Ambiente político determina resultados das eleições
31 de Julho de 2017, 16:43Antônio Augusto de Queiroz
Em geral, o sentimento de mudança ou de continuidade está associado à capacidade de o governante atender às demandas da população por serviços públicos, como saúde, educação, segurança, transportes, emprego ou valores como democracia e ética. A percepção de satisfação significa ambiente de continuidade e o de decepção ou rejeição significa ambiente de mudança.
Outro termômetro para medir o ambiente político ou o humor do eleitor tem a ver com o nível de aprovação do presidente da República no momento da eleição e a percepção sobre o posicionamento político dos candidatos em relação ao governante e suas práticas.
Quando o ambiente é de continuidade, o sucessor tende a ser o candidato apoiado ou aliado do governante. Quando o ambiente é de renovação, o sucessor será de algum dos grupos políticos adversários. Pelo menos tem sido assim nas últimas seis eleições presidenciais.
A tabela a seguir resume o ano da eleição, o governante e o ambiente político:
Nas seis últimas eleições, os índices de aprovação dos presidentes e o desempenho de seus candidatos foram muito próximos, com derrota dos candidatos apoiados pelos presidentes impopulares e a eleição dos candidatos dos presidentes populares.
No pleito de 1989, o então presidente José Sarney não teve candidatura à sua sucessão, mas nenhum dos candidatos dos partidos que lhe davam sustentação teve bom desempenho nas eleições. Os três mais votados, com tônica oposicionista, foram Collor (PRN), Lula (PT) e Brizola (PDT), tendo os dois primeiros disputado o 2º turno, com vitória de Collor, com 53,03% dos votos válidos.
Em 1994, Itamar Franco tinha 55% de aprovação popular e FHC, que era seu candidato e ex-ministro da Fazenda, foi eleito com 54,24% dos votos válidos, em primeiro turno, contra Lula, do PT.
Na eleição de 1998, FHC era aprovado por 58% da população e teve 53,06% dos votos válidos, sendo reeleito no primeiro turno, também contra Lula do PT.
No pleito de 2002, FHC tinha 35% de aprovação e seu candidato, o ex-ministro do Planejamento e da Saúde, José Serra, alcançou 39% dos votos válidos no segundo turno, perdendo a eleição para Lula, que obteve 61,27% dos votos válidos.
Em 2006, Lula tinha 63% de aprovação e foi reeleito com 60,83% dos votos válidos em segundo turno, derrotando o tucano Geraldo Alckmin.
Na eleição de 2010, Lula tinha aprovação superior a 80% e elegeu sua candidata, a ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2º turno, com 56,05% dos votos válidos, contra José Serra, ex-governador de São Paulo.
Em 2014, Dilma Rousseff tinha 38% de apoio (bom e ótimo) e 38% de regular, e se reelegeu em segundo turno, contra Aécio Neves (PSDB), com 51,64% dos votos válidos.
Para 2018, a julgar pelo baixo apoio popular ao governo Temer e pelo sentimento de decepção da população sobre as práticas e as políticas públicas em curso, a tendência será de renovação. E todos os que estiverem vinculados ao atual governo, inclusive aqueles com perspectiva de poder, como o PSDB, se não se desvincularem rapidamente da imagem do atual chefe do Poder Executivo e do arrocho que vem promovendo, certamente estarão fora da linha de sucessão.
Como se pode depreender desta leitura, o ambiente político parece determinante para o resultado da eleição. É claro que entram outros fatores, como programa de governo e recursos de campanha, mas nenhum isoladamente se sobrepõe à vontade de continuidade ou de mudança do conjunto dos eleitores. (Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap)
Governo brasileiro critica eleição na Venezuela: haja cinismo!
31 de Julho de 2017, 11:04O governo brasileiro criticou a decisão do governo venezuelano de convocar a Assembleia Constituinte. “Diante da gravidade do momento histórico por que passa a Venezuela, o Brasil insta as autoridades venezuelanas a suspenderem a instalação da assembleia constituinte e a abrir um canal efetivo de entendimento e diálogo com a sociedade venezuelana, com vistas a pavimentar o caminho para uma transição política pacífica e a restaurar a ordem democrática, a independência dos Poderes e o respeito aos direitos humanos”, diz a nota.
De acordo com a Chancelaria brasileira, a “iniciativa do governo de Nicolás Maduro viola o direito ao sufrágio universal, desrespeita o princípio da soberania popular e confirma a ruptura da ordem constitucional na Venezuela”. Para o Itamaraty, o país já dispõe de uma Assembleia Nacional legitimamente eleita e uma nova assembleia formaria “uma ordem constitucional paralela, não reconhecida pela população, agravando ainda mais o impasse institucional que paralisa a Venezuela”.
Já os brasileiros lamentam que estejam sujeitos a um governo ilegítimo, vítima de um golpe de Estado, que vem destruindo todas as conquistas sociais tão arduamente conseguidas nas últimas décadas.
Antes de dar palpite sobre os outros, os golpistas brasileiros deveriam olhar o seu próprio rabo, imundo de tanta canalhice.
Que tal o governo brasileiro seguir o exemplo da Venezuela e convocar uma Assembleia Constituinte para fazer uma ampla reforma política?
E que tal antecipar as eleições presidenciais?
Ou devolver o governo para a presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos?
A nossa ordem e o nosso progresso
29 de Julho de 2017, 10:48As instituições estão funcionando normalmente.
É o que dizem diversas autoridades.
E funcionam, sim.
Funcionam tão bem que a maior parte de seus integrantes forma uma casta de privilegiados, para a qual a crise econômica que teima em não ir embora faz cócegas - se muito.
Os três Poderes, por exemplo, vão muito bem, obrigado.
O Executivo, ocupado por um bando de políticos da mais baixa extração, que tomaram o poder devido a um golpe, no novo estilo que dispensa a força militar, se não está firme e forte, ao menos se aguenta, no alto de seus 2% de aprovação.
O Legislativo, esse circo de horrores, faz seus negócios impunemente, mercadejando abertamente apoios às mais abjetas propostas, que levarão o país à Idade Média.
Deputados, estaduais e federais, e senadores engordam de felicidade; vereadores, pelo Brasil todo, estão exultantes com o pouco que fazem - e o muito que ganham para tal.
O Judiciário, então, funciona que é coisa de louco.
Meses e mais meses de férias, benesses, auxílios de todos os tipos, impunidade total para eventuais escorregões, malfeitos ou traquinagens.
E é claro, o tratamento preferencial, seja onde for, as mesuras e os rapapés que inevitavelmente acompanham o "pois, não doutor."
E há ainda o irmão siamês do Judiciário, esse incrível Ministério Público, que vem se fortalecendo a cada dia, a cada dia se tornando o real poder da nação, repleto de valentes cruzados em prol da moralidade, ética e bons costumes.
Abaixo a corrupção! - bradam nas palestras que fazem Brasil afora, e pelas quais cobram quantias que valem o quanto pesam.
Alguns desses bravos rapazes vão além - entrevistados por dignos e respeitáveis representantes de nossa íntegra imprensa, se oferecem, sem nenhum vestígio de vergonha, para futuros trabalhos extraoficiais - são empreendedores, afinal, vencedores da dificílima corrida da meritocracia.
Está tudo perfeitamente normal.
O presidente preside, os congressistas legislam, os juízes julgam, a polícia policia, os procuradores procuram.
São todos incontestáveis em suas funções, intocáveis, únicos.
E o povo vive à margem desse universo habitado por semideuses, e a tudo assiste entorpecido por anos e anos de doses maciças de ignorância, intolerância, discriminação, e preconceitos.
Afinal, sem ordem não há progresso. (Carlos Motta)
Brasileiro está pessimista com tudo: inflação, emprego, renda, compra de bens...
28 de Julho de 2017, 15:37O consumidor brasileiro está menos confiante com relação à inflação, às expectativas de emprego, renda, e de compra de bens de maior valor, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com a entidade, o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) caiu para 99,5 pontos em julho, valor 1% inferior ao de junho; 1,7% menor do que o registrado em julho de 2016; e 8,2% abaixo da média histórica (108,4 pontos).
O Inec é um indicador criado pela CNI para ajudar as empresas a anteciparem variações na atividade econômica e, em especial, identificar as tendências dos consumidores para os próximos seis meses.
De acordo com a CNI, “todos os componentes dos indicadores que apontam as expectativas dos brasileiros para os próximos seis meses pioraram em julho”. A entidade aponta como sendo a maior queda a relativa às expectativas sobre o mercado de trabalho.
O recuo do índice que avalia a expectativa de desemprego recuou 5,2%, na comparação com junho. Na comparação com julho de 2016, o recuo ficou em 5,3%. A CNI esclarece que quanto menor o índice, maior é a expectativa de desemprego.
Já o índice que mede a expectativa com relação à inflação, foi registrado uma queda de 1,5% em julho, na comparação com junho; e de 1,3% na comparação com julho do ano passado.
Houve também queda nos índices relativos às expectativas de renda pessoal (-0,7% na comparação com junho; e -2% na comparação com julho de 2016), e da expectativa de compras de bens de maior valor (-1,7% na comparação com junho; e -2,6% na comparação com julho de 2016.
Com relação à expectativa de endividamento, houve um aumento de 2% na comparação com o mês anterior, e uma queda de 0,3% na comparação com o mesmo mês de 2016. Já o índice de condições financeiras aumentou 1,1%, na comparação com o mês anterior, e 2,1% na comparação com julho do ano passado. No caso desses índices, a comparação é feita com os três meses anteriores, o que, segundo a CNI, indica que os consumidores perceberam alguma melhora.
Feita em parceria com o Ibope Inteligência, a pesquisa ouviu 2 mil pessoas em 125 municípios entre os dias 13 e 16 de julho.
Para quem fala Meirelles, o otimista?
28 de Julho de 2017, 15:35Marcelo P.F. Manzano
Desde que assumiu como ministro da Fazenda, o banqueiro Henrique Meirelles tem se notabilizado por fazer previsões otimistas sobre a economia brasileira que são sistematicamente frustradas pela dura realidade dos fatos, muitos dos quais resultantes de seus próprios atos.
Já em 8 de junho de 2016, menos de um mês depois de assumir o cargo, dizia ele em entrevista coletiva: “Não tenho a menor dúvida de que, no momento em que tudo isso tenha o curso normal, seja aprovado pelo Congresso todo esse conjunto de medidas, de que chegaremos nos próximos trimestres a retomar crescimento no Brasil… num ritmo que pode surpreender."
Dois meses depois, no dia 16 de agosto de 2016, o homem dos bancos em Brasília declarava sem meias palavras que "todas as indicações são de que haverá crescimento da economia e da arrecadação em 2017”. Na mesma ocasião, os jornais nos avisavam que o governo havia revisado a meta de crescimento para 2017 de 1,2% para 1,6% – àquela altura, contudo, o FMI já previa um crescimento de apenas 0,5% para o mesmo ano!
Mas para o incansável Meirelles, não havia tempo ruim. Apenas uma semana depois, voltou a público para cravar: “O PIB já mostrará crescimento no último trimestre [de 2016]… haverá, nessa esteira, a recuperação no consumo das famílias e nos investimentos – estes tendem a reagir mais rápido.”
E assim se sucederam muitas e muitas falas do ministro, sempre rolando escada acima, enquanto o Brasil seguia ladeira abaixo. No início de novembro disse que o crescimento de 2017 traria como “consequência natural e inevitável” a retomada do emprego. Em dezembro, diante dos sinais de queda do nível de atividade e já ciente do irrealismo dos números que vinha apresentando, lançou mão de um recurso estatístico para anunciar sem rubor que “no último trimestre de 2017 já estaremos atingindo uma taxa anualizada de 2,8%”.
Enfim, é esse o sujeito que movido pela ambição de ser presidente da República e apoiado pelo mercado financeiro continua dando os seus pitacos irresponsáveis enquanto a economia faz água.
É esse sujeito que apenas um mês atrás, às vésperas da publicação do IBC-Br indicando queda de 0,5% do PIB em maio, foi capaz de afirmar que “não há, no momento, sinais de que tenha havido reversão na trajetória de crescimento”.
É esse mesmo sujeito que no dia 11 de julho disse que “o ciclo de crescimento é para valer, não é um crescimento circunstancial, baseado numa bolha de crédito (…). Ao contrário, leva ao crescimento do investimento” e, por fim, nos brindou na sexta-feira passada (21) com a afirmação de que “o importante é manter o equilíbrio fiscal, o emprego e as perspectivas de crescimento”.
Ar-ra-sô! Mas do que será que ele está falando?
Os investimentos estão no pior patamar dos últimos 15 anos, tão deprimidos que nem sequer serão capazes de cobrir a depreciação do capital; as contas fiscais estão derretendo, com perspectivas de um déficit superior a R$ 170 bilhões ao final do ano, enquanto um colapso nos serviços públicos se avizinha; o PIB per capita deverá cair 0,5% em 2017, pelo quarto ano consecutivo, e o mercado de trabalho permanece no seu pior patamar histórico, com 14 milhões de desempregados e outros 12,5 milhões de trabalhadores subocupados.
Para quem fala o Henrique Meirelles? (Fundação Perseu Abramo)