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Segundo Clichê

Febbraio 27, 2017 15:48 , by Blogoosfero - | 1 person following this article.

O jogador boquirroto e a adoração do fascismo

Maggio 2, 2017 10:55, by segundo clichê


O jogador do Palmeiras Felipe Melo saiu jovem do Brasil e rodou por vários clubes europeus, tendo retornado ao seu país há poucos meses. Já se meteu em várias confusões nos campos, o que não o impediu de até integrar a seleção brasileira. Outra característica de sua personalidade é sua língua solta: boquirroto, quase sempre confunde sinceridade com ofensas.

Melo tem salário de cerca de R$ 500 mil mensais e, portanto, ocupa o topo da pirâmide social, faz parte do 1% dos mais ricos, a elite econômica do Brasil, essa que nada de braçadas na crise que já desempregou 14 milhões de trabalhadores. 


Nascido na pobreza, ele tem pouca escolaridade, e seu sucesso pode servir como propaganda da tão propalada "meritocracia", o método celebrado pelos neoliberais como o mais justo para se destacar em nossa sociedade.

Certa vez, numa entrevista a uma emissora italiana de televisão, Melo resumiu sua vida:


- Se eu não fosse jogador, teria sido um assassino. Vivia em uma das favelas mais perigosas e ali havia drogas e armas. Deixei aquela vida para seguir meu sonho. Às vezes ia ao treinamento e, na volta, algum amigo meu estava morto. Tinha que dizer sim ao futebol ou a uma vida ruim. E disse sim ao futebol e a uma vida diferente.

Como se vê, Melo é um sujeito determinado e que sabe o que quer.

E talvez por ter sido criado num ambiente violento, de miséria e sujeira, onde certamente 99,9% de seus amigos de infância não conseguiram se livrar da pobreza, ele vê o mundo em preto e branco, dividido entre aqueles que, como ele, por vários motivos, progrediram, e os que ficaram no mesmo lugar, empacados, sem perspectiva nenhuma a não ser sobreviver no dia a dia.

Nessa segunda-feira, dia do trabalhador, Melo, em mais um de seus ataques de boquirrotismo, expressou aquilo que pensa parcela da população sobre a data e sobre o presente e o futuro do Brasil, de forma seca e crua, como é de seu feitio:

- Posso falar uma coisinha? Deus abençoe todos os trabalhadores e pau nos vagabundos. Bolsonaro neles!

É isso.

É esse o retrato do Brasil de hoje: um país dividido entre os "trabalhadores" e os "vagabundos" e cuja esperança de dias melhores, para muitos, reside num político de extrema-direita sem nenhum programa de governo a não ser a apologia da violência como meio de resolver todos os problemas.

Felipe Melo não poderia ter sido mais didático no resumo de como o fascismo se alastrou no corpo social do país.

E de como é necessário parar de encará-lo como apenas um sintoma de uma sociedade doente e não uma das causas dessa doença. (Carlos Motta)



Flores não mancham blusas de cashmere

Maggio 1, 2017 11:26, by segundo clichê


As fotos do prefeito paulistano jogando no chão, com expressão de fúria, as flores que uma ciclista lhe ofereceu, em homenagem aos "mortos nas marginais", referência ao aumento de acidentes naquelas vias depois de decretada a ampliação do limite de velocidade, revelam com exatidão a personalidade do "João Trabalhador", como o misto de empresário, apresentador de TV, político e "gestor", gosta de se denominar.


Fosse ele tão inteligente como lhe atribuem seus admiradores, sua reação teria sido diferente. Poderia, como homem civilizado que pretende ser, simplesmente agradecer o gesto da cicloativista e dizer, por exemplo, que as flores representavam muito mais o seu esforço para tornar a cidade linda, slogan de um de seus programas de governo mais visíveis, do que qualquer outra coisa.

Haveria, é claro, partindo de alguém de uma inteligência tão superior, dezenas de outras respostas ao ato da ciclista que tornariam a sua manifestação irrelevante do ponto de vista de propaganda negativa - é importante lembrar que o João Trabalhador é tido e havido como um gênio do marketing.

Mas não foi isso o que ocorreu.

O gesto de, primeiro aceitar as flores, achando que elas fossem lhe homenagear, e depois, furiosamente, jogá-las no chão, depois que soube de sua simbologia, desnudou por completo o seu caráter, ou seu temperamento, ou, para simplificar, o João sem a máscara de trabalhador.

As justificativas de sua assessoria para o seu gesto, em vez de amenizar o simbolismo das imagens, apenas reforçaram a percepção de que o João Trabalhador é, na verdade, o João Mimado, o João Que Não Pode Ser Contrariado, o João Que Não Aceita Críticas - o João Valentão da belíssima música de Dorival Caymmi, que é "brigão", "dá bofetão", "a todos intimida", desde que esteja acompanhado de guarda-costas.

"O prefeito apenas reagiu a um gesto invasivo e desnecessário", escreveram seus assessores.

Bem, se ele acha que alguém lhe oferecer flores, seja por qual motivo for, é algo invasivo e desnecessário, o que esperar dele quando esses símbolos de afeto, beleza e carinho forem trocados por vegetais que expressem menos sentimentos amorosos e mais reações de desprezo e cólera, como, para exemplificar, tomates podres?

Flores, quase sempre, não conseguem manchar blusas de cashmere.

Já tomates podres... (Carlos Motta)



Fim de contribuição sindical fortalece poder do capital

Maggio 1, 2017 9:48, by segundo clichê


Antônio Augusto de Queiroz

Historicamente, as entidades sindicais patronais, inclusive as federações e confederações representativas das categorias econômicas, eram a favor da contribuição sindical compulsória. Recentemente, entretanto, algumas delas, especialmente a Fiesp e a CNI, passaram a apoiar a retirada da obrigatoriedade dessa contribuição, possivelmente pelas razões a seguir.


A primeira é que a perspectiva de mudança na legislação trabalhista, na qual a negociação poderá se sobrepor à lei, supostamente daria às entidades patronais poder e recursos financeiros em troca de sua capacidade de flexibilizar, reduzir ou suprimir direitos trabalhistas via negociação coletiva.

A segunda é que, na relação custos x benefícios, abrir mão de parte da receita (via contribuição sindical compulsória) em troca do enfraquecimento (via asfixia financeira) das entidades sindicais laborais, especialmente das centrais sindicais, aparentemente seria um bom negócio para a representação patronal.

A terceira é que, com o fim da contribuição empresarial de campanha, as empresas supostamente poderiam direcionar esses recursos para a contribuição sindical voluntária a suas entidades representativas, já que seriam elas – a partir da implementação da regra de prevalência do negociado sobre o legislado – e não mais a lei, que iriam definir, via negociação, o tamanho dos direitos dos trabalhadores.

A quarta é que as entidades patronais, mesmo que viessem a sofrer redução inicial de receita com o fim do caráter compulsório da contribuição sindical, imaginam que continuariam contando ou se beneficiando da contribuição compulsória ao “Sistema S”, que destina às federações e confederações patronais um percentual dessa receita como remuneração pela administração dos serviços sociais desse sistema.

A quinta é que o fim do caráter compulsório dessa contribuição, às vésperas do período eleitoral (2018), teria a suposta vantagem de retirar das entidades sindicais de trabalhadores a possibilidade de utilizar esses recursos para denunciar ou fazer campanha contra os parlamentares que votaram pela supressão de direitos, especialmente os trabalhistas e previdenciários.

O ganho empresarial seria duplo: garantiria a reeleição dos atuais parlamentares que votaram a favor das reformas e criaria as condições para ampliar a representação patronal no Congresso, já que o movimento sindical de trabalhadores, supostamente, não teria recursos para divulgar ou incentivar candidatos próprios.

A sexta é a suposição de que as entidades sindicais de trabalhadores, como têm imunidade tributária em todas as atividades relacionadas à atuação sindical, (alínea “c”, inciso VI, do artigo 150 da Constituição), não poderiam, diferentemente das entidades patronais, prestar serviços remunerados ou explorar atividade econômica com fins lucrativos para reforçar seu caixa, sob pena de perderem a imunidade ou de serem denunciadas pelas empresas como concorrência desleal.

A mudança de posição das entidades patronais, portanto, partiu de uma análise racional na perspectiva da luta de classes. Ou seja, quanto menos recursos contarem as entidades sindicais de trabalhadores, menos capacidade terão de influenciar a formação do poder político, que é justamente o que opera as transformações por meio do aparelho de Estado, regulando a relação entre as pessoas e entre essas e as instituições pública e privadas.

Isto apenas demonstra que o capital, ao tempo em que desqualifica a política, faz uso dela para ampliar o seu poder sobre o trabalho. A ideia de que o mercado é contra a política não passa de manobra diversionista para afastar os trabalhadores do processo político e, em consequência, facilitar a apropriação definitiva da agenda do governo/Estado pelo capital.

(Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap)



O Brasil Novo e seus personagens de ficção

Aprile 30, 2017 11:34, by segundo clichê


O Brasil Novo é tão diferente de tudo o que já se viu que seus protagonistas, os homens de bem que se instalaram nos gabinetes refrigerados da Casa Grande, cansados da dura realidade do dia a dia, incorporaram ilustres e afamados personagens de ficção.

Observemos, por exemplo, o mais alto chefe de Executivo, o culto Dr. Mesóclise: é como se o Amigo da Onça, o imortal personagem criado por Péricles, tivesse saído das páginas de O Cruzeiro, onde, durante anos, estampou seu oportunismo e mau-caratismo, características de boa parte dos brasileiros que obedecem fielmente a prestigiada Lei de Gerson, aquela da regra de ouro de que o importante é levar vantagem em tudo. 


Um pouco abaixo na hierarquia, temos um ministro da Justiça cujo sobrenome nos lembra um substantivo que tem, segundo os dicionários, sinônimos como bordel, lupanar e prostíbulo: basta que ele abra a boca para que vejamos à nossa frente o nelsonrodriguiano Palhares, a personificação do canalha.

Outros personagens da tragicomédia brasilnovista preferiram se tornar caricaturas de si próprios, como o inacreditável ministro da Cultura, que outrora se intitulava comunista, e de alguns anos para cá vem exercendo, com extrema perícia, o sinecurismo.

Há ainda aqueles que se espelham em figuras históricas de má catadura e fama, que abalaram o mundo com suas convicções na selvageria, genocídio e maldades afins.

Vestem tal figurino um certo magistrado e sua corte de áulicos, um parlamentar boca-suja de mente primitiva, e um prefeito de uma metrópole, recém-eleito, apreciador de blusas de cashmere e fantasias variadas.

Sobre esse último é importante destacar que até o momento existem algumas dúvidas se ele é ele mesmo ou se habita o corpo de um outro dândi contemporâneo conhecido na alta roda da sociedade como Chiquinho Scarpa - conde Chiquinho Scarpa, como convém a personagens esnobes de folhetim.

Esse Brasil Novo daria uma boa novela da Globo... (Carlos Motta)



Como vai ser bom negociar diretamente com os patrões!

Aprile 28, 2017 17:08, by segundo clichê


Vai ser interessante ver, daqui a algum tempo, quando a legislação trabalhista "modernizada" já estiver em vigor, esse pessoal que odeia os sindicatos e diz que sindicalistas não passam de um bando de vagabundos, negociar aumentos de salários com seus patrões.

Conheci vários desses tipos: os colegas do Sindicato dos Jornalistas chegavam na redação, e eles corriam para o cafezinho ou fingiam trabalhar, fazendo de conta que não prestavam atenção nos informes que eram dados, geralmente sobre as campanhas salariais.

Muitos xingavam abertamente o sindicato.


Daqui para a frente, porém, como diz a letra da famosa canção de Roberto e Erasmo Carlos, tudo vai ser diferente.

Esse povo que acredita piamente na meritocracia terá, finalmente, a oportunidade de convencer seus chefes, e por tabela, seus patrões, que eles merecem ganhar muito mais, porque são competentes, trabalhadores, e extremamente leais - vestem, como se diz, a camisa da empresa.

Agora, o problema todo é como vão fazer isso.

Alguns, mais ousados, talvez consigam chegar até a secretária do chefe e pedir para falar com ele.

Os outros, mais temerosos, mais tímidos, é bem provável que nem isso façam.

Vão, provavelmente, quando muito, reclamar que o salário está baixo, que não se ouve falar em aumento, que tudo está subindo, e que ninguém faz nada para resolver essa situação.

Em compensação ele estará vivendo num país onde, finalmente, há ordem e progresso. (Carlos Motta)



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