Por Mariana Serafini, publicado originalmente no Portal Vermelho
Há 34 dias os presos políticos de Curuguaty (massacre que impulsionou o golpe ao presidente Fernando Lugo em 2012), estão em greve de fome no Paraguai. Na próxima quarta-feira (26) o país começa uma greve geral contra as políticas entreguistas do presidente Horácio Cartes e em defesa dos presos políticos. A Frente Guasu (coalizão dos partidos de esquerda) pede aos líderes e movimentos sociais latino-americanos para voltarem os olhos ao Paraguai, enviarem apoio e serem solidários a esta causa.
Com o estado de saúde mais debilitado a cada dia, a situação dos cinco presos políticos no presídio de Tacumbú, região metropolitana da capital Assunção, se agrava. No total são 14 presos políticos, divididos em duas penitenciárias e prisão domiciliar. Eles permanecerão em greve até que o Estado dê alguma resposta sobre o massacre que resultou na morte de 11 campesinos e seis policiais, além de pedirem a liberdade de todos os companheiros e a destinação das terras de Marina Kue (terreno onde aconteceu a matança) para as famílias que foram desalojadas.
Há poucos dias, a Comissão responsável por Curuguaty – composta por familiares das vítimas, políticos e militantes sociais – se reuniram com o presidente da Corte Suprema de Justiça do Paraguai, Raúl Torres Kirmser, que se comprometeu em transferir os presos para um lugar onde pudessem contar com observação médica e disse ainda que o Estado se responsabilizaria pelas consequências devido à greve de fome. No entanto nada aconteceu, os cinco militantes continuam em condições precárias e não recebem nenhuma resposta do Estado.
Paralelo a isso, o país sofre com as políticas entreguistas do presidente colorado Horácio Cartes. Desde que a Lei de Aliança Público Privada foi aprovada, no final de 2013 (mesmo com uma grande mobilização popular contrária à aprovação) a população vem sentindo as consequências de uma política que protege o grande empresariado e não garante direitos aos trabalhadores.
A classe trabalhadora sofre com congelamento salarial e condições precárias de trabalho. Há regiões militarizadas ao Norte do país, vários líderes camponeses já foram assassinados neste período, e o Estado se mantém omisso a todas essas questões.
Diante deste cenário, as centrais sindicais convocaram o povo paraguaio para uma greve geral que começa na próxima quarta-feira (26). O processo de mobilização acontecerá desde o dia 23 em algumas regiões. A adesão popular tem sido grande, no campo e na cidade os trabalhadores mostram interesse nas questões políticas e com isso a adesão à greve é significativa.
Em contrapartida o governo de Horácio Cartes desenvolveu uma campanha de massa contra a greve. Os principais veículos de comunicação, favoráveis às políticas do partido Colorado, trabalham contra a mobilização popular. Diversos outdoors foram colocados nas principais cidades com imagens apelativas que afirmam “O país precisa avançar, não se deter”. Há ainda uma campanha para as redes sociais com a hashtag #TrabajoNoMeDetengo (TrabalhoNãoMeDetenho).
Chamado da Frente Guasu
Devido à grande pressão do Poder Executivo e da maioria parlamentar de direita, a Frente Guasu lançou um chamado aos líderes e aos movimentos sociais da América Latina. A coalizão dos partidos de esquerda paraguaios pede apoio neste momento delicado que o país vive. A ideia é que os países enviem militantes políticos ao Paraguai dias antes da greve geral, e que permaneçam até um dia depois, pelo menos, para acompanhar este processo de perto como forma de fiscalizar as ações repressivas que o governo poderá implantar para deter a mobilização popular.
“É por este motivo que, como Frente Guasu, e fazendo eco a todas as demais organizações sociais que participam destas mobilizações e greve geral, assim como os próprios campesinos em greve de fome, pedimos encarecidamente para que venham ao Paraguai a fim de serem testemunhas da gravíssima situação que passam os direitos humanos em nosso país”, diz um trecho da carta.