Por Mariana Serafini
Segundo as centrais sindicais responsáveis por convocar a greve geral desta quarta-feira (26) no Paraguai, a adesão dos trabalhadores superou 80%. Apenas na capital Assunção, a população se concentrou em mais de 13 pontos diferentes com piquetes que fecharam as principais avenidas. As maiores cidades do país também tiveram grandes manifestações em praças e prédios públicos.
Em Cidade do Leste, fronteira com Foz do Iguaçu no Brasil, os manifestantes fecharam a Ponte da Amizade – que liga os dois países – com mais de sete mil pessoas. Mais de dois mil taxistas estacionaram os carros nas principais avenidas como forma de mostrar adesão à greve.
O Paraguai amanheceu de braços cruzados nesta quarta-feira (26). As manifestações começaram na terça-feira quando os camponeses de diversos departamentos partiram em direção à capital do país para se unir aos trabalhadores urbanos.
Sem se intimidar com a grande presença policial – só na capital havia mais de 18 mil homens armados – os trabalhadores do campo seguiram em direção a Assunção levando apenas tacos de madeira para simbolizar a luta pela terra e a esperança de uma resposta do poder Executivo sobre a reforma agrária.
Enquanto isso, os trabalhadores urbanos se uniram em pontos estratégicos nas maiores cidades do país para reivindicar aumento de 25% no salário mínimo e controle do preço da cesta básica. Os estudantes se somaram à luta exigindo transporte público de qualidade sem aumento de passagem e de nenhum outro serviço público. Os sindicatos e movimentos sociais reivindicam o direito à organização e à liberdade de expressão.
Todos se unem contra a Lei de Aliança Público Privada – aprovada pelo parlamento e sancionada pelo Executivo no final do ano passado – e pelo fim das políticas neoliberais implantadas pelo presidente Horacio Cartes, do partido Colorado. Exigem ainda um modelo de desenvolvimento inclusivo que contemple o povo paraguaio e não apenas os grandes empresários estrangeiros que hoje ocupam o país.
Desde a aprovação da Lei de Aliança Público Privada, que permite ao governo entregar recursos naturais para a exploração de empresas multinacionais, o povo paraguaio começou a organizar pequenas manifestações e debates sobre a atual situação política do país.
Uma coordenadoria democrática foi criada pela coalizão dos partidos de esquerda, Frente Guasu, com objetivo de contrapor a informação veiculada pela grande imprensa paraguaia e conscientizar a população sobre os rumos políticos que o país tomou.
A greve geral foi convocada pelas maiores centrais sindicais e contou com o apoio da coordenadoria democrática, do movimento estudantil e de outros movimentos sociais organizados.
Os presos políticos do massacre de Curuguaty continuam em greve de fome, já são 41 dias de resistência, sem nenhuma resposta do Estado. Os movimentos sociais exigem a liberdade das 14 pessoas que estão presas sem provas e provavelmente serão condenadas pelo crime que não cometeram, justiça para as famílias vítimas do massacre e devolução das terras em Marina Kue (terreno destinado à reforma agrária onde aconteceu a matança). O massacre de Curuguaty aconteceu em 15 de junho de 2012, quando Marina Kue foi invadida por 300 policiais fortemente armados que deixaram um saldo de 11 camponeses e seis oficiais mortos. Uma semana depois o então presidente eleito, Fernando Lugo, foi deposto com o argumento de “incapacidade administrativa”.
Resposta do Estado
O vice-presidente, Juan Afara, anunciou para a imprensa local que nesta quinta-feira (27) vai receber os líderes sindicais para dar início às negociações, mas já adianta que o aumento salarial de 25% é impossível. Segundo ele, vai “apresentar os verdadeiros números”, e os trabalhadores vão “se conscientizar de que a exigência é descabida”.
Afara defende a Lei de Aliança Público Privada e o presidente Horacio Cartes não se manifestou a respeito. “O Paraguai já aprendeu a fazer uso dos seus direitos cívicos, valorizamos e respeitamos isso”, disse Afara.
A ministra da Educação, Marta Lafuente garante que apenas 15% dos professores da capital aderiram à greve. Segundo ela, 85% das escolas paraguaias continuaram desenvolvendo suas atividades normalmente.
Apesar da proposta do vice-presidente, os trabalhadores seguem mobilizados até o final desta quarta-feira. Cidade do Leste que é o maior centro comercial do Paraguai, teve mais de 70% das lojas fechadas. Mesmo com grande parte dos trabalhadores submetidos a contratações ilegais, a adesão à greve foi grande. O cenário que costuma chamar atenção pela movimentação intensa com ruas cheias de camelôs, vans ilegais, táxis precários, vendedores ambulantes e gente disputando vitrines surpreendeu ao amanhecer neste dia de greve completamente vazio.
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