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A “Fabricação do Consenso” segundo Noam Chomsky

28 de Fevereiro de 2014, 7:21 , por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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A “Fabricação do Consenso”  segundo Noam Chomsky

O documentário “Chomsky & Cia” é de 2008 e explica como a mídia manipula a opinião pública via fabricação do consenso. Chomsky, considerado o intelectual mais popular e citado do mundo, também é um ativista. Para mostrar como funciona a fabricação de opinião, Chomsky dá exemplo de dois padres dissidentes da década de 80. O 1º, polonês, se tornou o símbolo mundial do terror soviético e o 2º, de El Salvador não teve tanta importância. Em 24 de março de 1980 em El Salvador, Oscar Romero foi assassinado enquanto rezava missa. Ele lutava contra a ditadura apoiada, armada e imposta ao seu país pelos EUA. Seu assassinato causou muito menos comoção que o de seu colega, o padre Popieluszko em 14 de outubro de 1984, na Polônia. O padre dissidente foi assassinado pela polícia do poder comunista. A emoção foi muito grande, a mídia se indignou, o assassinato chegou às manchetes 10 vezes na capa do The New York Times. Noam Chomky e  Edward Herman escreveram um livro em que estudam detalhadamente os dois assassinatos. Resultado: o padre dissidente do regime comunista da União Soviética recebe 100 vezes mais importância que o padre de El Salvador, vítima da ditadura apoiada pelos EUA.

Mas como essa manipulação se dá? Através de complô, serviço secreto? Não. Para Chomsky os EUA não são uma ditadura, a mídia é livre. Mas livre ? Os jornalistas como na França acham que são totalmente livres. Segundo Chomsky se você não satisfizer determinadas condições e requisitos você não será um jornalista de destaque. Isso ilustra a diferença entre estados totalitários e sociedades democráticas. No estado totalitário, o Estado produz e declara a política do partido, você tem que aderir. No estado democrático, a política do partido não é articulada, é pressuposta. Nesse pressuposto ela promove um debate ardente, mas dentro da estrutura do pressuposto. Ninguém questiona, é como o ar que respiramos. Ele penetra na política do partido dando a impressão que há um debate.  O termo “fabricação do consenso” aparece nos anos 1920 criado pelo jornalista Walter Lippman (1889-1974) : significa ganhar adesão e apoio da opinião pública criando “ilusões necessárias”. As ilusões podem ser de criação de necessidades artificiais ou ao contrário a criação do medo, insegurança ou até o terror ou seja a ilusão que cria a desilusão. Walter Lippman vê o povo como um rebanho que se perde facilmente por emoções, medo, incapaz de cuidar de suas coisas, e que deve ser enquadrado, controlado e guiado por uma elite de tomadores de decisões esclarecidos. As pessoas devem ser desviadas para ficarem inofensivas, é preciso submergí-las e atordoá-las com informações, para que não tenham tempo de refletir. Para Chomsky o triunfo da lavagem cerebral sobre os libertados da democracia liberal, é obter, sem violência, sem tortura, o que os totalitaristas conseguem com o uso das armas.

Perguntam ao Chomsky: como o governo influencia a mídia? Ele responde: o governo não influencia a mídia. É como perguntar: como o governo pode convencer a General Motors a aumentar os lucros ? Não faz sentido, a mídia é feita de grandes corporações que tem o mesmo interesse das empresas que dominam o governo.

Existe uma diferença entre a opinião pública e a opinião culta (das elites). A mídia é mais influente nos setores mais cultos e intelectuais, mas muito menos influente na opinião pública. P.ex. durante a campanha de adesão da França à União Européia, as elites e a mídia trabalharam pelo “sim”, enquanto que no referendo popular o povo foi contra. A opinião culta corresponde às políticas públicas.

Mas como mudar a opinião pública? Para Chomsky é muito fácil, é só provocar um incidente. Para provocar a guerra do Vietnã, o presidente Lyndon Johnson só declarou guerra, depois de dizer que o navio americano Maddox tinha sido atacado pelos comunistas em 1964. Um relatório oficial comprovou mais tarde que o navio não havia sido atacado. Outro exemplo: a guerra do Iraque. Aproveitou-se do 11 de setembro para atacar o Iraque, dizendo que eles possuiam armas de destruição em massa. Fizeram a guerra (a indústria bélica prosperou), logo depois descobriu-se que não havia aquelas armas. Nos dois casos, é bom que se diga, que o governo conseguiu o consenso (político) para iniciar as guerras, mas mais tarde houve protestos populares (1968 - Vietnã)) contra as duas guerras. No caso do Iraque, os americanos conseguiram a adesão de alguns países europeus, mas houve grandes protestos populares nestes países.

Em sociedades democráticas a mídia tem um papel: fazer com que a população absorva os valores, as formas de pensar e a visão do mundo que estão de acordo com os interesses das elites. O caso dos transgênicos. No final dos anos 90 os transgênicos eram mal vistos pela população. Agências foram contratadas para passar mensagens positivas e foi feito todo um trabalho sobre linguagem, escolhendo as palavras, como “natureza” e “natural”  e omitindo palavras proibidas de serem usadas. Assim a Monsanto foi aconselhada a usar uma linguagem positiva a favor dos transgênicos. Mas o caso foi abafado também em outras frentes: as empresas financiaram todo um complexo de ações para “liberar” os transgênicos, tais como: influenciar relatórios científicos (até adulterar alguns), participar de comissões de fiscalização dos governos, comprar políticos e a batalha judicial. Nesta última eles perderam em alguns campos em países da Europa, onde são proibidos. Podemos acrescentar que este caso também serve para diversos outros: o caso do “aspartame” (que chegou a ser proibido e depois liberado pela FDA, órgão que passou a ser controlado pela indústria farmacêutica) e no Brasil, o caso dos “agrotóxicos” (hoje vários movimentos sociais estão lutando pela proibição deles - pelo menos dos mais perigosos que já provocaram várias mortes, câncer e envenenamento).

Mudanças Climáticas. Matéria catastrófica foi publicada sobre o acidente da Exxon no mar, provocando mortes e poluição. A Exxon Mobil prometeu US$10 mil a cientistas que escrevessem artigos que diminuíssem a importância das mudanças climáticas. Patrick Michaels, prof. Phd começa a discordar dos cientistas que pregam o aquecimento global. Aparece em todos os jornais e manchetes. Ele diz que há um esfriamento e a mídia divulga que ele diz a verdade. Aquecimento global vira resfriamento global. Mas Patrick tem uma pequena ligação com a Exxon. A Exxon financiou 40 grupos de lobistas para pressionarem o domínio político, mídia e científico. E isso pode explicar porque Chomsky afirma que não há compatibilidade entre capitalismo e democracia. As corporações são tirânicas, anti-democráticas: são as instituições que mais se aproximam do estado totalitário, que não se sentem em obrigações com o povo. E são predadoras. Elas dominam a mídia e o Estado. Para o povo se defender destes predadores, o único instrumento que eles tem é o próprio Estado. Não é uma arma muito poderosa, porque o Estado é aliado destes predadores.

Chomsky prega a democracia industrial. Democracia industrial significa que os trabalhadores vão controlar as instituições, as fábricas, o comércio a distribuição e as comunidades. Associações voluntárias vão substituir o Estado no futuro. São os sovietes ? (pergunta do repórter): Eram os sovietes, mas temos de lembrar que a primeira coisa que Lenin e Trotsky fizeram foi destruir os sovietes e os conselhos dos trabalhadores. E todas as instituições democráticas onde estavam as pessoas.

Para Jean Bricmont, professor da Universidade de Louvain, é difícil classificar Chomsky, ele é muito original, não se classifica nas correntes tradicionais (marxista, leninista, trotskista, esquerdista, socialista, não é liberal, nem Nietszche, nem Heidegger) suas raízes se encontram no Iluminismo, no positivismo lógico do sec. 20, na obra de Russell, no trabalho dos anarquistas pouco conhecidos (Roquere, Abad, Santillán), nos marxistas antileninistas dos conselhos, mas como grande pensador seu pensamento é original. Não podemos reduzi-lo a uma corrente apenas. Ele se diz “anarcossocialista”.

Daniel Miranda Soares é economista e administrador público aposentado, ex-professor universitário.


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