Fofocas, calúnias e a idiotização do brasileiro
junio 8, 2017 17:44A internet e os aparelhos chamados de "smartphones" revolucionaram as comunicações de tal maneira que hoje a antiguíssima frase "nenhum homem é uma ilha" deixou de ser uma licença poética.
Os mecanismos de busca do tipo Google possibilitam obter, instantaneamente, praticamente qualquer tipo de informação que se queira.
Centenas de anos de conhecimentos acumulados por todos os povos deste planeta estão à disposição - basta um clique e lá vem uma torrente de tesouros preciosos.
Ou não.
A internet também é o maior depósito de lixo, todo tipo de lixo, que existe.
Ela é o exemplo perfeito da incomensurável capacidade do ser humano de se autodepreciar como espécie.
Tudo de pior da alma humana pode ser encontrado na rede, desde os mais torpes golpes até as mentiras mais maldosas.
No Brasil não é novidade que a internet está sendo usada há vários anos como arma de guerra contra o campo progressista, ou, se quiserem, simplificando, para consolidar a dominação da Casa Grande sobre a Senzala.
O trabalho desse exército é incessante.
Ele se vale de todas as ferramentas que a tecnologia tornou disponível: sites, blogs, redes sociais, aplicativos de mensagens instantâneas, qualquer novidade que surgir.
Como o brasileiro é um dos povos mais ingênuos e crédulos do mundo, não tem sido difícil para essa turma espalhar as mais incríveis e imbecis informações como se fossem as mais sólidas e incontestáveis verdades.
O filho do Lula é dono da Friboi.
O Lula é um dos homens mais ricos do universo.
A Dilma, terrorista sangrenta, roubou bancos.
E por aí vai, com mais ou menos variações, o repertório inesgotável de sandices que envenenam os cérebros já meio desprovidos das famosas "pequenas células cinzentas" tão prezadas pelo imortal detetive Hercule Poirot.
Do jeito como a coisa vai indo, logo mais restarão poucos neste imenso país que acreditarão que a Terra é redonda, ou que o homem e os primatas têm um ancestral comum, ou que quem vê e fala com demônios provavelmente sofre de esquizofrenia.
A disputa política, a luta de classes, a guerra ideológica, esse terremoto que abala a nação, têm efeitos muito mais profundos do que se pode supor à primeira vista.
Não é só o risco de se institucionalizar o boato, a fofoca, a calúnia, a injúria e a difamação como meios de perseguir inimigos ou de se livrar de condenações judiciais, como infelizmente já vem ocorrendo.
O Brasil está perto de se tornar uma nação de idiotas. (Carlos Motta)
Mais de 1/3 dos brasileiros não conseguem nem pagar contas
junio 8, 2017 10:27O Indicador de Propensão ao Consumo, calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), aponta que 58% dos consumidores planejam reduzir os gastos em junho - as principais justificativas são a tentativa de economizar (23%), os preços mais elevados (18%), o fato de estarem endividados (15%) e uma redução de renda (10%).
Refletindo sobre sua realidade financeira, a maior parte (42%) diz estar no zero a zero, sem sobra nem falta de dinheiro. Já 37% diz em estar no “vermelho”, sem conseguir pagar todas as contas e somente 15% dizem estar com sobra de dinheiro.
Excluindo itens de supermercado, na lista dos produtos que os consumidores pretendem comprar em junho, roupas, calçados e acessórios foram citados por 23%. Em seguida, aparecem os itens de farmácia (22%), recarga de celular (18%) e perfumes e cosméticos (13%).
O Indicador de Uso do Crédito busca medir, numa escala de zero a 100, a demanda dos consumidores por empréstimos e crédito para compras a prazo pelos consumidores no mês anterior à pesquisa, sendo considerados empréstimos, financiamentos, cartões de crédito, de loja, crediários, e limite do cheque especial. Quanto mais próximo de 100 estiver o indicador, maior o uso do crédito; quanto mais distante, menor o uso. Em abril, foram registrados 27,6 pontos, ligeiramente acima dos 27,1 pontos de março.
Em termos percentuais, 42% dos consumidores disseram ter utilizado algum tipo de crédito em abril, sendo que o cartão de crédito foi a modalidade mais usada (36%), seguido de cartão de loja e crediário (14%) e limite do cheque especial (6%). Houve também utilização de empréstimos (4%) e financiamentos (3%), modalidades com critérios de concessão mais rigorosos.
Entre os consumidores que fizeram uso do cartão de crédito em abril, 36% relataram aumento do valor da fatura, enquanto para 38% o valor permaneceu o mesmo e para 25% houve diminuição. O valor médio reportado por esses entrevistados foi de R$ 917,30, desconsiderando-se 30% que não souberam responder exatamente quanto gastaram no cartão. Os itens de supermercado lideraram a lista de bens comprados, citados por mais da metade desses entrevistados (59%). Em seguida, 58% mencionaram a compra de remédios e itens de farmácias.
Quando questionados sobre a dificuldade de contratar empréstimos e financiamentos, a maior parte (46%) opina que é difícil ou muito difícil, enquanto apenas 16% avaliam como fácil. Mas não é só no banco que há recusa ou dificuldade para tomar crédito: um quinto (21%) dos consumidores informa que teve crédito negado em alguma loja em abril, sendo que 9% foram barrados por estarem negativados, 4% devido à renda insuficiente e 3% por não poder comprovar a renda.
A fantástica fábrica de deseducação
junio 7, 2017 16:10O caso da festa escolar dos burguesinhos do Sul, movida a preconceito e desprezo por pobres e tudo o mais que não pertença ao universo dourado desses filhinhos de papai, dá o que pensar sobre o tipo de educação que os jovens deste Brasil varonil estão recebendo.
Cursei os antigos ginásio e colégio numa das únicas escolas que ousaram, séculos atrás, sair da mesmice pedagógica, o Instituto de Educação Experimental Jundiaí, hoje E.E. Bispo Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, em Jundiaí, Estado de São Paulo.
A maior inovação do Instituto era o sistema de avaliação dos alunos, bimestral e por conceitos - deficiente, fraco, regular e bom - em vez de notas.
As aulas eram mais ou menos convencionais, dependiam da formação de cada professor. Havia os francamente ortodoxos e alguns que fugiam da rotina tradicional.
O mais radical deles era o coordenador pedagógico do Instituto, o professor-doutor Newton Balzan, que se tornou uma das mais respeitadas autoridades em educação no Brasil. Suas aulas tinham intensa participação dos alunos, que recebiam várias tarefas, entre as quais, divididos em grupos, apresentar, da maneira que julgassem melhor, determinados temas, para posterior debate entre a classe toda.
Lembro que o nosso grupo teve de falar sobre a guerra civil espanhola. Foram semanas de pesquisa - não havia o Google naquele tempo - e de debates sobre como seria a nossa "aula show". No fim, a nossa performance incluiu música, poesia, fotos e fatos sobre aquele evento histórico que antecedeu a segunda guerra mundial e teve enorme repercussão no mundo todo.
O fato de eu me lembrar até hoje das aulas do professor Newton Balzan e praticamente coisa nenhuma das dos seus colegas do Instituto de Educação reforça o que penso sobre a educação que prevalece no Brasil: não serve para praticamente nada em termos de formar um cidadão, alguém que saiba quais são os seus deveres e direitos, que conheça e cumpra as leis, que pense logicamente, saiba, enfim, viver numa sociedade e conviver com seus semelhantes.
Pode ser que existam alguns focos de excelência no ensino, escolas públicas e particulares que realmente se interessem em formar cidadãos e não somente em fazer as crianças e adolescentes decorar fórmulas, datas e dados, como se estivessem adestrando animais.
Pode ser que haja instituições de ensino que valorizem os professores, paguem salários dignos e adequados a esse trabalho fundamental, deem as ferramentas necessárias para que desempenhem sua função em alto nível, e os estimulem a aperfeiçoar cada vez mais seus conhecimentos.
A realidade, porém, é outra.
O triste episódio da escola de Novo Hamburgo é revelador da miséria da educação brasileira - se naquele local, reduto das classes média e alta, os alunos são estimulados a achar que na vida é mais importante cursar uma faculdade para, posteriormente, ganhar um bom dinheiro, e não ser portador de valores civilizatórios, o que dizer de milhares de outras espalhadas pelo país, a maioria quase à míngua, sobrevivendo com parcos recursos financeiros e humanos?
A situação é praticamente irremediável.
Afinal, o atual ministro da Educação não sabe nem conjugar o verbo haver. (Carlos Motta)
Golpe arrebenta com pequenas empresas
junio 6, 2017 16:05As pequenas empresas, responsáveis por metade dos empregos industriais, têm sido as mais afetadas pela crise, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com acesso restrito ao crédito e menos reservas financeiras para suportar a queda da demanda, elas têm mais dificuldade de se recuperar da recessão provocada pelo movimento golpista que tirou Dilma Rousseff da Presidência da República.
O estudo mostra que as indústrias de pequeno porte têm obtido indicadores piores que as de grande porte desde 2015. Os números foram obtidos com base na Sondagem Industrial, pesquisa mensal divulgada pela CNI, que revela as expectativas e as decisões dos empresários da indústria.
Medida de 0 a 100 pontos, a Sondagem Industrial tem uma linha de corte de 50 pontos, que indica estabilidade. A pesquisa indica cenário negativo abaixo desse valor e perspectivas favoráveis acima desse nível. Com a intensificação da crise econômica, logo depois que os golpistas passaram a tramar contra o governo Dilma, toda a indústria passou a registrar indicadores abaixo de 50 pontos, mas as pequenas empresas sempre ficaram atrás das grandes.
Entre 2015 e 2017, os indicadores de produção e de número de empregados têm oscilado em torno de 40 pontos, diante de 45 pontos das grandes indústrias. Em relação à expectativa de demanda, as pequenas empresas oscilaram em torno de 46 pontos. As indústrias de maior porte registraram 49 pontos, ainda pessimista, mas próximo da estabilidade. Os números foram obtidos retirando-se a mediana (valor central em torno do qual um indicador oscila) da Sondagem Industrial.
As disparidades são maiores nos indicadores que refletem as finanças das empresas. Nos últimos dois anos e meio, o indicador de situação financeira (avaliação do empresário sobre as finanças da companhia) tem variado em torno de 34 pontos para as pequenas indústrias, contra 43 para as grandes companhias. No acesso ao crédito, a pontuação tem oscilado em torno de 27,5 pontos para as menores empresas e 33,5 para as maiores.
Em relação à utilização da capacidade instalada, o levantamento mostra maior ociosidade nas pequenas indústrias. A mediana para as empresas de menor porte corresponde a 58% de utilização do maquinário, contra 70% para as de maior porte. Em abril, as indústrias menores utilizavam 57% da capacidade instalada, contra 67% registrados nas grandes fábricas.
Segundo a CNI, a melhoria do acesso ao crédito, a desburocratização e a melhoria do ambiente de negócios representam os principais caminhos para recuperar a atividade da indústria, principalmente das de menor porte. A entidade aponta, como principais dificuldades, taxas de juros elevadas e exigência de garantias reais – bens que podem ser tomados pelo banco em caso de calote.
De acordo com a CNI, no ano passado, apenas 20% das pequenas empresas conseguiram contratar uma nova linha de crédito, 40% renovaram uma linha antiga e 40% das pequenas empresas não conseguiram contratar nem renovar crédito em 2016. Coincidentemente, nesse ano o BNDES, maior banco de fomento do país, passou para a direção dos golpistas.
Para a Confederação Nacional da Indústria, a falta de crédito impede o acesso ao capital de giro, causa atraso no pagamento de fornecedores, perda de oportunidades de negócio, atraso no pagamento de tributos e necessidade de renegociação de prazos para pagamento de credores.
Pobre trabalha três meses a mais que rico para pagar impostos
junio 6, 2017 15:48Marcelo P. F. Manzano
Embora haja importantes considerações a respeito da metodologia de cálculo utilizada pelo IBPT (por exemplo, eles estimam que os impostos correspondem a 41,8% do PIB, quando segundo a Receita Federal nossa carga tributária em 2015 foi de 32,7%), vale lembrar que no Brasil há uma enorme desigualdade tributária. Ela favorece os ricos e sobrecarrega os pobres, portanto precisa ser considerada quando se quer tratar de um assunto sério como esse.
Ocorre que, como neste país jabuticaba os impostos sobre a renda são baixos, sobre os ganhos de capital são quase nulos e sobre os bens de consumo são elevadíssimos, no fim das contas quem mais contribui com o pagamento de impostos são os mais pobres, justamente porque gastam a maior parte de seus rendimentos com bens de consumo, apinhados de tributos.
Por conta disso, quando se refaz aquele mesmo exercício de cálculo de dias trabalhados dedicados ao pagamento de impostos, mas são consideradas as diferentes faixas de rendimento familiar (veja gráfico), o que se percebe é que, no Brasil, os estratos sociais de menor renda trabalham muitíssimo mais para pagar tributos.
Na verdade, as pessoas que vivem em famílias que ganham em média até R$ 1.874 por mês trabalham 6,5 meses para contribuir com as receitas públicas, isto é, 91 dias a mais por ano (três meses!) do que os membros das famílias que ganham mais de R$ 28.110 por mês, as quais na verdade dedicam apenas 3,5 meses de seus rendimentos anuais para pagamento de impostos.
Portanto, se há algo a denunciar, é o caráter estupidamente regressivo do nosso sistema tributário, sobre o qual o IBPT faz enorme silêncio. Por que não começar com uma megacampanha, um painel de led colorido na Avenida Paulista, um gigantesco urubu inflável, sugerindo o aumento dos tributos sobre ganhos de capital em troca de uma redução dos impostos sobre o consumo? (Fundação Perseu Abramo)