Ir al contenido

Motta

Full screen

Segundo Clichê

febrero 27, 2017 15:48 , por Blogoosfero - | 1 person following this article.

Ovos, escrachos, e a indiferença

julio 17, 2017 10:41, por segundo clichê


A semana passada foi de lascar, cheia de acontecimentos trágicos que, fosse o Brasil uma nação desenvolvida, com um povo minimamente educado e consciente de sua cidadania, hoje as ruas estariam cheias de barricadas, com molotovs cuspindo um fogaréu glorioso, e a multidão, enfurecida, faria valer os seus direitos na marra.

Como, porém, somos uma república de bananas, o máximo que se vê de indignação contra a quadrilha que tomou de assalto o Palácio do Planalto e destrói, sem nenhuma piedade, o pouco de democracia que havia por aqui, é uma ou outra manifestação nas ruas, e muito blá-blá-blá - ou seja, nada que incomode os golpistas.


A exceção nessa semana aziaga foi a ovada que a deputada filha do ministro da Saúde recebeu como presente de casamento - em plena cerimônia, repleta de fausto, luxo e ostentação, na mais que simbólica Curitiba, capital que disputa com São Paulo a primazia de ser a vanguarda do conservadorismo - ou atraso, como queiram - deste Brasilzão velho de guerra.

Fora a chuva de proteína animal que abençoou o casamento da moça, típica representante da mais cruel oligarquia do planeta, merece também destaque, nessa semana de infortúnios, o escracho que alguns jovens fizeram defronte à mansão de 7 mil metros quadrados do prefeito paulistano, que reagiu ao ato com a típica bazófia dos covardes que não andam sem a proteção de bem vestidos jagunços.

No mais, a oposição ao bando de picaretas homiziados em Brasília segue frouxa, sem ímpeto, sem direção, e, pior, sem contaminar a massa, que continua indiferente a tudo o que ocorre na vida do país.

Aqui na pequenina Serra Negra, interior de São Paulo, uma multidão enchia as ruas centrais, os bares, restaurante e hotéis, no fim de semana, agindo como se tudo estivesse absolutamente normal, e o seu futuro como assalariados já não tivesse sido irremediavelmente comprometido com a destruição da CLT.

Serra Negra, é bom esclarecer, vive essencialmente do turismo - a sua rua principal é um enorme shopping center ao ar livre, com centenas de lojas de roupas, comidas, artesanato e decoração. 

No fim da tarde de domingo, na praça João Zelante, no coração da cidade, casais dançavam em frente ao palco-coreto e outras dezenas de pessoas apreciavam a apresentação do grupo Amigos do Samba. 

Numa das cadeiras de plástico branco da plateia sentava-se uma senhora, minha vizinha, viúva, que se mudou para a cidade há alguns anos, para ficar perto da filha e fugir da carestia e atropelo da capital. Dia desses ela contou que no começo do ano teve de fazer um procedimento cirúrgico no coração.

- Fiz pelo SUS, foi ótimo - disse.

Ao vê-la balançando o corpo no ritmo do samba que a rapaziada caprichava no palco-coreto, fiquei pensando se passou pela sua cabeça que, em breve, não só a saúde, como a educação, deixará de ser um direito para todos - ela, inclusive.

Provavelmente, não.

Afinal, ela é uma típica brasileira de classe média.

Portanto, que venham mais ovadas e escrachos públicos, na falta de coisa mais contundente, contra esses ladrões de sonhos e esperanças - já que esse parece ser, pelo que se vê, o limite da resistência do povo brasileiro aos golpistas. 

Melhor isso do que nada. (Carlos Motta)  



IBC-Br maio: tem marola no fundo do poço

julio 14, 2017 16:17, por segundo clichê


O Banco Central informou na manhã desta sexta-feira (14) que o seu indicador antecedente do PIB (IBC-Br) registrou variação negativa no último mês de maio (-0,5%). Embora já viéssemos alertando aqui neste espaço para a possibilidade de novas quedas do nível de atividade em decorrência da ausência de fatores capazes de dar impulso a um ciclo de retomada do crescimento, as vozes do mercado financeiro reunidas pelo jornal Valor Econômico estimavam que o IBC-Br de maio apontaria para um crescimento de 0,3%.


Além disso, quando se considera o resultado acumulado nos cinco primeiros meses de 2017 frente ao mesmo período de 2016 (os últimos meses sob o governo Dilma), o que se observa é também uma queda de 0,10%, a despeito dos ajustes metodológicos nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística e que inflaram os resultados nos primeiros meses do presente ano.

Ou seja, a cada novo resultado vai ficando cada vez mais claro que, embora ocorram oscilações positivas de um ou outro segmento da economia, o arranjo macroeconômico conduzido pelo governo Temer e seus ministros-banqueiros não é capaz de dar partida a nenhum motor da demanda agregada.

Sem isso, o país deverá permanecer à mercê de eventuais impulsos exógenos (maior apetite do mercado externo, um regime climático favorável à safra agrícola) e se acostumar com a marola no fundo do poço. Sem escadas, sem mola e sem cordas, seria talvez o caso de devolver a pergunta cínica que Michel Temer fez aos brasileiros dias atrás: o que será deste pais com mais um ano e meio sob o seu governo?  (Marcelo P. F. Manzano/Fundação Perseu Abramo)



O Dr. Mesóclise e o revelador bife de filé-mignon

julio 14, 2017 10:28, por segundo clichê


A notícia se espalhou com a velocidade da luz e surpreendeu a todos mais que a revelação da receita da famoso bolo de fubá de dona Vivi: o Dr. Mesóclise estava sendo processado por um sujeito, morador novo da cidade, sob a acusação de desviar para seu uso parte da carne que o açougue Faca de Ouro doava, semanalmente, para a Casa de Repouso Vida Feliz, o lar dos velhinhos - carne de primeira, filé-mignon, a mais nobre.

Convém explicar que o Dr. Mesóclise é o o mais ilustre cidadão de Banana Verde, farol ético e moral para as gerações presentes e futuras, receptáculo de extensivos conhecimentos exclusivos e gerais, conjugador emérito de verbos e excepcional colocador de pronomes.

Em resumo, um cidadão acima de qualquer suspeita. 


Por isso a comunidade bananaverdense não teve dificuldade de escolher o seu lado nessa pendenga: o doutor, todos sabem, é incapaz de fazer mal a qualquer pessoa, muito menos aos simpáticos velhinhos da casa de repouso - ainda mais que ele é, como presidente de honra, o principal responsável pelo bem-estar dos internos e até mesmo pela sobrevivência da instituição.

Mas havia um ou outro que tinha lá suas dúvidas sobre a conduta do excelentíssimo doutor. 

A polêmica foi mantida, com episódios que destoavam da calmaria habitual de Banana Verde - as discussões acaloradas no Ponto Chic, o bar frequentado pelo quem-é-quem da cidade, são prova disso -, até o dia em que Sua Excelência, o dr. César Moura, conhecido e respeitado magistrado da comarca, iria pesar, com sua proverbial imparcialidade, os elementos de acusação e de defesa do rumoroso caso.

De um lado, recibos, depoimentos de testemunhas, até mesmo de alguns bons velhinhos moradores da casa de repouso, que juraram que a carne lá servida, três vezes por semana, era cheia de nervos, um tanto dura e de difícil digestão.

Do outro lado, um discurso apaixonado sobre as virtudes de um homem que dedicou sua vida inteira, frugal, como todos sabem, em benefício do progresso de sua amada cidade, sempre desinteressadamente.

Mas o advogado, o célebre dr. Carlos Meriz, foi além das palavras: apresentou uma prova, a seu ver, irrefutável, da inocência do afamado réu.

Chamou para testemunhar dona Marcelina, a faz-tudo da casa do Dr. Mesóclise.

E ela jurou que nunca havia servido para o seu patrão nenhuma receita de carne que não fosse cozida, sempre acompanhada de abundante molho, e que naquela casa onde trabalhava, com orgulho, havia tantos anos, nunca preparara um bife sequer.

- O doutor não suporta carne grelhada ou frita - justificou.

Dito isso, apresentou a prova definitiva da inocência do ilustre cidadão bananaverdense:

- Todos sabem que o filé-mignon fica muito melhor grelhado. Nunca iria jogá-lo numa panela para cozinhar, como o doutor gosta.

Não deu outra.

Em vista de tal testemunho, o meritíssimo juiz dr. César Moura não teve dúvida em inocentar o mais ilustre cidadão bananaverdense.

E, é claro, condenar o acusador a pagar as custas do processo. (Carlos Motta)



A banalização do cinismo

julio 13, 2017 16:21, por segundo clichê


O cinismo, realmente, se integrou perfeitamente ao espírito do brasileiro. 

As manifestações desse tipo de comportamento, antes restritas a uma minoria, hoje se espalham por todos os lados.

Ser cínico, hoje, parece, é obrigação de quem quer estar em dia com os ares fétidos deste Brasil Novo. 

Não faltam exemplos de cinismo.

Um deles foi enviado via e-mail para um mailing extenso de jornalistas: trata-se de um press release da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas e Serviço de Proteção ao Crédito, a respeito da infame aprovação do projeto de lei da tal "reforma trabalhista", essa monstruosidade que, na prática, acaba com a CLT, o conjunto de normas que regulava a relação capital-trabalho, promovendo algum equilíbrio entre as partes.

O título do material é um primor: "Entidades do varejo comemoram aprovação da reforma trabalhista."

Para não provocar ânsias de vômito, transcrevo apenas três parágrafo da peça pornográfica:


"A aprovação do texto-base do projeto da reforma trabalhista, na noite desta terça-feira (11), no Plenário do Senado Federal, foi recebida com o sentimento de vitória e de dever cumprido pelas principais entidades que representam o segmento do varejo. O placar de 50 votos favoráveis à 26 contrários mostra que o Brasil deseja avançar no processo de atualização das leis, que por terem sido criadas na década de 40, já não mais se adequam ao mercado de trabalho moderno.

A nova legislação que entrará em vigor 120 dias após sanção presidencial, que acontecerá nesta quinta-feira (13/07), valoriza os acordos coletivos, possibilita a readequação de jornadas de trabalho, além de reduzir a burocracia dos contratos com prevalência dos acordos. O desejo da UNECS é que o presidente Michel Temer sancione sem vetos que prejudiquem o setor, especificamente no que diz respeito ao trabalho intermitente.

Essa conquista da sociedade brasileira que tem o potencial de gerar novos empregos e impulsionar a economia nacional é comemorada pelo setor de comércio e serviços, que representa 68% do PIB nacional e 73% dos empregos diretos. Somente as sete instituições representativas que compõem a União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (UNECS) respondem por 21% das vagas formais do país e detém o faturamento de R$ 1 trilhão."

Enfim...

É com esse tipo de empresário que o Brasil conta para ser um país mais justo, menos desigual e mais democrático. (Carlos Motta)



A terra dos "doutores"

julio 13, 2017 11:00, por segundo clichê


A sentença que condena o ex-presidente Lula a 9 anos e meio de prisão é uma peça tão absurda que faz a gente refletir sobre como algumas pessoas atingem posições de relevância na sociedade.

São os nossos "doutores".

O Brasil deve ser o país com mais "doutores" em todo o planeta.

Em toda rua de toda cidade há um "doutor" em alguma função: fisioterapia, odontologia, direito, medicina, ciências sociais...

É tanta sabedoria que chega a dar vergonha a nós, cidadãos ordinários, que escolhemos profissões tão abjetas que nunca, mas nunca mesmo, nos darão a possibilidade de sermos tratados como "doutores".


E os nossos "doutores" são cada vez mais jovens.

O doutor Dallagnol, chefe dos procuradores lava-jatos, por exemplo, tem cara de bebê.

Mesmo o doutor Moro, o juiz implacável que atribuiu para si a responsabilidade de mandar para a cadeia todos os corruptos do país, parece um daqueles meninões de praia que poderiam figurar em novelas de televisão.

Nada contra o fato de eles serem jovens, mas é que certas funções exigem um tanto de experiência de vida que não se encontra nos livros - ou nas apostilas de concurso público. 

Fora a juventude, esses nossos "doutores" têm um traço em comum: a sua sapiência tem a profundidade de uma página de jornal, a leveza de uma bolha de sabão.

É uma sabedoria que só engana trouxas, ou seja, a grande massa idiotizada pelos meios de comunicação, pelos "pastores" evangélicos, pelas correntes de whatsapp, pelas postagens das redes sociais.

Qualquer doutor de verdade, ou mesmo uma pessoa medianamente educada e informada, é capaz de reduzir a pó, em minutos, o pernosticismo desses "doutores" de araque.

Só um país onde a educação é tão desleixada e o patrimonialismo tão arraigado é capaz de formar tantos "doutores" como essas estrelas dos nossos jornalões.

Chega a ser inacreditável que alguém como o juiz da tal operação Lava jato seja celebrado do modo que foi nestes últimos anos não só pelos meios de comunicação, que têm claros objetivos ideológicos, mas também por membros da comunidade jurídica.

Um fato como esse me faz lembrar de meu tipo inesquecível, o saudoso sociólogo Antonio Geraldo de Campos Coelho, com quem tive a oportunidade de passar deliciosos momentos na Jundiaí de minha juventude.

Pois bem, o Coelho não admitia ser chamado de "professor". 

Ele se sentia profundamente ofendido se alguém o tratasse por esse título.

E tinha uma explicação perfeitamente lógica para isso:

- Todo mundo é professor, é uma avacalhação. Tem o professor de capoeira, o professor de ioga, o professor de bordado... 

Isso foi há 40 anos. 

Hoje ninguém mais quer ser chamado de professor nesta terra de doutores. (Carlos Motta) 



Motta

Novidades

0 comunidades

Ninguno