Os astros não mentem, Dr. Mesóclise
марта 3, 2017 18:09Séculos atrás dirigi a minúscula redação de um semanário de Campinas, o Jornal de Domingo, que tinha uma grande tiragem por ser distribuído gratuitamente.
Era um jornal de amenidades, com uma ou outra matéria mais "séria".
Pouco antes de começar a trabalhar tive uma reunião com o dono para acertarmos os ponteiros.
E, logo de cara, ele foi me dizendo da importância que a seção de horóscopo tinha - vários leitores haviam escrito reclamando de sua falta, já que a pessoa que a escrevia tinha saído do jornal.
Para resolver o problema, me comprometi a produzir eu mesmo os tais horóscopos, aliviado em saber que meu antecessor simplesmente consultava outras publicações para fazer as "previsões" que tanto agradavam os leitores.
Era o que a gente chamava de "gilete press"...
E assim lá ia eu, toda segunda-feira, tão logo chegava à salinha onde funcionava a redação, criar as pérolas da semana.
No início me apoiava nos horóscopos dos outros, mas rapidamente percebi que eles não passavam de um amontoado de frases de autoajuda.
Daí em diante dispensei as revistas e jornais e me transformei no mais otimista "astrólogo" do planeta.
Ninguém, de nenhum signo, reclamava dos meus vaticínios.
Pois bem.
Tanto tempo depois dessa minha fase de astrólogo, sinto que devo, para ajudar o país neste momento tão difícil de sua história, consultar novamente os astros para saber o destino que eles reservam ao mais alto mandatário da pátria, esse nosso preclaro Dr. Mesóclise, em cujos ombros recaem a incomensurável responsabilidade de conduzir-nos rumo a um paraíso de leite e mel.
Descubro que ele nasceu sob o signo de Libra, governado pelo planeta Vênus.
Feito isso, debruço-me nas linhas de seu mapa astral e enfronho-me nos segredos mais profundos do universo na tentativa de desvendar o futuro desse insigne personagem.
E por fim, depois de horas de trabalho e meditação, os astros finalmente me respondem, de maneira categórica, indiscutível, e, surpreendentemente, sintética.
Numa única frase resumem o futuro que aguarda o protagonista desta ópera-bufa, desta tragicomédia, em que se transformou o Brasil:
"Todo o seu esforço será recompensado com um lugar especial na lata de lixo da história."
Os astros não mentem jamais.
(Carlos Motta)
A reforma trabalhista é tão ruim quanto a previdenciária
марта 3, 2017 15:42Marcos Verlaine
O projeto é uma demanda do mercado, que embora saiba que para gerar emprego é preciso investimentos para fazer a economia voltar a crescer para o Brasil voltar a se desenvolver, propõe restrições e retrocessos, porque, ao fim e ao cabo, quer maximizar seus lucros, sem amarras que lhe imponha regramentos e restrições para tal intento.
A proposta do governo, por demanda do mercado, é rejeitada pelo Ministério Público do Trabalho, que recomenda-lhe rejeição parcial e ajustes. Então vamos ao contencioso.
Fundado na ideia que a CLT é “velha”, não oferece “segurança jurídica” e não ajuda a “melhorar o ambiente de negócios”, os empresários, há décadas propõem a extinção da legislação trabalhista. Mas não diz que a “velha” septuagenária CLT está recauchutadinha, já foi atualizada em 85% do seu texto. Está rejuvenescida! Está atualizada!
A CLT, de fato, não dá “segurança jurídica” para fazer o querem: demitir sem custo, contratar precariamente, esgaçar a mão de obra com jornadas escorchantes, sem segurança, e outros acessórios importantes para o bem-estar do trabalhador ou trabalhadora. A segurança jurídica que quer o mercado é a insegurança jurídica dos trabalhadores. A “melhoria do ambiente de negócios” é o eufemismo utilizado para dizer que querem a desregulamentação total das relações de trabalho.
Regime parcial
Mas vamos a outros aspectos do projeto. O trabalho em regime parcial, que hoje é de 25 horas, a proposta é aumentar para 30 horas, e mais 26 de horas extras.
Ora, se o empregador, pelo projeto, poderá empregar um parcial em regime quase integral, e pagando salário de parcial, por que contratar um trabalhador em regime integral?
Trabalho temporário
O contrato de trabalho temporário dura hoje 90 dias, prorrogáveis por mais 90, e o projeto amplia para 120, prorrogáveis por mais 120. Seriam oito meses de temporariedade. A mudança, segundo o governo, se faz necessária “motivada pela alteração sazonal na demanda por produtos e serviços”. Aqui o MPT vê dois problemas. A “ocorrência da alteração sazonal faz parte do risco do negócio e admiti-la como justificativa para a contratação de trabalhador temporário é transferir o ônus do empreendimento para o trabalhador, tendo em vista que se trata de contrato de trabalho que prevê patamar de proteção inferior ao contrato por prazo indeterminado. Além disso, haverá dificuldade em se conceituar sazonalidade para a caracterização do contrato temporário, o que irá gerar insegurança jurídica”.
No que diz respeito à ampliação do prazo de 90 para 120 dias, “não se apresenta qualquer justificativa para embasar a alteração”, diz o MPT. “Contudo, em razão de ser uma espécie contratual que estabelece um rol menor de direitos aos trabalhadores, conclui-se que a extensão das possibilidades de utilização causará prejuízo aos trabalhadores”.
E completa: “Os contratos temporários, juntamente com os contratos por tempo parcial, tiveram na Europa e nos Estados Unidos enorme avanço após a crise econômica de 2008 e hoje organismos internacionais e os próprios governos nacionais reconhecem que o fenômeno se revelou socialmente nocivo, tendo produzido um aumento vertiginoso da desigualdade econômica e social.”
Inoportunidade da “reforma”
Mas há outros aspectos negativos no projeto. Não apenas no texto em si, mas também em relação ao momento em que foi apresentado. Numa conjuntura de depressão econômica e desemprego galopante, que obriga os trabalhadores a fazerem uma disputa injusta e desigual com o capital, semelhante àquela que se faz da “adaga contra o pescoço” ou aquela clássica, em que a “raposa é colocada para tomar conta do galinheiro”.
Dizer, por exemplo, como os empresários dizem, matreiramente, que a livre negociação entre patrões e empregados seria mais vantajosa que a legislação trabalhista é de uma desonestidade cretina!
Num momento como o que estamos vivendo, o trabalhador só tem desvantagens, porque as negociações são feitas sob ameaças que comprometem sua existência digna. Assim, para garantir o emprego, o trabalhador ou trabalhadora vai ter de abrir mão de direitos acessórios, porque se não abrir, perde o principal, o emprego!
Por isso, o “império da lei” é fundamental para o trabalhador, pois só a lei pode salvar o trabalhador da sanha pelo lucro incessante e a todo custo. Como diz o deputado Robinson Almeida (PT-BA), membro da comissão especial que discute o PL 6.787/16, “nos conflitos entre capital e trabalho, o Estado, por meio das leis, deve garantir empregos decentes, como proclama a Organização Internacional do Trabalho (OIT)”.
E acrescenta: “Por isso, a Constituição prevê acordo coletivo só para os casos de ampliação de direitos ou quando haja condições para soluções justas e equilibradas”, como determina o artigo 7º, inciso XXVI, da Constituição de 1988.
Assim, por tudo isto e mais alguma coisa, não há como não dizer que a reforma trabalhista é tão ruim quanto a previdenciária.
(Marcos Verlaine é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap
O que os astros preveem para o Dr. Mesóclise
марта 3, 2017 15:25Séculos atrás dirigi a minúscula redação de um semanário de Campinas, o Jornal de Domingo, que tinha uma grande tiragem por ser distribuído gratuitamente.
Era um jornal de amenidades, com uma ou outra matéria mais "séria".
Pouco antes de começar a trabalhar tive uma reunião com o dono para acertarmos os ponteiros.
E, logo de cara, ele foi me dizendo da importância que a seção de horóscopo tinha - vários leitores haviam escrito reclamando de sua falta, já que a pessoa que a escrevia tinha saído do jornal.
Para resolver o problema, me comprometi a produzir eu mesmo os tais horóscopos, aliviado em saber que meu antecessor simplesmente consultava outras publicações para fazer as "previsões" que tanto agradavam os leitores.
Era o que a gente chamava de "gilete press"...
E assim lá ia eu, toda segunda-feira, tão logo chegava à salinha onde funcionava a redação, criar as pérolas da semana.
No início me apoiava nos horóscopos dos outros, mas rapidamente percebi que eles não passavam de um amontoado de frases de autoajuda.
Daí em diante dispensei as revistas e jornais e me transformei no mais otimista "astrólogo" do planeta.
Ninguém, de nenhum signo, reclamava dos meus vaticínios.
Pois bem.
Tanto tempo depois dessa minha fase de astrólogo, sinto que devo, para ajudar o país neste momento tão difícil de sua história, consultar novamente os astros para saber o destino que eles reservam ao mais alto mandatário da pátria, esse nosso preclaro Dr. Mesóclise, em cujos ombros recaem a incomensurável responsabilidade de conduzir-nos rumo a um paraíso de leite e mel.
Descubro que ele nasceu sob o signo de Libra, governado pelo planeta Vênus.
Feito isso, debruço-me nas linhas de seu mapa astral e enfronho-me nos segredos mais profundos do universo na tentativa de desvendar o futuro desse insigne personagem.
E por fim, depois de horas de trabalho e meditação, os astros finalmente me respondem, de maneira categórica, indiscutível, e, surpreendentemente, sintética.
Numa única frase resumem o futuro que aguarda o protagonista desta ópera-bufa, desta tragicomédia, em que se transformou o Brasil:
"Todo o seu esforço será recompensado com um lugar especial na lata de lixo da história."
Os astros não mentem jamais.
(Carlos Motta)
O perfeito substituto de Serra
марта 2, 2017 18:50Uma pessoa como o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira é tudo aquilo que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não precisa para ter como chefe.Nunes Ferreira, nos últimos anos, tem se destacado pelo seu destempero verbal, truculência no trato com os adversários - que ele deve julgar ser inimigos -, e defesa intransigente da oligarquia nacional.
Fora isso, é um dissimulado, para não dizer mentiroso.
Tanto que esconde, em sua biografia oficial, o fato de que pegou em armas contra a ditadura, tendo participado ativamente da organização comandada por Carlos Marighella.
Faz parte, portanto, daquele grupo asqueroso de pessoas que não só trocam os ideais da juventude pelos prazeres da vida burguesa, como procuram esconder o seu passado, têm vergonha dele.
Mas, pensando bem, depois de o governo golpista ter nomeado José Serra para o cargo de chanceler do Brasil, esse Serra que tem-se notabilizado por um entreguismo voraz, insaciável, nada mais lógico que vê-lo substituído por um Nunes Ferreira, que até na calvície se assemelha ao seu antecessor.
Assim, a política externa brasileira de falar grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos terá plena continuidade.
Em outubro de 2014 publiquei no meu antigo blog uma croniqueta sobre esse triste personagem da política contemporânea.
Para quem estiver interessado, basta clicar aqui. (Carlos Motta)
O maravilhoso mundo dos golpistas
марта 2, 2017 15:47Release do Lide - Grupo de Líderes Empresariais, empresa do prefeito paulistano João Dória especializada em apresentar políticos a empresários e empresários a políticos em encontros sob o pretexto de analisar a conjuntura econômica e política nacional, informa que o governador Geraldo Alckmin vai falar, dia 6, num "almoço-debate, sobre "O papel do Estado de São Paulo na retomada do crescimento econômico".
"Durante o Almoço-Debate, Alckmin discutirá sobre o cenário econômico paulista e as políticas públicas adotadas para impulsionar o Estado que reúne 43 milhões de habitantes, 645 municípios e responde por 28,7% do PIB brasileiro. No final de 2016, o governador anunciou um conjunto de medidas para estimular o emprego e o investimento", diz trecho do release, que a seguir abre aspas para o governador:
"É necessário ter otimismo para superar a crise, mas não basta. Precisamos superá-la como São Paulo superou a maior crise hídrica da história do Sudeste: com a participação da população e investimento em obras estruturantes, que geram competitividade e empregos."
Para quem não sabe, o "pacote" anunciado por Alckmin, segundo o release, "inclui ações de estímulo à produção empresarial de quatro setores: indústria de bens de capital, automobilística, agronegócio e reciclagem".
E assim, com almoços festivos como esse, o Brasil vai saindo da recessão.
Pelo menos no mundo maravilhoso dos golpistas, esse que permanece imóvel e resplandescente na abóbada celeste dos astrônomos e filósofos da antiguidade.