Chorinho, parte do Brasil que deu certo, ganha o mundo
October 9, 2017 9:21Marieta Cazarré
(Agência Brasil, de Lisboa)
O choro, ou chorinho, como é conhecido o tradicional gênero musical brasileiro, tem ganhado espaço e reconhecimento não apenas na Europa, mas em muitos países mundo afora. Esta semana, o grupo brasiliense Reco do Bandolim e Choro Livre está em Portugal, fazendo apresentações com um repertório que inclui compositores clássicos como Ary Barroso e Pixinguinha.
Reco do Bandolim, bandolinista e fundador da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, em Brasília, disse que foi recebido com emoção e entusiasmo pelo público português.
“Eu fiquei impressionado com a reação explosiva das pessoas quando ouvem o choro. A identidade é indiscutível. A sensação que temos é que isso está um pouquinho no DNA deles [dos portugueses] também. Há uma troca, uma sinergia fantástica. Na verdade, o choro começa como uma maneira de tocar os gêneros que vinham da Europa. Os xotes, a mazurca. Aos poucos, os grandes compositores brasileiros, Henrique Alves Mesquita, Joaquim Antônio da Silva Calado, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazaré e Pixinguinha, finalmente, foi quem deram forma ao choro”, disse.
Reco do Bandolim, que também participou da criação do Clube do Choro em Brasília, em 1978, ressalta que a influência da música portuguesa no Brasil, principalmente do fado, “deixou na nossa alma um traço de certa melancolia, de nostalgia, que está muito presente no choro, no choro mais romântico, chorado, como a gente fala”.
O músico avalia que, com a mistura de influências negras, europeias e indígenas no Brasil, o choro conseguiu encontrar seu caminho genuíno e se fixar como um “gênero brasileiríssimo”.
“Tem a coisa da nostalgia [portuguesa], mas tem sobretudo a coisa da alegria, da sensualidade, da alegria do nosso povo. Tem similaridades, mas tem todas as suas diferenças. Aliás, eu acho que diante dessa globalização que a gente vive no mundo, que democratiza a informação e a cultura, nós precisamos delimitar nosso território cultural. Assim como se tem o fado em Portugal, no Brasil a gente tem o choro que é gênero brasileiríssimo, que fala muito do nosso perfil, da nossa alma profunda”, afirma Reco.
Integrante do Choro Livre, Henrique Neto afirma que o repertório escolhido para os shows no exterior sempre privilegiam compositores que falem do Brasil e buscam fazer um painel geral dos ritmos e estilos. “A gente toca forró, choro, samba choro, valsa, frevo. Procuramos dar uma noção bem ampla do Brasil, com músicas tocadas na linguagem do choro. Tocamos Aquarela do Brasil, Brasileirinho... alguns choros mais conhecidos e outros nem tão conhecidos, para mostrar que a música está viva e se renovando sempre.”
Filho de Reco, o jovem violonista, de 31 anos, veio a Portugal para fazer um mestrado na cidade de Aveiro e seguirá na Europa pelos próximos meses. Ele conta que, entre os projetos atuais, está o lançamento de um manual de choro, feito sob coordenação dele, e que se propõe a ensinar a linguagem do estilo musical para profissionais e amadores.
“A gente tem viajado muito com o grupo Choro Livre e agora com o manual, que é um material super importante para divulgar essa música, para facilitar o aprendizado, e é bilíngue. Vem um CD de áudio, com 134 áudios, que vai possibilitar uma maior propagação da música”, afirma.
Para Henrique, o choro tem conquistado um grande espaço nos últimos anos devido ao trabalho e à qualidade dos músicos brasileiros. Ele conta que há um interesse crescente em relação ao estilo porque é uma música nova “que ainda não foi descoberta pelo mundo”.
“Ela traz um frescor para os outros estilos. A gente vê que existe esse interesse por músicos de várias vertentes, tanto do jazz quanto do clássico. Na Espanha, por exemplo, também tem clube do choro, em Madri. E os músicos flamencos se interessam bastante. Acho que é um momento importante para a gente propagar o choro e estamos buscando fazer isso”, diz Henrique.
Choro e jazz
Reco do Bandolin explica que, apesar da comparação entre choro e jazz, o movimento musical brasileiro é anterior ao norte-americano.
“Há pessoas que, no passado, faziam a comparação do choro com o jazz, como se o choro fosse o jazz para os brasileiros e vice-versa. Mas há diferenças muito grandes. No jazz, os temas são curtos e os tocadores se notabilizaram pela capacidade de improvisação. Eles expõem um pequeno tema e saem improvisando. O choro é uma música mais complexa, que tem frequentemente três partes com harmonias que não são tão simples. Muitas pessoas acham que tem uma influência de um sobre o outro. Mas o choro antecede o jazz em algumas décadas. No Brasil, começou em 1850. O jazz começa a aparecer em 1910, 1920”, explica.
O grupo Choro Livre, um dos mais tradicionais do Brasil, já teve diversas formações. Há oito anos é composto por Reco do Bandolim (bandolim), Henrique Neto (violão 7 cordas), George Costa (violão 6 cordas), Marcio Marinho (cavaquinho) e Valério Xavier (pandeiro). Os músicos já dividiram palco com grandes nomes da música brasileira, como Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus, Moraes Moreira, Armandinho, Waldir Azevedo, Paulinho da Viola, Hermeto Paschoal, João Donato e Sivuca.
Crise transforma brasileiro em caloteiro
October 6, 2017 9:29Entre os consumidores brasileiros com empréstimos e financiamentos, 34% admitem que houve atrasos ao longo do contrato e 16% dizem estar, no momento, com parcelas pendentes de pagamento, o que totaliza 50% desses consumidores com dificuldades para honrar os compromissos, revela o Indicador de Uso do Crédito de agosto, apurado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
A sondagem mostra ainda que 14% dos entrevistados contraiu algum empréstimo e possui atualmente parcelas a pagar, enquanto 18% têm parcelas de financiamentos pendentes.
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, alerta para o perigo de endividamento. “A inadimplência atinge hoje cerca de 59 milhões de consumidores no Brasil, o que representa quase 40% da população adulta. O contexto de crise econômica, com desemprego elevado e redução da renda das famílias, agrava ainda mais o cenário", diz a economista.
A avaliação do grau de dificuldade para conseguir aprovação em empréstimos e financiamentos mostrou que 44% dos consumidores dizem considerar difícil ou muito difícil a contratação do serviço, enquanto para 18% não é nem fácil nem difícil, e para 15%, fácil ou muito fácil.
Nas lojas, considerando apenas aqueles que tentaram fazer alguma compra parcelada, 63% tiveram o crédito negado, sendo o motivo principal a inadimplência (24%), seguida da renda insuficiente (11%).
Para o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, o cenário de recessão acaba intensificando os cuidados das instituições financeiras no momento de conceder crédito, o que dificulta seu acesso pelo consumidor.
De acordo com a sondagem, em agosto, 58% dos consumidores não recorreram às compras a prazo ou ao empréstimo de recursos, ante 42% que recorreram a pelo menos uma forma de crédito. Como nos meses anteriores, o cartão de crédito foi a modalidade mais utilizada, mencionada por 35% dos consumidores. Aparecem em seguida o cartão de loja/crediário, citado por 13%, o limite do cheque especial (6%), os empréstimos (4%) e, por fim, os financiamentos (3%).
O Indicador de Uso do Crédito registrou 27,2 pontos. O resultado ficou muito próximo da média dos meses anteriores. Quanto mais próximo de 100, maior o número de usuários e de frequência do uso das modalidades.
Entre os usuários do cartão, 39% notaram aumento do valor de sua fatura, ao passo que 26% notaram redução e 31% disseram que o valor permaneceu o mesmo. Ainda de acordo com a sondagem, o valor médio das faturas em agosto foi de R$ 630,59.
Quanto aos produtos e serviços mais comprados com o cartão, itens de primeira necessidade encabeçam a lista das compras: 59% mencionam alimentos em supermercado, seguidos dos itens de farmácia e remédios, citados por 53%, roupas e calçados (32%), combustíveis (32%), roupas, calçados e assessórios (32%) e bares e restaurantes (28%).
O Indicador de Propensão ao Consumo busca medir se o intento dos consumidores é aumentar, diminuir ou manter os seus gastos no mês posterior à pesquisa. Projetando o orçamento para o mês seguinte à coleta dos dados, ou seja, o mês de outubro, a maior parte dos consumidores (59%) pretende cortar gastos, 32% pretende manter o mesmo o nível de gasto e apenas 5% pretendem aumentar o nível de gastos.
Os efeitos da crise se destacam entre as justificativas para os que irão diminuir o consumo: 23% mencionam os altos preços, 17% o desemprego e 8% a redução da renda. Além desses, 11% citam o endividamento e a situação financeira difícil e 9% citam a intenção de fazer reserva financeira. O fato de estar sempre tentando economizar foi mencionado por 22% dos entrevistados.
Desconsiderando-se os itens de supermercado, na lista dos produtos que os consumidores pretendem comprar no mês de outubro, os remédios lideraram (23%), seguido pelas roupas, calçados e acessórios (20%). Em seguida, aparecem as recargas para telefone celular (17%), perfumes e cosméticos (11%), materiais de construção (7%), eletrodomésticos (7%), salão de beleza (6%), artigos de cama, mesa e banho (6%). Bens de maior valor aparecem só ao final da lista, com os smartphones sendo citados por 5%, os carros citados por 3% e casa própria citada por 3%. Destacam-se ainda 25% que não pretendem comprar nenhum dos itens elencados.
Refletindo sobre o estado de suas finanças em setembro, a maior parte dos consumidores (43%) disse estar no zero a zero, isto é, sem sobra nem falta de recursos.
Não é baixo, a propósito, o percentual de consumidores que dizem estar no vermelho, isto é, sem conseguir pagar todas as contas – o percentual chegou a 36%. Apenas 15% disseram estar no azul, sendo que 4% pretendem gastar sua sobra de recursos e 11% pretendem poupar.
Quatro autores esquecidos pelo país dos modismos
October 5, 2017 10:43Carlos Motta
Devorador de livros desde o primeiro que meus olhos de criança avidamente percorreram, o imortal "A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson, tive outro dia a vontade irrefreável de encontrar, entre as pilhas ocultas num armário, algumas obras de determinados autores brasileiros, lidas há um bom tempo, mas que nunca fugiram da memória.
Por fim, não sei quantos minutos depois, lá estavam elas, devidamente separadas de tantas outras de boa e má literatura, que voltaram ao seu semiesquecido lugar: "O Amanuense Belmiro", de Ciro dos Anjos, "Saltimbancos", de Afonso Schmidt, e "O Professor Jeremias", de Leo Vaz, três edições da inesquecível Coleção Saraiva, que ousou, com o Clube do Livro, popularizar a leitura num Brasil que deixava os traços rurais, lá pelos anos 40, 50 e 60 do século passado.
As três são obras de alto nível artístico, embora seus autores sejam hoje praticamente ignorados pela indústria livreira e pelo minúsculo público que a movimenta.
De maneiras distintas, nos dão uma ideia de como era o Brasil de quase um século atrás, de como viviam as pessoas comuns - funcionários públicos, artistas mambembes -, com seus pequenos dramas e aflições, pequenas tragédias que se tornam imensas tal a incapacidade de seus indefesos protagonistas lutarem contra elas, e que os subjugam a uma existência na qual as minúsculas conquistas são celebradas como vitórias magníficas.
Animado pela experiência de reler esses clássicos menosprezados pelos modismos, fui atrás de outro autor do mesmo quilate, que encontrei nesses admiráveis sebos virtuais, Galeão Coutinho, outra estrela da Coleção Saraiva.
E dele li "Vovô Morungaba", obra de prosa ágil, coloquial, cheia de humor, um bom exemplo da literatura picaresca, que, como os outros três, pinta um retrato precioso do Brasil dos anos 1930, e mais especificamente, da São Paulo que iniciava a sua trajetória para se tornar a assustadora e problemática metrópole de hoje.
É uma pena que esses quatro autores - como tantos outros - tenham sido apagados do cenário artístico brasileiro, seguindo a lógica de uma indústria cultural que visa apenas o lucro fácil das estrelas fugazes.
Mas, como se sabe, tudo isso não tem nenhuma importância neste país em que a ignorância é posta num altar e a inteligência é perseguida como inimiga a ser destruída.
Triste Natal: 82% dos comerciantes não farão contratações
October 4, 2017 14:10Levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), indica que oito em cada dez (82%) empresários não contrataram e nem pretendem contratar trabalhadores para este fim de ano, incluindo os temporários e efetivos. Levando em consideração o setor do varejo e serviços, cerca de 51 mil vagas extras deverão ser criadas para o fim do ano.
Entre os empresários que não contrataram e não pretendem contratar novos funcionários, 49% acreditam que a atual equipe conseguirá atender o volume de clientes e não veem necessidade de contratação, seguido pela crença de que o movimento no fim do ano não vai aumentar (18%). Para suprir o aumento natural da demanda dessa época sem novas contratações, 48% acreditam que não precisarão mudar nada na forma de trabalho, uma vez que não haverá aumento significativo da demanda.
Apenas 13% dos empresários consultados manifestaram a intenção de reforçar o quadro de funcionários e, entre eles, 74% pretendem contratar de 1 a 5 funcionários, independentemente de ser efetivo ou temporário – outros 19% desses empresários ainda não sabem quantos funcionário pretendem contratar.
A principal motivação entre os que contrataram ou tem contratações previstas é suprir o aumento da demanda no fim do ano (75%). Quatro em cada dez desses empresários (40%) afirmam que os contratados serão formalizados pela própria empresa, porém 35% afirmam que serão informais e 13% terceirizados. Entre os que contratarão funcionários sem carteira assinada (36%), a principal justificativa é viabilizar a solução de uma necessidade específica para o Natal (39%) dado que o alto custo da carteira registrada poderia atrapalhar as contratações.
Dentre os empresários que necessitam de mão de obra adicional, 54% disseram que farão ou fizeram contratações temporárias e, desses, 56% não têm intenção de efetivar nenhum após o período de fim de ano e 28% pretendem contratar de 1 a 5 colaboradores. Quando comparado a 2016, 22% dos empresários que terão mais mão de obra acreditam que a contratação de funcionários para o final de 2017 será menor, 18% maior e 48% igual. Uma das justificativas para o número menor ou igual de contratações é o não aumento significativo do movimento de clientes no final deste ano (35%).
Se o número de contratações para o final do ano tende a ser baixo, por outro lado a expectativa é que o volume de vendas deve ter um incremento de 1%, na visão dos empresários.
Os principais motivos alegados pelos empresários para as expectativas de vendas em 2017 serem melhores que 2016 são as vendas acima do esperado em outras datas comemorativas de 2017 (20%) e as mudanças na política e no cenário econômico (19%). Por outro lado, as mesmas mudanças na política e no cenário econômico (33%) e o desemprego (29%) são também as principais justificativas dos empresários que estão pessimistas com as vendas neste final de ano.
Os bons tempos voltaram
October 4, 2017 9:33Ataques de movimentos neofascistas e de religiosos fundamentalistas a exposições de arte.
Juízes proibindo peças teatrais e exposições artísticas.
Parlamentares fazendo apologia à tortura.
Suicídio de um reitor que não suportou a humilhação de ter sido preso sem nenhum motivo e impedido de frequentar a universidade que dirigia.
Perseguição implacável, por meio do Judiciário e Ministério Público, a um partido político e às suas principais lideranças, principalmente um ex-presidente da República.
Instituição da prisão preventiva como forma de arrancar "confissões" e delações.
Aumento da repressão a atos públicos de oposição ao governo golpista.
Multiplicação de casos de racismo, preconceito, intolerância religiosa, incitação ao crime e xenofobia nas redes sociais, sem nenhuma punição aos seus autores.
Proliferação de sites especializados em notícias falsas.
E muito mais.
O Brasil de hoje faz inveja ao dos anos do "Ame-o ou deixe-o".
As almas dos presidentes ditadores estão cada vez mais leves.
Os bons tempos voltaram.