de TV, Marcelo Tas, perdeu a costumeira fleuma no programa que coordena na GNT (Papo de Segunda), quando um dos seus companheiros referiu a falta de provas da propriedade do triplex, que fora o mote da condenação de Lula. Tas alterou-se e disse que o triplex era um crime menor e nem tinha importância, mas que Lula deveria ser condenado porque era o responsável pela recessão, por 13 milhões de desempregados, por toda a corrupção e também pelo governo Temer, uma vez que havia feito aliança com o PMDB.

Lula tem mais de 50% de rejeição nas pesquisas de opinião, em que pese ser o pré-candidato com a maior intenção de voto, mas a pergunta que não quer calar é: por que o discurso de ódio contra Lula, que faz sentido a um motorista de táxi, é o mesmo do intelectualizado Marcelo Tas? 


Uma resposta ligeira e do gosto de todos seria que os motoristas de táxi “são assim” e que Tas é funcionário da Rede Globo (GNT), portanto, parece óbvio que se colocaria dessa forma. Entretanto, essas explicações estão longe de dar lastro para ensaiar uma reflexão sobre a crise da esquerda, do PT, sobre o avanço de discursos conservadores, reacionários, racistas, machistas.

O primeiro discurso exitoso contra Lula se expressou em um discurso contra Dilma, mais frágil politicamente, mulher, sem grande apoio no próprio PT, portanto mais fácil de atacar. Dilma foi o primeiro fator unificador do discurso da direita política brasileira em 2014. De fato, o objetivo não era ela, mas o afastamento do PT e a retirada do perigoso e popular Lula do campo da disputa política. 

Inventaram as pedaladas fiscais, afastaram Dilma e não a incomodaram mais. A culpa de Lewandowski, que estava participando da farsa, resultou na não cassação dos direitos políticos da então presidenta.

Afastar Dilma foi só um primeiro passo. Havia importantes políticas neoliberais de ajuste a serem feitas pelos representantes do capital financeiro, da Fiesp e da banca internacional. Entre os aspectos centrais das políticas neoliberais, aqui e alhures, estão a retirada dos direitos sociais e a desqualificação das conquistas dos trabalhadores como privilégios. 

Para que possam ser implementadas, não bastam um golpe e um presidente fantoche, é necessário haver garantias a longo prazo de que não haverá reação do povo. Por isso, é necessário destruir o povo como agente político, como sujeito político coletivo. Essa é a grande missão dos que agora estão no poder, secundados por parte do judiciário e parte do Ministério Público. Não importa se a reforma da Previdência não passar agora, interessa é que ela passe, no ano que vem ou em 2019. Mas é necessário derrotar o povo de forma cabal.

O que Lula tem a ver com isso? Tudo. Lula foi e ainda é um grande líder popular, se identifica com as classes populares que, durante seu governo, viram mudar as suas vidas, as possibilidades educacionais de seus filhos. O mundo viu Lula como uma nova esquerda. Como líder, Lula deu significado ao povo como sujeito político. Maior que o PT, maior que a esquerda, ele articulava as demandas populares, era o povo no poder.

As forças de esquerda em geral e o PT, especificamente, não conseguiram construir lideranças para substituí-lo, não porque Lula não deixou, ou porque o partido não quis, mas porque a existência de Lula impediu que houvesse condições de emergência de novas lideranças, por mais que ele tivesse oposição, dentro e fora do partido.

O poder simbólico que Lula representa precisa ser extirpado do Brasil para que o projeto neoliberal em curso se concretize. Por isso há esforço de arrancar Lula do centro do discurso popular e caracterizá-lo como o grande traidor, o corrupto, o operário que enriqueceu, o responsável pelas mazelas do Brasil, pela desordem, pela violência. 

É preciso romper o lastro discursivo do povo. Isso não se faz prometendo vantagens, mas exatamente prometendo sacrifícios. Recriando um novo sujeito político, individualizado, “responsável “, trabalhador, que não se interessa por “privilégios”, mas quer trabalhar em qualquer condição. Um indivíduo que não se preocupa se pessoas sem-teto são acordadas nas ruas geladas por jatos d'água, se usuários de drogas são caçados como bichos, se prédios ocupados por famílias que não têm onde morar são desocupados por batalhões de choque da polícia militar. Essas pessoas não importam, são “vagabundos“, perdedores, obstáculos para o restabelecimento da ordem.

Na nova ordem neoliberal não há espaço para povo, para o sujeito coletivo. O que importa é cada um cuidar de si. O fracasso é pessoal, o sucesso está na compreensão dos novos tempos, do trabalho intermitente, do fim das políticas sociais. A nova ordem é a do indivíduo, não importa se ele é um trabalhador ou um intelectual da mídia. Para que a nova ordem se instale, é necessário acabar com o povo, com a ação do povo como coletivo, por isso é essencial destruir quem melhor o representou na política brasileira contemporânea – Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não basta colocá-lo na cadeia, antes é preciso destruí-lo como símbolo, o que só acontecerá ao destruir o povo, já que Lula significou o povo por longos anos, décadas.

O motorista de táxi e o intelectual midiático representam muito bem este sujeito individualizado, que se constitui em um discurso de ódio contra Lula, contra o povo. São exemplares característicos dos tempos de pós-democracia que vivemos. (Céli Pinto é professora titular do Departamento de História da UFRGS)



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