Uma homenagem ao mestre Geraldo Pereira
13 de Abril de 2018, 16:39O Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) está prestando neste mês de abril uma homenagem ao centenário de Geraldo Pereira, um mineiro de Juiz de Fora criado no morro da Mangueira. Malandro, valentão, mulherengo e principalmente excelente sambista, Geraldo Pereira foi um verdadeiro cronista dos morros, dos subúrbios e da vida boêmia do Rio.
Como tema do mês para representá-lo, o IMMuB escolheu o álbum "Evocação V", distribuído pela gravadora Eldorado, no ano de 1980. O disco foi inteiramente dedicado ao inventor de um estilo diferente de sambar, interpretado, entre outros, por Mestre Marçal, João Nogueira, Monarco, Jards Macalé e Nelson Sargento. Entre suas músicas mais famosas estão "Acabou a sopa", "Acertei no milhar" (parceria com Wilson Batista, gravação histórica de Moreira da Silva), "Cabritada mal-sucedida", "Escurinha", "Escurinho" e "Falsa baiana" (duas gravações memoráveis de Cyro Monteiro), "Bolinha de papel" (ecoou na voz de João Gilberto em tempos de bossa nova) e "Chegou a bonitona", entre tantas outras.
A seguir estão textos extraídos do álbum "Evocação V", assinados por Batista de Souza e Moacyr Andrade.
“... em 1944. Eu gravei a Florisbela no mesmo dia em que o Ciro gravou a Falsa Baiana, que eu nem preciso dizer nada.
O Ciro gravou de manhã na RCA, ali na Praça da República, com o regional do Benedito Lacerda, Dino, Meira e Canhoto, Popeye no pandeiro, e mais o Raul de Barros. Depois, de tarde, o regional foi lá pra Continental gravar comigo. A Continental ficava ali na avenida Rio Branco, em cima do Cineac Trianon, bem defronte ao Nice. Depois da gravação nós saímos pra festejar, o Geraldo, o Ciro e eu. Meu Deus! O Ciro, meu compadre, nesse tempo era da Mayrink e já era muito popular. O Geraldo tinha gravado dois sambas no mesmo dia e eu tinha gravado meu primeiro disco. Nós saímos do Nice pra Lapa pra festejar e fomos amanhecer na Taberna da Glória.
O Geraldo estava alegre e comandou a noite toda.
– Canta meu samba, ô Ciro.
– Agora o outro, Batista..."
(Batista de Souza)
"Pixinguinha, um nome que pode resumir, simbolicamente, toda a música popular brasileira, foi talvez ao longo de quatro décadas – pelo menos do fim dos anos 20 a meados dos anos 50 – o mais ativo orquestrador e arranjador dos nossos palcos e estúdios. Isso significa que trabalhou e burilou a criação de centenas de compositores, dos mais obscuros aos mais famosos. Pixinguinha aliava a genialidade à discrição: não era qualquer coisa que provocava nele uma demonstração de arroubo, um entusiasmo que traísse a sua frieza profissional. Pois bem: uma vez, em 1939, ao fazer o arranjo para uma música de um compositor até então completamente desconhecido, o grande mestre saiu por instantes de sua sábia indiferença para pedir ao cantor Roberto Paiva, intérprete do autor estreante, que o apresentasse aquele criador tão surpreendente. E foi logo dizendo o que o comovera: o samba a que acabara de dar roupagem orquestral guardava uma melodia inteiramente original para a época. O samba era o "Se Você Sair Chorando", primeira composição gravada de Geraldo Pereira.
Já estava aí nessa estreia, embora praticamente só anunciada, a fantástica divisão rítmica que consagraria Geraldo Pereira, um dos mais interessantes e mais ricos criadores de estilo, de escola, entre os compositores brasileiros. Essa marca se acentuaria logo a partir do terceiro samba que ele, no ano seguinte, e na voz de Ciro Monteiro, conseguiu pôr em disco: "Acabou a Sopa", no qual as sequências de síncopes configuram uma constante. Seu domínio desse recurso foi total. Diversificando em cada nova música uma inventiva melódica de fato prodigiosa, Geraldo levou a síncope – que basicamente consiste no prolongamento do som de um tempo fraco num tempo forte – às últimas consequências, terminando por fazer-se reconhecer como o mais perfeito cultor do gênero sincopado. É ele o modelo, o paradigma, a referência: um bom samba, cheio de síncopes, hoje, soa também como uma homenagem a Geraldo Pereira, uma citação de seu papel e de sua força no desenvolvimento da nossa música popular.
Esse papel é singular também no terreno poético. Aqui, o correspondente da síncope musical é a síntese acabada e irretocável. Cada samba de Geraldo Pereira é um quadro de costumes, um comentário de um flagrante do cotidiano de um segmento social – o seu – feito sem desperdícios retóricos, sem folclorizações e sem apelos alegóricos. Seus versos tem o poder de uma boa notícia de jornal, aquela que conta tudo numas poucas linhas de uma coluna. E são mais esclarecedores, do ponto de vista de levantamento sociológico, do que a enfadonha pretensão científica de certos estudos e pesquisas acadêmicos.
É que Geraldo punha em seus sambas – com uma felicidade constatada ao se ouvir, sempre com renovado prazer, qualquer deles – o seu ambiente, o modo de vida de toda uma camada popular carioca. E como o fazia da posição de quem está de dentro, isto é, podendo ser um personagem verossímil da cena descrita (e frequentemente o era), eis-nos diante de um observador e registrador de comportamentos provavelmente inigualável entre os que, em sua época, também tentaram, como compositores populares, contribuir para a fixação de uma fase de nossa vida urbana.
Geraldo ganhou a vida como motorista dos caminhões da coleta de lixo. E gastou-a – embora seja mais correto dizer que a aproveitou – no morro (Mangueira), no subúrbio (Engenho de Dentro) e na zona boêmia (Lapa). Essas indicações sugerem tudo: trabalhou como um mouro, fez ponto nas escolas de samba e nos terreiros (os religiosos, inclusive), amanheceu nos cabarés e nas gafieiras, viveu e sofreu incontáveis ligações amorosas. Não precisou, pois – ao contrário de outros compositores que também buscaram pintar retratos sociais, mas vendo as coisas de fora, como observadores platônicos –, de imaginar ou “criar’ situações: ele viveu cercado da inspiração, que, no seu caso, eram os próprios fatos e emoções em que esteve permanentemente mergulhado.
Quando Geraldo morreu, no dia 8 de maio de 1955, aos 37 anos e de hemorragia intestinal – consequente a uma briga até hoje não suficientemente esclarecida com outra figura de escol da Lapa, o lendário Madame Satã –, fazia grande sucesso o seu samba "Escurinho", gravado por Ciro Monteiro. Apesar disso, Geraldo morria pobre (Ciro teve de pagar do próprio bolso o enterro). E a impressão que se tinha era a de que estava arquivada uma página da música popular brasileira, destinada a futuras pesquisas de seus historiadores.
Seis anos mais tarde, em 1961, pleno apogeu da bossa nova, João Gilberto, o grande nome desse movimento, regravou "Bolinha de Papel", um samba que 16 anos antes enriquecera o repertório dos Anjos do Inferno. Foi uma revelação: a peça, da construção rítmica à picardia da letra, era plena de atualidade.
Descobria-se aí, ou confirmava-se, outra característica da obra de Geraldo Pereira: sua perenidade, hoje inteiramente comprovada. Trata-se de um clássico, um autor de sambas à prova de todas as épocas."
(Moacyr Andrade)
Livro reúne seleção de contos de João Carrascoza
13 de Abril de 2018, 16:14“As coisas estão lá, pedindo para que a gente as faça, e uma hora a gente as faz, porque temos de povoar o tempo.” Por meio de pequenas situações, João Carrascoza convida o leitor a contemplar o mistério da vida como quem contempla a paisagem, de lado, no banco de um carro. Com profundidade, proximidade e poeticidade, o autor faz desse contemplar um exercício de percepção de diferentes realidades em seu novo livro, lançado pela Editora Positivo, "A Estação das Pequenas Coisas".
Com 18 contos, selecionados de livros publicados nos últimos dez anos de carreira, Carrascoza mostra algum tipo de experiência corriqueira vista sob um olhar mais literário. “No fundo, as histórias, mesmo escritas em épocas distintas, advêm de um mesmo sentimento: a valorização das coisas aparentemente inexpressivas em nosso dia a dia, a atenção para a música em tom menor que vibra no espaço doméstico e que, no entanto, traz também notas (quase silenciosas) da esfera exterior”, explica.
Quanto ao título do livro, o escritor elucida que, além da palavra “estação” se referir a um ponto ou local de parada em meio a um deslocamento, como em uma estação de trem, também remete a um período. “Assim como a primavera e o verão são trechos de tempo, haveria uma estação, se é que ela não é a nossa vida toda, em que as coisas de pouca monta se mostram, senão grandiosas, capazes de ampliar a nossa compreensão do mundo."
Fabíola Ribeiro Farias, responsável pela seleção e organização das 173 páginas da obra, conta, na apresentação do livro, que “a arte de Carrascoza está em construir, com as palavras, o cotidiano, para que possamos extrapolá-lo, vivê-lo e compreendê-lo para além das vinte e quatro horas do dia, distinguindo o comum do banal”. Para ela, os contos são uma forma de ampliar o repertório para compreender o mundo e, especialmente, as relações entre as pessoas.
João Anzanello Carrascoza nasceu em Cravinhos, São Paulo. É escritor e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado e doutorado, e da Escola Superior de Propaganda e Marketing-SP. Publicou os romances Caderno de um ausente, Menina escrevendo com pai e A pele da terra, que compõem a Trilogia do adeus, e várias coletâneas de contos, entre as quais O volume do silêncio, Espinhos e alfinetes e Aquela água toda. É também autor de obras para o público infanto-juvenil, como A terra do lá, O vendedor de sustos e Aprendiz de inventor. Algumas de suas histórias foram traduzidas para o bengali, croata, espanhol, francês, inglês, italiano, sueco e tamil. Recebeu os prêmios Jabuti (CBL), Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e os internacionais Radio France (RFI) e White Raves (Library Munich).
Show ao ar livre junta João Bosco e orquestra
13 de Abril de 2018, 16:07No próximo domingo, 22 de abril, o projeto Homenagem ao Jazz realiza um tributo a João Bosco, com espetáculo ao ar livre com a big band The Brothers Orchestra. O músico participa da apresentação, revisitando clássicos de sua carreira. A Brothers Orchestra homenageia João Bosco com arranjos para músicas consagradas do autor, como Incompatibilidade de Gênios, Coisa Feita, Jade, Bijuterias e De Frente Pro Crime. O show começa às 16 horas, no Parcão (Parque Moinhos de Vento, na quadra de futebol), em POrto Alegre. Para abrir o tributo, o projeto traz outras quatro apresentações, que começam a partir do meio-dia: Kiai Grupo, Camila Toledo (com um tributo a Billie Holliday), Caio Maurente Trio e Rodrigo Nassif Trio. O DJ Augusto Nesi faz a passagem nos intervalos entre os shows. A entrada é franca.
Em sua segunda edição, o projeto Homenagem ao Jazz contempla uma série de atividades - todas com entrada franca -, como shows em pubs de Porto Alegre e apresentações de Chorinho no Palco Choro Plauto Cruz - criado para homenagear o flautista portoalegrense, falecido recentemente. As apresentações acontecem na Travessa dos Cataventos da Casa de Cultura Mario Quintana, nos dias 27 e 28 de abril (sexta e sábado), com shows do grupo Choro Novo (Oficina de Choro Santander Cultural), Nani Medeiros, Mathias 7 Cordas e Terra Brasilis.
Um dos mais importantes músicos do Rio Grande do Sul, Plauto Cruz recebe esta homenagem pela importância de sua obra e sua excelência como músico. "O jazz é uma música que inclui diversas manifestações musicais, que se amalgama com outros estilos e se estrutura nessa liberdade de criação. Tem em comum com o choro, o improviso, onde Plauto era mestre. Assim, é com absoluta naturalidade que incluímos o choro no Homenagem ao Jazz, e Plauto Cruz, com sua mágica flauta e seu carisma musical contagiante, é o nome perfeito para esta comunhão entre os gêneros", afirma Carlos Badia, curador do projeto.
Entre abril e maio, três bares da capital que tradicionalmente apoiam o Jazz - London Pub, Gravador Pub e Espaço Cultural 512 - vão receber shows de Kiai Grupo, Camila Toledo, Caio Maurente Trio e Rodrigo Nassif Trio. Os músicos - que foram escolhidos também para a abertura do tributo a João Bosco - são expoentes no cenário da música instrumental do Rio Grande do Sul e se apresentaram em edições do POA Jazz Festival.
Outra característica do projeto é o incentivo à formação de público para o jazz. Para tanto, nessa edição serão realizadas 45 oficinas musicais para crianças e adolescentes da Rede Municipal de Ensino. As oficinas vão acontecer entre os meses de maio e junho, e serão ministradas pelos oficineiros Alexandre Missel, Pedro Henrique Sena e Guilherme Sanches.
Além dessa atividades, a Poa Jazz Band - banda itinerante do Poa Jazz Festival - vai levar música para as ruas e locais públicos de Porto Alegre. Serão 15 saídas-surpresa, em que a já conhecida e animada banda vai interagir com as pessoas e divulgar a programação do projeto. (Foto: Flora Pimentel/divulgação)
Fotógrafo mostra aumento da miséria em Porto Alegre
13 de Abril de 2018, 9:40Como lidar com o aumento da miséria, do desemprego, das pessoas que vivem pelas ruas e se alimentam nas latas de lixo, com as centenas de lojas que fecham as portas, das ruas sujas e abandonadas, da cidade desamparada? Motivado por questionamentos angustiantes como esse, o artista visual Leandro Selister vem se dedicando ultimamente a registrar em fotografias a triste realidade nas ruas de Porto Alegre.
– Nos últimos anos, toda essa situação vem se agravando não apenas em Porto Alegre, mas no Brasil e no mundo. O projeto "Tristicidade" quer mostrar aquilo que não estamos enxergando ou aquilo que fazemos de conta não enxergar. Não é a exploração de uma situação crítica e triste. Antes disso, é um chamado, um alerta para que possamos pensar em alternativas juntos – explicou.
O artista criou uma palavra para dar conta desse sentimento – inclusive definindo-a como um verbete de dicionário: "Tristicidade. 1. Qualidade ou estado de desilusão em relação aos acontecimentos do cotidiano; abandono, mal-estar."
O projeto Tristicidade – Cartografias do Abandono e da (In)Visibilidade começou em janeiro deste ano por meio de uma conta específica criada no Instagram, @tristicidade, na qual as imagens estão sendo compartilhadas. A partir da exposição INSULARES, o projeto convidou as pessoas a participarem também com registros próprios de sua visão da cidade a partir desse tema. As imagens devem ser compartilhadas com a hashtag #tristicidade para que possam fazer parte do Instagram do projeto, acrescentando, se quiser, o nome da cidade como hashtag também – exemplo: #portoalegre.
No dia 7 de abril, o artista realizou outro desdobramento desse projeto: alugou um quarto em um hotel no centro histórico da cidade e passou 24 horas fotografando o que via pelas ruas da capital.
– Foi uma das experiências mais tristes da minha vida. Imagina o que eu senti ficando 24 horas acordado, percorrendo as ruas da cidade e registrando a fome, a miséria, pessoas drogadas, dormindo no chão, comendo em latas de lixo, famílias de ambulantes com crianças pequenas, homens, mulheres, crianças... É um quadro desesperador e que precisa ser revertido, senão as pessoas vão morrer e nós vamos assistir a isso tudo. É impossível viver em um mundo assim. Chegamos ao fundo do poço mesmo, desabafa.
Orquestra GPA fará concerto gratuito
12 de Abril de 2018, 9:55A Orquestra Instituto GPA vai se apresentar amanhã, sexta-feira, 13 de abril, às 20 horas (com recepção às 19h30), no Teatro CIEE (rua Tabapuã, 445, Itaim Bibi, em São Paulo). O concerto é gratuito.
Fundada há 18 anos, a orquestra é composta por jovens entre 12 e 21 anos egressos do curso de música do Instituto GPA. O grupo já realizou mais de mil apresentações abertas em cidades brasileiras e em países da América Latina, América do Norte e Europa, alcançando um público de mais de 470 mil pessoas.
OS jovens músicos são orientados pelo maestro Daniel Misiuk e pela professora e diretora artística Renata Jaffé. No repertório, de obras ecléticas, constam composições de como Mozart, Tchaikovsky e Dvorak.
As inscrições para o concerto podem ser feitas no site www.ciee.org.br/portal/eventos.