Estudantes paraguaios declaram greve geral por tempo indefinido
10 de Maio de 2016, 11:12Por Mariana Serafini
Depois da renúncia da ministra da Educação e Cultura, Marta Lafuente, os estudantes secundaristas do Paraguai seguem em luta. Nesta segunda-feira (9) eles anunciaram uma greve geral que só termina quando o presidente Horácio Cartes atender às exigências, entre elas, alimentação gratuita nas escolas e distribuição de livros.
A paralisação geral foi organizada por três entidades estudantis de alcance nacional: Organização Nacional Estudantil (ONE), Federação Nacional de Estudantes Secundaristas (Fenaes) e Unidade Nacional de Centros de Estudantes do Paraguai (Unepy).
Por meio de um comunicado oficial, as entidades esclarecem quais são todas as exigências. Eles pedem aumento dos investimentos federais no sistema de educação pública, melhor formação profissional para os professores, reformulação estrutural do sistema educacional e do ministério da Educação e Cultura, assim como distribuição de alimentação gratuita e livros didáticos.
Além disso, os estudantes declaram “emergencial” a situação estrutural de várias escolas. Muitas não tem sequer um prédio, crianças estudam sob árvores em campos abertos no interior do país; outras são construídas em madeira e os alunos sofrem com goteiras, frio e excesso de calor. Há também as escolas que não fornecem mesas e cadeiras adequadas e algumas crianças estudam sentadas até mesmo em baldes e cepos de madeira.
Diferente do Brasil, onde 10% do PIB é destinado à educação, no Paraguai apenas 3,5% tem este fim. Significa apenas a metade do aconselhado pela Unesco, que é 7%.
As manifestações começaram no dia 3 de maio, quando os estudantes secundaristas da Escola República Argentina ocuparam o prédio e prometeram não sair até que a ministra da Educação e Cultura renunciasse. A resposta veio rápido, em apenas dois dias havia mais de 17 escolas ocupadas em todo o país e outras 600 apoiaram a manifestação, no dia 5 a ministra renunciou.
Presos políticos de Curuguaty encerram greve de fome de 58 dias
16 de Abril de 2014, 11:21Por Mariana Serafini
Os cinco presos políticos acusados de matar seis policiais durante o Massacre de Curuguaty em 2012, no Paraguai, conquistaram o direito de cumprir a pena em regime domiciliar. Eles estavam há 58 dias em greve de fome para pressionar o poder público a atender ao pedido. A decisão do Tribunal de Salto de Guaíra que modifica o ofício de prisão foi divulgada na noite de sábado (12), por volta das 22h e recebida com festa pela população paraguaia.
Neste período diversos movimentos sociais da América Latina expressaram apoio aos camponeses e muitos países enviaram militantes ao Paraguai para levar apoio e solidariedade à greve.
A família e os amigos dos presos e das vítimas do massacre, junto com ativistas dos Direitos Humanos fizeram uma série de manifestações em Assunção, capital do país, e permaneceram em vigília em frente ao Hospital Militar, onde os presos políticos estavam internados, durante todo os 58 dias da greve de fome.
Foi grande a comemoração diante da notícia do novo formato de cumprimento de pena. Mas apesar da vitória, as famílias e os militantes afirmam que vão continuar lutando para que os presos políticos não sejam condenados injustamente por um crime que não cometeram.
Nova investigação
Nesta segunda-feira (14) o fiscal geral do Estado, Javier Díaz Verón, anunciou que formará uma equipe para examinar novamente a situação fiscal do caso Curuguaty. Isso porque, a promotoria usa provas esdrúxulas para acusar os camponeses pela morte dos seis policiais, entre elas, a existência de objetos como garrafa pet e cortador de unha no lugar do massacre.
Até então, a Justiça paraguaia trabalhava em uma versão totalmente parcial dos fatos. Ignorou a morte dos 11 camponeses e investigou apenas o assassinato dos seis policiais. Em reunião com os a comitiva de direitos humanos e com os familiares dos campesinos assassinados, Verón afirmou que a justiça vai mudar a linha de investigação. “Vou formar uma equipe para examinar esta questão e ver o que mais se pode fazer em torno deste processo (…). Se houver possibilidade de abrir e ampliar a investigação, fiquem seguros de que isso vai ser feito”, afirmou.
Vale lembrar que desde o início do processo, quando a Justiça acusou sem provas os camponeses, a Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy) trabalha em uma investigação paralela e conseguiu comprovar a inocência dos camponeses. O massacre de Curuguaty, ocorrido em 15 de junho de 2012, resultou na morte de seis policiais e 11 trabalhadores rurais. De acordo com o estudo da Codehupy, todos os oficiais foram mortos com tiros certeiros na cabeça, ou com armas de alto calibre, capazes de perfurar o colete de proteção; e nenhuma arma dos moradores foi disparada na ocasião.
Paraguaios fazem a maior greve dos últimos 20 anos
27 de Março de 2014, 2:07Por Mariana Serafini
Segundo as centrais sindicais responsáveis por convocar a greve geral desta quarta-feira (26) no Paraguai, a adesão dos trabalhadores superou 80%. Apenas na capital Assunção, a população se concentrou em mais de 13 pontos diferentes com piquetes que fecharam as principais avenidas. As maiores cidades do país também tiveram grandes manifestações em praças e prédios públicos.
Em Cidade do Leste, fronteira com Foz do Iguaçu no Brasil, os manifestantes fecharam a Ponte da Amizade – que liga os dois países – com mais de sete mil pessoas. Mais de dois mil taxistas estacionaram os carros nas principais avenidas como forma de mostrar adesão à greve.
O Paraguai amanheceu de braços cruzados nesta quarta-feira (26). As manifestações começaram na terça-feira quando os camponeses de diversos departamentos partiram em direção à capital do país para se unir aos trabalhadores urbanos.
Sem se intimidar com a grande presença policial – só na capital havia mais de 18 mil homens armados – os trabalhadores do campo seguiram em direção a Assunção levando apenas tacos de madeira para simbolizar a luta pela terra e a esperança de uma resposta do poder Executivo sobre a reforma agrária.
Enquanto isso, os trabalhadores urbanos se uniram em pontos estratégicos nas maiores cidades do país para reivindicar aumento de 25% no salário mínimo e controle do preço da cesta básica. Os estudantes se somaram à luta exigindo transporte público de qualidade sem aumento de passagem e de nenhum outro serviço público. Os sindicatos e movimentos sociais reivindicam o direito à organização e à liberdade de expressão.
Todos se unem contra a Lei de Aliança Público Privada – aprovada pelo parlamento e sancionada pelo Executivo no final do ano passado – e pelo fim das políticas neoliberais implantadas pelo presidente Horacio Cartes, do partido Colorado. Exigem ainda um modelo de desenvolvimento inclusivo que contemple o povo paraguaio e não apenas os grandes empresários estrangeiros que hoje ocupam o país.
Desde a aprovação da Lei de Aliança Público Privada, que permite ao governo entregar recursos naturais para a exploração de empresas multinacionais, o povo paraguaio começou a organizar pequenas manifestações e debates sobre a atual situação política do país.
Uma coordenadoria democrática foi criada pela coalizão dos partidos de esquerda, Frente Guasu, com objetivo de contrapor a informação veiculada pela grande imprensa paraguaia e conscientizar a população sobre os rumos políticos que o país tomou.
A greve geral foi convocada pelas maiores centrais sindicais e contou com o apoio da coordenadoria democrática, do movimento estudantil e de outros movimentos sociais organizados.
Os presos políticos do massacre de Curuguaty continuam em greve de fome, já são 41 dias de resistência, sem nenhuma resposta do Estado. Os movimentos sociais exigem a liberdade das 14 pessoas que estão presas sem provas e provavelmente serão condenadas pelo crime que não cometeram, justiça para as famílias vítimas do massacre e devolução das terras em Marina Kue (terreno destinado à reforma agrária onde aconteceu a matança). O massacre de Curuguaty aconteceu em 15 de junho de 2012, quando Marina Kue foi invadida por 300 policiais fortemente armados que deixaram um saldo de 11 camponeses e seis oficiais mortos. Uma semana depois o então presidente eleito, Fernando Lugo, foi deposto com o argumento de “incapacidade administrativa”.
Resposta do Estado
O vice-presidente, Juan Afara, anunciou para a imprensa local que nesta quinta-feira (27) vai receber os líderes sindicais para dar início às negociações, mas já adianta que o aumento salarial de 25% é impossível. Segundo ele, vai “apresentar os verdadeiros números”, e os trabalhadores vão “se conscientizar de que a exigência é descabida”.
Afara defende a Lei de Aliança Público Privada e o presidente Horacio Cartes não se manifestou a respeito. “O Paraguai já aprendeu a fazer uso dos seus direitos cívicos, valorizamos e respeitamos isso”, disse Afara.
A ministra da Educação, Marta Lafuente garante que apenas 15% dos professores da capital aderiram à greve. Segundo ela, 85% das escolas paraguaias continuaram desenvolvendo suas atividades normalmente.
Apesar da proposta do vice-presidente, os trabalhadores seguem mobilizados até o final desta quarta-feira. Cidade do Leste que é o maior centro comercial do Paraguai, teve mais de 70% das lojas fechadas. Mesmo com grande parte dos trabalhadores submetidos a contratações ilegais, a adesão à greve foi grande. O cenário que costuma chamar atenção pela movimentação intensa com ruas cheias de camelôs, vans ilegais, táxis precários, vendedores ambulantes e gente disputando vitrines surpreendeu ao amanhecer neste dia de greve completamente vazio.
>
Frente Guasu alerta sobre violação dos Direitos Humanos no Paraguai
20 de Março de 2014, 12:12Por Mariana Serafini, publicado originalmente no Portal Vermelho
Há 34 dias os presos políticos de Curuguaty (massacre que impulsionou o golpe ao presidente Fernando Lugo em 2012), estão em greve de fome no Paraguai. Na próxima quarta-feira (26) o país começa uma greve geral contra as políticas entreguistas do presidente Horácio Cartes e em defesa dos presos políticos. A Frente Guasu (coalizão dos partidos de esquerda) pede aos líderes e movimentos sociais latino-americanos para voltarem os olhos ao Paraguai, enviarem apoio e serem solidários a esta causa.
Com o estado de saúde mais debilitado a cada dia, a situação dos cinco presos políticos no presídio de Tacumbú, região metropolitana da capital Assunção, se agrava. No total são 14 presos políticos, divididos em duas penitenciárias e prisão domiciliar. Eles permanecerão em greve até que o Estado dê alguma resposta sobre o massacre que resultou na morte de 11 campesinos e seis policiais, além de pedirem a liberdade de todos os companheiros e a destinação das terras de Marina Kue (terreno onde aconteceu a matança) para as famílias que foram desalojadas.
Há poucos dias, a Comissão responsável por Curuguaty – composta por familiares das vítimas, políticos e militantes sociais – se reuniram com o presidente da Corte Suprema de Justiça do Paraguai, Raúl Torres Kirmser, que se comprometeu em transferir os presos para um lugar onde pudessem contar com observação médica e disse ainda que o Estado se responsabilizaria pelas consequências devido à greve de fome. No entanto nada aconteceu, os cinco militantes continuam em condições precárias e não recebem nenhuma resposta do Estado.
Paralelo a isso, o país sofre com as políticas entreguistas do presidente colorado Horácio Cartes. Desde que a Lei de Aliança Público Privada foi aprovada, no final de 2013 (mesmo com uma grande mobilização popular contrária à aprovação) a população vem sentindo as consequências de uma política que protege o grande empresariado e não garante direitos aos trabalhadores.
A classe trabalhadora sofre com congelamento salarial e condições precárias de trabalho. Há regiões militarizadas ao Norte do país, vários líderes camponeses já foram assassinados neste período, e o Estado se mantém omisso a todas essas questões.
Diante deste cenário, as centrais sindicais convocaram o povo paraguaio para uma greve geral que começa na próxima quarta-feira (26). O processo de mobilização acontecerá desde o dia 23 em algumas regiões. A adesão popular tem sido grande, no campo e na cidade os trabalhadores mostram interesse nas questões políticas e com isso a adesão à greve é significativa.
Em contrapartida o governo de Horácio Cartes desenvolveu uma campanha de massa contra a greve. Os principais veículos de comunicação, favoráveis às políticas do partido Colorado, trabalham contra a mobilização popular. Diversos outdoors foram colocados nas principais cidades com imagens apelativas que afirmam “O país precisa avançar, não se deter”. Há ainda uma campanha para as redes sociais com a hashtag #TrabajoNoMeDetengo (TrabalhoNãoMeDetenho).
Chamado da Frente Guasu
Devido à grande pressão do Poder Executivo e da maioria parlamentar de direita, a Frente Guasu lançou um chamado aos líderes e aos movimentos sociais da América Latina. A coalizão dos partidos de esquerda paraguaios pede apoio neste momento delicado que o país vive. A ideia é que os países enviem militantes políticos ao Paraguai dias antes da greve geral, e que permaneçam até um dia depois, pelo menos, para acompanhar este processo de perto como forma de fiscalizar as ações repressivas que o governo poderá implantar para deter a mobilização popular.
“É por este motivo que, como Frente Guasu, e fazendo eco a todas as demais organizações sociais que participam destas mobilizações e greve geral, assim como os próprios campesinos em greve de fome, pedimos encarecidamente para que venham ao Paraguai a fim de serem testemunhas da gravíssima situação que passam os direitos humanos em nosso país”, diz um trecho da carta.
Estados Unidos retoma processo de ocupação militar no Paraguai
20 de Março de 2014, 12:09Por Mariana Serafini, publicado originalmente no Portal Vermelho
Há quase um mês o ministro da Defesa do Paraguai, Bernardino Soto Estigarribia, recebeu em reunião oficial o almirante estadunidense George W. Ballance, diretor de Cooperação em Segurança do Comando Sul dos Estados Unidos, e a coronel Bárbara R. Fick, responsável pela Defesa, na embaixada dos Estados Unidos no país. Na ocasião, foi reestabelecido o marco de cooperação militar entre os dois países, que havia sido desfeito há cinco anos pelo então presidente, Fernando Lugo.
O ministro anunciou a inauguração de um Centro de Resposta para Situações de Emergência no Norte do país, no departamento de San Pedro. Esta é a região que o presidente Horácio Cartes decretou Estado de Exceção logo depois de assumir a presidência.
Toda a estrutura está sendo montada com recursos do governo dos Estados Unidos e já conta com presença de militares enviados daquele país. Em entrevista à imprensa local, Estigarribia afirmou que a visita de Ballance marca o fortalecimento das relações de defesa entre as forças armadas do Paraguai e dos Estados Unidos e que a presença militar norte-americana no país latino vai ser cada vez maior.
Na última quinta-feira (15), o senador da Frente Guasu (coalizão de partidos de esquerda do Paraguai), Sixto Pereira oficializou ao Senado o pedido de um informe sobre a presença norte-americana no país. O parlamentar pede informações sobre a data de ingresso e permanência, o motivo pelo qual as tropas estadunidenses vão ocupar o país, quantos oficiais serão enviados e quais regiões serão ocupadas.
A intervenção militar paraguaia do departamento de San Pedro começou pouco depois que o presidente Horácio Cartes tomou posse em agosto de 2013. Desde então o clima na região é de medo e insegurança. Diversos líderes campesinos já foram assassinados. Há denúncias da imprensa local de que agricultores e trabalhadores urbanos constantemente recebem ameaças militares e vivem um estado de pânico.
O poder executivo paraguaio ainda não se pronunciou a respeito.
Golpe parlamentar em 2012
A agência de notícias brasileira, A Pública, fez um amplo trabalho de investigação no Paraguai depois do Golpe Parlamentar que depôs o presidente eleito Fernando Lugo e concluiu que a estratégia política, na época, teve total apoio dos Estados Unidos.