O povo também quer comer o biscoito fino da cultura
Dicembre 12, 2017 10:14Carlos Motta
O Brasil é um país de terceiro mundo com qualidade musical de primeiro mundo, diz a jornalista Maria Amélia Rocha Lopes. "Mas vivemos tempos nefastos. Lemos pouco, vemos muita televisão. O dinheiro é curto e, se for preciso cortar no orçamento familiar, será no destinado à cultura. Não estamos conseguindo ampliar o acesso a uma vida cultural intensa, formadora, que amplie horizontes", acrescenta.
Maria Amélia faz, porém, uma ressalva importante: a população também gosta do biscoito fino. "Basta ver a frequência aos espetáculos ao ar livre, gratuitos. Ou aos shows de espaços como o Sesc, por exemplo, que vende ingressos a preços populares e oferece grande qualidade."
O golpe que afastou Dilma Rousseff da presidência da República, diz, "a escola sem partido, o conservadorismo brutal que toma conta do país", tudo isso, explica, "faz piorar e muito esta situação - não há paticamente orçamento para cultura e os golpistas não tem a menor intenção de levar cultura às massas".
A opinião de Maria Amélia tem muito peso.
Afinal, ela é uma das mais experientes jornalistas da área cultural do país, crítica musical respeitada, e, nos anos em que trabalhou, entre outros veículos, no saudoso "Jornal da Tarde" e no programa "Metrópolis", da TV Cultura, conheceu as mais destacadas personalidades brasileiras do setor artístico.
Nesta entrevista, Maria Amélia fala sobre o atual cenário da música popular brasileira, o jornalismo cultural que é feito hoje no Brasil, as novas formas de divulgação do trabalho dos artistas e a atuação do Estado na área da cultura e da arte.
Nesse último tópico, ela é incisiva: "Falta tudo para o Estado fazer. De jeito algum ele vem atuando de forma eficiente. A Lei Rouanet, ao contrário do que a maioria desinformada espalha, não significa o governo sustentando vagabundo. Ela permite que empresas invistam parte do imposto de renda devido, em cultura. O problema é que as empresas só querem bancar o que lhes agrada", diz. E pergunta: "Quem quer financiar arte contestatória, espetáculos de vanguarda, artistas ainda não consagrados?"
Segundo Clichê - Como você vê o atual cenário da música popular brasileira? Falta qualidade?
Maria Amélia Rocha Lopes - Não creio que falte qualidade. O que falta é divulgação, espaço para a música consistente nos meios de comunicação de massa. Estamos vivendo a época da falsa sensação de identidade universal – parece que o país inteiro ama duplas, sertanejas ou não, e isso não é verdade. Segundo Adorno e Horkheimer, toda a cultura massificada é idêntica, causando uma aparente sensação de integração. A indústria cultural uniformiza e comercializa a arte em série. Não pretende dar espaço para individualidades e questionamentos. E vamos nós convivendo com esses trinados vocais difíceis de suportar.
Segundo Clichê - Com a queda brutal na venda de CDs, como os artistas estão se virando? A internet é o futuro para os artistas?
Maria Amélia - Acho que os artistas mais veteranos demoraram um pouco mais a perceber que o mercado da música havia mudado, que ninguém mais venderia milhões de CDs, que a música estava “solta no ar”, digital. Demoraram a se dar conta de que o melhor a fazer era lançar seu trabalho nas redes, esperar que se tornasse conhecido, viralizasse e, a partir daí, despertasse no público a vontade de ver o show daquelas canções, ao vivo. Tempos atrás os músicos lançavam seus CDs, vendiam bastante, eram valorizados por suas gravadoras e assinavam bons contratos. Poderiam ou não fazer shows. Tinham tempo. Isso se derreteu. Creio que a maioria deve estar vivendo de views na internet, de direitos autorais e shows.
Segundo Clichê - O Estado vem atuando de forma eficiente na área artístico-cultural? O que falta fazer?
Maria Amélia - Falta tudo. E, de jeito algum vem atuando de forma eficiente. Bem ao contrário. De um lado temos a Lei Rouanet que, ao contrário do que a maioria desinformada espalha, não significa o governo sustentando vagabundo. A lei permite que empresas invistam parte do imposto de renda devido, em cultura. O problema é que as empresas só querem bancar o que lhes agrada. Quem quer financiar arte contestatória, espetáculos de vanguarda, artistas ainda não consagrados? O Santander tentou lá no sul do país, mas voltou atrás correndo quando os inomináveis integrantes do MBL tomaram a exposição Queermuseu de assalto, enxergando sandices como incentivo à pedofilia, discussão de gênero, zoofilia. Talvez o momento mais interessante tenha acontecido durante a gestão de Gilberto Gil à frente do ministério com a criação dos Pontos de Cultura, uma inversão do que até então conhecíamos, com a questão cultural crescendo de baixo para cima. Até vou reproduzir um pequeno texto sobre o tema, que acho que vale a pena:
Trata-se de uma política cultural que, ao ganhar escala e articulação com programas sociais do governo e de outros ministérios, pode partir da Cultura para fazer a disputa simbólica e econômica na base da sociedade.
Esta base social também se amplia para outros segmentos sociais, alcançando os setores médios, em especial a juventude urbana, periférica, universitária, jovens artistas, novos arranjos econômicos e produtivos, toda uma nova economia que vem sendo inventada e experimentada daqueles que encontram no fazer cultural uma alternativa de trabalho, vida e inserção social.
Ficou no sonho.
Segundo Clichê - Por que a música instrumental brasileira é mais apreciada fora do país do que aqui?
Maria Amélia - Somos um país de terceiro mundo com uma qualidade musical de primeiro mundo. Mas vivemos tempos nefastos. Lemos pouco, vemos muita televisão. O dinheiro é curto e, se for preciso cortar no orçamento familiar, será no destinado à cultura. Não estamos conseguindo ampliar o acesso a uma vida cultural intensa, formadora, que amplie horizontes e nos prepare, por exemplo, para a sofisticação da música instrumental. Mas a população gosta também do biscoito fino. Basta ver a frequência aos espetáculos ao ar livre, gratuitos. Ou aos shows de espaços como o Sesc, por exemplo, que vende ingressos a preços populares e oferece grande qualidade. O golpe, a escola sem partido, o conservadorismo brutal que toma conta do país, tudo faz piorar e muito esta situação. Não há praticamente orçamento para cultura e os golpistas não tem a menor intenção de levar cultura às massas.
Segundo Clichê - Quem você destaca, entre os artistas mais novos, pela qualidade de seu trabalho? Quem merece tocar mais no rádio?
Maria Amélia - Estou ouvindo uma cantora baiana que me surpreendeu. Chama-se Jurema, é compositora e lançou há dois anos CD "Mestiça". Muito bom! E também o CD "Casa", do paulistano Tiago Frúgoli. O disco tem o baixista Noa Stroeter, o baterista João Fideles, além de Valério, Marcelo Miranda e Vitor Cabral. Música instrumental de gente muito jovem e imensamente talentosa.
Segundo Clichê - A geração dos festivais dos anos 60 teve sucessores? O que você acha do trabalho dessa turma hoje?
Maria Amélia - A geração dos festivais dos anos 60 foi grande, enorme. Escreveu e escreve a história da música popular brasileira até hoje. Eles conseguiram se reinventar, continuam produtivos, talvez não com o volume de antigamente, mas ainda com muita qualidade. Penso que existam ótimos compositores hoje, cantores nem tanto, mas acho que é preciso o tal do distanciamento histórico para medir o tamanho da nova geração.
Segundo Clichê - E sobre a imprensa especializada: há, nesta geração de jornalistas, críticos musicais, repórteres que entendem do assunto, ou vivemos a era dos "press releases"?
Maria Amélia - A imprensa, de maneira geral, caiu de qualidade. Nas redações, os mais experientes e, portanto, com melhor salário, foram substituídos por gente nova e disposta a ganhar o que oferecerem. É provável que existam talentos, mas não os tenho visto. Observando à distância, diria que você tem razão: vivemos a era dos press releases. Com a nova forma de fazer e distribuir música, os críticos perderam um pouco a razão de ser. A impressão que tenho é de que ninguém está muito interessado na opinião do outro sobre seu próprio trabalho. Mesmo que este outro tenha as ferramentas capazes de orientar, apontar defeitos e ressaltar virtudes, dar um norte, enfim.
Segundo Clichê - Sobre você: quem são seus artistas, brasileiros e de fora, preferidos? Você tem um gênero musical de preferência? Como se interessou profissionalmente por essa área? Onde você tem trabalhado atualmente?
Maria Amélia - Amo a música brasileira – de Donga e Pixinguinha a Emicida, passando por tudo o que tem no meio disso. Ando com muita saudade de grandes cantores e cantoras. Há boas novatas, mas poucas com personalidade marcante. Então, tenho garimpado coisas antigas de Gal, Elis, Bethânia (irresistível nos sambas do Recôncavo). Tenho ouvido muito Milton Nascimento, Gil, sempre, Caetano, Paulinho da Viola, Djavan, Chico, Tom, João Gilberto. Dificilmente vou dormir sem ouvir aqui no computador um pouco de Billie Holiday – ela canta "Speak Low", numa versão de 1952, que ouço praticamente todos os dias. Nina Simone, Ella e Sarah, também “sempre me visitam”. Não passo sem Beatles. Adoro o "Boogie Naipe", do Mano Brown. Gosto de Cassiano, Tim, Hyldon, Bob Marley. E tenho certeza absoluta de que estou esquecendo outros igualmente queridos. Música para mim é estado de espírito. Tem dias que só o "Acabou Chorare", dos Novos Baiano, resolve. Ou um Pablo Casals... Minha família sempre foi muito musical. Conheci o rock e a bossa-nova com meus tios. Um deles tocava bateria num trio de bossa. Minha mãe cantava muito bem, amava Orlando Silva e me passou esse gosto. Comecei no jornalismo na área de Variedades. Virar repórter especial e crítica de música foi quase um caminho natural. Atualmente, sou roteirista e apresentadora do" Bom para Todos", da TVT, um programa de serviço e informação, com temas que passam por saúde, educação, cultura, trabalho, cidadania e muito mais. Pode ser visto na página do http://facebook.com/redetvt .
Viemos dizer bem alto que a injustiça dói
Dicembre 11, 2017 12:57Carlos Motta
Uma das músicas mais tocadas e cantadas no carnaval pernambucano é "Madeira que Cupim não Rói", do mestre Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa, nascido em Surubim, 28 de outubro de 1904 e falecido no Recife, 31 de dezembro de 1997).
É uma marcha-frevo de melodia simples, mas emocionante, como várias composições de Capiba.
Não sei por que, mas toda vez que a escuto, as comportas de alguma parte de meu cérebro se rompem e as lágrimas insistem em escorrer dos meus olhos.
"Madeira que Cupim Não Rói" foi feita como um desabafo pelo fato de o bloco carnavalesco de Capiba, o Madeira de Rosarinho, ter perdido o concurso para o Batutas de São José, em 1963.
O mestre, inconformado, compôs a música, que, para surpresa de todos, foi apresentada pelo bloco no desfile das vencedoras.
A letra é poesia pura, e se pensarmos bem, reflete também, para muitos, o sentimento de se viver neste Brasil Novo, onde a injustiça cresce a cada dia, alimentada por uma porção da sociedade que não se conforma em ver uma ínfima parte de seus imensos privilégios serem trocados por uma vida um pouco melhor para milhões de pessoas para as quais a esperança sempre foi um sonho distante.
O cantor do vídeo é outro grande artista pernambucano, Claudionor Germano.
Coisa linda!
Madeira do rosarinho
Venha à cidade sua fama mostrar
E traz, com o seu pessoal, seu estandarte tão original
Não vem pra fazer barulho
Vem só dizer
E com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão
E se aqui estamos cantando esta canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto
Que a injustiça dói
Nós somos madeira de lei que cupim não rói.
Projeto social de ensino musical do Rio quer atingir todo o Brasil
Dicembre 11, 2017 10:01A Oficina Percussão da Maré, que promove a inclusão cultural de crianças e jovens da comunidade da Maré, na zona norte do Rio, por meio da música no contraturno escolar, começará a ser ampliada para todo o país, no próximo ano, chegando também à África. A base do projeto foi um trabalho social iniciado pelo músico Abel Duerê, de Angola, com famílias de angolanos residentes na Vila do Pinheiro, naquela comunidade. Mais de 300 famílias chegaram a ser cadastradas, informou o músico.
Em 2018, Duerê pretende filmar as aulas “e pegar o Brasil todo". Estamos muito empolgados porque a meninada tem dado um prazer muito grande de ensinar. São muito atentos, dedicados, com um talento incrível. Há muitos músicos ali em potencial.” Atualmente, o projeto tem 40 bolsistas que têm compromisso com a percussão. Para isso, têm de ir à escola, ter bom comportamento, assiduidade nas aulas de percussão. Nas últimas aulas, o oficina chegou a ter a presença de 80 a 90 crianças.
O projeto Oficina Percussão da Maré, de Duerê e dos percussionistas Laudir de Oliveira, falecido este ano, e João Ayres, começou há dez anos, com 15 crianças inscritas. Depois que um dos meninos participou da gravação de um CD de Abel Duerê chamado Meu Samba e Teu Samba, ele disse que não teve coragem de parar e decidiu dar seguimento ao projeto. O projeto atende a crianças e jovens na faixa de 12 a 20 anos. A média por aula oscila entre 60 e 80 pessoas. Nesses dez anos, o projeto beneficiou em torno de 300 crianças.
Para 2018, Abel Duerê está formando um grupo chamado Os Candengues da Maré, que em angolano significa jovens, meninos. “É um grupo profissional para acompanhar artistas que venham fazer show no Rio”.
Expansão
Duerê está há três anos tentando implantar o projeto nas cidades de Rio Claro e Campinas, em São Paulo, mas encontra dificuldades de orçamento. “Mas, sem dúvida nenhuma, a gente tem condições de fazer isso em vários Estados, tranquilamente.” Já que financeiramente ele não conseguiu viabilizar a ampliação do projeto até agora, a proposta é, a partir de janeiro, transmitir as aulas, todas as terças-feiras, pela internet, ao vivo, com reprises diárias em todo o Brasil e, inclusive, para Angola.
O baterista do Barão Vermelho, Guto Goffi, da escola de música Macaratu Brasil, se aliou ao projeto, onde está há cinco anos, desde que foi convidado para fazer a coordenação pedagógica. “Pensamos em criar um método de musicalização a partir da percussão, estudando divisão rítmica, leitura e a técnica de alguns instrumentos de percussão. No caso da Maré, são instrumentos utilizados na batucada das escolas de samba e trabalhamos com os ritmos populares brasileiros, geralmente ritmos de cortejo, como o samba, o maracatu, a marcha, Ijexá, funk e outras batidas”, disse Goffi.
Ele faz com que todas as crianças e adolescentes participem desde a primeira aula, porque considera que o sucesso da oficina é levar o aluno a gostar de aprender mais, a cada aula. “A formação não é profissional, embora percebamos que alguns desses alunos poderão seguir na carreira de músico. Isso depende muito de quanto tempo por dia o aluno bastante interessado vai se dedicar à música."
Cidadania
O baterista do Barão Vermelho destacou que como proposta de cidadania, a atividade é muito importante nessa comunidade. “É disso que o Rio de Janeiro e o Brasil precisam para crescer como cidade e país. O Brasil, mais do que nunca, necessita de educação e cultura, para sair da vala em que está metido.”
Para o novo ano, o projeto vai acrescentar estudo de harmonia, com turmas de flauta doce e cavaquinho, além de percussão, visando a enriquecer as apresentações dos alunos. O novo formato deverá ser iniciado a partir de 9 de janeiro. As inscrições para a turma de 2018 começaram em novembro passado. Abel Duerê disse ainda que em 2018 serão escolhidos quatro melhores alunos que ganharão bolsa para aprender a tocar bateria.
Duerê mora no interior de São Paulo, mas vai de 15 em 15 dias à Maré, fazendo a coordenação geral do projeto. (Agência Brasil)
Festival da Nacional FM dá prêmio de melhor intérprete a Márcia Tauil
Dicembre 11, 2017 9:47A 9ª edição do Festival de Música da Nacional FM de Brasília terminou nesse fim de semana com dois shows no Teatro da Caixa Cultural. Foram mais de 200 composições inscritas. As 12 finalistas foram apresentadas no sábado (9) e as vencedoras voltaram ao palco no domingo (10). A cantora Márcia Tauil ganhou o prêmio de melhor intérprete com a música "Bagunça de Balaio".
Ela celebra os frutos da divulgação do trabalho pela Nacional FM de Brasília. “As pessoas chegaram a mim, as pessoas entraram no Face falando que ouviram a canção na rádio. E junta muita gente boa - além dos concorrentes, as pessoas que estão na banda de apoio. É uma reunião de talentos”, disse Márcia.
Outra vencedora do festival da Nacional FM foi a cantora e compositora Nathália Lima, que levou os prêmios de melhor arranjo e melhor música com letra por "Festa do Destino", composta em parceria com Letícia Fialho.
“Eu vi a Letícia Fialho em um festival e isso me incentivou a também compor mais para estar aqui. Essa movimentação vai acontecendo. Com certeza, outras meninas viram a gente, me viram, viram a Márcia, e alguma coisa aflorou na cabeça delas para compor e também estar aqui no ano que vem e no outro. É o festival que a gente tem em Brasília que mais representa o pessoal da música.”
O violonista Fabiano Borges interpretou a música "Por El Caminito" e conquistou a categoria melhor intérprete instrumental. O prêmio de melhor música instrumental ficou com a banda Protofonia, por "Antropofagia Moderna". Rubens Negrão recebeu o prêmio de melhor letra com a música "Esquece e Passa". A canção mais votada na internet foi "180 graus", do instrumentista e compositor Xá. E os fãs da banda Malicah, que apresentou a música "Eixo Torto", deram ao grupo o prêmio de torcida mais animada. (Agência Brasil)
Confira as canções finalistas no site www.radios.ebc.com.br/festivaldemusica.
Edvaldo Santana mostra o que sabe fazer no palco em novo álbum
Dicembre 11, 2017 9:37O cantor e compositor Edvaldo Santana e sua banda estão lançando um novo álbum, apenas com distribuição digital pela Tratore. Gravado ao vivo no teatro do Sesc Pompéia, o disco tem em seu repertório canções do CD "Só vou Chegar Mais Tarde" e músicas representativas na carreira do artista.
Com o auxílio de uma big band, os diversos ritmos e peculiaridades da obra de Edvaldo Santana são potencializados e realçados por meio de acentuadas fusões sonoras infiltradas no samba, repente, salsa, xote, jazz, country, dixieland, blues e reggae, sintonizados por uma poesia urbana da periferia, que reflete os conflitos sociais e as dores e alegrias do ser humano.
Utilizando, pela primeira vez, uma formação com um naipe de metais, uma nova perspectiva sonora se apresenta no trabalho. É possivel sentir a importância dos metais nos arranjos de “Gelo no Joelho", "Só vou Chegar mais Tarde", "40", "Cabral Gagarin e Bill Gates”, assim como a importância da cozinha rítmica em “Quem é Que Não Quer ser Feliz", "Samba de Trem" e "Samba do Japa”, canções que ganharam releituras consistentes.
As incursões da gaita encontram as congas em “Arte Depura”, onde "Light My Fire" e Herman Hesse, gingam com latinidade, mas também viram canção; em "Sou da Quebrada", na qual o xote e o reggae assumem um namoro antigo; e em “Ruas de São Miguel”, onde sola e se incorpora aos slides da guitarra.
A base, formada por bateria, baixo, teclado, guitarra, violão e percussão, movimenta a dinâmica de todo álbum, conduzindo com precisão e desenvoltura as diferentes células rítmicas, harmônicas e melódicas. Nas músicas “Predicado e Dom”, os músicos ficam com mais liberdade de execução.
A energia de uma gravação ao vivo está muito ligada ao astral da obra e do público que esteja presente, quando os sentimentos se afloram e encontram ressonância, criando um ambiente lúdico e solidário. Assim, as interpretações ganham em intensidade e criação. Nesse seu último disco se percebe a liberdade com que os músicos e Edvaldo conduzem as performances. Isso traz uma informalidade para a execução e como consequência um álbum bem interessante para ouvir refletir e dançar.
Faixas
1 - Só vou chegar mais tarde – Edvaldo Santana
2 - 40 - Edvaldo Santana
3 – Arte Depura – Edvaldo Santana
4 – Ruas de São Miguel – Edvaldo Santana e Roberto Claudino
5 – Predicado – Edvaldo Santana
6 – Cabral, Gagarin e Bill Gates – Edvaldo Santana e Ademir Assunção
7 – O Retorno do Cangaço – Edvaldo Santana
8 – Sou da Quebrada – Edvaldo Santana
9 - Dom – Edvaldo Santana
10 – Gelo no Joelho – Edvaldo Santana e Luiz Waack
11 – Samba de Trem – Edvaldo Santana, Artenio Fonseca e Mauro Paes
12 – Samba do Japa – Edvaldo Santana e Ademir Assunção
13 – Quem é que não quer ser feliz – Edvaldo Santana
Onde ouvir o disco
Tratore: http://www.tratore.com.br/um_cd.php?cod=7899989920309
Deezer: http://www.deezer.com/br/album/53003212
Google Play: https://play.google.com/store/music/album?id=Bkaxrpuo2aovbbjmciryxlxzopy
iTunes: https://itunes.apple.com/us/album/id1321608240
Spotify: https://open.spotify.com/album/5U7hLaorPohBbm3EpYjJBs