Por Mariana Serafini
Os cinco presos políticos acusados de matar seis policiais durante o Massacre de Curuguaty em 2012, no Paraguai, conquistaram o direito de cumprir a pena em regime domiciliar. Eles estavam há 58 dias em greve de fome para pressionar o poder público a atender ao pedido. A decisão do Tribunal de Salto de Guaíra que modifica o ofício de prisão foi divulgada na noite de sábado (12), por volta das 22h e recebida com festa pela população paraguaia.
Neste período diversos movimentos sociais da América Latina expressaram apoio aos camponeses e muitos países enviaram militantes ao Paraguai para levar apoio e solidariedade à greve.
A família e os amigos dos presos e das vítimas do massacre, junto com ativistas dos Direitos Humanos fizeram uma série de manifestações em Assunção, capital do país, e permaneceram em vigília em frente ao Hospital Militar, onde os presos políticos estavam internados, durante todo os 58 dias da greve de fome.
Foi grande a comemoração diante da notícia do novo formato de cumprimento de pena. Mas apesar da vitória, as famílias e os militantes afirmam que vão continuar lutando para que os presos políticos não sejam condenados injustamente por um crime que não cometeram.
Nova investigação
Nesta segunda-feira (14) o fiscal geral do Estado, Javier Díaz Verón, anunciou que formará uma equipe para examinar novamente a situação fiscal do caso Curuguaty. Isso porque, a promotoria usa provas esdrúxulas para acusar os camponeses pela morte dos seis policiais, entre elas, a existência de objetos como garrafa pet e cortador de unha no lugar do massacre.
Até então, a Justiça paraguaia trabalhava em uma versão totalmente parcial dos fatos. Ignorou a morte dos 11 camponeses e investigou apenas o assassinato dos seis policiais. Em reunião com os a comitiva de direitos humanos e com os familiares dos campesinos assassinados, Verón afirmou que a justiça vai mudar a linha de investigação. “Vou formar uma equipe para examinar esta questão e ver o que mais se pode fazer em torno deste processo (…). Se houver possibilidade de abrir e ampliar a investigação, fiquem seguros de que isso vai ser feito”, afirmou.
Vale lembrar que desde o início do processo, quando a Justiça acusou sem provas os camponeses, a Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy) trabalha em uma investigação paralela e conseguiu comprovar a inocência dos camponeses. O massacre de Curuguaty, ocorrido em 15 de junho de 2012, resultou na morte de seis policiais e 11 trabalhadores rurais. De acordo com o estudo da Codehupy, todos os oficiais foram mortos com tiros certeiros na cabeça, ou com armas de alto calibre, capazes de perfurar o colete de proteção; e nenhuma arma dos moradores foi disparada na ocasião.